Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
“Gato escaldado tem medo de água fria.” Ditado popular
Dia desses, assisti a interessante palestra proferida pelo técnico José
Roberto Guimarães[1], para
platéia formada por operadores da educação. Ele iniciou seu painel destacando a
importância do erro e a sua aplicabilidade nos diversos setores, inclusive no
dele. Contou que aprendeu muito com a observação de erros da sua equipe e dos
adversários também, gerando utilidade em direção aos acertos. José Roberto
enfatizou a necessidade de pesquisar, consultar, perscrutar sempre para saber e
entender o que existe por trás dos erros. E destacou a necessária humildade no
trato e na análise dos erros.
Acrescento: erros são como vacinas. Se com a vacina se busca a saúde,
com o erro se busca a melhora na aprendizagem. O erro é, pois, fonte de
informação e possibilidade de avanço cognitivo, se “inoculado” com planejamento
e prudência.
No dicionário
Houaiss, erro é definido como “desvio do
caminho considerado correto, bom, apropriado; desregramento”; o Aurélio
acrescenta “juízo falso, desacerto, engano”. Em outras palavras, erro leva a
pecha de defeituoso, vicioso, imperfeito. Erro e acerto, no entanto, são irmãos
xifópagos; são o direito e o avesso de um mesmo tecido.
Muito se discute,
no terreno da lingüística, o conceito de erro e o que deve fazer o professor
diante de realizações menos castiças. Há cerca de dois anos um livro didático
provocou polêmica ao propor que frases como “Nós pega os pexe” devem ser
aceitas, para que os alunos que assim se expressam se sintam “incluídos” e, a
partir da discussão sobre elas, tenham acesso à norma culta, considerada a
maneira correta de expressar-se.
Não
só na lingüística, mas em qualquer setor da atividade humana, reconhecer o erro
e analisá-lo significa fazer autocrítica, que é a base do autoconhecimento e do
aprendizado, porque erro não criticado “passa batido” e tende a repetir-se
indefinidamente. Quem erra por desconhecimento do seu erro precisa de
tolerância, mas também precisa de crítica, para aprender.
Na área da
educação, já está mais do que na hora de aprendermos com nossos erros. Por que
nossa nota média no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) – nota
de 0 a 10 que toda escola pública possui – é 4,2 no ensino fundamental 1 e 3,8
no ensino fundamental 2? Por que, segundo o Pisa 2006, estamos na posição 54 em
matemática (dentre 57 países) e em 49º lugar em leitura (dentre 56 países)? Por
que as notas do Enade revelam, em boa medida, que nosso aluno “desaprendeu” ao
longo do seu trajeto universitário?
Esses são apenas
alguns poucos resultados que escancaram nossa indigência educacional e que
trazem impactos negativos para a nossa seara: as IES privadas.
Não há dúvida de que o Estado precisa aprender com
seus erros e rever suas políticas para o ensino fundamental, para entregar ao
ensino superior alunos mais bem preparados. (Não quero ser boca de Cassandra[2],
mas estaria a USP, por exemplo, diante das últimas avaliações, sendo acometida
do mesmo mal que se abateu sobre a escola pública fundamental desde a década de
70?...)
Raramente, no entanto, se ouve falar que alguma IES
privada, de moto próprio, se lançou a pesquisar sua geografia, seus atores
(docentes, discentes, funcionários, etc.), para com isso suprir eventuais
desvios de rotas. A rigor, não se pesquisa nada e os erros nunca têm
prevalência como objeto de avaliação e análise.
Onde existam, funcionando como devem, as CPAs (Comissão Própria de
Avaliação) podem dar o norte magnético, pois sua função é encontrar fissuras,
equívocos, falhas que à primeira vista podem passar despercebidas e, a partir
delas, redesenhar a missão, a visão e as metas da IES.
É hora de humildade, de mea culpa, porque errando discitur.
[1]
José Roberto Lages Guimarães (Quintana, 31 de julho de 1954), ou simplesmente Zé Roberto, é ex-jogador de vôlei e atual
técnico da Seleção
Brasileira de Voleibol Feminino. Considerado legendário pela Federação
Internacional de Voleibol, é o único técnico no mundo campeão olímpico com seleções de ambos os
sexos: a seleção masculina em Barcelona 1992 e a seleção feminina em Pequim 2008 e Londres 2012. Único tricampeão olímpico do esporte
brasileiro, ele também é formado em Educação Física.