sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Alguém arrisca uma consulta ou tratamento?

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


Na manhã do dia 19 o presidente Lula chegou ao Centro Cultural Banco do Brasil e foi assaltado por brasileiros médicos, formados em Cuba, que reivindicam o reconhecimento de seus diplomas, portando faixas e com abordagem pessoal, ao que o mandatário sempre se presta.

É que, com a edição em setembro deste ano da Portaria Interministerial Nº 865 — Ministério da Educação e Ministério da Saúde — foi fixada nova sistemática de revalidação de diplomas de médicos formados no exterior, apoiada num projeto piloto, assoberbado pelo ANEXO publicado no DOU, nº 177, de 16/09/09, impecável na redação e propósitos. Tipo, ninguém tasca.

Pela Portaria fica estabelecido que os alunos formados em instituições estrangeiras, que queiram revalidar diploma no Brasil, farão um exame nacional que avaliará os conhecimentos, habilidades e competências requeridos para o exercício profissional da medicina no país. O exame será elaborado e aplicado pelo INEP, com apoio das universidades participantes do projeto. Ou seja, a coisa ficou feia, preta e dura para esses pretendentes que durante seis anos puderam passear e conhecer a “isla de Fidel”, um amontoado de 14 províncias, com 169 municípios, 12 milhões de habitantes num espaço de 110 mil Km2.

Aliás, o referido projeto piloto foi elaborado com base na Matriz de Correspondência Curricular, um primor conteudísitico elaborado por uma subcomissão temática formada por integrantes do MEC e do MS, representantes de universidades e especialistas em educação médica. A matriz referencial, a partir daí, passará a subsidiar os processos de revalidação dos diplomas estrangeiros na área médica. Ou seja, ficou difícil pra não dizer impossível. Daí também a grita dos excursionistas da “isla”.

Em 30 de março de 2005 o site www.universia.com.br publicou a matéria logo abaixo. O leitor aqui tem voz e opinião no botão comentários, considerando a que se expõe o universitário brasileiro, candidato, por exemplo ao FUVEST:

Medicina em Cuba

Governo cubano concede a cada ano cerca de 100 bolsas para estudos de medicina naquele país

O principal programa de concessão de bolsas oferecido pelo governo de Cuba a brasileiros é destinado a estudos na ELAM (Escola Latino-americana de Medicina), em Havana, capital do país. A cada ano, até 100 brasileiros são selecionados para cursar medicina naquela instituição.


Todas as indicações de candidatos são feitas indiretamente por instituições oficiais do governo ou organizações políticas, sociais e religiosas brasileiras. Isto é, o interessado em estudar medicina em Cuba deve se informar junto a organismos governamentais, partidos políticos, ONGs (organizações não-governamentais), representações religiosas (como a Igreja católica) e outras instituições de ação social que são as responsáveis por indicar à representação diplomática de Cuba no Brasil os candidatos pré-selecionados às bolsas.


Após esta fase, autoridades representantes do governo cubano são incumbidas de nalisar as candidaturas e selecionar aqueles que serão beneficiados pelo programa de bolsas.


Benefícios


A bolsa prevê a concessão de moradia em Cuba, alimentação e estudos de forma gratuita, em iguais condições às dos bolsistas cubanos. Os custos das passagens aéreas de ida e volta correm por conta do estudante. Em alguns casos excepcionais, o governo de Cuba concede também a cobertura dos custos com as passagens aéreas, segundo informa a Embaixada de Cuba em Brasília.


Os estudantes devem ter no máximo 25 anos; ter concluído o Ensino Médio, que é o nível equivalente à educação pré-universitária cubana; pertencer a uma família de baixo poder aquisitivo; e demonstrar aptidão física e mental para acompanhar o curso. Os candidatos terão também avaliados seus conhecimentos gerais, tendo em vista a perspectiva de poderem se adaptar e acompanhar os estudos em Cuba.

Não é uma beleza ? A ensejar um “também quero“! ?   Pois é.

Se o leitor tem real interesse no assunto, recomendamos acessar o site www.escolasmedicas.com.br e ali encontrar algumas estatísticas estarrecedoras como a de que são oferecidas no Brasil 16.845 vagas para ingressantes em cursos médicos. É pouco, em 178 escolas no país ?

Como sempre, São Paulo vai à frente com 31 escolas( nas quais se formam três mil médicos todo ano), seguido por Minas Gerais com 27, Rio de Janeiro com 18, Rio Grande do Sul com 11, Paraná com 10 e Santa Catarina também com 10.
Dentre as 178, privadas são 102, federais 45, estaduais 26 e municipais 5.
Noves fora a desatualização do site, que zelosamente deveria estar “up to date”, quarenta outras pediram autorização de funcionamento no país e tramitam no CNE.
Três delas deitaram e jogaram a toalha esta semana, em recentes Portarias com o carimbo de “Sem Chance”, duas na Bahia e uma no Paraná.

Ainda conforme o site indicado, as campeãs de vagas são a Universidade Gama Filho (400), Universidade Federal de Minas Gerais (320), Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (200), Universidade Federal do Rio de Janeiro (192), Escola de Medicina Souza Marques (RJ)(192), PUC do Paraná(180), etc.

Pelo visto, está fácil explicar a opção do turismo pela “isla” de Cuba, em detrimento aos concorridíssimos vestibulares nacionais, mesmo que ostentando uma das mais altas taxas de admissão do planeta, perto de dezessete mil vagas ano.

Convenhamos, o presidente Lula tinha mesmo é que “passar batido” diante da manifestação dos companheiros. Ora, ora.

Agora, vai à sanção presidencial o projeto que fixa prazo para universidades se manifestarem sobre a revalidação de títulos obtidos no exterior.

Os Senadores entenderam que, para os diplomas com equivalência de currículo menor que 75%, será necessário estudar mais. O prazo para revalidação de diplomas de graduação e de pós-graduação expedidos por universidades estrangeiras será fixado em seis meses. É o que determina o projeto (PLS 498/03) da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) que sofreu alterações na Câmara e foi aprovado em definitivo pelo Plenário do Senado na última quarta-feira, 25. O projeto vai agora à sanção presidencial.

Atualmente, uma resolução do Conselho Nacional de Educação determina que a universidade deve se pronunciar sobre a revalidação dos cursos de graduação feitos no exterior no prazo máximo de seis meses, sem fixar prazo para os cursos de mestrado, doutorado e pós-graduação lato sensu.

Pelo projeto, os critérios para revalidação em relação à equivalência dos currículos são: para os cursos com mais de 95% de equivalência, deve ser revalidado o diploma; entre 95% e 75%, o candidato deverá submeter-se a provas na própria universidade responsável pela revalidação do currículo; e abaixo de 75%, deverão ser realizados estudos complementares na própria universidade ou em outra instituição que realize curso correspondente, sem a dispensa de processo seletivo.

O ovo e a galinha, quem veio primeiro?

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


A pergunta do título é clássica, quase um bordão, quase uma brincadeira, dessas que também questionam se a zebra é branca com listras pretas ou ao contrário.

No último dia 22 do mês, o jornal O Estado de S.Paulo publicou matéria sobre o assunto do analfabetismo sob a rubrica de João Batista Araújo e Oliveira, referenciando um "pedido" do presidente Lula ao seu ministro da Educação pelo qual cobra ações e resultados mais eficazes naquela consecução.

Então, o articulista diz que infelizmente o assunto não se resolve por decreto, com toda a razão pois a solução que se pretende não pode se dar por uma canetada. Isso é possível, sim, mas girando a metralhadora para outro alvo: o curso de Pedagogia e todas as licenciaturas.

Aliás, em matéria do dia 30, publicada pela Folha de S.Paulo, alguns pedagogos da Unicamp se defendem contra o Secretário Paulo Renato, sem conseguirem convencer a muitos leitores, embora se achem "o alvo de injustas críticas por parte de quem administra os destinos do ensino público paulista". Há um equívoco na matéria: os autores afirmam que as universidades públicas paulistas detêm 25% das vagas contra 75% das privadas, resta saber, a bem da verdade, quantas em cada segmento estão efetivamente ocupadas.

Quanto ao primeiro, anos decorreram — e ainda não idealmente — a discutir no CNE os propósitos e objetivos, os conteúdos e finalidades da formação do pedagogo, em cujo curso as IES ainda não "resolveram" o impasse das cargas horárias e respectivas preocupações do que é Estágio e do que é Prática, confundindo e assemelhando-as como se fossem única ação. Como se não devesse haver a imbricação de uma sobre outra (processo de escamas, de telhado), em complementaridade, mas distintamente. Com a palavra a extraordinária educadora Eunice Durhan, da USP.

O que de fato ocorre com a educação/ensino no ciclo fundamental, porquanto as gerações continuam nascendo com o mesmo intelecto, o mesmo cérebro e nada mudou senão a ambiência das crianças nas escolas?

As IES que têm cursos da natureza de Formação merecem antes de qualquer outro curso uma atenção especialíssima. Uma força-tarefa, um grupo de alta especialização no fazer educativo. Não nas escolas ofertantes do fundamental e médio, mas nos cursos superiores nos quais grassa a negligência, a desídia, como se fossem "cursinhos" de menor importância.

O problema do analfabetismo, em todas as dimensões, está, antes da busca de soluções junto àquelas escolas, principalmente, exclusivamente, unicamente, na observação do corpo docente, na configuração curricular e, por decorrência, programática, na infraestrutura, na biblioteca, nos laboratórios (brinquedoteca, etc.) e tudo o mais que componha o universo na oferta das licenciaturas. Sem isso, continuaremos a formar gente incapaz para assumir o magistério do ensino básico, nas últimas consequências de escolarização. Estamos com fome de só comer ovos fritos, omeletes, cozidos ou até crus sem vigiar as poedeiras, que sob luz intensa estão a botar mais que um ovo por dia, contrariando a natureza, sem nutrientes bastantes, por mais tecnologia que se aplique nas granjas. Tem aluno comendo isopor com formato de ovo.

Na maioria dos cursos de pedagogia, também incluídas as licenciaturas, ainda não chegou a capacitação de formação de professores para educação a distância. Pode? Absurdo!

O cenário lembra uma crônica do espetacular Stanislaw Ponte Preta que contava sobre uma velhinha que todo dia atravessava a Ponte da Amizade (Brasil-Paraguai) trafegando numa reluzente Lambretta e todo dia era revistada sob a possibilidade de estar contrabandeando alguma coisa. Em realidade ela contrabandeava, sim, Lambrettas, e às dezenas.

Já é hora de discutirmos a alfabetização de nossas crianças, que chegam semialfabetizadas aos vestibulares à luz das propostas educacionais do que acontece na formação dos aluninhos, sujeitos a currículos e conteúdos heterogêneos, ao bel-prazer da deriva do processo de ensino no qual abundam profissionais sem formação ou com formação caolha. Antes é necessário discutir a situação dos professores, ou melhor, dos professores dos futuros professores.

Estes, sim, merecem cuidado especialíssimo. A proposta educacional deles está na UTI, em fase terminal. Enquanto os cursos superiores não definirem propostas "universais", concretas, "eixos duros", balizadas no DNA da cultura nacional, sem estrangeirismos nem modismos, sem invenções nem caricaturas de ensino-aprendizagem, vamos amargar outra década do PNE que ora se discute.

A propósito, o Japão implementou um PNE em termos centenários e não decenários. Mal saímos da primeira década, visada pela LDB, e já entramos nas discussões da segunda, sem modificar o que não deu certo, ou quase certo na primeira. Vem por aí uma colcha de retalhos a misturar alhos com bugalhos, sobretudo o que é do jaez público ou particular.

Educação não se pensa como negócios, com materialidade de produtos em linha de produção – como quer a OMC – mas a longo prazo. Sobretudo levando em conta que os conhecimentos novos ficam caducos em apenas 72 horas. É hercúleo objetivo, coisa de passar a borracha sobre os erros e evitar enxugar gelo continuamente.

Se os futuros docentes do ensino básico, ainda hoje nos bancos escolares das universidades, não tiverem o total domínio do novo acordo ortográfico que vigorará efetivamente em 2010 será um deus-nos-acuda. Aí sim, a língua estará definitivamente esquartejada, ao bom estilo de Jack, o estripador.

Interrompamos definitivamente as críticas sobre nossas crianças, que a julgar pelo que se lê e ouve "seriam cretinas", quando imbecilidade é o que perpetramos nas salas de aulas das universidades, na preparação dos futuros professores, a se esperar que sejam extremamente dedicados e abnegados ao mister, altamente preparados e qualificados, com prévia alta formação universitária. Ledo engano com o que aí está. Não tem segredo: diga-me quem foram seus professores e te direi que tipo de aluno és.

Como se vê, o problema é bem mais embaixo, ou muito mais acima, daí o apelo quase patético das IES de "pelo amor de Deus, não nos entreguem no nível universitário esse balaio de incultura". Mas é quase que o feitiço jogado contra o feiticeiro, não é não?

O leitor está com a palavra para fazer seus comentários.

Onde vamos parar? Ou melhor, como sair desse buraco?

Prof. Roney Signorini - Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br


Para os que ainda não conhecem.

Veja o que alguns vestibulandos foram capazes de escrever na prova de redação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujo tema foi "A TV FORMA, INFORMA OU DEFORMA?"

Entre o hilário e a desgraça, cômico não fosse trágico, esta é a matéria-prima que aspira ao banco universitário.
Por acaso, é possível obter solução para o problema com alguma tese, doutrina, conceito ou princípio pedagógico?
Conforme artigo publicado no Portal TERRA, estudos revelam não haver relação direta entre o déficit de atenção e o veículo TV.

TV pode não causar transtorno de atenção, diz estudo

MICHAEL CONLON ( PORTAL TERRA )

Ao contrário do que diziam estudos anteriores, crianças que passam grande parte de seu tempo diante de aparelhos de TV não desenvolveriam problemas de comportamento na escola, afirmaram pesquisadores na segunda-feira.

Se há uma ligação, seria o fato de que pais esgotados de crianças hiperativas têm uma tendência maior a deixá-las assistir TV para conseguirem um descanso. A TV em si não provocaria o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAIH), disseram pesquisadores da Universidade Texas Tech (EUA).

A descoberta baseia-se numa pesquisa com pais e professores de 5 mil crianças norte-americanas ao longo de dois anos para determinar se o hábito de ver TV no período em que os alunos estão no jardim da infância faria aparecer casos de TDAIH no primário.

"Os resultados do estudo atual não indicam a presença de uma relação importante entre a exposição à TV e problemas subsequentes de atenção", afirmou o estudo publicado na edição de março da Pediatrics, revista da Academia Americana de Pediatria.

A notícia enseja reflexão sobre a enxurrada de e-mails que recebemos versando sobre as "pérolas do vestibular". Apenas como especulação, propomos a discussão: o desastre consiste mesmo no semialfabetismo e na falta de leituras diversas (jornal, livro, revista, internet, bula de remédio, propaganda...) que não proporcionam um texto coerente, premissa num discurso oral ou escrito? A chamada "leitura em cacos" – aquela de quem é incapaz de articular partes de um texto, o que leva o indivíduo a interpretações descontextualizadas – estaria na base desse problema?

A calamidade do que se lerá abaixo até poderia ser minimizada se existisse a informação do volume de candidatos ao referido vestibular e se pudéssemos quantificar quais seriam os autores desse "besteirol": 1%, 3% ou 5% dentre milhares? Pode ser desprezível (?). Quase certamente, os autores das afirmações esdrúxulas não as repetiriam em sua fala cotidiana. Por certo, também, tentaram expressar "erudição" já que seriam lidos por intelectuais avaliadores, a quem restava impressionar. De qualquer modo, o amarelo está piscando no manicômio verborrágico, com ausência total da mínima lógica, incitando autoridades educacionais para uma desacomodação frente ao cenário.

O leitor está com a palavra no campo "comentários", no final do artigo.

Prepare-se para ler a seleção feita pelo prof. José Roberto Mathias que, glosando, deixou os comentários entre parêntesis.

"A TV possui um grau elevadíssimo de informações que nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns viciados deste veículo decomunicação." (Meu Deus!)

"A TV no entanto é um consumo que devemos consumir para nossa formação, informação e deformação."(Fantástica!)

"A TV se estiver ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não..."(Ah bom, uma frase sobrenatural )

"A TV deforma não só os sofás por motivo da pessoa ficar bastante tempo intertida como também as vista." (Sem comentários)

"A televisão passa para as pessoas que a vida é um conto de fábulas e com isso fabrica muitas cabeças." (Como é que pode?)

"Sempre ou quase sempre a TV está mais perto denosco (?), fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro." (Esta é imbatível)

"A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral." (É praticamente uma tortura!)

"A televisão é um meio de comunicação, audição e porque não dizer de locomoção." (Tudo a ver)

"A TV é o oxigênio que forma nossas idéias." (Sem ela este indivíduo não pode viver)

"...por isso é que podemos dizer que esse meio de transporte é capaz de informar e deformar os homens." (Nunca tentei dirigir uma TV)

"A TV ezerce(Puxa! !!) poder, levando informações diárias e porque não dizer horárias." (Esse é humorista, além de tudo)

"E nós estamos nos diluindo a cada dia e não se pode dizer que a TV não tem nada a ver com isso." (Me explica isso?)

"A televisão leva fatos a trilhares de pessoas."(É muita gente isso, hein?)

"A TV acomoda aos tele inspectadores." (Socorro!!!)

"A informação fornecida pela TV é pacífica de falhas." (Vixe!)

"A televisão pode ser definida como uma faca de trezgumes. Ela tanto pode formar, como informar, como deformar." (Deus, onde essa criatura arrumou tal faca???)