segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Grande 13



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

O Ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, propôs um questionário um tanto cabalístico, na razão direta do número de seu partido, contendo 13 questões que só podem ser tratadas como disparates e cinicamente. Não diz nada se espera respostas dos leitores, ao contrário, saiu disparando que a resposta, única, a todas as indagações é o SIM. Nelson Rodrigues iria corar de vergonha pela adoção da unanimidade burra. Unger adverte, entretanto, que se deve
atuar de acordo, com desassombro, audácia e imaginação, porque disso depende o futuro do Brasil. (Jornal O Globo 28/4/15)

Um non-sense inoportuno pela deselegância ao tratar de assunto que não lhe compete, colocando colher de pau no mingau do Ministro Janine Ribeiro.

1— Vamos ou não vamos criar mecanismos para redistribuir recursos, destinados ao financiamento da educação, de lugares mais ricos para lugares mais pobres?
Para que público é dirigida a pergunta: ao próprio governo, ou ao Congresso?
Para os membros do andar de baixo, creio que a unanimidade é a distribuição para os mais pobres. Portanto aqui vai o primeiro SIM mas faltam doze.
2 — Vamos ou não vamos insistir que cada município e cada estado atinjam patamar mínimo de qualidade no ensino básico de acordo com o princípio de que a qualidade da educação que um jovem recebe não deve depender do acaso do lugar onde ele nasce? E, portanto, vamos ou não vamos lançar mão de procedimentos corretivos dentro da federação quando tal patamar deixar de ser alcançado?
Absolutamente certo e correto, mas não esboçou umzinho sequer de tais procedimentos corretivos. Lembro que não será possível essa iniciativa sem uma efetiva avaliação do que ocorre nesse segmento. Caiu na vala do “precisa fazer, precisa ser feito”, e daí?
3 — Vamos ou não vamos subordinar o foco em conteúdos — o enciclopedismo raso — ao foco em capacitações analíticas, sobretudo as habilidades centrais de interpretação de texto e de raciocínio lógico? E encarnar o currículo em protocolos e exemplos à disposição dos professores?
Outra resposta que merece um SIM com letras garrafais, mas também faltou criterizar por onde começar, pelo atual corpo docente, pela formação nas licenciaturas, pela gratuidade absoluta de acesso aos interessados pelo magistério, pelas melhores condições salariais?
4 — Vamos ou não vamos preferir, no desenho do currículo, a profundidade à abrangência? E negar-nos a substituir a enciclopédia grande por enciclopédia pequena (conteúdos consagrados)?
Sem glosa, mas há divergências. Qual o tempo estimado para essa substituição? De fato, ela representa o novo e o sucesso didático-pedagógico?
5 — Vamos ou não vamos organizar o ensino na base de práticas de cooperação, abraçadas por equipes de alunos e de mestres, e livrar-nos da combinação de individualismo e autoritarismo na sala de aula?
A melhor resposta está justamente no funcionalismo público, detentor de um poder hegemônico sem igual onde o corporativismo grassa há décadas, ou mais.
6 — Vamos ou não vamos trabalhar para que todos os estudantes, independentemente de origem social, adquiram a autodisciplina que educação de qualidade requer? E fortalecer, a serviço deste objetivo, o vínculo entre escola e família?
Com todo o respeito, o Ministro não sabe/conhece as agruras da vida das famílias desses estudantes referidos. Aliás, com vistas à atuação dos professores, o que resta é greve e greve e greve, contrariando propostas autodisciplinadoras.
7 — Vamos ou não vamos dar oportunidades especiais a alunos com maior dificuldade ou com talentos extraordinários? E, por conseguinte, vamos ou não vamos sacudir a mediocridade e recusar-nos a confundir igualdade com nivelamento?
Demagogia resplandecente, como quem quer igualar os diferentes ou diferenciar os iguais. No que consistem tais oportunidades especiais e quais são essas dificuldades, senão também, o que caracteriza talento extraordinário? Todos os dias tenta-se sacudir a mediocridade, sem sucesso, por tudo que está aí, na mídia entoando a canção do desalento decorrente da classe política.
8 — Vamos ou não vamos oferecer aos professores oportunidades e incentivos para qualificar-se, periodicamente, em meio de carreira?
Outra resposta que merece um SIM em si maior, mas com certo cuidado porque há dentre a classe aqueles que merecem muito mais, os que estão no limite e os que não merecem nem metade, de salários e de atenções.
9 — Vamos ou não vamos exigir padrões de desempenho das faculdades, inclusive das privadas, que formam nossos docentes?
Aqui o Ministro foi injusto, porque não é só faculdade particular que forma o professor, mas a grande maioria vem das universidades públicas. Aliás, nelas sobrando vagas. Os dados estão com o Inep.
10 — Vamos ou não vamos propor aos estados federados diretrizes de carreira nacional de professor?
Seria magnífico e já é tarde, pois as instituições privadas têm, por força do MEC, estabelecido seus planos de carreira de há muito, com ótimos resultados.
11 — Vamos ou não vamos cuidar para que cada diretor de escola, independentemente do processo pelo qual for escolhido, seja preparado e certificado para desempenhar sua tarefa?
Outra medida que chega com século de atraso. Professor é professor da sala de aula. Raro o que tem habilidade e competência para gestão, pois lhe falta formação administrativa, empreendedorismo, caráter inovador, etc. etc. Portanto a resposta e outro SIM.
12 — Vamos ou não vamos usar tecnologias contemporâneas, como aulas em vídeo e softwares interativos, para complementar o ensino presencial e enriquecer o ensino com a inspiração vinda de longe?
Se a resposta deve ser um SIM, ela diz respeito à iniciativa privada porque o governo não têm a mínima condição de infraestrutura para suportar essa tarefa. Chega a ser utópica. Leia-se o noticiário com descalabros ao fornecimento e uso de micros, laptops, internet, wi-fi, etc. etc.
13 — Vamos ou não vamos substituir a uniformidade desorganizada — que prevalece agora na educação brasileira — por diversidade organizada — sistema nacional de ensino que permita práticas divergentes e seja capaz de experimentar e evoluir?
Senhor Ministro, “menas”, Esse jogo de palavras, metáforas e silogismos não aguenta desaforos e continuo insistindo: para qual público se destina o questionário previamente respondido com o SIM? Com certeza há quem não consiga entender a proposta o que pode levar a educação mais para trás ainda.

E.T. “
Um documento feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência [texto acima], com propostas para reformar a educação, causou mal-estar dentro do próprio governo federal. O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, não foi consultado para o trabalho apresentado na sexta-feira (24)”. (Folha de S.Paulo).

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