segunda-feira, 19 de junho de 2017

Tecnologia X Cérebro X Inteligência



“O homem cria as ferramentas e,
subsequentemente, as ferramentas
recriam o homem”.  Marshall McLuhan
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional 
signorinironey1@gmail.com

O contido na epígrafe traduz de forma simples e brilhante a conexão da tecnologia com a evolução da humanidade.
Não tenho inimigos, que eu saiba, ao contrário, muitos amigos cuja relação fraternal é tão grande que se acham no direito de me provocar. Já foi dito que amigo é para essas coisas. Um deles é cruel dizendo que eu só penso em tecnologia, em inovação, em criação e tudo que decorre de inusitado diante da sociedade, da ciência, da cultura e da filosofia. Pudera, tem formação em história assim vive nas asas do humanismo.

O fogo é uma das primeiras tecnologias dominadas pela humanidade e que alavanca a nossa evolução. A partir de então, o homem começa a cozinhar os alimentos e isso modifica o tipo de nutrientes absorvidos pelo cérebro, fazendo com que ele se adensasse nos tornando mais inteligentes.
Além do cérebro, o fogo permitiu proteção contra animais, proporcionou aquecimento e luz, trazendo possibilidades sociais que transformaram nossos hábitos e costumes. Assim, o homem cria o fogo e o fogo recria o homem.
Algumas tecnologias introduzidas em nossas vidas ao longo dos séculos  como o carro, a escada rolante e o controle remoto, por exemplo, vieram para o bem e para o mal.
Nenhuma tecnologia é neutra. As tecnologias sempre afetam a humanidade em algum grau – de algumas formas, nos beneficiam. De outras, nos prejudicam. Por isso, é essencial estarmos sempre atentos às novas tecnologias que emergem em nossas vidas, pois elas certamente nos afetarão. No entanto, acompanhar as transformações tecnológicas e os impactos que elas nos causam não é uma tarefa fácil e torna-se cada vez mais difícil.
Para Martha Gabriel[1], “Se no Século XX, entre o nascimento e morte das pessoas haviam poucas mudanças tecnológicas (o rádio, a TV, o carro, o telefone, etc., sofreram poucas transformações em décadas), hoje, a cada 18 meses as tecnologias mudam. Em algumas áreas, como nas mídias sociais, computação e telecomunicações, as tecnologias chegam a mudar várias vezes por ano. Assim, o ambiente tecnológico torna-se cada vez mais complexo e interconectado com o corpo humano e, portanto, nos transformando de forma cada vez mais rápida e intensa, inclusive o nosso principal órgão, o cérebro.”
Além de controlar fisicamente todos os órgãos do corpo, o cérebro humano é a estrutura física que psicologicamente gera a mente, a fonte do nosso pensamento e consciência. As transformações no cérebro ao longo da evolução da humanidade são responsáveis pelas mudanças no mundo para chegarmos à civilização atual.
Ray Kurzweill afirma que o corpo cria o cérebro e o cérebro recria o corpo. Nosso cérebro está se esparramando pelas plataformas digitais – estamos nos tornando seres tecnológicos. Se a tecnologia fora do nosso corpo já nos transformava, qual será o seu impacto fazendo cada vez mais parte de nós?
De modo geral, o ser humano tem grande capacidade de se adaptar às novas tecnologias. O intercâmbio eletrônico de pensamentos por e-mail, por exemplo, desenvolveu um tipo de comunicação exigente e expressiva, assumindo uma forma de escrita própria, entre a linguagem oral e a escrita. Especialistas em estilo chegaram até a cunhar uma nova classificação: o text talk - a fala pelo texto.

Quem tem menos de 30 anos mal consegue imaginar um tempo sem computador, internet ou celular. E não é raro que se questione como há poucas décadas inúmeras atividades eram desempenhadas sem o auxílio da tecnologia disponível atualmente. Pesquisas escolares, por exemplo, eram muito mais demoradas e trabalhosas, já que não havia a enorme quantidade de informações disponíveis hoje na rede. No tempo do papel e da máquina de escrever qualquer equívoco, que já pode ser apagado com o simples toque numa tecla, significava rasuras e exigia o uso dos corretores líquidos - o que, invariavelmente, comprometia a apresentação do trabalho.

Para a psicóloga e pesquisadora Annette Schäfer, “É indiscutível que de diversas maneiras a "colega" tecnologia tornou o trabalho bem mais rápido - e, em alguns casos, bastante flexível. Mas tanto para a psique humana quanto para as organizações essa nova realidade representa um enorme desafio. Afinal, as aquisições de qualquer ordem têm um preço. Nesse caso, podemos citar os inconvenientes da torrente de informações que chega até nós quase em tempo integral, o isolamento social e a confusão entre vida privada e trabalho.”
Para o professor de sociologia da tecnologia e da indústria Günter Voss, da Universidade de Chemnitz, “Os desafios impostos à competência técnica de profissionais tiveram um aumento estratosférico nos últimos anos; tecnologias disponíveis tornam-se cada vez mais variadas, complexas e interligadas. E espera-se que profissionais aprendam rapidamente a lidar com essa nova realidade.”

Trabalhar amparado na tecnologia significa para muitos a possibilidade de rotina mais flexível. Para pesquisadores, porém, esse modelo não significa, necessariamente, melhor qualidade de vida. Pelo contrário: em alguns casos pode implicar uma série de problemas como isolamento, dificuldade de se organizar e sobrecarga de atividades. Afinal, quando o escritório fica a poucos passos da sala de jantar ou do quarto pode ser difícil para alguns encerrar o expediente e evitar fazer "horas extras" em horários em que, em outras circunstâncias, estariam longe da empresa.

Para Miguel Nicolelis[2], cientista brasileiro, ele trombeteia com sons graves afirmando que por ser extremamente adaptável, condicionado ao uso extremo da tecnologia, o cérebro pode se comportar como sistema digital, o que expõe os indivíduos ao risco de alienação social. O mau uso da tecnologia pode causar danos ao cérebro e à capacidade produtiva.
Nicolelis defendeu que o chamado “sonho dourado” do capitalismo, de substituir totalmente a mão de obra pela tecnologia para baratear os custos de produção, é “completamente impossível”, já que algumas características do intelecto humano são impossíveis de serem reproduzidas por máquinas. O que ocorre, no entanto, é que muitos trabalhadores acabam como coadjuvantes da tecnologia no processo produtivo, o que pode causar danos sérios ao cérebro humano, à capacidade de produção e a organização do mercado de trabalho.
Conforme ele, em matéria publicada pela Rede Brasil Atual (28/08/16), com as assinaturas de Cida de Oliveira e Sarah Fernandes,  “Nós estamos condicionando nosso cérebro ao uso de tecnologia ao longo da vida, e como ele é extremamente adaptável, passa a imaginar que o que vale a pena, como os prazeres sociais e financeiros, se comporta também como um sistema digital. O continuo contato digital, por exemplo, leva a alienação social dos indivíduos”, disse. “Um grande risco é que a condição humana está sendo moldada pelas nossas interações digitais modernas. A tecnologia deve ser usada para melhorar a vida no planeta e para a felicidade plena, mas esse modelo de hoje coíbe a criatividade, as expressões artísticas e a comunicação.”

Uma condição fica clara, sem meios termos, inarredável e inescapável à luz do avanço da tecnologia, que é meio mas sempre considerado que todo o complexo fisiológico humano depende exclusivamente do cérebro, que manda seus impulsos através do corpo. Tais impulsos “ordenam” que os braços realizem tarefas e as pernas se locomovam. Dentre os sentidos que dominam nossas percepções(intuição ou instinto) todos são insubstituíveis e no princípio esculpimos nossas machadinhas e pontas de lança para chegar em tão curto espaço de tempo aos satélites, pelo império absoluto da inteligência, do cérebro desaguando nas tecnologias.

Em recente entrevista à Revista Veja Lia Luz perguntou ao neurocientista Gary Small: O senhor afirma que, desde que o homem primitivo descobriu como utilizar uma ferramenta, o cérebro humano nunca foi afetado tão rápida e dramaticamente como agora. Por quê?
Gary Small -  Essa é uma consequência do uso dos computadores e, mais especificamente, da internet. Nossos circuitos cerebrais são formados por conexões entre os neurônios, chamadas de sinapses. A todo momemo, esses circuitos respondem às variações do ambiente. Ao passarem horas em frente ao computador, seja para pesquisar, mandar e-mails ou fazer compras, as pessoas estão expondo o cérebro a uma enxurrada de estímulos. É por isso que o uso da tecnologia digital altera nossos circuitos cerebrais.

[1] Martha Gabriel é escritora, consultora, palestrante keynote internacional e professora. Autora de 4 livros, inclusive do best seller "Marketing na Era Digital", é apontada pela SMMagazine como o professor brasileiro mais influente no Twitter, rankeada pelo Kred como um dos 50 Marketing Bloggers mais influentes do mundo, e eleita pela Revista ProXXIma entre os 50 profissionais brasileiros mais inovadores no mundo digital.

[2] Miguel Nicolelis foi o primeiro cientista a receber, num mesmo ano (2009), dois prêmios dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science.

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