quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Paradoxos do neologismo



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional


Que a língua pátria vai de mal a pior a minoria já sabe, haja vista o desempenho e performance sofríveis que ficou demonstrado recentemente por certames nacionais e internacionais. Amargamos os últimos lugares.

A nova ortografia, que só a minoria sabe, já está em vigor (?) ou ainda não está, só veio pra complicar mais ainda a cabecinha da criançada posto que a maioria dos professores do fundamental e médio não têm domínio sobre o assunto.
O que brasileiro gosta mesmo é de estrangeirismos. Vejam a chegada destas dez  palavras e expressões que passaram a ser usadas em inglês na última década, largamente empregadas por aqui:
1. Amazeballs
Amada por alguns, odiada por outros tantos, essa gíria curiosa causou e ainda causa, um bocado de polêmica em relação ao seu uso e suas origens. Várias pessoas alegam serem suas precursoras, incluindo o notório colunista de fofocas de Hollywood, Perez Hilton. Foi em 2012 que a palavra apareceu no dicionário online Collins, que a definiu como uma bem-humorada alteração do original amazing. Como sua irmã mais velha, é usada para definir algo extraordinário e surpreendente, sendo mais utilizada por adolescentes.
2. Binge-watching
A palavra binge é usada para falar sobre situações em que alguém comete algum excesso, geralmente fazer a farra, beber todas, atacar a comida, ou, nesse caso, assistir de uma vez só vários episódios de seu seriado favorito. Fazer as chamadas “maratonas” de séries se tornou mais fácil após a popularização dos serviços de streaming e com a nova mania veio a nova expressão, bastante utilizada, inclusive, em sites de reviews e recomendações, como o Rotten Tomatoes.
3. Captcha
“Completely Automated Public Turing test to Tell Computers and Human Apart” ou Teste de Turing Público Completamente Automatizado para Diferenciação entre Computadores e Humanos é uma ferramenta utilizada por vários sites para, claro, diferenciar humanos e computadores. Implementado por mais de três milhões e meio de sites ao redor do mundo, ele impede os bots – programas usados para completar tarefas automatizadas – de participarem de esquemas de fraudes, criando perfis falsos que podem ser utilizados em inúmeras práticas ilegais.
4. Chillax
Outra gíria formada pela junção de palavras, nesse caso chill e relax. Utilizada principalmente quando queremos sugerir a alguém que relaxe, deixe pra lá as preocupações e curta um pouco o momento.
5. Click bait
Imagine a situação: Você navega tranquilamente pela sua página favorita quando começam a aparecer sugestões para outras notícias com chamadas curiosas e extraordinárias, como uma dieta milagrosa ou um animal estranho que foi descoberto em um país exótico. Quando você clica, é direcionado para uma página infestada por anúncios oferecendo produtos que você nunca teve a intenção de comprar. É isto que faz um click bait, ou uma “isca de cliques”. Elas também estão presentes em páginas de redes sociais, serviços de mensagens e, recentemente, alguns youtubers também têm sido acusados de nomearem seus vídeos com títulos interessantes e atrativos, e apresentar conteúdos não tão interessantes ou atrativos, ou até mesmo sem relação com o título.
6. Cyberbullying
Conforme a discussão ao redor da prática de bullying nas escolas foi ganhando força, a atenção também se voltou ao cyberbullying, que pode ser tão prejudicial e perigoso quanto aquela prática. De acordo com o site stopcyberbullying.org, voltado ao combate da prática através da conscientização, o cyberbullying “é quando uma criança, pré-adolescente ou adolescente é atormentado, ameaçado, assediado, humilhado, exposto, ou de qualquer modo alvejado por outra criança, pré-adolescente ou adolescente por meio da internet, tecnologias digitais e interativas ou telefones celulares”. O site reforça que a definição só se aplica quando há uma criança ou adolescente nas duas extremidades da relação. Quando um adulto está envolvido, trata-se de assédio ou perseguição, práticas também graves.
7. Paywall
Uma paywall funciona como uma barreira virtual que previne o acesso a certos conteúdos em uma página da internet, a não ser que o usuário contrate o serviço completo, o que envolve o pagamento de taxa mensal ou de assinatura. Sabe quando você está lendo uma notícia, mas precisa se cadastrar e pagar a assinatura para continuar? Pois é. O paywall também é utilizado em alguns games online grátis, onde parte do conteúdo como mapas e personagens precisa ser liberada através de pagamento.
8. Podcast
Programas de notícia ou de variedade que são transmitidos em formato digital e distribuídos por meio de streaming ou download. O nome vem das palavras broadcast e ipod, o famoso gadget da Apple. Os podcasts se tornaram muito populares e os assuntos tratados nos programas variam de notícias locais a política e cultura pop.
9. Unfriend
De acordo com o Oxford Dictionary, “remover (alguém) da lista de amigos ou contatos em uma rede social”. Começou com o Facebook, mas hoje em dia é comum encontrar a opção pouco amigável em outras redes sociais. A propósito, o verbo é regular, então, para formar o passado, usamos –Ed: I haven’t unfriended him yet.
10. Meetnapping
Essa palavrinha interessante, resultado da junção de meeting (reunião) e kidnapping (sequestro), tem sido usada no mundo dos negócios para definir uma prática considerada prejudicial tanto para os funcionários quanto para a empresa: Meetnapping é o ato de forçar um colega de trabalho a participar de reuniões inúteis que acarretam em perda de tempo. É isso mesmo. Descrita por vezes como um tipo real de sequestro, embora não seja ilegal, a prática tem sido tratada como uma questão séria de abuso no ambiente de trabalho.

Assim, ficamos expostos a todo sorte de extravagâncias linguísticas e vocabulares, ainda que proposta de ministério fosse a de abolir qualquer termo/palavra que não o português/brasileiro em todos os canais de comunicação.

Quase uma insensatez, um projeto de lei, aprovado em março de 2001 na Câmara dos Deputados, restringia o uso de palavras estrangeiras obrigando o uso da língua portuguesa por brasileiros natos e naturalizados e pelos estrangeiros residentes no Brasil há mais de um ano. O projeto regia o ensino e a aprendizagem; o trabalho; as relações jurídicas; a expressão oral, escrita audiovisual e eletrônica oficial e nos eventos públicos nacionais; os meios de comunicação de massa; e a publicidade de bens, produtos e serviços. Era o PL nº 1676, proposto pelo então deputado Aldo Rebelo, do PC do B de São Paulo. Não passou no Senado. Arnaldo Niskier levantou as mãos aos céus.



Para promover, proteger e defender a língua  portuguesa, o Art. 2° do Projeto de Lei determinava que o Poder Público, com a colaboração da sociedade, devia melhorar as condições de ensino e de aprendizagem da língua portuguesa em todos os graus, níveis e modalidades da educação nacional.
 
O professor de português Pasquale Cipro Neto, na coleção didática Ao Pé da Letra, trata do uso de certos estrangeirismos de forma bem humorada. Ele sugere, ironicamente, que não há substituição para palavras como pizza, por exemplo, que teria que ser substituída por algo como "disco de massa com queijo e molho de tomate". Acrescentaria, digerida por políticos.

No texto de apresentação do projeto aos seus pares no Congresso, intitulado "Culta, Bela e Ultrajada: um projeto em defesa da língua portuguesa", Aldo Rabelo afirma que a proposta "trata com generosidade as exceções, e ainda abre à regulamentação a possibilidade de novas situações excepcionais". Neste mesmo documento, o deputado mostra a sua intenção de "conscientizar a nação de que é preciso agir em prol da língua pátria, mas sem xenofobia ou intolerância de nenhuma espécie. É preciso agir com espírito de abertura e criatividade para enfrentar - com conhecimento, sensibilidade e altivez - a inevitável, e claro indesejável, interpenetração cultural que marca o nosso tempo globalizante."

Quase que provocando, entra no ar a sordidez no livro didático ao propor atividade escolar fazendo piada obscena para ilustrar 'variedade linguística'.
O fim do mundo. No exercício, os alunos do 4º ano do Ensino Fundamental tinham de reescrever um trecho em linguagem culta, no entanto, uma parte dizia: “magina ocê que tinha um pinto dentro!!!!? Agora cê já pensô seu cuzinho [sic] cum pinto dentro??” O foco era um ovo galado.

Em 2011, o livro “Por uma Vida Melhor” da Coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação, foi alvo de críticas por usar linguagem popular, como “nós pega o peixe”. Agora em 2016, uma escola estadual em Coronel Fabriciano, em Minas Gerais, é alvo de uma nova polêmica por conta de um exercício que teoricamente pretende estudar regionalismo linguístico, mas que na prática usou o duplo sentido para fazer uma piada obscena.
Apesar da direção da escola ter negado a suposta maldade no exercício, muitos pais não se convenceram e não aprovaram a tarefa. “Ressaltamos que não se trata de uma atividade avaliativa, e sim de uma atividade trabalhada em sala de aula com a mediação dos professores, cujo objetivo era de  transformar a linguagem coloquial para a linguagem formal, além da valorização e o respeito da linguagem popular/diversidade. A atividade proposta transcorreu tranquilamente em sala de aula, pois os alunos e os professores não levaram em consideração a maldade por duplo sentido criada por outras pessoas”, disse a escola em nota. A Secretaria de Educação, por sua vez, disse que vai fazer uma reunião com os pais para esclarecer a situação.
O uso de linguagem popular em sala de aula, inclusive em obras didáticas que abordam essas variantes da língua, segue uma orientação do MEC.
Foi o maior bafafá,  escola tentando explicar o texto com palavra obscena e os pais questionando a  atividade, com justa razão.

Aprovada, ou não, pelo MEC, essa suposta pedagogia avançada só reflete a pequenez e visão tacanha de muitos “soi disant” pedagogos, inclusive os do próprio MEC, ideologicamente contaminados. Eles estão contribuindo para nos afastar, cada vez mais, da indispensável língua culta, referência necessária para desenvolver o pensamento. Não à toa, continuamos a ocupar vergonhosas posições no ranking mundial de escolaridade básica. Até parece intencional cultivar a ignorância e desinformação do futuro (e)leitor.

Para arrematar, o internetês está em nossas praias com acinte de explodir túmulos machadianos / camonianos.
Se você acha que não sabe o que é internetês, mas consegue ler as orações sem nenhuma dificuldade, Vc sabe o q eh internetês? Naum? Entaum tá na hra de aprender + sobre esse assunto! =),  acaba de descobrir que não só sabe como provavelmente também o usa!  A abreviação das palavras durante um bate-papo virtual é imperativo, precisando eliminar letras, sílabas inteiras e até mesmo a acentuação de alguns vocábulos na hora de conversar nos ambientes virtuais, tudo isso para deixar a comunicação mais dinâmica e mais parecida com nossas conversas da modalidade oral.
Essa linguagem simplificada e informal chamada internetês surgiu no ambiente da Internet, lá nos anos 1990. Sua principal função é conferir dinamismo às conversas. Para isso, inventamos uma sintaxe meio maluca, ignoramos as regras ortográficas e abusamos dos “emoticons”, que servem para traduzir em símbolos a maneira como nos sentimos, já que a escrita não conta com os mesmos recursos de expressividade disponíveis na oralidade.

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