quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Murro em Ponta de Faca



Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Em decorrência dos dados divulgados pelo Censo da Educação Superior (Inep), referentes ao último Censo da Educação Superior (2013), a mídia correu interpretar deitando apocalipses e enervando o setor, que, bem ou mal preparado, deverá engolir o quadro quem sabe por quantos anos.
O noticiário, recheado de algumas más notícias, outras nem tanto, tiveram os títulos abaixo que dão clara mostra de como está e o que virá.
Matrículas no ensino superior crescem 3,8%, taxa inferior à do último censo (EBC)
O Brasil tem 7.305.977 estudantes matriculados em cursos de graduação no ensino superior, segundo o Censo do INEP divulgado na terça-feira (9). Os números são do ano de 2013. São 268.289 matrículas a mais que em 2012, um crescimento de 3,8%, sendo 1,9% na rede pública e 4,5% na rede privada.
O crescimento foi inferior em relação ao censo anterior, quando o número de matrículas aumentou 4,4% de 2011 para 2012.
Deste total de estudantes universitários, 5,3 milhões (73,5%) estão nas instituições particulares. O restante (1,9 milhão) se divide entre instituições federais (1,1 milhão), estaduais (604 mil) e municipais (190 mil). Os alunos matriculados em cursos de graduação estão distribuídos em 31.866 cursos, oferecidos por 2.391 instituições. A maior parte formada por universidades e faculdades particulares, 2.090 e o restante são instituições públicas (301).
Número de formandos no ensino superior cai pela 1ª vez em 10 anos (Folha de S.Paulo)
Entre 2012 e 2013, o número de concluintes de graduação no país caiu 5,65% -essa é a primeira queda ao menos desde 2003.
No ano passado, foram 991.010 concluintes, frente a 1.050.413 em 2012.

Cai o ritmo de expansão de matrículas no ensino superior público (Folha Online)
Cai o número de universitários brasileiros que concluem a faculdade (JN)

Matrículas no ensino superior aumentam 85,6% em 11 anos (Uol)
Entre 2003 e 2013, o número de estudantes em cursos superiores cresceu 85,6% mas vem caindo desde 2008, quando cresceu mais de 10% em um ano. Entre 2012 e 2013, o aumento foi de apenas 3,9%.
Matrículas em cursos tecnológicos aumentam 5,4% (Exame)
As matrículas em cursos tecnológicos de educação superior cresceram 5,4% no período de 2012 e 2013. No ano passado responderam por 13,6% do volume de matrículas na educação superior. Em 2003 o porcentual era de 2,9%. Os cursos superiores tecnológicos, de menor duração e formação mais específica, foram os que mais cresceram. Nos últimos 11 anos, o número de cursos aumentou mais de 500%, puxado principalmente pelo aumento de vagas na rede privada.
Queda no número de diplomas se deveu a processos de supervisão, diz MEC (Uol)

Educação a distância tem queda no número de matrículas (EM)
Os cursos de educação a distância representam cerca de 15% das matrículas de graduação no país. O número caiu 5% em relação ao apurado no último censo, de 2012. Em dez anos, houve um aumento de quase 25 vezes. Em 2003, havia 52 cursos desse tipo no país; no ano passado, o número chegou a 1.258.
Em 11 anos, oferta de cursos de graduação a distância cresce 24 vezes (Uol)
Os cursos de graduação a distância registraram crescimento de 15,7% entre 2012 e 2013.
Nos últimos 11 anos, a oferta de cursos na modalidade cresceu 24 vezes. Do total de cursos oferecidos no ano passado, 240 eram bacharelados, 592 licenciaturas e 426 tecnológicos.
O volume de matrículas em cursos da modalidade também registrou alta.
Entre 2012 (1.113.850) e 2013 (1.153.572), o crescimento foi de 3,4%, com 39.722 inscrições a mais.
O levantamento mostra também que os cursos a distância oferecidos em instituições privadas de ensino superior representaram 87% do número de inscritos, com 999.019 matrículas.
As universidades foram as instituições que mais concentraram número de matrículas, representando 71% das inscrições na modalidade EAD.
Número de estudantes do ensino à distância está cada vez maior (Jornal da Globo)
Com salário médio de R$ 1.868, pedagogia ainda é 3º curso mais procurado do Brasil (R7)

Modelo de expansão do ensino superior dá sinais de limite (OESP)
Conforme Bruno Morche (UFRS) o Censo do Inep mostra uma redução no ritmo de expansão do ensino superior brasileiro com a diminuição no processo de ampliação das matrículas, nas públicas e nas particulares. Para ele, o modelo brasileiro baseado em um pequeno número de instituições públicas totalmente gratuitas e um grande setor privado, possivelmente encontraria limites no início desta década.
E ele expõe os três motivos: (1)quanto ao setor público encontra limites de financiamento do governo para uma expansão significativa dado o elevado custo por aluno, que em 2010 chegou a 13 mil dólares; (2) no privado, os limites estão na diminuição da demanda pelo alto número de vagas que já foi oferecido e o limite da capacidade econômica da população; (3)problema recorrente das baixas taxas de acesso e conclusão do ensino médio que representam um funil no acesso ao ensino superior.

Paim destaca crescimento do número de mestres e doutores e defende qualidade (MEC)
 
Em nenhuma das leituras ocorreu contextualização com a situação econômica do país o que inocenta as mantenças, de certa forma, como sem culpa no cartório educacional. Ou seja, a exclusividade, a culpabilidade, fica na conta do governo que insiste em dois elementos constrangedores: a mentira como habitual e a incompetência.

Com relação ou não às campanhas políticas que ora são apresentadas, a mídia, ou melhor, os especialistas do mundo econômico e financeiro estão vestidos de belo smoking para dançar a derradeira valsa do governo petista com direito a fogos de artifício ao final. E tal alegria é apoiada no que os experts chamam de “as várias mentiras”. Que de alguma maneira perpassam aos empreendimentos da educação privada. Ou melhor, esmurram-na. Ao governo, aparentemente, perder um, dez, cem ou mil alunos nos espaços públicos pouco ou nada afeta. Afinal, a folha de pagamento já está saldada desde o plano orçamentário anterior, tudo garantido.

Em tempos de racionamento, a iniciativa privada, com certeza vai puxar o breque de mão e “racionar” mão de obra, consumo de energia, magreza na administração, bulimia na segurança, desnutrição nas bibliotecas e anemia nos laboratórios, etc. etc.

Sobre a política monetária, que teria sido um êxito, existe outra falácia porque a inflação está batendo na casa dos 6,50% sem se falar no represamento de cerca de dois pontos de inflação através do controle de preços de combustíveis, energia e câmbio, Que indústria, empresa, comércio ou prestação de serviços suporta isso atingindo diretamente o bolso do trabalhador, do jovem pretendente à educação superior? Não esquecer que tal pretensão, hoje, está na cabeça da moçada classe C e D, os mais atingidos porque os das classes A e B estão blindados com riqueza aplicada em ativos que remuneram acima da inflação.
O governo insiste na alegação que a crise vem de fora. E daí? Políticas econômicas ortodoxas de nossos vizinhos, além de reformas políticas, cresceram de 4,0% a 5,6% ao ano entre 2008 e 2013 enquanto a média do PIB brasileiro na administração Dilma deve ser de 1,7%. Heterodoxia pura.
Que tal? Isso não leva nem segura aluno na sala de aula.

As inteligências ministeriais dizem que a política neoliberal vai aumentar o desemprego, mas o crescimento econômico da era Dilma é o menor desde Floriano Peixoto, governo terminado em 1894. Em outra informação, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados(Caged), de maio, apontaram a menor geração de empregos desde 1992, junho foi o pior desde 1998 e julho, o pior desde 1999. Então, estamos bem na fita ou vamos continuar a dar ouvidos à mitomania desenfreada? Quem vai gerar desemprego é, isto sim, a nova matriz econômica. É esperar para ver.
Enorme motivo impeditivo em levar o alunado a estudar: públicas são poucas, particulares custam caro(?).
Há contra argumentos triviais: a de que a oposição quer acabar com o reajuste do salário mínimo e já firmemente contestados. O que a sociedade não se deteve é que o aumento real do salário mínimo entre 1994 e 2002 foi de 4,7%, de 5,5% ao ano entre 2003 e 2010, e de 3,5% ao ano entre 2011 e 2013.
Pode? Nos períodos, quanto tudo subiu de preço? E o dragão da inflação que corrói o aumento do salário nominal? Mais uma razão para afastar a juventude das escolas.
Então, a economia não tem tudo a ver com o quadro educacional?

Há quem argumente que a taxa de ingressantes de jovens das classes A e B não cresce porque existe uma queda do crescimento dessa população jovem
e que o ingresso das classes C e D, embora elevado(?) não é o suficiente para compensar.
Mas, há até quem proponha soluções(?).

Para resolver há uma campanha a desenvolver: particulares colaborarem criando estratégias para que haja menos evasão no ensino fundamental e médio. Também vale o governo incentivar a imigração ou as escolas buscarem alunos em outras paragens. Não é o que o resto do mundo faz, estimulando
estudos locais?