quarta-feira, 28 de junho de 2017

Notícias Positivas



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com

Jornalismo positivo, jornalismo cidadão, jornalismo de soluções, jornalismo de impacto são denominações para uma mesma tendência: propor um jornalismo que valorize as boas práticas na sociedade, aquelas que são capazes de transformá-la, indo além da pintura de um cenário de erro absoluto.

Existe hoje uma dificuldade coletiva em se manter o espírito alegre e a disposição de brigar por uma sociedade mais justa e menos predatória, pois não dá para sair por aí assobiando em meio à crise político-econômica brasileira, à fuga desesperada dos refugiados sírios e à miscelânea de desgraças cotidianas que a mídia não cansa de destacar. Mas inúmeros pesquisadores e jornalistas ao redor do mundo têm lançado um apelo a um tratamento renovado da informação, mais construtivo e que favoreça o empoderamento do leitor como remédio para a resignação e alavanca para a ação.

Jamais tanta informação foi difundida diariamente por tantas fontes e mídias. Jamais tantos indivíduos tiveram acesso a uma informação plural e exponencial. O mundo evolui e vem se reinventando constantemente. Atentas ao imbricamento da vida política, econômica e social, as mídias são as primeiras testemunhas e porta-vozes dessa efervescência de mudanças e evoluíram com a presença da web e das tecnologias móveis. Mas, quando o assunto é o tratamento da informação, tudo avança mais lentamente.

Não seria esta a hora de o jornalismo também empreender sua mudança? Todo o aparato tecnológico à disposição é uma chance de revitalizar o conteúdo da informação, porque, contrariamente ao adágio Bad news, good news, a informação positiva interessa. Pesquisadores já comprovaram que ela se espalha mais rapidamente pelas redes sociais que as “más” notícias.

Reportagens que apresentam soluções para resolver uma questão costumam ser mais compartilhadas entre amigos do que aquelas que apenas apresentam o problema, concluiu um
estudo conduzido pelo projeto Engaging News Project, da Universidade do Texas, em Austin, em parceria com a organização Solutions Journalism Network.

Para David Bornstein, coautor da coluna
Fixes, do jornal New York Times, que explora soluções para problemas sociais, o jornalismo deveria, além de reportar os problemas, oferecer soluções e informar ao leitor o que pode ser aprendido com elas. Ele não acredita, entretanto, que um dos papéis do jornalismo seja fazer com que as pessoas se sintam bem. “A nossa análise do Fixes é que as pessoas querem um jornalismo que dê soluções para os problemas, mas não porque elas querem apenas boas notícias. Na verdade, elas querem informações que as ajudem a entender o mundo e a enfrentar melhor esses problemas”.

O jornalismo positivo não é sinônimo de ingenuidade, de só estampar notícia “boa”, mas de empoderar o leitor e torná-lo mais consciente dos problemas e consequências dos fatos divulgados: alimentá-lo de realismo e pragmatismo para que veja o copo meio cheio e não meio vazio.

John Fitzgerald Kennedy dizia que “os problemas do mundo não podem ser resolvidos por céticos ou cínicos cujos horizontes se limitam às realidades evidentes. Precisamos de homens capazes de imaginar o que jamais existiu”. A proposta do jornalismo de soluções é fazer face ao fatalismo e à resignação. Pretende ser uma injeção de serotonina, uma ajuda para que o leitor saia da cama de manhã sem ser refém da informação. Para isso, é preciso que os jornalistas acrescentem uma pergunta às seis clássicas da notícia (quem?, o quê?, onde?, como?, quando?, por quê?) – e agora?

Evoluir em direção à informação construtiva é mais do que simplesmente informar – é insuflar a criatividade e incitar à ação, ao compromisso. É resgatar no leitor, antes de tudo cidadão, sua capacidade de se ver agindo eficazmente para mudar seu cotidiano e o de seus semelhantes.

Eis a meta do WWW.JORNALISTAPOSITIVO.BLOGSPOT.COM.BR, que, a exemplo de inúmeros sites e blogs ao redor do mundo, quer oferecer a seus leitores uma ampla gama de artigos, notícias e reportagens tendo como foco o jornalismo de soluções.

No final do ano, na Cidade do Vaticano, o Papa Francisco recebeu cerca de 10 mil fiéis em uma solene cerimônia tradicional e dirigindo-se a eles disse: “Os meios de comunicação precisam abrir mais espaço para histórias inspiradoras e positivas para contrabalançar a preponderância do mal, da violência e ódio no mundo.” Não sem razão.
Em meio à crise política e econômica que atravessamos, o noticiário não anda dos mais aprazíveis. Matérias diárias sobre mortes, corrupção e outros crimes diversos acabam por criar um clima tenso e denso sobre a situação do país. Embora saibamos todos que a imprensa  não  possa se abster de comunicar os assuntos de momento, por mais reprováveis que sejam.

Trabalhar, nem pensar!




Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás
que trabalhar nem um dia na tua vida.
Confúcio

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional        
signorinironey1@gmail.com

A mídia resolveu abordar, novamente, o assunto relativo a amorização ao trabalho questionando se amar o trabalho é mesmo necessário.

A última abordagem do tema se deu no domingo, dia 2 de abril, pela Folha de São Paulo no caderno Sobre Tudo, nessa edição focando Carreiras, com três participações expressivas: Beatriz Braga dizendo SIM e Sigmar Malvezzi dizendo NÃO à indagação “Será que amar o trabalho é mesmo fundamental?”
Anna Rangel também deu seus pitacos na matéria.

Não é de hoje que o tema suscita questionamentos, creio, a partir do surgimento da expressão workaholic, tão ao gosto de psicólogos, terapeutas, profissionais de RH, terapeutas ocupacionais e tantos outros pretendendo interpretar o que se passa com os obstinados pelo trabalho. As vezes trocando
uma série infindável de satisfações, vantagens, comodidades e facilitismos
por uma incessante, exaustiva e cansativa, interminável jornada de trabalho.
O workaholic é um  trabalhador compulsivo.  É uma pessoa que trabalha compulsivamente. O termo geralmente implica em uma pessoa que gosta de seu trabalho, mas também pode implicar que simplesmente se sente obrigada a fazê-lo. Não há definição médica universalmente aceita desta como uma condição, apesar de que algumas formas de estresse, transtorno de controle de impulso e transtorno obsessivo-compulsivo podem ser relacionadas ao trabalho.

As pessoas viciadas em trabalho sempre existiram, no entanto, esta última década acentuou sua existência motivada pela alta competitividade, vaidade, ganância, necessidade de sobrevivência ou ainda alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém ou a si mesmo.

Quando falamos em envolvimento com o trabalho, o patológico e o saudável é sutil e há uma distinção clara entre os obcecados e os apaixonados pela profissão.
Para uns o ofício é tão prazeroso que, por vezes, até perde sua natureza de obrigação e se transforma numa espécie de arte, esporte, brincadeira. Nem parece trabalho. Ainda que amar a profissão seja um ingrediente essencial para a felicidade, é preciso cuidar para que o gosto pelo ofício não se converta em obsessão e não se exacerbe.
O excesso não aparece necessariamente no tempo dedicado ao emprego: nem sempre o workaholic trabalhará mais horas do que um mero apaixonado pelo seu ofício.
Afinal, diz o. consagrado psicólogo húngaro Mihaly Csikszentimihalvi, especialista no assunto, amar o trabalho frequentemente produz o famoso “estado de flow”, ou fluxo. O conceito descreve um estado mental em que o profissional se sente completamente absorto pelo que está fazendo – como se estivesse num túnel e não enxergasse nada além do seu objetivo.

Parece que para o workaholic sua rotina é bastante diferente pois o excesso não é episódico mas um modus operandi, explica André Caldeira, especialista em gestão de carreira e autor do livro “Muito trabalho e pouco stress” (Editora Évora).
Tudo indica que para o workaholic, o trabalho é exatamente como uma droga. Ele não sente mais satisfação, só tenta saciar uma necessidade patológica de vencer sempre e jamais ser visto como incompetente pelos demais. E tem um preço alto: o resultado desse comportamento costuma ser devastador pois gera isolamento social, degradação das relações afetivas, queda de desempenho e abalo da saúde física e mental.
Até aqui fizemos pequena digressão desse quadro no mundo do trabalho mas há um outro lado, quem sabe o esposado por Confúncio que sintetiza espetacularmente isso de trabalhar onde se goste, do que se goste.

Nos idos de 2014 Anna Carolina Rodrigues já escrevia para VOCÊ S/A
que “
A ideia de que é preciso ser apaixonado pelo trabalho para ter sucesso virou um mantra.” E deixa claro que esse assunto exige mais discussão.
E ela conta que em 2005, Steve Jobs fez um discurso emocionante para 23 mil alunos da Universidade Stanford, na Califórnia, numa cerimônia de formatura. De lá para cá, o vídeo do evento já foi assistido mais de 20 milhões de vezes no YouTube.
Em determinado momento de sua fala, Jobs foi lapidar: “Você tem de encontrar o que você ama. A única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando, e não se acomode”.
O texto do genial fundador da Apple serviu como um grande reforço para a ideia de que associar trabalho à satisfação é um componente essencial do sucesso. Muita gente toma esse raciocínio como verdade absoluta, mas ele não explica algumas questões.

O que fazer com os profissionais que são ótimos fazendo um trabalho que odeiam? Como explicar aqueles que adoram o que fazem, mas têm um péssimo desempenho? Não é o caso de se investigar melhor o discurso da paixão pelo fazer?

Em 2010 Cal Newport, professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown, em Washington, ficou obcecado pela ideia de obter resposta a uma pergunta simples: “Por que algumas pessoas acabam amando sua carreira e outras não?”. Cal tinha a tese de que seguir uma vocação inicial não era exatamente o caminho mais eficaz para ter amor pelo trabalho. O resultado da investigação está no livro So Good They Can’t Ignore You (“Tão bom que eles não podem ignorá-lo”)

A premissa do faça o que você ama é muito atraente, mas falseia porque a maioria das pessoas não é programada para amar determinado tipo de trabalho. Aqui o leitor está com a palavra.

Amar o ofício talvez seja mais simples para quem ocupa um cargo de destaque ou tem um negócio de sucesso — o que dá razão para Steve Jobs. Mas, para grande parte dos trabalhadores, a relação entre prazer e fazer é muito conflituosa porque para a maioria das pessoas, a possibilidade de fazer o que ama é limitada pela obrigação de ter de ganhar dinheiro para sobreviver.
Amar o trabalho tornou-se o principal problema que praticamente é uma obrigação nos últimos anos, como se fosse o único caminho para o sucesso. “Há um romantismo ingênuo”, diz Eduardo Ferraz, consultor de gestão de pessoas e autor do livro Seja a Pessoa Certa no Lugar Certo (Gente). “Parece uma falha moral a pessoa trabalhar para sobreviver.”

É frustrante quando a pessoa não encontra o trabalho perfeito, desejado. Mais importante do que trabalhar com o que se ama é pensar em fazer algo que pode gerar crescimento e, eventualmente, satisfação. É preciso destacar que
boa parte do discurso da paixão pela profissão traz embutida uma imagem estilizada de trabalho, em geral mais agradável do que a realidade cotidiana. O profissional supõe que em um trabalho prazeroso será mais fácil ser feliz ou ficar rico, o que nem sempre é verdade.


Acreditar no sucesso pela paixão tem também o problema de diminuir a importância do mérito e do esforço para construir uma carreira. Fazer o que ama é ótimo, mas não se pode ter a ilusão, ou a falsa esperança, de que basta ter a coragem de mudar para uma atividade amada que o sucesso virá a reboque.

Ana Carolina acredita no sucesso pela paixão que tem também o problema de diminuir a importância do mérito e do esforço para construir uma carreira. Fazer o que ama é ótimo, mas não se pode ter a ilusão, ou a falsa esperança, de que basta ter a coragem de mudar para uma atividade amada que o sucesso virá a reboque.
É essencial, mas é preciso estar muito bem preparado para que as expectativas encontrem as oportunidades. Fazer o que se ama é um pouco de acaso e bastante de noção sobre as próprias limitações. Por exemplo, tem gente que ama tocar piano, mas nunca poderia fazer isso profissionalmente.
Caroline conclui que o trabalho ocupa, sim, uma parcela importante da vida de cada um e é fundamental buscar atividades que dão prazer. Mas tem de ser crítico nas decisões de carreira. O profissional deve afastar a ideia ingênua de que uma mudança traz felicidade.
E também deve evitar se sentir culpado ou infeliz por exercer um trabalho pouco prazeroso.

Na verdade, a melhor estratégia é enxergar o trabalho como parte de um plano de vida, que tenha múltiplas fontes de satisfação além da profissional.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Tecnologia X Cérebro X Inteligência



“O homem cria as ferramentas e,
subsequentemente, as ferramentas
recriam o homem”.  Marshall McLuhan
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional 
signorinironey1@gmail.com

O contido na epígrafe traduz de forma simples e brilhante a conexão da tecnologia com a evolução da humanidade.
Não tenho inimigos, que eu saiba, ao contrário, muitos amigos cuja relação fraternal é tão grande que se acham no direito de me provocar. Já foi dito que amigo é para essas coisas. Um deles é cruel dizendo que eu só penso em tecnologia, em inovação, em criação e tudo que decorre de inusitado diante da sociedade, da ciência, da cultura e da filosofia. Pudera, tem formação em história assim vive nas asas do humanismo.

O fogo é uma das primeiras tecnologias dominadas pela humanidade e que alavanca a nossa evolução. A partir de então, o homem começa a cozinhar os alimentos e isso modifica o tipo de nutrientes absorvidos pelo cérebro, fazendo com que ele se adensasse nos tornando mais inteligentes.
Além do cérebro, o fogo permitiu proteção contra animais, proporcionou aquecimento e luz, trazendo possibilidades sociais que transformaram nossos hábitos e costumes. Assim, o homem cria o fogo e o fogo recria o homem.
Algumas tecnologias introduzidas em nossas vidas ao longo dos séculos  como o carro, a escada rolante e o controle remoto, por exemplo, vieram para o bem e para o mal.
Nenhuma tecnologia é neutra. As tecnologias sempre afetam a humanidade em algum grau – de algumas formas, nos beneficiam. De outras, nos prejudicam. Por isso, é essencial estarmos sempre atentos às novas tecnologias que emergem em nossas vidas, pois elas certamente nos afetarão. No entanto, acompanhar as transformações tecnológicas e os impactos que elas nos causam não é uma tarefa fácil e torna-se cada vez mais difícil.
Para Martha Gabriel[1], “Se no Século XX, entre o nascimento e morte das pessoas haviam poucas mudanças tecnológicas (o rádio, a TV, o carro, o telefone, etc., sofreram poucas transformações em décadas), hoje, a cada 18 meses as tecnologias mudam. Em algumas áreas, como nas mídias sociais, computação e telecomunicações, as tecnologias chegam a mudar várias vezes por ano. Assim, o ambiente tecnológico torna-se cada vez mais complexo e interconectado com o corpo humano e, portanto, nos transformando de forma cada vez mais rápida e intensa, inclusive o nosso principal órgão, o cérebro.”
Além de controlar fisicamente todos os órgãos do corpo, o cérebro humano é a estrutura física que psicologicamente gera a mente, a fonte do nosso pensamento e consciência. As transformações no cérebro ao longo da evolução da humanidade são responsáveis pelas mudanças no mundo para chegarmos à civilização atual.
Ray Kurzweill afirma que o corpo cria o cérebro e o cérebro recria o corpo. Nosso cérebro está se esparramando pelas plataformas digitais – estamos nos tornando seres tecnológicos. Se a tecnologia fora do nosso corpo já nos transformava, qual será o seu impacto fazendo cada vez mais parte de nós?
De modo geral, o ser humano tem grande capacidade de se adaptar às novas tecnologias. O intercâmbio eletrônico de pensamentos por e-mail, por exemplo, desenvolveu um tipo de comunicação exigente e expressiva, assumindo uma forma de escrita própria, entre a linguagem oral e a escrita. Especialistas em estilo chegaram até a cunhar uma nova classificação: o text talk - a fala pelo texto.

Quem tem menos de 30 anos mal consegue imaginar um tempo sem computador, internet ou celular. E não é raro que se questione como há poucas décadas inúmeras atividades eram desempenhadas sem o auxílio da tecnologia disponível atualmente. Pesquisas escolares, por exemplo, eram muito mais demoradas e trabalhosas, já que não havia a enorme quantidade de informações disponíveis hoje na rede. No tempo do papel e da máquina de escrever qualquer equívoco, que já pode ser apagado com o simples toque numa tecla, significava rasuras e exigia o uso dos corretores líquidos - o que, invariavelmente, comprometia a apresentação do trabalho.

Para a psicóloga e pesquisadora Annette Schäfer, “É indiscutível que de diversas maneiras a "colega" tecnologia tornou o trabalho bem mais rápido - e, em alguns casos, bastante flexível. Mas tanto para a psique humana quanto para as organizações essa nova realidade representa um enorme desafio. Afinal, as aquisições de qualquer ordem têm um preço. Nesse caso, podemos citar os inconvenientes da torrente de informações que chega até nós quase em tempo integral, o isolamento social e a confusão entre vida privada e trabalho.”
Para o professor de sociologia da tecnologia e da indústria Günter Voss, da Universidade de Chemnitz, “Os desafios impostos à competência técnica de profissionais tiveram um aumento estratosférico nos últimos anos; tecnologias disponíveis tornam-se cada vez mais variadas, complexas e interligadas. E espera-se que profissionais aprendam rapidamente a lidar com essa nova realidade.”

Trabalhar amparado na tecnologia significa para muitos a possibilidade de rotina mais flexível. Para pesquisadores, porém, esse modelo não significa, necessariamente, melhor qualidade de vida. Pelo contrário: em alguns casos pode implicar uma série de problemas como isolamento, dificuldade de se organizar e sobrecarga de atividades. Afinal, quando o escritório fica a poucos passos da sala de jantar ou do quarto pode ser difícil para alguns encerrar o expediente e evitar fazer "horas extras" em horários em que, em outras circunstâncias, estariam longe da empresa.

Para Miguel Nicolelis[2], cientista brasileiro, ele trombeteia com sons graves afirmando que por ser extremamente adaptável, condicionado ao uso extremo da tecnologia, o cérebro pode se comportar como sistema digital, o que expõe os indivíduos ao risco de alienação social. O mau uso da tecnologia pode causar danos ao cérebro e à capacidade produtiva.
Nicolelis defendeu que o chamado “sonho dourado” do capitalismo, de substituir totalmente a mão de obra pela tecnologia para baratear os custos de produção, é “completamente impossível”, já que algumas características do intelecto humano são impossíveis de serem reproduzidas por máquinas. O que ocorre, no entanto, é que muitos trabalhadores acabam como coadjuvantes da tecnologia no processo produtivo, o que pode causar danos sérios ao cérebro humano, à capacidade de produção e a organização do mercado de trabalho.
Conforme ele, em matéria publicada pela Rede Brasil Atual (28/08/16), com as assinaturas de Cida de Oliveira e Sarah Fernandes,  “Nós estamos condicionando nosso cérebro ao uso de tecnologia ao longo da vida, e como ele é extremamente adaptável, passa a imaginar que o que vale a pena, como os prazeres sociais e financeiros, se comporta também como um sistema digital. O continuo contato digital, por exemplo, leva a alienação social dos indivíduos”, disse. “Um grande risco é que a condição humana está sendo moldada pelas nossas interações digitais modernas. A tecnologia deve ser usada para melhorar a vida no planeta e para a felicidade plena, mas esse modelo de hoje coíbe a criatividade, as expressões artísticas e a comunicação.”

Uma condição fica clara, sem meios termos, inarredável e inescapável à luz do avanço da tecnologia, que é meio mas sempre considerado que todo o complexo fisiológico humano depende exclusivamente do cérebro, que manda seus impulsos através do corpo. Tais impulsos “ordenam” que os braços realizem tarefas e as pernas se locomovam. Dentre os sentidos que dominam nossas percepções(intuição ou instinto) todos são insubstituíveis e no princípio esculpimos nossas machadinhas e pontas de lança para chegar em tão curto espaço de tempo aos satélites, pelo império absoluto da inteligência, do cérebro desaguando nas tecnologias.

Em recente entrevista à Revista Veja Lia Luz perguntou ao neurocientista Gary Small: O senhor afirma que, desde que o homem primitivo descobriu como utilizar uma ferramenta, o cérebro humano nunca foi afetado tão rápida e dramaticamente como agora. Por quê?
Gary Small -  Essa é uma consequência do uso dos computadores e, mais especificamente, da internet. Nossos circuitos cerebrais são formados por conexões entre os neurônios, chamadas de sinapses. A todo momemo, esses circuitos respondem às variações do ambiente. Ao passarem horas em frente ao computador, seja para pesquisar, mandar e-mails ou fazer compras, as pessoas estão expondo o cérebro a uma enxurrada de estímulos. É por isso que o uso da tecnologia digital altera nossos circuitos cerebrais.

[1] Martha Gabriel é escritora, consultora, palestrante keynote internacional e professora. Autora de 4 livros, inclusive do best seller "Marketing na Era Digital", é apontada pela SMMagazine como o professor brasileiro mais influente no Twitter, rankeada pelo Kred como um dos 50 Marketing Bloggers mais influentes do mundo, e eleita pela Revista ProXXIma entre os 50 profissionais brasileiros mais inovadores no mundo digital.

[2] Miguel Nicolelis foi o primeiro cientista a receber, num mesmo ano (2009), dois prêmios dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science.

Quem (não) tem Medo da Inteligência Artificial?



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional 
signorinironey1@gmail.com

Informação: Então o que se prenuncia como nova era é o dataísmo em continuidade ao humanismo que vivemos hoje?
Trata-se da transferência involuntária de todos os nossos dados (daí a derivação) para o bigdata, cuja consequência é o sistema conhecer com muita propriedade de análise os comportamentos do indivíduo, preferências, tendo como base as emoções sentidas e registradas mediante estímulos.
Por exemplo, enquanto a gente lê um livro no Kindle, algoritmos analisam as sensações diante de alguma frase que  emociona e grava esse registro para disponibilizar sugestões de outros livros.
Vai casar? E tem dúvidas?  Pergunte ao Google.
Ele lhe dirá que, conhecendo você e a outra parte, a análise dos dados gravados, recolhidos nas mídias sociais, indica uma porcentagem de x% de que se poderá ser feliz ou não.
Vai dirigir? A análise da íris pelo sistema interno do veículo providenciará algumas ações inclusive na maneira de dirigir, informará ao sistema de automação de sua residência e no prontuário médico o seu nível de stress.
Isso é dataísmo. O risco para as próximas gerações será confiar plenamente nisso e perder o livre-arbítrio. Papo maluco beleza, conforme Raul Seixas.
Para ajudar em seu curso online de ciências da computação no Instituto de Tecnologia da Geórgia, o professor Ashok Goel, selecionou um novo assistente. O papel da americana Jill Watson era responder a algumas das cerca de 10.000 mensagens que os 300 alunos postavam em fóruns online relacionados aos temas da disciplina. Watson auxiliou os estudantes sendo um ótimo apoio no momento de desenhar programas digitais. Mas, foi então que os alunos descobriram que Jill Watson era um robô – uma versão avançada do programa Watson, da IBM.
O professor assistente, em verdade, é a própria tecnologia em um programa de computador, especialista em compreender questões complexas, analisar dados e apresentar respostas e soluções. Esse sistema de computação cognitiva é usado atualmente em algumas áreas como medicina e administração para apoiar o trabalho diário dos profissionais
Na China  um  robô professora chamado de Xiaomei dá aulas  e até atende pedidos de alunos.  O  androide foi criado na Universidade Jiujiang, na província chinesa de Jiangxi sob a liderança do cientista Zhang Guangshun,

Entrar em uma sala de aula e ser recebido por um robô humanoide que ensina geometria. Esse é o foco de diversas pesquisas que estão sendo realizadas no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Entre os trabalhos relacionados ao tema está um projeto de mestrado que utilizou o Robô NAO para ensinar geometria a 62 adolescentes entre 13 e 14 anos de escolas públicas e particulares de São Carlos. Por meio de um sistema de visão computacional, o robô foi programado para reconhecer figuras geométricas planas.
Em todo o mundo pesquisadores da área da educação estão buscando novas ferramentas de ensino com a inserção de tecnologia em sala de aula. Hoje em dia, a simples exposição de conteúdo na lousa não atrai toda a atenção dos alunos e a robótica pode tornar a aula mais atrativa. A proposta não é substituir o professor em sala de aula, mas usar o robô como uma ferramenta de apoio ao ensino.
Empregar os principais métodos das áreas de pedagogia e tecnologia, que iniciaram sua fusão recentemente, exige domínio e controle em ambos os campos. É essencial que especialistas de cada área estejam sempre presentes. Entretanto, pesquisados, todos os estudantes alegaram ser indispensável a presença de um professor humano em sala de aula.

Para o futuro da robótica educacional vislumbra-se uma grande revolução no ensino. À  medida que esses robôs forem se tornando cada vez mais sociáveis e inteligentes, teremos grandes mudanças. Hoje em dia, a maioria dos professores prepara suas aulas utilizando computadores, então, por que não pensar, no futuro, em prepará-las utilizando robôs?

Para aprender é preciso querer. E para que o aluno queira saber é necessário despertar nele um input que o leve a se esforçar e ultrapassar a barreira do comodismo. E é isso que, dificilmente, um robô será capaz de fazer, na opinião de Daphne Koller, presidente do Coursera, uma das maiores plataformas de ensino on-line
Diz ela: “Os robôs não serão capazes de substituir professores, porque eles não podem nos inspirar”, disse Koller em entrevista ao site Recode, dos Estados Unidos, uma declaração chamativa para quem distribui conteúdo virtual. Para ela, uma das conclusões ao analisar o perfil dos alunos da plataforma, há três tarefas que dificilmente serão substituídas pela inteligência artificial: a criação dos conteúdos, a resposta para perguntas que só os humanos poderão suscitar e, sobretudo, a capacidade de inspiração de um bom professor.

Fato é            que o sucesso da Inteligência Artificial assusta muita gente por aí. E alguns até acreditam que um dia as máquinas vão dominar o mundo e acabar com a humanidade.

Inteligência artificial (IA) é a inteligência similar à humana exibida por mecanismos ou software. Claro, já é de longa data um campo de estudo acadêmico. Os principais pesquisadores e livros didáticos definem o campo como "o estudo e projeto de agentes inteligentes", em que um agente inteligente é um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso.
John McCarthy, que cunhou o termo em 1956, numa conferência de especialistas no Darmouth Colege, a define como "a ciência e a engenharia de produzir máquinas inteligentes e fazer a máquina comportar-se de tal forma que seja chamada inteligente caso fosse este o comportamento de um ser humano". É uma área de pesquisa da computação dedicada a buscar métodos ou dispositivos computacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, de forma ampla, ser inteligente.
O principal objetivo dos sistemas de IA é executar funções que, caso um ser humano fosse executar, seriam consideradas inteligentes. É um conceito amplo, e que recebe tantas definições quanto damos significados diferentes à palavra Inteligência. Podemos pensar em algumas características básicas desses sistemas, como a capacidade de raciocínio (aplicar regras lógicas a um conjunto de dados disponíveis para chegar a uma conclusão), aprendizagem (aprender com os erros e acertos de forma a no futuro agir de maneira mais eficaz), reconhecer padrões (tanto padrões visuais e sensoriais, como também padrões de comportamento) e inferência (capacidade de conseguir aplicar o raciocínio nas situações do nosso cotidiano).
A construção de máquinas inteligentes interessa à humanidade há muito tempo, havendo na história tanto um registro significante de autômatos mecânicos (reais) quanto de personagens míticos (fictícios) construídos pelo homem com inteligência própria. Tais relatos, lendas e ficções demonstram expectativas contrastantes do homem, de fascínio e de medo, em relação à Inteligência Artificial.
Hoje eu arriscaria afirmar que é possível se pensar em um curso em universidades contemplando o espaço exigido para iniciar, desenvolver e aplicar todos os conhecimentos para a amarração de ciências voltadas para a IA.
“Inteligência artificial” pode ser separada em duas partes: “qual a natureza do artificial” e “o que é inteligência”. Ao conceituar-se inteligência artificial, presume-se a interação com o ambiente, diante de necessidades reais como relações entre indivíduos semelhantes, a disputa entre indivíduos diferentes, perseguição e fuga; além da comunicação simbólica específica de causa e efeito em diversos níveis de compreensão intuitiva, consciente ou não.
Não existe uma teoria ou paradigma unificador que oriente a pesquisa de IA. Pesquisadores discordam sobre várias questões. Algumas das perguntas mais longas que ficam sem resposta são as seguintes:
a-)A Inteligência Artificial deve simular inteligência natural, estudando psicologia ou neurologia?
b-)Será que a biologia humana é tão irrelevante para a pesquisa de IA como a biologia das aves é para a engenharia aeronáutica?
c-)O comportamento inteligente pode ser descrito usando princípios simples e elegantes (como lógica ou otimização)?
d-)Ou ela necessariamente requer que se resolva um grande número de problemas completamente não relacionados?
e-)A inteligência pode ser reproduzida usando símbolos de alto nível, similares às palavras e ideias?
Os sistemas de lógica difusa [1] e computação evolucionária, são agora estudados coletivamente pela disciplina emergente inteligência computacional.
Apenas recentemente, com o surgimento do computador moderno, é que a inteligência artificial ganhou meios e massa crítica para se estabelecer como ciência. A IA é tema bastante controverso, pois envolve temas como consciência e fortes problemas éticos ligados ao que fazer com uma entidade que seja cognitivamente indiferenciável de seres humanos.
A ficção científica tratou de muitos problemas desse tipo. Isaac Asimov, por exemplo, escreveu O Homem Bicentenário, em que um robô consciente e inteligente luta para possuir um status semelhante ao de um humano na sociedade. E Steven Spielberg dirigiu A.I. Inteligência Artificial, em que um garoto-robô procura conquistar o amor de sua "mãe", tentando uma maneira de se tornar real. Por outro lado, o mesmo Asimov reduz os robôs a servos dos seres humanos ao propor as três leis da robótica.[2]
Os primeiros anos da IA foram repletos de sucessos, pois causava surpresa o fato de um computador realizar qualquer atividade remotamente inteligente.
Diante deste admirável mundo novo, Stephen Hawking faz soar um alerta: em seu artigo, publicado pelo The Independent em 2014 (http://www.independent.co.uk/news/science/stephen-hawking-transcendence-looks-at-the-implications-of-artificial-intelligence-but-are-we-taking-9313474.html), o físico inglês traz um questionamento sobre uma potencial ameaça “interna” (quer dizer, que não vai vir de outro planeta para nos dominar e drenar nossos recursos) que nem sempre é levada muito a sério – a inteligência artificial.
“Dá para imaginar essa tecnologia ficando mais inteligente que mercados financeiros, inventando mais que pesquisadores humanos, manipulando líderes e criando armas que sequer entendemos”, diz Hawking. “Enquanto o impacto da inteligência artificial a curto prazo depende de quem a controla, a longo prazo dependerá de se ela poderá ser controlada.”
Nesse clima pessimista e alarmista, é sempre bom reforçar que há valores humanos que ainda não podem ser reproduzidos pela máquina, como ética,  solidariedade e cidadania, que devem fazer parte de todos os currículos, em qualquer nível.
Com isso, aí está uma enorme tarefa para as universidades darem conta, pondo a mão na massa para levar literatura/bibliografia própria para suas bibliotecas, construir currículos com disciplinas cujos conteúdos capacitem, montar laboratórios, contratar especialistas, estimular estudos e projetos, que, saindo das pranchetas, caiam nos braços da indústria nacional.

[1] A lógica difusa é a forma de lógica multivalorada na qual os valores lógicos das variáveis podem ser qualquer número real entre 0 (FALSO) e 1 (VERDADEIRO). Ela foi estendida para lidar com o conceito de verdade parcial, onde o valor verdade pode compreender entre completamente verdadeiro e completamente falso.
O termo lógica difusa foi introduzido em 1965 com a proposta da teoria de conjuntos difusos por Lofti A. Zadeh.
[2] As três diretivas que Asimov fez se implantarem nos "cérebros positrônicos" dos robôs em seus livros são:
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Mais tarde Asimov acrescentou a “Lei Zero”, acima de todas as outras: um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.