quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Lebre e a Tartaruga Educacionais



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional 
roney.signorini@superig.com.br

 
Primeiro Esopo, depois La Fontaine
e por último Monteiro Lobato.
A fábula revista.


O Ministro da Educação, Henrique Paim, esteve em São Paulo na quinta-feira (11) participando do 8º Prêmio Professores do Brasil, ocasião em que se pronunciou com a enfadonha afirmação de que “os resultados das ações de melhoria na educação vêm a médio e longo prazo e não têm efeito imediato”.
A propósito, parece um tanto despropositado afirmar isso diante de uma plateia reunida para a cerimônia de entrega de um prêmio que tem como objetivo valorizar as iniciativas de professores nas escolas públicas, ao qual concorreram 6.808 projetos com 39 vencedores, cada um abocanhando R$ 6 mil.
Ou seja, justamente aqueles que desejam(vam) ouvir notícias promissoras, mais auspiciosas sobre o que vem aí no novo mandato de Dilma, tiveram de se contentar com a colocação nada oportuna, pelo contrário, inaceitável, de ouvir de um ministro que estamos em marcha lenta, quase parando porque nada entusiasma, a partir dos certames nacionais e internacionais de que temos participado. Em todos eles, ´”lanterninha da miúda”, fim da fila.
Com aquela afirmativa, o ministro se referia aos resultados da Prova Brasil 2013, cujo índice de alunos das escolas públicas quanto ao aprendizado de matemática foi de 11,2%, inferior ao de 2011, que foi de 12%. Ou seja, pioramos na coroa, mas melhoramos na cara umas migalhas quanto ao português, com ênfase em leitura, da ordem de 23,6% contra 22,2 no resultado anterior. Leia-se o editorial da Folha no dia 12/12, no link  http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/12/1561250-editorial-a-lingua-condenada.shtml. Em aparente flagrante paradoxal, o ministro se quedou contraditório, ou melhor, quis cantar o Samba de Uma Nota Só, embora no plural,  ao dizer que “nós estamos vivendo um momento no Brasil que a cada vez mais a sociedade cobra mais educação”. É de perguntar, dá pra ser diferente?
A notícia divulgada pela Veja em 11/12/2014:  40% dos alunos concluem o ensino fundamental sem saber interpretar  textos
“Mesmo depois de passar nove anos na escola, 40% dos estudantes brasileiros não conseguem sequer identificar o assunto principal de um texto após sua leitura. E 37% deles também não são capazes de assimilar a ideia de porcentagem em um problema de matemática. É o que revelam os dados preliminares da Prova Brasil 2013, tabulados pelo Instituto Ayrton Senna e divulgados nesta quinta-feira.
"Os resultados da avaliação mostram que o problema da educação é cumulativo: o aluno começa no ensino fundamental com o baixo desempenho e segue nesse nível para o ensino médio. Se ele não consegue interpretar um texto simples quando chega ao 9º ano, não saberá resolver um problema de física ou compreender uma questão de filosofia quando estiver no ensino médio, perpetuando um ciclo de baixa aprendizagem", explica Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna.”
E ele continuou: “Essa cobrança permanente da sociedade exige que o poder público seja mais presente, com efetiva atuação dos servidores e chefes das três esferas de governo”. Isto dito é alguma coisa como dizer que “não coloco defeito em ninguém. Foi Deus que colocou e eu só comento.”
Talvez a intenção fosse de mostrar convicções, que sabidamente são inimigas da verdade, mais perigosas que as mentiras, conforme Nietzsche.
O fato é que não convenceu com a sua falta de pressa, de açodamento necessário, porque não temos tempo, não temos mais tempo para nada, porém insistiu que nos últimos anos a agenda das políticas públicas de educação mudou em razão de questões estruturais que foram consolidadas. Parabéns.

Pela informação, dois avanços foram significativos: a criação do Fundeb e do sistema de estatísticas e avaliações, com outra contrariedade no discurso, dizendo que hoje se consegue saber qual a situação de cada estudante de cada escola. Ou seja, sistema exitoso, mas mesmo assim “os resultados das ações de melhoria na educação vêm a médio e longo prazo e não têm efeito imediato”. Estaria o MEC desfalcado em pessoal, técnicos e demais, quantitativa e qualitativamente? Quem sabe a lebre de Esopo ?
Certa vez deixei um aparelho eletrônico para consertar em oficina de renome
e ao preencher a ficha de entrada – a ordem de serviço –, o funcionário atendente foi logo me dizendo que dada a circunstância era proibido fazer duas perguntas: quando iria ficar pronto e quanto custaria o serviço. Saí calado do recinto, ali só voltando depois de 49 dias para retirar.
O ministro não poderia “ajudar” um pouco, sem tergiversar, satisfazendo  a curiosidade que se arrasta há séculos na sua pasta? Afinal, médio e longo prazo é pra quando?
Vale lembrar Esopo da Grécia antiga, fábula metafórica que o Ministro encarnaria:
Um dia uma tartaruga começou a contar vantagem dizendo que corria muito depressa, que a lebre era muito mole, e enquanto falava, a tartaruga ria e ria da lebre. Mas a lebre ficou mesmo impressionada foi quando a tartaruga resolveu apostar uma corrida com ela.
"Deve ser só de brincadeira!", pensou a lebre.
A raposa era o juiz e recebia as apostas. A corrida começou, e na mesma hora, claro, a lebre passou à frente da tartaruga. O dia estava quente, por isso lá pelo meio do caminho a lebre teve a idéia de brincar um pouco. Depois de brincar, resolveu tirar uma soneca à sombra fresquinha de uma árvore.
"Se por acaso a tartaruga me passar, é só correr um pouco e fico na frente de novo", pensou.
A lebre achava que não ia perder aquela corrida de jeito nenhum. Enquanto isso, lá vinha a tartaruga com seu jeitão, arrastando os pés, sempre na mesma velocidade, sem descansar nem uma vez, só pensando na chegada. Ora, a lebre dormiu tanto que esqueceu de prestar atenção na tartaruga. Quando ela acordou, cadê a tartaruga? Bem que a lebre se levantou e saiu zunindo, mas nem adiantava! De longe ela viu a tartaruga esperando por ela na linha de chegada.

O Jabuti e a Lebre” é a história de uma lebre arrogante que, mesmo sendo o animal mais rápido da mata, perde uma importante corrida para o jabuti. A perseverança e a persistência vencem a arrogância e o falta de caráter.

Moral: Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente. Vai que...


Então o senhor Ministro assumiu a tartaruga em tempos tão hodiernos em que nações estão queimando combustível de primeira para a vanguarda educacional. Significa dizer, assumir a frente na competitividade global, não deixando pra jabuti nenhum chegar com panca de veloz?
Marquês de Pombal quando deu um “chega pra lá” nos jesuítas, nos primórdios em terrae brasilis, também não estava com nenhuma pressa. Deu no que deu.
A doença é brasileira: esperar nas filas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Enxugando Gelo



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br


No cenário educacional muitos são os atores laborando sobre um texto ininteligível, quase como a confusão da Torre de Babel, e na platéia, sem entender bulhufas, os espectadores aguardando o “grand finale” para ir aos apupos ou às palmas.
Entre perplexidades e espantos, no  desenrolar da tragicômica peça, fica a
pergunta se é uma tragédia que vai ao rizível ou comédia que sai da amargura e a patuléia sentada não consegue identificar quem é protagonista ou coadjuvante, se a peça foi mal e apressadamente ensaiada, se os figurinos beiram o surrealismo de Dalí ou Miró, se a iluminação ficou a desejar, se a marcação de chão está míope e até se o BG(background) sonoro tem ruídos demais e produção musical de menos.
Na relação que segue, o leitor está com a palavra: É a busca da interação virtual.
Só reclamações, muitas. Para reflexão e opinião.
- Os docentes universitários dizendo que os alunos egressos do Médio não têm a mínima condição de acompanhar os conteúdos por eles propostos e que foi um absurdo o processo seletivo ter aprovado o candidato;
- Os professores do Médio falando que os egressos do Fundamental não carregam o mínimo indispensável para continuidade dos estudos mas vão em frente com a “aprovação automática”;
- Os estudantes, poucos, reprovando a performance do professor como sendo insatisfatória, em todos os sentidos;
- Os pais não entendendo nada sobre progressão continuada ou aprovação automática, de que maneira o filho foi promovido se mal sabe assinar, fazer qualquer cálculo elementar de aritmética, ler algum texto e baixando interpretações, mas exigindo das escolas que os reprovem;
- Os mantenedores superiores desesperados com o pouco ingresso e com as absurdas(?) reprovações ao longo do semestre, para não falar da calamitosa desistência e evasão do alunado;
- As escolas minimizando o valor das mensalidades nas raias dos “nine-nine”
   (R$199,00 – R$ 299,00, etc. )
- As contas não batendo e não fechando, mês-a-mês e turmas sendo “desmontadas” para aglutinações;
- O Sinaes/Conaes/inep/MEC com o tacão do IGC e o CPC, além do Enade,
totalmente ideologizado;
- E dá-lhe repúdio, insatisfação e revolta das instituições via análise das avaliações por réplica à curva de Gauss; no que os matemáticos são vorazes usuários, provando que zero é igual a um;
- Os cursos de formação, de licenciaturas, bem como pedagogia, se isentam de responsabilidades, sejam eles de dois, três ou quatro anos, igualmente atribuindo suas falências ao item primeiro desta compilação;
- Os licenciandos atribuem suas baixas formações ao corpo docente da instituição que pouco ou nada lhes propiciaram, completa e integral, dado que não tiveram condições ideais de exercer suas práticas e/ou estágios;
- Na contrapartida, os contraditórios porque  nem o Estado nem as particulares têm condições físicas de recebê-los para tais exercícios profissionais, porque são mais interessados do que existem de ofertas. A demanda não suporta as ofertas. Igual raciocínio como Enfermagem, Direto  e outras que carecem de atividades praticizantes;
- Hoje, o ciclo básico transfere responsabilidades formativas ao universitário que deve(ria) completar o que foi “impossível” de ser feito;
Então, essa barafunda educacional nos arremessa à velha questão do ovo e da galinha: quem nasceu primeiro, cuja resposta ninguém dá, salvo um arrojo científico de que o ovo veio antes, ou a galinha. Como fica isso ?
Onde está o problema e onde está a solução, começar do zero e adotar a premissa de supervalorizar a formação dos futuros docentes com cursos de licenciaturas impecáveis ? Para tal projeto/ação deve-se considerar um longo prazo, coisa de dez anos para completar o círculo. Temos tempo para isso ou vamos levando com a barriga ? Não vai dar certo, nunca.