terça-feira, 19 de março de 2019


Sugestão ao Ministro

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com


Na edição de 28/01 o Valor Econômico recheou  o jornal de assuntos ligados à educação, mais exatamente sobre o novo ministério da educação e algumas ações a colocar em prática. E o título de uma das matérias foi aquele que incomoda muito, dito pelo próprio Ministro Ricardo Vélez Rodrigues[1]: “Ideia de universidade para todos não existe”. E acrescentou, “As universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual, que não é a mesma elite econômica”. Teria ele refletido sobre as consequências advindas , como exemplo, o cenário de empregabilidade ? Deixou para depois. Aguardemos mais um pouco, melhor sem tanta jactância.

Foi uma explosão e tanto junto à sociedade e sobretudo junto aos operadores da educação porque a manter-se os níveis da educação básica nas públicas (Fundamental e Médio), pouco se pode esperar que esses jovens logrem sucesso nos seletivos, salvo raras exceções, aí não incluídas os cotistas.

Na entrevista ao Valor, conduzida pelo jornalista Hugo Passarelli, o Ministro Vélez também disparou outra bomba ao afirmar que ainda não está em estudo a cobrança de mensalidades em universidades públicas, mas é urgente reequilibrar seus orçamentos. Estará algum dia ?

Com as duas máximas mais importantes da oportunidade tomo a liberdade de sugerir ao Ministro que componha urgente um Conselho de Notáveis, e existem muitos no país, perto de dez seria o suficiente, para uma reunião mensal de quatro horas, com mandato de somente um ano. Após o período haveria renovação. Mas que não seja outra instância de carcomidos e inexperientes no setor. Gente que conhece e sabe o que fala, sobretudo os da área privada que sabem muito bem tratar com orçamentos. A pauta o Ministério recomendaria.

Um tanto prudente para não dizer lento, Vélez diz que elabora apenas as diretrizes do que deverá ser a marca de sua gestão à frente do MEC, com metas alinhadas ao propósito político do governo(?).  Os diagnósticos e elaboração de programas ficam a cargo de seus secretários, que ainda estão se debruçando sobre as medidas de gestões anteriores.

Ainda presente a lentidão, que no entanto reclama agilidade, considerando o início de novo ano letivo com enormes desafios pela frente, quando é preciso mexer com as formações nas licenciaturas, a aplicação das BNCCs, reexame do FIES e por aí vai.

Graduado em filosofia e teologia fez mestrado e doutorado nessas áreas o que lhe enseja grande poder articulador e ótimo frasista como esta: “As pessoas chegaram até a escola, é hora de a escola chegar às pessoas” , sem no entanto mostrar como isso será feito e viabilizado. Como se a estrada, o percurso e os caminhos fossem os mesmos. Há séculos acompanhamos esse trajeto que parece ser rua de duas mãos quando não é. Na educação todos vão juntos num mesmo sentido e os que se atrasam(arem) devem ser puxados mesmo que à força.

De certa forma, é mais fácil uma criança sentar-se no banco escolar (universalização) do que a escola abraçá-lo e conduzi-lo, dada a orfandade que a colocam pelo desinteresse pedagógico e desmotivação dos docentes, motivando a evasão.  Os índices estão aí mostrando tal realidade. Os certames internacionais consagram a falência educacional brasileira.

Conforme Vélez, Carlos Francisco de Paula Nadalim (secretário de alfabetização) conduzirá o programa Alfabetização Acima de Tudo (prioridade dos cem primeiros dias do MEC). Ele carrega na pasta a experiência de coordenador de uma escola da família, O Mundo Balão Mágico, mas não tem nenhuma simpatia por Paulo Freire e Magda Soares(UFMG), palavras dele.

Vélez, ao que tudo indica até aqui, carrega bom trato político adotando um tom conciliador quando perguntado sobre temas polêmicos. Demonstra entusiasmo quando vem à conversa as principais bandeiras de Bolsonaro como o Exame Nacional do Ensino Médio(Enem) ou as já um tanto desgastadas questões de ideologia de gênero, sexualidade e outras pérolas do mesmo mar. É intransigente defensor dos valores da família, no que a maioria da população concorda.

De início, quando de sua nomeação, a mídia buscou fontes que pudessem melhor oferecer posicionamentos pessoais ou profissionais por declarações. Encontraram uma lapidar em seu blog hoje desativado, muito reproduzida: “O MEC tornou os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista [...]".

Veléz não cede terreno, não retrocede, o que é ótimo a demonstrar que só tem compromisso com o acerto e não com o erro, referindo-se às suas convicções de que construiu-se um suporte estatal criado exatamente para influenciar a sexualidade ou posições políticas dos estudantes, o que ele abomina.

Em um programa publicado em seu blog, intitulado Um roteiro para o MEC, dia 7/11/2018, defende a descentralização do sistema educacional. Vélez Rodríguez é anticomunista e estudioso do liberalismo clássico. Em seu blog Rocinante (nome do cavalo de Dom Quixote de La Mancha), ele critica o que considera a influência marxista sobre a educação brasileira. Para ele, é necessário limpar todo o "entulho marxista que tomou conta das propostas educacionais de não poucos funcionários alojados no Ministério da Educação".
(Wikipedia)



[1] Ricardo Vélez Rodríguez, o atual Ministro da Educação do Brasil, o 53º, nasceu aos 15/11/43. Suas visões políticas são descritas por algumas fontes como de extrema-direita.
Fez seus estudos básicos no Liceu de La Salle (Bogotá) e cursou bacharelado em Humanidades, no Instituto Tihamér Tóth, na mesma cidade. Licenciou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Javeriana (Bogotá), em 1963. Entre 1965 e 1967, fez o curso de Teologia no Seminário Conciliar de Bogotá.
Iniciou a vida docente em 1968, como professor de Literatura e Filosofia, na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Pontifícia Bolivariana (
Medellín), e Ética Empresarial, na Escuela de Administración de Empresas e Instituto Tecnológico, também na Colômbia, permanecendo em ambas as instituições até 1971. Entre 1972 e 1973, lecionou Filosofia e Humanidades na Universidade Externado de Colômbia e na Universidade do Rosário, em Bogotá. Realizou estudos de pós-graduação no Brasil, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, obtendo o título de Mestre em Filosofia, em 1974.