Prof. Roney Signorini
Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Desde o último dia 13 instalou-se uma farra bovina da gramática quando dezenas de vozes se levantaram quanto ao uso de livro didático do MEC que defende o emprego de linguagem popular. Valha-me Deus!
Espocaram manifestações radicais, pontas de icebergs, como a de Clóvis Rossi, pela Folha, que suscitou dezenas de pedradas iranianas, bem como o moderado Pasquale Cipro Neto. Salomão Schvartzman esteve no palco da Band NewsFM, Thais Arbex (IG São Paulo). Pela Folha Dirigida botaram a boca no trombone Terezinha Machado da Silva, Alessandra Bizoni, Antonio Luiz Mendes de Almeida e Terezinha Saraiva. Pelo jornal O Globo surgiu Marcos Bagno e muitos outros. A Academia Brasileira de Letras também se manifestou por nota oficial discordando da posição do MEC querendo justificar a desnecessidade de observação das normas cultas do idioma nos livros de Língua Portuguesa. “Vamo nóis”. Bom, não é mesmo?.
Paulada e cacetada pra todo lado, pernada, rabo de arraia, mordida e beliscão em todo mundo, todo lugar, o que estiver pela frente. Por pouco não se xingaram as genitoras. Minha Santa. Pode?
Independentemente de alçadas nos tribunais, de quem tem ou não razão, se Machado, Camões, Ruy ou Fernando Pessoa, com certeza eles estão com coceiras nos túmulos.
Cá pra nós, como é que fica a avaliação das redações nos exames vestibulares se a norma for derrubada em prol de “nós pega os pexe”? Como fica isso?
Não só quanto aos seletivos que já estão ocorrendo, os que virão, mas, sobretudo, aos que já aconteceram e exatamente por negarem as normas aprovaram milhares de candidatos. Ooppss! Nem estou falando do Enem!
As manifestações de prós e contras confrontam a língua falada com a escrita e não me consta vestibular na modalidade oral. O leitor conhece algum?
Justamente numa sexta-feira, 13, “pintou” na internet a primeira consideração sobre o assunto em críticas ao livro Por uma Vida Melhor, com 485 mil exemplares, da coleção VIVER APRENDER, a um custo de R$ 5 milhões. Ignoro se os R$700 mil atribuídos à autora já estão incluídos no custo total. O MEC não perdeu tempo e saiu logo defendendo o uso de livro didático com linguagem popular. Isso é comunização ou tem outro nome?
Que saudades da velha cartilha Caminho Suave, obra didática de alfabetização, concebida pela educadora brasileira Branca Alves de Lima (1911-2001), pela qual gerações aprenderam as primeiras letras, e eu por volta de 1952 no Grupo Escolar Cardeal Leme. Não fosse a paciência ou benevolência da professora D. Olga teria experimentado minha primeira reprovação na escola. Redigindo uma “narração”, tasquei o que a meninada falava no pátio: bater faião (aquele que falta às aulas, tem falta – linguagem coloquial, regional, gíria ou ignorância mesmo?). O impropério registrado numa provinha era tão grave que fui conhecer a Diretora. Acompanhou-me um coleguinha que se utilizou da palavra mertegue para indicar manteiga. Pode?
Voltando ao assunto, dias depois, o gramático Evanildo Bechara, da ABL e autor da Moderna Gramática da Língua Portuguesa, cuspiu fogo: “O aluno não vai para a escola para viver na mesmice e continuar falando a língua familiar, a língua do contexto doméstico ‘nós pega os pexe’”. Ou seja, quis dizer que o aluno vai para a escola aprender a norma culta. O cientista, no entanto, se apresentou condescendente com a lava vulcânica gramatical capaz de destruir dezenas de Pompeias, como refém ou cúmplice da discussão ora implantada. Pelo texto publicado, ele não absolveu nem condenou a autora da famigerada obra.
Afinal, para que a existência de cursos de Letras nas licenciaturas? O curso existe para que e por quê? Para o ensino e aprendizagem da língua familiar? Dos “mano” da Cracolândia?
Se o propósito é/era liberar geral, pra que todo o esforço aplicado no encaminhamento do aprendizado da norma culta ao longo desses séculos?
O testemunho da incapacidade de ofertar curso de aprendizagem da língua que una a nação em um de seus pilares de sustentação está falindo.
A grande realidade é uma só: andaram bebericando muito chá das cinco e comendo muitos brioches nas academias brasileiras, mantendo muita conversa de periquito australiano nos sofás das comodidades. Permitiram-se a fragilidade e a corrupção da língua, como de resto todas as outras atividades legisferantes nacionais, ajoelhadas ao poder de grupos, das falcatruas, subornos e corrupções possíveis. Quem me dera, meu Deus! Por que me esmerei no aprendizado do latim, sem o que quase me reprovava no ginásio ou colegial?
Nessa fase, quase outra reprovação quando o professor Ricieri Berti queria ver o diabo, mas não a mim. Depois de cobrar que lhe expusesse oralmente a 1ª. declinação, chegava a pedir a algum aluno que trouxesse um gato morto pra me bater até o gato miar. Pode?
Alô ,alô, senhores avaliadores das redações nos próximos vestibulares da Fuvest e assemelhados: cuidado para não serem reprovados numa eventual demanda judicial que os leve às barras da justiça porque não aprovaram o candidato que se expressou com um solene “nós pega os pexe”.
Em tempo: que tal se a imprensa viesse operando os sabores familiares da língua, em desrespeito ao código gramatical? Teríamos chegado até aqui com uma unidade social/nacional?
Que tal o emprego dos ditos familiares nos fóruns judiciais nacionais?
Perdoem os iconoclastas da língua. Estão sem o que fazer. Comecem, então, a construir palavras cruzadas e vender à Ediouro, pioneira no setor.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
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