Prof. Roney Signorini
Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br
Nunca fui partidário político senão pela forma de governo: republicano e democrático.
Avizinhando-se outro momento de eleições, os candidatos começam a dar tiros pra todo lado e os eleitores ficam reféns de afirmações e promessas de campanhas que extravasam o bom senso, ou melhor, vão ao risível, ao ridículo, como o perpetrado pela candidata Dilma ao prometer em entrevista de rádio numa emissora de Londrina, no Paraná, que criará, com o ProMédio, bolsas de estudo em escolas privadas para alunos de baixa renda, abrindo vagas no ensino particular a alunos carentes. A promessa decorre do ranking divulgado pelos resultados do Enem, que apontou o enorme desastre do ensino público.
A candidata não está interessada em alocar verbas para melhorar o fundamental e o médio em escolas públicas, mesmo com os demonstrativos de que tais escolas estão em desespero socioeducacional. Não, ela quer resolver por vias políticas que os carentes, mais uma e outra vez, se beneficiem do cardápio de benesses de outra “bolsa” no curtume governamental.
Para ela, o programa funcionará(ia) nos moldes do ProUni, que oferece vagas em faculdades ou universidades particulares, com todas as mazelas de seus resultados. Dilma admitiu que “Fica claro que as escolas estaduais e municipais se saíram bastante mal” , quando comentou sobre o resultado do Enem, no qual escolas privadas tiveram os melhores resultados. Nem poderia ser diferente. Alguma dúvida ? Ora, ora, santos e divindades!
Resta saber se a “coisa” acontecerá por adesão e voluntariedade das IES particulares ou por “decreto”.
Aliás, não se sabe porque ainda não subjugaram as escolas da educação básica às avaliações pretorianas a que o Inep submete o ensino superior. Seria porque é “possível” avaliar escolas de educação superior, públicas e privadas nos mesmos gabaritos? Engano, crasso erro. Nada a ver.
Em recente artigo publicado pela Consae, sob o título “A Agonia das IES Nanicas”, o autor, Samuel José Casarin, com todo o respeito pela autoria, se equivoca no título da matéria. As IES, localizadas em cidades com até 50 mil habitantes estão, isto sim, em total desespero, na beira do abismo. Não contra o “canibalismo” das grandes e também das médias instituições mas ante o holocausto. Seja em presencialidade, seja em EAD. Não tem volta nem atalho. Aliás, o texto do autor é rico em detalhes estatísticos que comprovam as “quebras dos empreendimentos nanicos” (www.gestaouniversitaria.com.br).
Qual organismo educacional pode sobreviver diante da volúpia legisferante como indica o portal www.enciclopediadaeducacao.com.br, quando 13.606 normas querem regular a educação no país? É o acervo atual que acumula mais de 30 itens entre portarias, pareceres, despachos, resoluções, decretos, medidas provisórias, etc. etc. É bolero, cha-cha-cha, tango, valsa, funk e polca à vontade. Santa Maria!
Só para registro, com os resultados do Enem 2009, está consolidado que das mil piores escolas do país, 97,3% são estaduais. Como dizia o prof. Wagner Horta, em escola de ensino ruim a vítima é você, aluno.
Nenhum candidato, nem mesmo o atual governo, se deu conta de que a solução, definitivamente, está mais embaixo, com a formação ideal e adequada dos alunos de hoje que serão professores amanhã, ou seja, tratar com a máxima atenção os fazeres das pedagogias e das licenciaturas. Não temos professores capazes por competências e habilidades no manejo do fundamental e médio, porque tais cursos de formação não têm pessoal para tais propostas. A educação formativa na pedagogia e nas licenciaturas é mais do que deficiente, é mentirosa, e ninguém assume a irresponsabilidade. Currículos anacrônicos, conteúdos defasados, laboratórios inexistentes, aplicação de estágios e práticas obsoletos, tutores senis, salários em perspectivas irrealistas com o mercado colocam tais cursos em marcha a ré. Salvo melhor juízo de avaliação, pouquíssimos são os cursos que preparam pedagogos e licenciados para a EAD. Não conquistam capacitação para essa modalidade. Pode?
Novamente, o articulista Samuel José Casarin mostra isso com muita competência na amostragem da participação de grandes grupos na educação EAD. Os números falam mais do que a retórica.
Então, para os milhões de rádiouvintes que escutaram a baboseira de Dilma, configura-se estelionato educacional ou eleitoral? A candidata está inteirada do universo que compreende uma proposta dessa natureza, baseada em números históricos do real significado na eventual implementação do ProMédio? Com tal projeto o que fica de preocupante é que o governo de fato assumiria que suas escolas básicas não têm a saúde necessária para preparar os estudantes à universidade. E mais, gravíssimo, leia o publicado na Gazeta do Povo, transcrito a seguir, dando visão clara dos desacertos em políticas de não resultados de 8.165 “tadinhos”:
Eles passaram no ProUni, mas não ganharam a bolsa
Gazeta do Povo – 19/07/2010
“Abriram uma porta e logo depois a fecharam na minha cara”. Dessa forma o motorista Roberto Cosme Raimundo, 33 anos, explica a sensação de conquistar e perder, no mesmo dia, uma bolsa de estudos do Programa Universidade Para Todos, o ProUni, em que o governo federal concede bolsas em instituições privadas de ensino superior. No começo de julho, ele soube que havia sido pré-selecionado na segunda chamada para o curso de Comunicação Social com habilitação em Ra¬¬dialismo da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Na hora da matrícula, descobriu que a bolsa tinha sido cancelada, porque a instituição não havia recebido número suficiente de inscrições para formar uma turma.
O estudante não é o único bolsista do ProUni a enfrentar esta situação. Só no primeiro semestre deste ano, 8.165 candidatos tiveram a mesma decepção. Segundo o Ministério da Educação (MEC), esse foi o número de pré-selecionados pela nota do Enem, mas que acabaram sendo reprovados por não haver alunos suficientes para formar turma. O número representa 6,5% das 125.496 bolsas ofertadas para o período.
Então, pode ?
Em quermesse de igreja, o estande do coelho não tem porta pra ele entrar e assim pode levar um tiro, do atirador caolho, sem pontaria, do estande vizinho. O leitor está com a palavra.
Mesmo assim, os mantenedores das IES superiores estão com a atenção voltada para a “qualidade” de suas atividades e expedientes formativos frente às avaliações movediças, que pra tirar animal caído nelas só dando um tiro de misericórdia, na testa.
O presidente Lula faz tanto esforço para impor sua avaliação sobre a conduta do Irã na questão do enriquecimento do urânio, por que não fazer o mesmo para colocar um dedo no problema da educação básica? E já está tarde demais.
Pensa-se muito na Copa de 2014, mas ela não é tão importante quanto o futuro da educação nacional.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
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