quinta-feira, 29 de abril de 2010

Faculdade sucumbe diante de pretoria

Prof. Roney Signorini - Assessor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


Em recente notícia, a Faculdade Sumaré, em São Paulo, foi submetida à semelhança de tribunal romano, o dos tribunos ensandecidos, mandando suspender(vagas) ingresso de alunos em Pedagogia. Afora mal entendidos, a escola se defenderá. Leia abaixo o conteúdo da pendenga:



Portal G1, 23/04/2010

MEC suspende ingresso de alunos em Pedagogia na Faculdade Sumaré

Segundo portaria, instituição oferece mais vagas que o permitido. Faculdade tem 15 dias para apresentar defesa

Fernanda Nogueira

A Secretaria de Educação Superior (Sesu) instaurou processo administrativo contra a Faculdade Sumaré, que tem cinco unidades em São Paulo, por oferecer mais vagas do que o permitido para o curso de pedagogia, segundo portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta sexta-feira (23). A Sesu determinou, como medida cautelar, a suspensão de novos ingressos de alunos no curso, tanto por seleção como por transferência. A instituição tem 15 dias para apresentar defesa. O diretor-superintendente da Faculdade Sumaré, Eliseu Lourenço Pereira, disse acreditar que o problema ocorreu na publicação do reconhecimento do curso de pedagogia no ano passado.

De acordo com Pereira, a faculdade já oferecia 900 vagas em pedagogia com autorização do MEC quando o curso normal superior, que tinha 400 vagas, passou a ser denominado Pedagogia. A partir de então, a faculdade passou a oferecer 1.300 vagas. No entanto, o MEC reconheceu apenas 400 vagas em portaria publicada no Diário Oficial em 15 de junho. "Pedimos retificação da portaria que autorizou o curso, porque diminuiu o número de vagas, mas ainda não tivemos resposta”, disse Pereira. O diretor afirmou que a instituição ainda não teve acesso às informações técnicas da portaria. "Devemos receber a notificação oficial no início da próxima semana e temos uma audiência marcada para apresentar a defesa na quarta-feira", afirmou. De acordo com o diretor, a faculdade espera resolver a situação antes da abertura do processo seletivo do segundo semestre, prevista para o final de maio.

Tem cabimento, quando o país precisa de mais formadores desde a creche até o final do fundamental ? Despropósito. Se a escola tem os 1.300 candidatos ( com muita sorte dela, pois é particular, em detrimento das vagas ociosas nas escolas públicas na mesma área ) qual é a questão em discussão ?

Só na cidade de São Paulo há milhares de vagas não cobertas por ação política ( intencional ? ) ou por incúria de governo nesse segmento.

Qual a efetiva razão da medida ?
Qual o problema quando a instituição tem condições de atender ao público ?
Ou seja, tem acomodações ( prédios - salas - professores, etc. ) limitar-lhe as vagas ! Quisera tivessem como atender mil, dois mil. É uma cegueira absoluta.

E as metralhadoras continuam a cuspir fogo sobre as licenciaturas. Com a palavra a profa. Eunice Durhan .

O que há nelas se têm espaço, carteiras ociosas, bibliotecas, brinquedotecas, laboratórios diversos, corpo docente e coordenação capaz ?

Ora, já tomou a sua dose de cicuta hoje ? Deixe a Devassa pra lá.

É inadmissível quando em São Paulo o próprio Estado tem em seus quadros docentes que não lograram aprovação, em recente exame de qualificação, no qual quase 50% foram reprovados, com ciência e admissibilidade disso. Onde é que estamos, em tempos de inquisição espanhola ?

Os nomes dos integrantes da(s) comissão(ões) que avaliaram a instituição têm que vir a público, senão também as autoridades superiores.
Dezenas de IPEs estão oferecendo graciosamente tais cursos exclusivamente para mantê-los vivos no rol de cursos ofertados, com peso financeiro próprio e com isso dar sua contribuição às formações (Pedagogia e Licenciaturas), de que tanto carecemos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Bicho Papão de Três Cabeças

Prof. Roney Signorini - Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Os mantenedores têm verdadeiro pavor das Desistências, Trancamentos e Cancelamentos.
Não sem razão pois eles acontecem, provavelmente, por algum defeito na fabricação.
Entram na linha de montagem mas sucumbem na primeira curva da esteira rolante que aprova ou condena a matéria prima utilizada.
Há percentagens perigosíssimas quando uma somada com outra(s) cenarizam o final do semestre letivo com menos 10 a 20% do alunado.
Mas, porque essa tríade maldosa ocorre quando "tudo está bem, tudo ia muito bem" ?
Algumas estilingadas rápidas e lá na frente, no stand de tiro ao alvo no macuco, não tem erro.
É macuco no bornal. Ou seja, vai tudo pro saco: CPA mal conduzida e incompetente(ineficaz); corpo docente desengajado; conteúdos programáticos à deriva do mercado e na empregabilidade, dissociados e avessos às diretrizes curriculares; atendimento despersonalizado ao aluno; horário de aula incompatível com o horário de trabalho do aluno; acomodações impróprias; coordenações de cursos totalmente órfãs; ausência de docentes às aulas; enganos(embromation) escancarados em bibliotecas e laboratórios; barzinhos nas esquinas próximos da IES, afora praças de alimentação cada vez mais "apetitosas", etc.

Programado para os dias 4 e 5 de maio, em Belo Horizonte, acontece o Curso de Captação e Retenção de Aluno, promoção da Carta Consulta, Editau e Consae.
Serão palestrantes os americanos Tent Argo, Marcus C.Whitt, Vanedson Ximenes e Thomas M.Huebner Jr. além do brasileiro Willie Muriel Cardoso.
A oferta do curso, publicada em www.cartaconsulta.com.br, tem como material informativo os vastos currículos dos experientes expositores, as ementas temáticas, além do texto abaixo, justificador da proposta.

"Os processos de captação e retenção de alunos ganham cada vez mais a atenção dos dirigentes das Instituições de Ensino Superior. A captação não se resume no preenchimento das vagas oferecidas. É preciso ir além.
Preencher as vagas é condição fundamental para a sustentabilidade do projeto acadêmico institucional. Ir além é buscar o melhor aluno possível, aquele mais preparado para aprender e para contribuir como discente, envolvendo-se com a sua formação até o final, sem evadir.
Este é um ponto de semelhança entre organizações educacionais no mundo todo, não importando o marco regulatório, o meio acadêmico ou contexto mercadológico a que se vinculem. Todas precisam captar e manter os melhores alunos possíveis, sobretudo, num ambiente onde o número de vagas oferecidas excede o número de candidatos preparados para o ensino universitário. "

O curso vem bem a propósito do momento quando os índices de evasão começam a majorar e esvaziar salas de aulas, preocupantemente frente à manutenção dos custos mas com perda de receitas.
Inseridas num contexto altamente competitivo, as universidades americanas implantaram departamentos de recrutamento, de admissão, de orientação financeira e de egressos, dentre outras estruturas. Criaram estratégias e táticas e aprenderam a captar e a manter os melhores alunos possíveis. Atualmente elas contam com alunos do mundo inteiro.
No Brasil vivenciamos o mesmo contexto competitivo, mas ainda não implantamos uma gestão capaz de cuidar de todo o processo de captação e principalmente de retenção de alunos, indo até a implantação de uma política de egressos eficaz. Estamos realizando uma série de ações, é verdade, mas ainda não paramos para pensar e planejar nossas estratégias.
Falta-nos, inclusive, a mais simples das pesquisas para conhecer e entender os processos da tríade maldosa, que tem muito a ver com a qualidade da matéria prima, transformação e produto final.
Está na hora das IES nacionais se preocuparem mais sobre a retenção e menos na captação,
predatória. A segunda não é garantia para a primeira. Quem (sobre)viver verá.

Na ausência de quem culpar, há os que atribuam as perdas ao FIES, ao ENEM, ao Prouni, ao
confronto das gerações "X" e "Z" nas salas e por aí vamos. Pode ???

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pesadelo é melhor do que o despertar

Prof. Roney Signorini - Consultor Educacional

roneysignorini@ig.com.br


A frase, por inteiro, é do impagável Millor Fernandes: "No Brasil de hoje, o pesadelo é melhor do que o despertar."

E não é para menos quando o noticiário da mídia assombra os operadores da educação com matérias e reportagens que são autênticos tapas na cara com os títulos "País só cumpre 33% de metas de educação", "Federais ainda têm 45% das vagas", "Ajuda do BNDES a faculdade não sai do papel", "Caixa cobra 37 mil fiadores de universitários do FIES", e por aí vai.

Quanto ao descumprimento das metas do PNE, na ordem de 67%, é de se perguntar no que constituirá o novo plano, já em gestação, com período abrangente até 2020 ? Ora, se 2/3 do plano não conseguiram consecução melhor seria adiar um novo, salvo se ele virá para impor correções de rotas aos 2/3 que não foram realizados, exclusivamente. Pois, corremos o risco de acumular aos 2/3 outros tantos porcentis que a dívida social-educacional nunca poderá ser resgatada. E eram 294 as ditas metas, criadas em 2001. E a avaliação sobre o quadro não foi encomendada politico-partidariamente. Foi realizada pelas universidades federais com apoio do Inep, ligado ao MEC. É importante considerar que o levantamento foi feito de 2001 a 2008, ou seja, dois anos de FHC e seis anos de Lula. Por certo, em 2009 e 2010 as coisas pioraram.

Só para ilustrar, na educação superior o plano estabelecia uma meta de 30% dos jovens na universidade, porém, em 2008 o índice acusava só 13,7%.

Traduzido em números absolutos são milhões.

É de pasmar e de querer voltar para a cama e ao pesadelo quando se sabe que o país ainda tem 16 milhões de analfabetos, de 15 anos ou mais, que não sabem escrever. Fora os analfabetos funcionais ( ? ). Ou seja, no Brasil existem 16,295 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Levando-se em conta o conceito de "analfabeto funcional", que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudo concluídas, o número salta para 33 milhões.

E a culpa é atribuída à falta de recursos das burras governamentais quando abundam Reais em meias e cuecas.

Comentar que as universidades federais não conseguiram preencher 45% de suas vagas é comédia, não fosse tragédia. Vagas dispostas, corpo docente alocado para as turmas, primeiro dia de aula e não tem ninguém na sala.

Tem nada não. O professor volta para a sala dos docentes e fica lendo jornal. Afinal quem paga, o contribuinte, não vê nada porque é o país onde ninguém sabe de nada, escuta e vê nada.

Enquanto isso, o BNDES ( leia-se contribuinte ) está "amargando prejuízo"

grande pois não conseguiu colocar uma linha de crédito/empréstimop às IPES—Instituições Privadas de Ensino Superior — porque nenhuma instituição conseguiu, desde o lançamento do programa, há 5 meses, colocar o dedo mindinho na piramidal verba de R$ 1 bi. O motivo: as IPES alegam que para obter o empréstimo os requisitos não são rígidos demais, são intransponíveis.

Só um avatar para transpor esse buraco, e convocando o Diretor Cameron.

Isso porque as particulares oferecem 75% das vagas no ensino superior e com milhares ociosas. Aqui o conceito de ocupação é diferente: não tem aluno não abre a turma/curso. Não há despesas, não há repasse.

É bem na linha do "ganhou mas não levou", perdeu-se o volante da Mega.

E, na contra partida, por paradoxal ou antítese, até julho de 2009 a Caixa Federal acumulava um total de 250 mil contratos em fase de quitação da dívida, decorrente do Fies. Mas, 37 mil fiadores foram acionados dentre os mais de 50 mil inadimplentes. E o jurídico da Caixa já sabe: só acionando e penhorando bens do fiador. É de chorar sabendo que há docentes lendo jornal na sala dos professores porque não existe aluno na sala "programada".

Em tempo: por recente portaria do MEC, a de nº 234, de 4/3/2010, são convocadas trinta e duas instituições, entre Academias, Associações, Sociedades, Uniões e Confederações, além da UNE, ao oferecimento de lista tríplice para indicação à composição das câmaras do CNE. Não constam a ABMES, o SEMESP, os SINPROs e tantas outras entidades que efetivamente representam o setor educacional nacional. Dejà vu !

O leitor ( contribuinte ) está com a palavra.

segunda-feira, 1 de março de 2010

No Lugar Errado

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

O que se tem visto nos últimos anos – com maior incidência de 95 para cá, depois do surgimento da Avaliação das Condições de Oferta, substituída pela Avaliação das Condições de Ensino e finalmente o SINAES (Lei 10.861, de 14/04/04), proposta pelo MEC-INEP para as instituições de educação superior – é a conferência de uma grande força antes ao corporativismo acadêmico, diferente do trabalho acadêmico puro, do que às funções executivas como condição bem marcante de uma hegemonia no meio acadêmico. Esse corporativismo dá pouca ou nenhuma atenção aos méritos e resultados alcançados pelo staff inferior. Muito menos ao anterior.

As IES privadas continuam a buscar no elemento causal a iniciativa funesta da troca e da substituição de equipes. Se possível, toda ela. Ninguém “presta” para o novo que se inicia. O velho não cabe no novo processo e a desqualificação do trabalho anterior – desconsiderando os pontos bons, inclusive – leva ao equívoco de refundar e desconstruir apenas em conceitos o que a práxis contrapõe, sobretudo se afoitamente. E dá-lhe um turnover geral, não só nas novas mas também nas IES mais antigas. E o rodinho passa da telefonista ao Coordenador, dos bedéis ao corpo docente.

O que fica, portanto, é a descontinuidade das ações e o desprezo pelos resultados que antes se alcançavam. Trata-se, aliás, da própria cultura político-partidária brasileira que entende, não poucas vezes, desmerecer o trabalho de governantes anteriores e assim não dar continuidade a obras e políticas acertadas, impedindo o progresso da sociedade. Fica estabelecido um conflito, seja por acaso ou por causa, entre a academia e a prática. Esta última sempre cobrada e carregada de experiência, só cabendo aos intelectuais a definição de modelos, jamais sua arquitetura e operacionalidade. Infelizmente, não é o que se tem visto nas instituições de ensino que passaram a privilegiar doutores e mestres frente às Coordenações de cursos, que lograram tais títulos com uma dissertação ou tese de focos exclusivos, num único minuto das horas do conhecimento. Logo-logo se reduzirão a poucos segundos pela obsolescência de tal conhecimento com destino ao descarte. Há quem diga que em 72 horas o conhecimento se renova.

Uma pós-graduação é fase demais delicada no percurso de um intelectual e abraçar essa viagem cultural não tem volta. É a essência justificadora da educação continuada, de que tanto carecemos.

Alocar um mestre ou doutor – senão no grupo de notáveis da instituição – frente à coordenação de cursos é negar o empenho e esforço da dedicação a uma pesquisa. Que não se exaure nesses dois graus, mas devem ir além. Fora o alto custo para o Estado ou para o indivíduo se às próprias expensas. Esse esforço de mestres e doutores garante, em sala de aula, avanços nos conhecimentos e na pesquisa, porquanto esses intelectuais são donos, em geral, de um saber muito específico de determinado campo do conhecimento que no mais das vezes é inútil diante do todo coordenador-administrativo, função que carece quase cem por cento de experiência.

Poucos são os titulados, para não dizer nenhum, que trazem um mestrado profissional. Os MBAs e os MBCs** apenas credenciam especialistas, não mestres, porém a bola da vez é o mestrado e doutorado para o magistério. Melhor, portanto, seria mesmo colocar os titulados em sala de aula, nunca frente a uma coordenação, cuja função vai muito além de gerir, gerenciar como gestor cuja exigência máxima é a prática, a fazeção, conhecendo o chão da fábrica.

A iniciativa particular não pode replicar o engano dos cursos públicos superiores, cuja exigência legal ou estatutária centra no eixo administrativo um livre-docente, um doutor ou mestre gravitando entre dezenas de titulados.

O empreendimento da educação privada tem outros compromissos, não dissociados mas também não similares aos da educação pública, que não pode ser massiva, que deve formar professores com excelência, em progressão geométrica porque temos pressa. Essa deve ser a responsabilidade maior do Estado, além da pesquisa e da extensão sérias, comprometidas com a Nação.

Doutorado em amebas ou semiótica não credencia para uma Coordenação, não autoriza a gestão de qualquer curso que vise ao mercado de trabalho, última instância de um investimento particular na graduação. E a grande maioria dos cursos vai pela estrada do emprego. E tem mesmo de ir.

Muito breve o mundo profissional brasileiro vai se ressentir de ações não impetradas nas graduações se não trocarmos o blá-blá-blá do “achismo” acadêmico pela realidade contundente da necessária ocupação dos espaços de trabalho pela juventude, já de si tão desencantada.

Não foram poucas as vozes que até aqui já deram o diapasão mas o INEP e mantenças continuam com ouvidos de mercadores.

O prof. Edson Franco (UNAMA) redigiu um excelente tratado sobre o assunto, sobre o perfil necessário para um Coordenador de curso, alguém que transite com segurança, proficiência e domínio nos fazeres universitários. Predicados que são insubstituíveis para a elaboração do melhor currículo, com disciplinas e respectivos conteúdos consoantes aos mercados, à prática para a empregabilidade levada às últimas consequências, instalação e manutenção de laboratórios, acervo bibliográfico, etc. etc. Alguém com capacidade e habilidade bastantes para a construção de um ótimo calendário letivo, um líder que some e multiplique opiniões favoráveis, abalizadas no tête à tête ou em reuniões grupais, além de profundos conhecimentos das rotinas de secretarias e até mesmo um eficiente calendário de provas. Se a (nova) política financeira adotada pela IES é de mensalidade X ou Y, isso não altera o cenário. Até porque, se tal política é medida adequada ou não reverterá pelo resultado mas a qualidade do produto, a formação, é preocupação necessária pela própria manutenção do empreendimento.

Massificação e fazeção não combinam com elitização, não dá liga.

Uma boa equipe compondo o corpo docente deveria ter no mínimo 30% de profissionais do mercado e pra fechar o saldo, 30% especialistas, 20% mestres e 20% doutores, nessa ordem.

** MBAs: Master Business Administration e MBCs: Master Business Communication

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Dança dos Números

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Entre janeiro e fevereiro o noticiário sobre o setor da educação rareia levando os plantonistas da mídia na busca de assuntos nem sempre pautados com a chancela de “importante”.

Está sendo mais uma vez o caso de 2010 quando restou alguma notícia sobre o ENADE e o dragão de uma só cabeça, o ENEM, eventos que se arrastaram com hilariantes acidentes de percursos. A da falha que afetou 915 redações no Enem mais a aloprada publicação dos resultados, com uma autêntica via cruxis para escolha de matrículas, foi surrealista. Picasso e Miró foram rebaixados.

Assim, manteve-se as editorias em pé com material “frio” e atemporal, que deixou certo estarrecimento e perplexidade aos governos dos três níveis pelas informações reveladas.
São de abalar fundações de pirâmides egípcias se interpretadas pelos resultados e conseqüências, mediatas ou não.
Uma delas, a de 19 de janeiro, pela FOLHA, dizia que 6% das vagas no 1º ano não são preenchidas e que em cursos que não são da área de formação de professores o índice cai para 3,5%, desastrosamente. E o contribuinte continuando a pagar as contas nas públicas, pela ociosidade. Ou seja, faltam professores com formação adequada no ensino básico e sobram vagas nas IES públicas em cursos de pedagogia e licenciaturas diversas, demandas e ofertas com desajustes. No ano de 2008 restaram absurdas 4.468 vagas sem preenchimento nos seletivos públicos. Em breve a sociedade enfrentará problema gigantesco com a falta de docentes, chegando ao cúmulo de ter que pagar para estimular a carreira. Estudantes ingressarão pelas licenciaturas desde que sejam remunerados. É uma alternativa. Prova irrefutável da fugas às licenciaturas nos chegou por G.Dimenstein ao afirmar que apenas 2% dos estudantes do ensino médio querem ser professores e que esse fato mostra que a profissão de professor está em baixa, diria até desmoralizada. E, o pior dos dados: os futuros professores são recrutados entre os alunos com as piores notas e que quase 90% são de escolas públicas. Portanto, opção de quem não tem opção.

Quem sabe por isso, no Enem, as licenciaturas tiveram a menor nota de corte quando dos cem cursos com as notas mais baixas, 75 são os que formam professores, como física e matemática. Na Finlândia, os futuros docentes são selecionados entre os 10% melhores alunos do ensino médio.

No dia 20 de janeiro, pelo ESTADÃO, outra notícia escabrosa dando conta que o país logrou o 88º em ranking de ensino mundial do qual participam 128 países avaliados pela UNESCO.
À nossa frente estão Cuba, Argentina, Uruguai, Chile, México, Venezuela, Panamá e Peru, dentro outros. Depois do Brasil estão o Suriname, El Salvador, Guatemala e Nicarágua.
Embora tivéssemos melhorado quando ao Índice de Desenvolvimento Humano ( IDH ) não ocorreu melhora mostrada no Índice de Desenvolvimento Educacional ( IDE ), com resultado 0,883 — a nota varia de 0 a 1 — daí a posição 88º. Para se ter idéia do descalabro, quando se analisa o índice que calcula quantas crianças que entram na 1ª. Série do fundamental concluem a 5ª. Série, o País cai para 0,756, uma ruína.
E não poderia ser diferente quando mais de 17,8 mil escolas não têm energia elétrica e só 37% possuem bibliotecas.

No mesmo dia 20, também no ESTADÃO, um “exocet” para a sociedade informando que 18% dos jovens não estudam, conforme o Ipea, na faixa dos 15 e 17 anos, sob o motivo de trabalho para eles e gravidez precoce para elas.
E às ruins juntou-se a pior, a péssima notícia de que dos 182 mil professores temporários que fizeram em dezembro a prova de seleção do governo paulista, 48,4% , ou 88 mil, não alcançaram a nota 5, a mínima para lecionar. E o índice pode ter sido pior já que até 20% da nota final vêm de uma pontuação recebida pelos anos de serviço na rede. E o ápice do tresloucamento: o secretário do Estado da Educação admite que tais docentes reprovados poderão dar aulas na rede em 2010.

Enquanto notícias nada abonadoras permeiam pela mídia vem uma muito boa estampada no VALOR ECÔNOMICO de que os cursos técnicos respondem por 10% do ensino médio. Ou seja, em 2001 o Brasil contabilizava 462,2 mil matrículas no ciclo profissional, representando só 5% dos 8,398 milhões de alunos no nível médio regular — com pico de 9,169 milhões de matriculados em 2004 — em 2009 fechamos a conta com 861,1 mil estudantes. Isso significa uma participação e expansão de 10% na taxa de matrículas do ensino médio ( 8,337 milhões ), de acordo com o Inep. É realmente auspiciosa e surpreendente a demanda do mercado de trabalho pelos técnicos formados em algum dos 185 cursos, distribuídos por 12 eixos com características científicas e tecnológicas.

Para arrematar, a notícia vem do Rio de Janeiro onde pesquisa mostra que 95% não sabem se vão concluir os estudos e portanto só 5% dos alunos da rede pública estadual têm certeza de que vão concluir o ensino médio.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Alguém arrisca uma consulta ou tratamento?

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


Na manhã do dia 19 o presidente Lula chegou ao Centro Cultural Banco do Brasil e foi assaltado por brasileiros médicos, formados em Cuba, que reivindicam o reconhecimento de seus diplomas, portando faixas e com abordagem pessoal, ao que o mandatário sempre se presta.

É que, com a edição em setembro deste ano da Portaria Interministerial Nº 865 — Ministério da Educação e Ministério da Saúde — foi fixada nova sistemática de revalidação de diplomas de médicos formados no exterior, apoiada num projeto piloto, assoberbado pelo ANEXO publicado no DOU, nº 177, de 16/09/09, impecável na redação e propósitos. Tipo, ninguém tasca.

Pela Portaria fica estabelecido que os alunos formados em instituições estrangeiras, que queiram revalidar diploma no Brasil, farão um exame nacional que avaliará os conhecimentos, habilidades e competências requeridos para o exercício profissional da medicina no país. O exame será elaborado e aplicado pelo INEP, com apoio das universidades participantes do projeto. Ou seja, a coisa ficou feia, preta e dura para esses pretendentes que durante seis anos puderam passear e conhecer a “isla de Fidel”, um amontoado de 14 províncias, com 169 municípios, 12 milhões de habitantes num espaço de 110 mil Km2.

Aliás, o referido projeto piloto foi elaborado com base na Matriz de Correspondência Curricular, um primor conteudísitico elaborado por uma subcomissão temática formada por integrantes do MEC e do MS, representantes de universidades e especialistas em educação médica. A matriz referencial, a partir daí, passará a subsidiar os processos de revalidação dos diplomas estrangeiros na área médica. Ou seja, ficou difícil pra não dizer impossível. Daí também a grita dos excursionistas da “isla”.

Em 30 de março de 2005 o site www.universia.com.br publicou a matéria logo abaixo. O leitor aqui tem voz e opinião no botão comentários, considerando a que se expõe o universitário brasileiro, candidato, por exemplo ao FUVEST:

Medicina em Cuba

Governo cubano concede a cada ano cerca de 100 bolsas para estudos de medicina naquele país

O principal programa de concessão de bolsas oferecido pelo governo de Cuba a brasileiros é destinado a estudos na ELAM (Escola Latino-americana de Medicina), em Havana, capital do país. A cada ano, até 100 brasileiros são selecionados para cursar medicina naquela instituição.


Todas as indicações de candidatos são feitas indiretamente por instituições oficiais do governo ou organizações políticas, sociais e religiosas brasileiras. Isto é, o interessado em estudar medicina em Cuba deve se informar junto a organismos governamentais, partidos políticos, ONGs (organizações não-governamentais), representações religiosas (como a Igreja católica) e outras instituições de ação social que são as responsáveis por indicar à representação diplomática de Cuba no Brasil os candidatos pré-selecionados às bolsas.


Após esta fase, autoridades representantes do governo cubano são incumbidas de nalisar as candidaturas e selecionar aqueles que serão beneficiados pelo programa de bolsas.


Benefícios


A bolsa prevê a concessão de moradia em Cuba, alimentação e estudos de forma gratuita, em iguais condições às dos bolsistas cubanos. Os custos das passagens aéreas de ida e volta correm por conta do estudante. Em alguns casos excepcionais, o governo de Cuba concede também a cobertura dos custos com as passagens aéreas, segundo informa a Embaixada de Cuba em Brasília.


Os estudantes devem ter no máximo 25 anos; ter concluído o Ensino Médio, que é o nível equivalente à educação pré-universitária cubana; pertencer a uma família de baixo poder aquisitivo; e demonstrar aptidão física e mental para acompanhar o curso. Os candidatos terão também avaliados seus conhecimentos gerais, tendo em vista a perspectiva de poderem se adaptar e acompanhar os estudos em Cuba.

Não é uma beleza ? A ensejar um “também quero“! ?   Pois é.

Se o leitor tem real interesse no assunto, recomendamos acessar o site www.escolasmedicas.com.br e ali encontrar algumas estatísticas estarrecedoras como a de que são oferecidas no Brasil 16.845 vagas para ingressantes em cursos médicos. É pouco, em 178 escolas no país ?

Como sempre, São Paulo vai à frente com 31 escolas( nas quais se formam três mil médicos todo ano), seguido por Minas Gerais com 27, Rio de Janeiro com 18, Rio Grande do Sul com 11, Paraná com 10 e Santa Catarina também com 10.
Dentre as 178, privadas são 102, federais 45, estaduais 26 e municipais 5.
Noves fora a desatualização do site, que zelosamente deveria estar “up to date”, quarenta outras pediram autorização de funcionamento no país e tramitam no CNE.
Três delas deitaram e jogaram a toalha esta semana, em recentes Portarias com o carimbo de “Sem Chance”, duas na Bahia e uma no Paraná.

Ainda conforme o site indicado, as campeãs de vagas são a Universidade Gama Filho (400), Universidade Federal de Minas Gerais (320), Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (200), Universidade Federal do Rio de Janeiro (192), Escola de Medicina Souza Marques (RJ)(192), PUC do Paraná(180), etc.

Pelo visto, está fácil explicar a opção do turismo pela “isla” de Cuba, em detrimento aos concorridíssimos vestibulares nacionais, mesmo que ostentando uma das mais altas taxas de admissão do planeta, perto de dezessete mil vagas ano.

Convenhamos, o presidente Lula tinha mesmo é que “passar batido” diante da manifestação dos companheiros. Ora, ora.

Agora, vai à sanção presidencial o projeto que fixa prazo para universidades se manifestarem sobre a revalidação de títulos obtidos no exterior.

Os Senadores entenderam que, para os diplomas com equivalência de currículo menor que 75%, será necessário estudar mais. O prazo para revalidação de diplomas de graduação e de pós-graduação expedidos por universidades estrangeiras será fixado em seis meses. É o que determina o projeto (PLS 498/03) da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) que sofreu alterações na Câmara e foi aprovado em definitivo pelo Plenário do Senado na última quarta-feira, 25. O projeto vai agora à sanção presidencial.

Atualmente, uma resolução do Conselho Nacional de Educação determina que a universidade deve se pronunciar sobre a revalidação dos cursos de graduação feitos no exterior no prazo máximo de seis meses, sem fixar prazo para os cursos de mestrado, doutorado e pós-graduação lato sensu.

Pelo projeto, os critérios para revalidação em relação à equivalência dos currículos são: para os cursos com mais de 95% de equivalência, deve ser revalidado o diploma; entre 95% e 75%, o candidato deverá submeter-se a provas na própria universidade responsável pela revalidação do currículo; e abaixo de 75%, deverão ser realizados estudos complementares na própria universidade ou em outra instituição que realize curso correspondente, sem a dispensa de processo seletivo.

O ovo e a galinha, quem veio primeiro?

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


A pergunta do título é clássica, quase um bordão, quase uma brincadeira, dessas que também questionam se a zebra é branca com listras pretas ou ao contrário.

No último dia 22 do mês, o jornal O Estado de S.Paulo publicou matéria sobre o assunto do analfabetismo sob a rubrica de João Batista Araújo e Oliveira, referenciando um "pedido" do presidente Lula ao seu ministro da Educação pelo qual cobra ações e resultados mais eficazes naquela consecução.

Então, o articulista diz que infelizmente o assunto não se resolve por decreto, com toda a razão pois a solução que se pretende não pode se dar por uma canetada. Isso é possível, sim, mas girando a metralhadora para outro alvo: o curso de Pedagogia e todas as licenciaturas.

Aliás, em matéria do dia 30, publicada pela Folha de S.Paulo, alguns pedagogos da Unicamp se defendem contra o Secretário Paulo Renato, sem conseguirem convencer a muitos leitores, embora se achem "o alvo de injustas críticas por parte de quem administra os destinos do ensino público paulista". Há um equívoco na matéria: os autores afirmam que as universidades públicas paulistas detêm 25% das vagas contra 75% das privadas, resta saber, a bem da verdade, quantas em cada segmento estão efetivamente ocupadas.

Quanto ao primeiro, anos decorreram — e ainda não idealmente — a discutir no CNE os propósitos e objetivos, os conteúdos e finalidades da formação do pedagogo, em cujo curso as IES ainda não "resolveram" o impasse das cargas horárias e respectivas preocupações do que é Estágio e do que é Prática, confundindo e assemelhando-as como se fossem única ação. Como se não devesse haver a imbricação de uma sobre outra (processo de escamas, de telhado), em complementaridade, mas distintamente. Com a palavra a extraordinária educadora Eunice Durhan, da USP.

O que de fato ocorre com a educação/ensino no ciclo fundamental, porquanto as gerações continuam nascendo com o mesmo intelecto, o mesmo cérebro e nada mudou senão a ambiência das crianças nas escolas?

As IES que têm cursos da natureza de Formação merecem antes de qualquer outro curso uma atenção especialíssima. Uma força-tarefa, um grupo de alta especialização no fazer educativo. Não nas escolas ofertantes do fundamental e médio, mas nos cursos superiores nos quais grassa a negligência, a desídia, como se fossem "cursinhos" de menor importância.

O problema do analfabetismo, em todas as dimensões, está, antes da busca de soluções junto àquelas escolas, principalmente, exclusivamente, unicamente, na observação do corpo docente, na configuração curricular e, por decorrência, programática, na infraestrutura, na biblioteca, nos laboratórios (brinquedoteca, etc.) e tudo o mais que componha o universo na oferta das licenciaturas. Sem isso, continuaremos a formar gente incapaz para assumir o magistério do ensino básico, nas últimas consequências de escolarização. Estamos com fome de só comer ovos fritos, omeletes, cozidos ou até crus sem vigiar as poedeiras, que sob luz intensa estão a botar mais que um ovo por dia, contrariando a natureza, sem nutrientes bastantes, por mais tecnologia que se aplique nas granjas. Tem aluno comendo isopor com formato de ovo.

Na maioria dos cursos de pedagogia, também incluídas as licenciaturas, ainda não chegou a capacitação de formação de professores para educação a distância. Pode? Absurdo!

O cenário lembra uma crônica do espetacular Stanislaw Ponte Preta que contava sobre uma velhinha que todo dia atravessava a Ponte da Amizade (Brasil-Paraguai) trafegando numa reluzente Lambretta e todo dia era revistada sob a possibilidade de estar contrabandeando alguma coisa. Em realidade ela contrabandeava, sim, Lambrettas, e às dezenas.

Já é hora de discutirmos a alfabetização de nossas crianças, que chegam semialfabetizadas aos vestibulares à luz das propostas educacionais do que acontece na formação dos aluninhos, sujeitos a currículos e conteúdos heterogêneos, ao bel-prazer da deriva do processo de ensino no qual abundam profissionais sem formação ou com formação caolha. Antes é necessário discutir a situação dos professores, ou melhor, dos professores dos futuros professores.

Estes, sim, merecem cuidado especialíssimo. A proposta educacional deles está na UTI, em fase terminal. Enquanto os cursos superiores não definirem propostas "universais", concretas, "eixos duros", balizadas no DNA da cultura nacional, sem estrangeirismos nem modismos, sem invenções nem caricaturas de ensino-aprendizagem, vamos amargar outra década do PNE que ora se discute.

A propósito, o Japão implementou um PNE em termos centenários e não decenários. Mal saímos da primeira década, visada pela LDB, e já entramos nas discussões da segunda, sem modificar o que não deu certo, ou quase certo na primeira. Vem por aí uma colcha de retalhos a misturar alhos com bugalhos, sobretudo o que é do jaez público ou particular.

Educação não se pensa como negócios, com materialidade de produtos em linha de produção – como quer a OMC – mas a longo prazo. Sobretudo levando em conta que os conhecimentos novos ficam caducos em apenas 72 horas. É hercúleo objetivo, coisa de passar a borracha sobre os erros e evitar enxugar gelo continuamente.

Se os futuros docentes do ensino básico, ainda hoje nos bancos escolares das universidades, não tiverem o total domínio do novo acordo ortográfico que vigorará efetivamente em 2010 será um deus-nos-acuda. Aí sim, a língua estará definitivamente esquartejada, ao bom estilo de Jack, o estripador.

Interrompamos definitivamente as críticas sobre nossas crianças, que a julgar pelo que se lê e ouve "seriam cretinas", quando imbecilidade é o que perpetramos nas salas de aulas das universidades, na preparação dos futuros professores, a se esperar que sejam extremamente dedicados e abnegados ao mister, altamente preparados e qualificados, com prévia alta formação universitária. Ledo engano com o que aí está. Não tem segredo: diga-me quem foram seus professores e te direi que tipo de aluno és.

Como se vê, o problema é bem mais embaixo, ou muito mais acima, daí o apelo quase patético das IES de "pelo amor de Deus, não nos entreguem no nível universitário esse balaio de incultura". Mas é quase que o feitiço jogado contra o feiticeiro, não é não?

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