Prof. Roney Signorini - Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br
A frase, por inteiro, é do impagável Millor Fernandes: "No Brasil de hoje, o pesadelo é melhor do que o despertar."
E não é para menos quando o noticiário da mídia assombra os operadores da educação com matérias e reportagens que são autênticos tapas na cara com os títulos "País só cumpre 33% de metas de educação", "Federais ainda têm 45% das vagas", "Ajuda do BNDES a faculdade não sai do papel", "Caixa cobra 37 mil fiadores de universitários do FIES", e por aí vai.
Quanto ao descumprimento das metas do PNE, na ordem de 67%, é de se perguntar no que constituirá o novo plano, já em gestação, com período abrangente até 2020 ? Ora, se 2/3 do plano não conseguiram consecução melhor seria adiar um novo, salvo se ele virá para impor correções de rotas aos 2/3 que não foram realizados, exclusivamente. Pois, corremos o risco de acumular aos 2/3 outros tantos porcentis que a dívida social-educacional nunca poderá ser resgatada. E eram 294 as ditas metas, criadas em 2001. E a avaliação sobre o quadro não foi encomendada politico-partidariamente. Foi realizada pelas universidades federais com apoio do Inep, ligado ao MEC. É importante considerar que o levantamento foi feito de 2001 a 2008, ou seja, dois anos de FHC e seis anos de Lula. Por certo, em 2009 e 2010 as coisas pioraram.
Só para ilustrar, na educação superior o plano estabelecia uma meta de 30% dos jovens na universidade, porém, em 2008 o índice acusava só 13,7%.
Traduzido em números absolutos são milhões.
É de pasmar e de querer voltar para a cama e ao pesadelo quando se sabe que o país ainda tem 16 milhões de analfabetos, de 15 anos ou mais, que não sabem escrever. Fora os analfabetos funcionais ( ? ). Ou seja, no Brasil existem 16,295 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Levando-se em conta o conceito de "analfabeto funcional", que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudo concluídas, o número salta para 33 milhões.
E a culpa é atribuída à falta de recursos das burras governamentais quando abundam Reais em meias e cuecas.
Comentar que as universidades federais não conseguiram preencher 45% de suas vagas é comédia, não fosse tragédia. Vagas dispostas, corpo docente alocado para as turmas, primeiro dia de aula e não tem ninguém na sala.
Tem nada não. O professor volta para a sala dos docentes e fica lendo jornal. Afinal quem paga, o contribuinte, não vê nada porque é o país onde ninguém sabe de nada, escuta e vê nada.
Enquanto isso, o BNDES ( leia-se contribuinte ) está "amargando prejuízo"
grande pois não conseguiu colocar uma linha de crédito/empréstimop às IPES—Instituições Privadas de Ensino Superior — porque nenhuma instituição conseguiu, desde o lançamento do programa, há 5 meses, colocar o dedo mindinho na piramidal verba de R$ 1 bi. O motivo: as IPES alegam que para obter o empréstimo os requisitos não são rígidos demais, são intransponíveis.
Só um avatar para transpor esse buraco, e convocando o Diretor Cameron.
Isso porque as particulares oferecem 75% das vagas no ensino superior e com milhares ociosas. Aqui o conceito de ocupação é diferente: não tem aluno não abre a turma/curso. Não há despesas, não há repasse.
É bem na linha do "ganhou mas não levou", perdeu-se o volante da Mega.
E, na contra partida, por paradoxal ou antítese, até julho de 2009 a Caixa Federal acumulava um total de 250 mil contratos em fase de quitação da dívida, decorrente do Fies. Mas, 37 mil fiadores foram acionados dentre os mais de 50 mil inadimplentes. E o jurídico da Caixa já sabe: só acionando e penhorando bens do fiador. É de chorar sabendo que há docentes lendo jornal na sala dos professores porque não existe aluno na sala "programada".
Em tempo: por recente portaria do MEC, a de nº 234, de 4/3/2010, são convocadas trinta e duas instituições, entre Academias, Associações, Sociedades, Uniões e Confederações, além da UNE, ao oferecimento de lista tríplice para indicação à composição das câmaras do CNE. Não constam a ABMES, o SEMESP, os SINPROs e tantas outras entidades que efetivamente representam o setor educacional nacional. Dejà vu !
O leitor ( contribuinte ) está com a palavra.
sexta-feira, 12 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
No Lugar Errado
Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br
O que se tem visto nos últimos anos – com maior incidência de 95 para cá, depois do surgimento da Avaliação das Condições de Oferta, substituída pela Avaliação das Condições de Ensino e finalmente o SINAES (Lei 10.861, de 14/04/04), proposta pelo MEC-INEP para as instituições de educação superior – é a conferência de uma grande força antes ao corporativismo acadêmico, diferente do trabalho acadêmico puro, do que às funções executivas como condição bem marcante de uma hegemonia no meio acadêmico. Esse corporativismo dá pouca ou nenhuma atenção aos méritos e resultados alcançados pelo staff inferior. Muito menos ao anterior.
As IES privadas continuam a buscar no elemento causal a iniciativa funesta da troca e da substituição de equipes. Se possível, toda ela. Ninguém “presta” para o novo que se inicia. O velho não cabe no novo processo e a desqualificação do trabalho anterior – desconsiderando os pontos bons, inclusive – leva ao equívoco de refundar e desconstruir apenas em conceitos o que a práxis contrapõe, sobretudo se afoitamente. E dá-lhe um turnover geral, não só nas novas mas também nas IES mais antigas. E o rodinho passa da telefonista ao Coordenador, dos bedéis ao corpo docente.
O que fica, portanto, é a descontinuidade das ações e o desprezo pelos resultados que antes se alcançavam. Trata-se, aliás, da própria cultura político-partidária brasileira que entende, não poucas vezes, desmerecer o trabalho de governantes anteriores e assim não dar continuidade a obras e políticas acertadas, impedindo o progresso da sociedade. Fica estabelecido um conflito, seja por acaso ou por causa, entre a academia e a prática. Esta última sempre cobrada e carregada de experiência, só cabendo aos intelectuais a definição de modelos, jamais sua arquitetura e operacionalidade. Infelizmente, não é o que se tem visto nas instituições de ensino que passaram a privilegiar doutores e mestres frente às Coordenações de cursos, que lograram tais títulos com uma dissertação ou tese de focos exclusivos, num único minuto das horas do conhecimento. Logo-logo se reduzirão a poucos segundos pela obsolescência de tal conhecimento com destino ao descarte. Há quem diga que em 72 horas o conhecimento se renova.
Uma pós-graduação é fase demais delicada no percurso de um intelectual e abraçar essa viagem cultural não tem volta. É a essência justificadora da educação continuada, de que tanto carecemos.
Alocar um mestre ou doutor – senão no grupo de notáveis da instituição – frente à coordenação de cursos é negar o empenho e esforço da dedicação a uma pesquisa. Que não se exaure nesses dois graus, mas devem ir além. Fora o alto custo para o Estado ou para o indivíduo se às próprias expensas. Esse esforço de mestres e doutores garante, em sala de aula, avanços nos conhecimentos e na pesquisa, porquanto esses intelectuais são donos, em geral, de um saber muito específico de determinado campo do conhecimento que no mais das vezes é inútil diante do todo coordenador-administrativo, função que carece quase cem por cento de experiência.
Poucos são os titulados, para não dizer nenhum, que trazem um mestrado profissional. Os MBAs e os MBCs** apenas credenciam especialistas, não mestres, porém a bola da vez é o mestrado e doutorado para o magistério. Melhor, portanto, seria mesmo colocar os titulados em sala de aula, nunca frente a uma coordenação, cuja função vai muito além de gerir, gerenciar como gestor cuja exigência máxima é a prática, a fazeção, conhecendo o chão da fábrica.
A iniciativa particular não pode replicar o engano dos cursos públicos superiores, cuja exigência legal ou estatutária centra no eixo administrativo um livre-docente, um doutor ou mestre gravitando entre dezenas de titulados.
O empreendimento da educação privada tem outros compromissos, não dissociados mas também não similares aos da educação pública, que não pode ser massiva, que deve formar professores com excelência, em progressão geométrica porque temos pressa. Essa deve ser a responsabilidade maior do Estado, além da pesquisa e da extensão sérias, comprometidas com a Nação.
Doutorado em amebas ou semiótica não credencia para uma Coordenação, não autoriza a gestão de qualquer curso que vise ao mercado de trabalho, última instância de um investimento particular na graduação. E a grande maioria dos cursos vai pela estrada do emprego. E tem mesmo de ir.
Muito breve o mundo profissional brasileiro vai se ressentir de ações não impetradas nas graduações se não trocarmos o blá-blá-blá do “achismo” acadêmico pela realidade contundente da necessária ocupação dos espaços de trabalho pela juventude, já de si tão desencantada.
Não foram poucas as vozes que até aqui já deram o diapasão mas o INEP e mantenças continuam com ouvidos de mercadores.
O prof. Edson Franco (UNAMA) redigiu um excelente tratado sobre o assunto, sobre o perfil necessário para um Coordenador de curso, alguém que transite com segurança, proficiência e domínio nos fazeres universitários. Predicados que são insubstituíveis para a elaboração do melhor currículo, com disciplinas e respectivos conteúdos consoantes aos mercados, à prática para a empregabilidade levada às últimas consequências, instalação e manutenção de laboratórios, acervo bibliográfico, etc. etc. Alguém com capacidade e habilidade bastantes para a construção de um ótimo calendário letivo, um líder que some e multiplique opiniões favoráveis, abalizadas no tête à tête ou em reuniões grupais, além de profundos conhecimentos das rotinas de secretarias e até mesmo um eficiente calendário de provas. Se a (nova) política financeira adotada pela IES é de mensalidade X ou Y, isso não altera o cenário. Até porque, se tal política é medida adequada ou não reverterá pelo resultado mas a qualidade do produto, a formação, é preocupação necessária pela própria manutenção do empreendimento.
Massificação e fazeção não combinam com elitização, não dá liga.
Uma boa equipe compondo o corpo docente deveria ter no mínimo 30% de profissionais do mercado e pra fechar o saldo, 30% especialistas, 20% mestres e 20% doutores, nessa ordem.
** MBAs: Master Business Administration e MBCs: Master Business Communication
roneysignorini@ig.com.br
O que se tem visto nos últimos anos – com maior incidência de 95 para cá, depois do surgimento da Avaliação das Condições de Oferta, substituída pela Avaliação das Condições de Ensino e finalmente o SINAES (Lei 10.861, de 14/04/04), proposta pelo MEC-INEP para as instituições de educação superior – é a conferência de uma grande força antes ao corporativismo acadêmico, diferente do trabalho acadêmico puro, do que às funções executivas como condição bem marcante de uma hegemonia no meio acadêmico. Esse corporativismo dá pouca ou nenhuma atenção aos méritos e resultados alcançados pelo staff inferior. Muito menos ao anterior.
As IES privadas continuam a buscar no elemento causal a iniciativa funesta da troca e da substituição de equipes. Se possível, toda ela. Ninguém “presta” para o novo que se inicia. O velho não cabe no novo processo e a desqualificação do trabalho anterior – desconsiderando os pontos bons, inclusive – leva ao equívoco de refundar e desconstruir apenas em conceitos o que a práxis contrapõe, sobretudo se afoitamente. E dá-lhe um turnover geral, não só nas novas mas também nas IES mais antigas. E o rodinho passa da telefonista ao Coordenador, dos bedéis ao corpo docente.
O que fica, portanto, é a descontinuidade das ações e o desprezo pelos resultados que antes se alcançavam. Trata-se, aliás, da própria cultura político-partidária brasileira que entende, não poucas vezes, desmerecer o trabalho de governantes anteriores e assim não dar continuidade a obras e políticas acertadas, impedindo o progresso da sociedade. Fica estabelecido um conflito, seja por acaso ou por causa, entre a academia e a prática. Esta última sempre cobrada e carregada de experiência, só cabendo aos intelectuais a definição de modelos, jamais sua arquitetura e operacionalidade. Infelizmente, não é o que se tem visto nas instituições de ensino que passaram a privilegiar doutores e mestres frente às Coordenações de cursos, que lograram tais títulos com uma dissertação ou tese de focos exclusivos, num único minuto das horas do conhecimento. Logo-logo se reduzirão a poucos segundos pela obsolescência de tal conhecimento com destino ao descarte. Há quem diga que em 72 horas o conhecimento se renova.
Uma pós-graduação é fase demais delicada no percurso de um intelectual e abraçar essa viagem cultural não tem volta. É a essência justificadora da educação continuada, de que tanto carecemos.
Alocar um mestre ou doutor – senão no grupo de notáveis da instituição – frente à coordenação de cursos é negar o empenho e esforço da dedicação a uma pesquisa. Que não se exaure nesses dois graus, mas devem ir além. Fora o alto custo para o Estado ou para o indivíduo se às próprias expensas. Esse esforço de mestres e doutores garante, em sala de aula, avanços nos conhecimentos e na pesquisa, porquanto esses intelectuais são donos, em geral, de um saber muito específico de determinado campo do conhecimento que no mais das vezes é inútil diante do todo coordenador-administrativo, função que carece quase cem por cento de experiência.
Poucos são os titulados, para não dizer nenhum, que trazem um mestrado profissional. Os MBAs e os MBCs** apenas credenciam especialistas, não mestres, porém a bola da vez é o mestrado e doutorado para o magistério. Melhor, portanto, seria mesmo colocar os titulados em sala de aula, nunca frente a uma coordenação, cuja função vai muito além de gerir, gerenciar como gestor cuja exigência máxima é a prática, a fazeção, conhecendo o chão da fábrica.
A iniciativa particular não pode replicar o engano dos cursos públicos superiores, cuja exigência legal ou estatutária centra no eixo administrativo um livre-docente, um doutor ou mestre gravitando entre dezenas de titulados.
O empreendimento da educação privada tem outros compromissos, não dissociados mas também não similares aos da educação pública, que não pode ser massiva, que deve formar professores com excelência, em progressão geométrica porque temos pressa. Essa deve ser a responsabilidade maior do Estado, além da pesquisa e da extensão sérias, comprometidas com a Nação.
Doutorado em amebas ou semiótica não credencia para uma Coordenação, não autoriza a gestão de qualquer curso que vise ao mercado de trabalho, última instância de um investimento particular na graduação. E a grande maioria dos cursos vai pela estrada do emprego. E tem mesmo de ir.
Muito breve o mundo profissional brasileiro vai se ressentir de ações não impetradas nas graduações se não trocarmos o blá-blá-blá do “achismo” acadêmico pela realidade contundente da necessária ocupação dos espaços de trabalho pela juventude, já de si tão desencantada.
Não foram poucas as vozes que até aqui já deram o diapasão mas o INEP e mantenças continuam com ouvidos de mercadores.
O prof. Edson Franco (UNAMA) redigiu um excelente tratado sobre o assunto, sobre o perfil necessário para um Coordenador de curso, alguém que transite com segurança, proficiência e domínio nos fazeres universitários. Predicados que são insubstituíveis para a elaboração do melhor currículo, com disciplinas e respectivos conteúdos consoantes aos mercados, à prática para a empregabilidade levada às últimas consequências, instalação e manutenção de laboratórios, acervo bibliográfico, etc. etc. Alguém com capacidade e habilidade bastantes para a construção de um ótimo calendário letivo, um líder que some e multiplique opiniões favoráveis, abalizadas no tête à tête ou em reuniões grupais, além de profundos conhecimentos das rotinas de secretarias e até mesmo um eficiente calendário de provas. Se a (nova) política financeira adotada pela IES é de mensalidade X ou Y, isso não altera o cenário. Até porque, se tal política é medida adequada ou não reverterá pelo resultado mas a qualidade do produto, a formação, é preocupação necessária pela própria manutenção do empreendimento.
Massificação e fazeção não combinam com elitização, não dá liga.
Uma boa equipe compondo o corpo docente deveria ter no mínimo 30% de profissionais do mercado e pra fechar o saldo, 30% especialistas, 20% mestres e 20% doutores, nessa ordem.
** MBAs: Master Business Administration e MBCs: Master Business Communication
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