terça-feira, 4 de julho de 2017

Mix Noticioso Educacional



Na última semana a mídia repercutiu um noticiário entre realista e surrealista,  considerando os conteúdos atravessados, instigadores, de causar perplexidade e até de inconformismo para não dizer de má-fé.

Sem os distinguir por uma escala de valores ou  prioridades quero levar o leitor a um passeio pelo noticiário que chamou muito a atenção, daí compartilhar na linha dos fatos educacionais relevantes,  que provocam e podem levar a reflexões, tão necessárias diante do atual quadro político e econômico que atravessamos.

Chamou a atenção o que o jornalismo nacional dedicou, quase insistentemente nos último anos, a atribuir os excelsos caminhos dourados da proposta educacional da Finlândia[1]. O mesmo assunto é controverso no noticiário.
A BBC, pela jornalista Penny Spiller, diz que há muito tempo a Finlândia é reconhecida pela qualidade de sua educação. E apesar de sempre figurar no topo dos rankings internacionais, o país passou a repensar seu modelo diante da era digital. Como parte disso, tem focado seus esforços tanto no ensino de habilidades quanto no de matérias. Mas nem todo mundo está feliz - há temores de que as mudanças enfraqueçam o ensino.

O professor Aleksis Stenholm, que trabalha na Escola Hauho, de Ensino Médio, propõe uma aula de história diferente. Nela, os alunos também aprenderão  habilidades tecnológicas, de investigação, comunicação e compreensão cultural
.  A tarefa dada a eles é comparar a Roma Antiga com a Finlândia moderna. Um grupo analisa os banheiros romanos e os spas de luxo de hoje; outro compara o Coliseu aos estádios esportivos atuais. Todos usam impressoras 3D para criar uma versão em miniatura dos edifícios da época, que logo serão parte de um jogo que envolverá toda a classe.
Cada grupo está virando especialista no seu tema, que logo será apresentado ao resto da sala.  O jogo marca o fim do projeto, que é realizado em conjunto com aulas regulares.
Convém esclarecer que as crianças do país só começam a frequentar a educação formal aos sete anos e têm jornadas mais curtas, férias de verão com dez semanas, poucos deveres de casa e não se submetem a provas.
A Finlândia estabelece como objetivo na forma de ensinar a modalidade aprendizagem baseada em projetos/fenômenos, ou seja, oferecer às crianças as habilidades que elas precisam para se desenvolver no século 21 que podem se resumir a aprender a pensar e a aprender a entender.
Na Revista Veja de 7 de junho Mônica Weinberg exagera a partir do título ”A Escola do Futuro já Existe” com o lide de que a educadora finlandesa, Marjo KyllOnen está virando do avesso a velha sala de aula e que não faz mais sentido manter o ensino enciclopédico e aprisionado em disciplinas. Pode até ser que vá existir mas seus compatriotas ainda têm muitas dúvidas. Marjo, com 58 anos e três décadas na área, ocupa o cargo de Secretária de Educação em Helsinque. Para ela a velha escola está com os dias contados.
Na Finlândia, hoje, cerca de 50% do total de estudantes que terminam a educação obrigatória escolhe o ensino técnico para continuar os estudos. Na avaliação da ministra da Educação do país, Sanni Grahn-Laasonen, isso ocorre porque a educação profissional oferece, ao mesmo tempo, oportunidades para aprendizagem e desenvolvimento de competências para o trabalho e um caminho para o ensino superior.

Pelo visto não é possível nem de longe fazer qualquer paralelo com a educação brasileira, especialmente a pública quando nas palavras do economista chefe do Instituto Ayrton Senna(IAS), Ricardo Paes de Barros, para quem a escola brasileira reproduz loucamente a desigualdade.
Conforme  Érica Fraga  do jornal  Folha de São Paulo   07/06/2017 , em entrevista, Paes de Barros adiantou que as escolas no Brasil não oferecem aos alunos de baixa renda oportunidades de ascensão social. Ao contrário, elas reforçam as diferenças educacionais herdadas do ambiente familiar.
Paes de Barros se tornou referência no estudo de temas como pobreza, desigualdade de renda, mercado de trabalho e educação.
Depois de quatro anos como subsecretário de Ações Estratégicas no governo de Dilma Rousseff, assumiu o posto no IAS.  E também leciona no Insper.
Desde então, tem se dedicado a buscar e testar evidências de que a introdução de habilidades socioemocionais nos currículos tem impacto educacional positivo. Na assertiva não está claro a que perfil, classe sócio-econômica e cultural ele se refere
Para ele, se a escola brasileira sair na frente com um ensino que estimule características como curiosidade, criatividade e persistência, talvez elimine uma década de atraso na educação: Talvez mal informado desconheça a tragédia das escolas em frangalhos, laboratórios inexistentes, bibliotecas só nos planos e as edificadas sem um acervo mínimo para atendimento.
"É importante que a escola estimule a curiosidade, a flexibilidade para buscar diferentes caminhos. Se a escola faz o contrário e destrói a autoconfiança do aluno, ela matou o aluno pobre." Ledo engano pois esse aluno já esta morto, de fome, desnutrido, sem as mínimas condições de deslocamento, com toda uma carga negativa de saúde.
Para ele, o Brasil tem que dar um salto lembrando que a Coreia e a Finlândia estão desesperadas tentando descobrir para onde vão suas escolas. Nesses países, a preocupação é que, se você estimular a criatividade, o pensamento crítico, a curiosidade, pode dar um salto, porque a pessoa com essas características quase aprende sozinho.
Mas, para isso acontecer, ele tem que saber aprender, tem que ter meta, ser criativo, curioso. Se você criar uma geração de crianças que já tenham isso, pode ser então que você dê um salto.
Como se vê, as afirmações estão todas suportadas pela condicionante “se”, “pode ser”, “quase”, “tem que”. Com todo o respeito às opiniões do economista, isso de trazer amostras da base australiana ou das províncias do Canadá também em nada colabora para a construção do nosso modelo que é próprio pois não mantemos nenhuma identidade com ninguém nesse planeta. É simples cotejar os perfis. Menos tergiversação e mais solução.

Enquanto isso, em Roma, o Papa Francisco condena a tendência da educação elitista com uma frase lapidar: Educar é incluir.
Ele denunciou na sexta-feira, 9, que alguns países investem pouco na formação dos jovens, "elitizando a educação" e excluindo os mais pobres, durante a inauguração da sede romana da fundação "Scholas Occurrentes", organização criada por Francisco há 20 anos, quando era arcebispo de Buenos Aires.
"Há um perigo muito grande na vida da educação dos jovens. O da elitização. Cada vez os orçamentos para a educação em alguns lugares vão se cortando e se cria uma elite de quem pode pagar pela educação", disse o pontífice durante uma videoconferência com jovens de diferentes países.

No Rio de Janeiro, para o professor Evandro Brum Pereira, 61, da UERJ, ora ganhando líquido R$ 12.285,00 a saída foi uma performance pelas redes sociais.
Sem salário há quase três meses (e com atraso também no 13º salário e nas férias de 2016), o engenheiro químico resolveu postar no domingo (11) uma foto pedindo trabalho –e a imagem acabou viralizando.
Na imagem feita pela filha do docente, Thais, 19, Pereira descreve um currículo impecável e deixa o celular para ofertas de trabalho. A proposta do docente ao divulgar a imagem, diz, foi fazer uma manifestação. Ao que tudo indica, não acusou nem inocentou aos políticos que destruíram as finanças do estado e também não mostrou revolta àqueles que os elegeram.

Em São Paulo o TCE – Tribunal de Contas do Estado mudará o cálculo sobre investimentos na Educação batendo de frente com o governador do estado que desejava considerar os gastos com aposentadoria da rede de ensino como investimentos na Educação. Um dos membros do Tribunal, irado, adiantou que
“Havia prefeitura que fazia pavimentação em frente da escola que queria incluir na cota da Educação. Houve município que instituiu uma banda e também queria incluir nos 25% da Educação. Esse valor não pode ser incluso na Educação.” Parece que uma máxima jurídica pela qual o acessório pertence ao principal não está mais em vigor. Professor na ativa vai para a conta mas aposentado desaparece dela.

De tudo lido e visto surgiu o estapafúrdio publicado pela Gazeta do Povo, do Paraná, pela caneta de Gabriel de Arruda Castro, no dia 9, citando seis cenas “peculiares” que aconteceram em universidades públicas brasileiras e a da Universidade Estadual de Maringá foi a última da lista.
1) Pegação na UEM
Duas alunas apresentaram atos de teor erótico em frente à plateia do V Simpósio Internacional em Educação Sexual, na Universidade Estadual de Maringá, em abril. As fotos do evento foram divulgadas na página da instituição e motivaram muitas críticas nas redes sociais. Em nota, a universidade afirmou que a cena foi tirada de contexto.
2) Brutalidade obscena
Um evento de nome impublicável (e que se refere à genitália feminina, acompanhado do adjetivo “Satânik”)  chocou pela brutalidade na Universidade Federal Fluminense (UFF): durante uma das performances, apresentada ao ar livre, uma jovem teve a vagina costurada. O ato, realizado em maio de 2014, fez parte do II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq.
3) Besuntado em dendê
Aconteceu em junho de 2015: durante o II Seminário Internacional Desfazendo Gênero, na Universidade Federal da Bahia, um(a) aluno(a) apresentou a peformance 'Gordura Trans', que consistia em um banho de azeite de dendê, nu, em um pátio da universidade.
4) Focinheira humana
Seminua, com palavra escritas sobre o corpo e usando uma focinheira, uma estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aprensentou sua performance em meio ao campus universitário em novembro de 2014. Quisessem ou não, os alunos e funcionários tinham de ouvir os “latidos” da jovem.
5) Oficina não-ortodoxa
A  Universidade Federal do Amapá (Unifap) ofereceu uma oficina de masturbação feminina e higienização anal antes do sexo, ambas definidas com termos chulos. O “treinamento” aconteceu em novembro de 2015, com parte de um simpósio sobre gênero e diversidade.
6) Nudez no campus
Outra performance artística, desta vez na Universidade de Brasília (UnB): um grupo de alunos de artes visuais, sem roupa, se divertia em uma pequena piscina de plástico instalada em um local de circulação em um dos campi. O caso aconteceu em novembro de 2014.

Na semana que passou o filho de um porteiro de prédio deu resposta para alunos da festa”Se nada der certo”. Um depoimento pungente e de uma propriedade bem tocante.
Conforme Rafael Campos, do site Metropoles.com.br, dois colégios do país causaram polêmica nas redes sociais. Tanto o Colégio Marista Champagnat quanto a Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), ambos do Rio Grande do Sul, fizeram, em épocas diferentes, festas com o tema “Se nada der certo”. Nelas, os estudantes se vestiram como empregados de trabalhos que consideram “alternativos”, como garis e atendentes de lanchonete, debochadamente, caso não obtenham o sucesso esperado em sua vida profissional.
A repercussão negativa nas redes sociais foi imediata e gerou uma resposta forte e bela do escritor e conselheiro acadêmico Marcio Ruzon, que é filho de um porteiro. Ele usou seu Facebook para contar a história do pai e mostrar sua indignação com os eventos.
“Eu desabei a chorar quando soube da história. Me lembrei muito também da minha mãe, que sempre me ensinou pelo exemplo e de como tratar todos iguais. Pensei na minha filha de 10 anos, que pode vir a trabalhar para algum desses adolescentes”. Para Marcio, contudo, a grande indignação não pode ser direcionada aos jovens. Ou seja, bateu co9m mão de gato nos docentes das instituições.
Ruzon tem 38 anos e mora em Brasília, lembra que esse tipo de atividade é programada pela escola e, nesse caso, faltou aos adultos um mínimo de discernimento para garantir que aqueles alunos não crescessem entendendo essas profissões como “menores”.
“Até porque são escolas religiosas, que têm a obrigação moral de servir o filho do carpinteiro [Jesus], uma profissão de quem ‘não deu certo’. Faltou reflexão. Excluo os adolescentes disso porque não é certo cobrar atitudes adultas de quem não é adulto”, completa.

Na última parte do evento, os relatores convidados debateram os pontos altos do que foi tratado pelos palestrantes e como isso pode ser aplicado à realidade brasileira mesmo com contextos diferentes.
Priscila Simões, da Unítalo, vê o processo que envolve o ensino superior como oportunidades e não dificuldades. “É um momento propício para mudanças, há demandas sociais e um perfil novo de aluno, mercado de trabalho diferente, fatores de oferta que favorecem essas mudanças, principalmente a tecnologia e a cultura de colaboração”, disse.
Alexandre Gracioso, da ESPM, destacou a importância de engajar os professores em favor da instituição, em favor da mudança e quebra de paradigmas.
Ana Sousa, da Unicesumar, explanou sobre a importância e necessidade de trabalhar o pensamento crítico no processo de ensino-aprendizagem. “Vimos hoje que é necessário desenvolver no estudante o senso de responsabilidade social, forte habilidade intelectual e prática, habilidades analíticas para resolução de problemas e para lidar com o mundo real”.
Sueli Marquesi, da Cruzeiro do Sul, disse que as apresentações permitem uma maior interação entre suas realidades e desafios. “A inovação é promover uma gestão de mudança no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão”, afirma.
A Dra. Stephanie H. Kenen fechou o debate dizendo que “muito das discussões sobre tecnologia trata de como ensinamos, mas não o porquê ensinamos. Devemos ter um planejamento cuidadoso focado no currículo, o que ensinar e por que”.

Enquanto isso,  brasileiros que concluíram o curso de ensino superior recentemente nos Estados Unidos até têm planos de retornar ao país, mas não agora.
Brasil está entre os dez países que mais enviam alunos para o ensino superior nos Estados Unidos, segundo o relatório Open Doors, do Instituto de Educação Internacional (IIE). Mas nem todos que vão, voltam.
Segundo o IIE, no ano letivo de 2014-2015 os Estados Unidos registraram 23.675 brasileiros matriculados no ensino superior americano. No ano letivo anterior, o número era de 13.286. Os brasileiros atualmente representam 2,4% do total de estudantes estrangeiros nos EUA.  Conheça os seis estudantes que só voltam quando estiverem com a mala bem cheia de conhecimentos:
Gabriel Guimarães, 23 anos, Harvard, no curso de ciência da computação.
Taci Pereira, 22 anos, Harvard, no curso de bioengenharia.
Larissa Maranhão, 23 anos, Harvard, no curso de economia
Henrique Labella, 22 anos, Univ. de Michigan, no curso de engenharia química.
João Henrique Vogel, 23 anos, Harvard, no curso de sociologia.
Bárbara Cruvinel Santiago, 22 anos, Yale, no curso de física

A notícia estarrecedora, ainda que não trate de focos educacionais, fica por conta da publicação da Gazeta do Povo, de Curitiba, no dia 9 com o título “Previdência: as fabulosas pensões das filhas solteiras do Congresso”.
Enquanto os trabalhadores digerem uma reforma da Previdência bastante dura – com aumento de tempo de contribuição e redução no valor da aposentadoria –, o poder público mantém para os seus servidores um benefício criado na década de 1950: a pensão para as filhas solteiras maiores. Elas consomem anualmente cerca de R$ 3 bilhões dos cofres públicos. Os maiores benefícios, que superam os R$ 30 mil brutos, são pagos pelo Congresso Nacional.
Após investigar as 51.826 pensões de filhas solteiras no Executivo, Legislativo e Judiciário, fazendo cruzamentos das informações com a RAIS, o cadastro do INSS e o CNPJ, o TCU mandou revisar os benefícios de 19.520 pensionistas que estariam em desacordo com a lei.

 [1] Oficialmente a República da Finlândia, é um país nórdico situado na região da Fino-Escandinávia, no norte da Europa. Faz fronteira com a Suécia, com a Rússia,  Noruega  e a Estônia. Cerca de 5,3 milhões de pessoas vivem na Finlândia. A segunda língua oficial da Finlândia - o Sueco - é a língua nativa de 5,5 por cento da população.
O país foi classificado como o segundo mais "estável" do mundo, depois da Dinamarca, em uma pesquisa baseada em indicadores sociais, econômicos, políticos e militares. Seu desenvolvimento econômico foi rápido e o país atingiu um dos melhores níveis de renda e qualidade de vida do mundo já na década de 1970. Entre 1970 e 1990, a Finlândia construiu um Estado de bem-estar social.

Empreender Não é só Querer



A universidade não tem a estrutura de apoio para a jornada do empreendedor.
Lucas Yuki Nakauchi (Gerente da Endeavor-Brasil)


Hoje, os adolescentes de 18 a 25 anos talvez tenham mais preocupações com a vida do que seus pais tiveram com a mesma idade. Eles precisam encontrar alternativas ou saídas para a empregabilidade por diversas novas razões que afrontam e atemorizam como a repaginação do mundo, a crise, as mudanças de hábitos e cultura, tudo conduzindo para transformações. Afinal, é nas cabecinhas deles que estão os grandes sonhos de realização pessoal e sobretudo profissional.
Com 20 e poucos anos, sonham com independência financeira, querem mudar o mundo. Mas são os que mais sentem os efeitos da crise ao procurar emprego. A palavra aqui pode ganhar outros sentidos semânticos como ocupação, vaga, oportunidade, trabalho e empreendimento. Assim, crescem nos últimos anos os números de jovens que optaram por abrir o próprio negócio, em vez de disputar vagas “abertas” por qualquer anúncio.
A taxa de empreendedorismo dos que têm de 18 a 24 anos saltou de 16,2%, em 2014, para 20,8%, em 2015 (último levantamento Endeveor). Mais de um quinto dos jovens nessa faixa etária criou o próprio negócio. Em 2007, era de apenas 10,6%. Para especialistas, a maior recessão da história do país e fatores culturais explicam o aumento.
O empreendedorismo pode ser uma alternativa à juventude sem emprego na crise, sobretudo quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostra a taxa de desemprego na faixa de 18 a 24 anos tendo chegado a 25,9% no fim de 2016. No total, o país tem hoje 13,5 milhões de desempregados.
Mídia e críticos ácidos apontam a falta de incentivo nas faculdades e universidades para empreender; nelas, só 36% dos alunos estão satisfeitos com tímidas iniciativas. Outros números, obtidos pela Endeavor-Sebrae, reiteram essa percepção.
Quando avaliam a situação do aluno num conjunto de 70 instituições de ensino, 72,3% não empreendem; potenciais empreendedores são 9,4%, mas empreendedores efetivos representam só 5,7%. O resultado mostra claramente o descompasso entre o que as universidades oferecem e o que os estudantes desejam. Mas o que de fato as universidades oferecem ou não?
Ser dono do próprio negócio, todos sabem, exige qualificativos imprescindíveis para se fixar e crescer. Não numa ordem rígida, mas, quando falte proatividade, interesse margeado por conhecimento, dedicação plena, ter noções básicas de comércio, de mercados, de fluxos bancários (investimentos – resultados), oportunidades e tantos outros que consistiriam num “business plan”[1], o negócio não se sustenta. Ainda que tudo isso tivesse sido abordado em aulas na universidade, há entre o ensinar e o ter aprendido as lições um espaço abissal.
Não se pode ter medo, diz um empreendedor anônimo, porque o que é segurança hoje em dia? Na crise pode-se perder o emprego porque o vento mudou de direção. Para especialistas e consultores, a crise impulsiona uma mudança cultural no jovem que entra no mercado de trabalho de forma muito penetrante e nessa trajetória ele amadurece muito rapidamente porque não existem zonas de conforto, mas de desafios diários. Concorrência, queda de braço e, ao fim do dia, vai-se à lona porque a receita nem se igualou com a despesa.
Lyana Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt, consultoria especializada em franquias, percebe a mudança no dia a dia. Há duas décadas, seu público era formado, principalmente, por executivos em fim de carreira em busca de um plano alternativo para a aposentadoria. Hoje, esse espaço foi tomado por jovens. A coordenadora do Sebrae, Carla Teixeira Panisset, considera que a tendência deve ser mantida, mesmo depois que o mercado de trabalho se reaquecer:
A Endeavor aponta que na universidade um dos principais problemas é a falta de disciplinas voltadas para a capacitação de quem quer abrir o próprio negócio. Enquanto 54,4% das disciplinas de empreendedorismo oferecidas tratam de “inspiração para empreender”, as mais práticas, que ensinam, por exemplo, a construir um plano de negócio ou gerenciar uma rede de franquias, representam só 6,2% dos cursos. Acertos aqui e acolá poderiam mexer com tais cargas horárias, mas há de se considerar que o curso não trata exclusivamente de empreendimentos. Assim, parte do conhecimento precisa ser trazido por autodidatismo. Aliás, a qualificação é importante para definir as chances de sucesso de um empreendimento. Sabidamente, a universidade não tem a estrutura de apoio para toda uma jornada completa do empreendedor e não pode o aluno querer ser monitorado ou ter um preceptor ao seu lado até a porta do negócio.
Por seu turno, a universidade pública deixa a desejar porque, pela própria missão, acaba sendo um pouco academicista. As pessoas se formam para contribuir para a academia, mas existem diversas formas de contribuir com a sociedade, e empreender é uma delas. Uma interrogação fica no horizonte: quais cursos/carreiras precisariam ter (ou não) disciplinas voltadas para o empreendedorismo e com isso reservar uma carga horária satisfatória em detrimento das demais que compõem o currículo, também muito importantes e necessárias para a formação central do curso? Sem respostas diretas, o CNE não se arroja a resolver a questão. Ademais, os mantenedores
teriam suporte e estrutura quando a iniciativa requisitasse laboratórios e equipamentos?
E ao que tudo indica, está nascendo(?) um irmão do empreendedor que já começa a dar o que falar: o movimento maker no Brasil, cuja cultura incentiva pessoas a construírem objetos. E há quem veja relação entre o empreendedorismo e a cultura maker. Já tínhamos ouvido sobre um processo análogo: a bricolagem[2]. O movimento maker nasce sem pretensão de business. É quase subcultura, cuja ideia é a de que não se precisa comprar tudo pronto, mas querer fazer com as próprias mãos. Muitos dos makers veem nisso um caminho para criar um negócio. Por que não vender esse produto se um amigo gostou, outro gostou? Daí para uma produção em escala é só um pulo. Que tal as IES incorporarem uma maquetaria na instituição sob um relativo custo estrutural?
[1] Plano de negócios (do inglês Business Plan), também chamado "plano empresarial", é um documento que especifica, em linguagem escrita, um negócio que se quer iniciar ou que já está iniciado. Geralmente é escrito por empreendedores, quando há intenção de se iniciar um negócio, mas também pode ser utilizado como ferramenta de marketing interno e gestão. Pode ser uma representação do modelo de negócios a ser seguido. Reúne informações tabulares e escritas de como o negócio é ou deverá ser. De acordo com o pensamento moderno, a utilização de planos estratégicos ou de negócios é um processo dinâmico, sistêmico, participativo e contínuo para a determinação dos objetivos, estratégias e ações da organização.

[2] O conceito surgiu nos Estados Unidos, na década de 1950, com a sugestão "do it yourself" de onde saiu a famosa abreviatura DIY que significa em português faça você mesmo. Isso ocorreu devido ao encarecimento da mão-de-obra e se desenvolveu com a grande visão dos empresários em perceber este nicho, criando produtos fáceis de serem usados, utilizando embalagens com pouca quantidade e todos com manuais explicativos.
Bricolagem, palavra de origem francesa ("bricolage") significa, fazer pequenos trabalhos por um amador com pouco conhecimento e sem ferramentas profissionais.