segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Abandonando o lugar-comum



“Não se pode resolver os problemas utilizando o mesmo
tipo de pensamento que usamos quando os criamos.”
                                                                 Albert Einstein

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com
Dia desses fiz rápida leitura sobre os textos deixados neste blog, em 2015, para confirmar os conteúdos aqui alocados ao longo do ano. e foi gratificante conferir o nível das colaborações que se apresentaram. Como de praxe, algumas suscitavam leitura demorada e aprofundada, outras exigiam ser arquivadas para posterior avaliação. Inequivocamente todas conduzindo a reflexões preocupantes, sobretudo as que abordavam o uso de novas tecnologias de informação e comunicação(TICs) no ensino superior, pois tratavam de práticas educacionais que têm modificado substancialmente os paradigmas da educação, presencial ou  a distância.
A utilização das mídias digitais e da Internet propiciou o desenvolvimento não só da educação a distância, mas também de um modelo pedagógico mais interativo e colaborativo, permitindo modos de interação. Contudo, observa-se que não há um consenso em torno da viabilidade, da aplicabilidade efetiva com o uso de novas práticas educacionais.. Há muita timidez ou receios dos operadores da educação em aceitar, homologar, definir e decidir por medidas e iniciativas que considerem sua adoção. Melhor dizendo, a teoria pode estar amedrontando diretores e coordenadores como bichos-de-sete-cabeças, que exigem na implementação e à prática profissionais que deem cabo da tarefa, muitos deles, ainda, escravos da resistência e da mesmice.
Há referências a processos inclusive colocando teóricos em confronto com as realidades de mercado, mais exacerbadas junto às PMIES (Pequenas e Médias Instituições de Ensino Superior), maioria absoluta no país, que provocam tanta preocupação quando o assunto é qualidade desejada ou possível.
O desenvolvimento de novas TICs modificou o modo de organização das sociedades. A digitalização, o armazenamento e a transmissão de informações tornaram-se possíveis com as inovações na microeletrônica e na computação. Assim, o século XXI vivencia mudanças consideráveis na infra-estrutura de diversos setores sociais, como na economia e na difusão da cultura. Na educação – e especificamente no âmbito do ensino superior –, não é diferente.
O que parece ainda não ter ficado absolutamente claro e evidente é que não há como voltar atrás, ao contrário, a escola do século XXI precisa inexoravelmente andar para frente. O caminho não tem volta. É a típica viagem com passagem só de ida e para muitos pode ocorrer que não consigam pegar o último voo, o último ônibus, preferindo a última carruagem.
Hoje, existem milhares de textos tratando do assunto novas tecnologias de modo que ninguém pode se furtar a tais conteúdos e práticas. Não pode haver desdém ou desinteresse por projetos, histórias e análises sobre as mudanças nos parâmetros de aprendizagem.
Gestores, pais interessados em conhecer o perfil e a dinâmica das IES inovadoras, estudantes que buscam informações sobre a identidade acadêmica das IES, professores engajados em conhecer as mudanças que estão acontecendo e que estão por vir, legisladores da área de educação, todos são atores responsáveis por avanços e melhorias nos modelos educacionais. Não se pode, hoje, por falta de coragem e audácia, pelo medo de errar, deixar de inovar. Mas a necessidade de as IES responderem a contento as exigências do CPCs, por exemplo, tem adiado a entrada no século XXI. Assim, vai se claudicando pelo caminho..
Para o prof. Fábio José Garcia dos Reis, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), professor e diretor da Unidade Lorena do Centro Unisal, “há uma falta de sintonia entre os parâmetros da inovação acadêmica e a legislação educacional. A legislação engessada, elaborada por pessoas que, em muitos casos, não conhecem as tendências do ensino superior, é um empecilho para o avanço da inovação. Em casos de sistemas educacionais burocráticos, os gestores encontram dificuldades para implementar processos de inovação que apresentam bons resultados de engajamento e de aprendizagem, nos sistemas educacionais dinâmicos”.
Fazendo coro a essa constatação, Priscila Simões, doutora em Educomunicação pela USP, diz, em entrevista ao blog EXAME Brasil no Mundo: “A meu ver o MEC, com seu aparato regulatório, não está conseguindo induzir um processo de aumento de qualidade nas instituições de ensino superior. Precisaríamos ter mais flexibilidade e diversidade para atender às demandas em termos de formação de um país grande e diverso como o Brasil, mas o MEC induz a todos fazerem o mesmo da mesma forma. E frequentemente as instituições de ensino ficam mais preocupadas em atender às demandas regulatórias impostas pelo Ministério da Educação do que em discutir efetivamente a qualidade de seus cursos, professores e dos profissionais que estão formando”.
A grande preocupação, hoje, é que as IES mais burocráticas percam o timing da mudança (inclusive do seu modelo de gestão), a capacidade de discutir inovação e de introduzir novas formas de organizar o processo de ensino-aprendizagem.
As sintonizadas com a inovação estão produzindo material didático com assuntos que podem servir para um componente curricular (uma disciplina) ou para a discussão de determinado tema (customização da demanda), estão na busca de programas online de educação que melhoram a qualidade da oferta acadêmica, estão preparando ofertas de ensino híbrido com foco na aprendizagem ativa, estão oferecendo programas que orientam a vida acadêmica e profissional dos estudantes (coaching para o sucesso do aluno), estão utilizando e criando plataformas adaptativas de aprendizagem e investindo em plataformas de cursos no modelo moocs. Transitar por esses modelos é abraçar o novo, e as IES rapidamente perceberam que precisam mover-se em direção aos processos de inovação.
A tecnologia é (e cada vez mais será) uma aliada do processo de aprendizagem. Através das plataformas de aprendizagem, é possível fazer a gestão do aprendizado dos estudantes. O conceito de currículo, de avaliação, de espaço de aprendizagem mudará de forma significativa. Portanto, é preciso ir além das ideologias e das normas do MEC. A experiência do aprendizado não é mais controlada pelo professor, que ainda em muitos casos, pode viver a nostalgia do passado, atrasando de certa forma o processo de inovação. Ou pior, interrompendo-o ou sepultando-o.
O papel das IES que atuam nos novos campos da educação é apresentar para os agentes reguladores e para os avaliadores de instituição e de cursos que a inovação quebra paradigmas, mas de forma alguma representa perda de qualidade. Pelo contrário, a inovação promove ganhos reais na dinâmica administrativa e acadêmica das IES.
O que está em discussão não é a formação de cidadãos, o papel relevante das IES para a sociedade na produção de conhecimento e na contribuição com o desenvolvimento nacional. Esses são temas internalizados na cultura das IES. O que se deve discutir são modelos ideológicos, corporativistas e burocráticos de IES, que estão pouco alinhados com as novas perspectivas econômicas, sociais, culturais e tecnológicas da sociedade.
O desafio da inovação requer tempo, investimento financeiro e na formação de pessoas, além de capacidade de fazer a gestão da mudança cultural. É preciso ter coragem, atitude empreendedora, conhecimento, recursos financeiros, pessoas e capacidade de gestão para enfrentar o desafio de iniciar um projeto com tal escopo.
Debaixo de muitos ônus, iniciativas e sobretudo muito boa vontade para deixar o velho teremos de aprender a repensar os nossos modelos de ensino e aprendizagem, teremos de intensificar o uso da tecnologia, que será a nossa grande aliada, teremos de repensar o papel do professor e dos estudantes, os espaços de aprendizagem e a organização dos sistemas de ensino superior.
É possível identificar inovações na educação no tocante à produção de materiais didáticos, como é o caso dos ambientes virtuais de aprendizagem, e com relação às propostas metodológicas de ensino-aprendizagem, as quais enfatizam a possibilidade de autonomia e independência dos estudantes, potencializada pelas novas tecnologias de informação e comunicação.
O tema inovação, quando abordado em instituições do ensino superior, gera diferentes reações do mundo universitário., Há os que se manifestam a partir das inovações tecnológicas implantadas, outros que consideram a inovação a partir de políticas que buscam ampliar a participação de jovens na universidade, discutindo a relação “massificação versus elitização”, e outros que ainda entendem por inovação os processos de globalização e internacionalização das universidades brasileiras.
Vivemos um momento de profundas transformações, e a bandeira da educação deve ser a de mais relevo. A falta de projetos efetivos e o descaso de investimentos e práticas na educação trazem graves reflexos para a nação.
O Brasil perde todos os anos posições importantes quando se fala em competitividade e inovação. Boa parte dos problemas está na vontade política, mas também na distância que as universidades de uma forma geral têm em relação ao processo inovador, e na construção de modalidades de ensino inovadoras para práticas mais concretas de desenvolvimento econômico para o país.
Com a crescente demanda educacional brasileira, e principalmente na grande necessidade de mão de obra qualificada, as universidades brasileiras precisam de uma nova postura, principalmente em programas inovadores e conectados com o mercado.
Temos de abandonar definitivamente os lugares-comuns, girando em torno do mesmo eixo imantados por força centrípeta.

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