segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Crowdfunding o Velho De Pires e Caneca nas Mãos



                                                                                    Fenômeno virtual em que o apoio
                                                                                       de uns se torna a força de muitos.

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Meus leitores me cobram um posicionamento mais duro e até belicoso com as autoridades de governo que tratam da educação, nos três níveis da federação.
Se não bato também não elogio alguma medida, iniciativa ou programa que vise o estudante, a academia e os empreendedores do setor. É conduta quase felina. Mas, vez por outra o noticiário incita a se “pegar  em armas” porque extrapolam o racional, o equilíbrio e o sensato.
Foi o que aconteceu na semana passada quando Jéssica Nascimento noticiou pela UOL que a baiana Georgia Gabriela da Silva Sampaio, 19 anos, filha de cabeleireira e de um comerciante, foi motivo da grande informação nos noticiários porque lograra ser aceita em nove faculdades dos Estados Unidos.
O lado ruim da notícia foi o de que a jovem tem de ir à luta para arrecadar US$6.200,00 para pagar o “visto, passagem e compra de livros, além de roupa de inverno e inscrições a congressos”. Até agora só arrecadou US$ 2.400,00. E isso se deve à vaquinha online com o endereço HTTPS://www.patreon.com/georgiagabriela?ty=h)  
Esse é um expediente chamado de crowdfunding(financiamento da multidão)
Sua primeira opção foi a Universidade Stanford e conta para sua empreita com essa vaquinha online porque esperar alguma atitude do governo para “ajudar” a estudante, por certo, se não chegar atrasada às aulas que iniciam no dia 12 de agosto, sequer entrará pela porta da universidade. Como a nação é das mais solidárias no planeta, consta que a ajuda já bateu em US 11.115,00 até este momento(10h00 – 27/07/15). É pouco? Foram 305 contribuições.
A razão do sucesso nas universidades americanas se deveu a um estudo/pesquisa que a moça baiana, pretendente  a engenheira biomédica, realizou sobre um novo método de diagnosticar a endometriose, tendo sido premiada pela Universidade Harvard.
Sem rancores ou revanchismos, a estudante foi direto ao ponto: “Por todo o tempo procurei apoio em universidades e instituições públicas brasileiras mas não encontrei nenhuma que pudesse/quisesse me dar suporte. Dei continuidade ao meu projeto por conta própria e precisei sair do Brasil para ser ouvida.”
Geórgia sempre estudou em escolas particulares por meio de bolsas na cidade de Feira de Santana e foi com excepcional aplicação que além das faculdades americanas também foi aprovada em quatro vestibulares no Brasil: dois na Universidade Federal de Feira de Santana e dois na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os cursos escolhidos foram engenharia civil, computação, elétrica e eletroeletrônica.
O extraordinário fica por conta do apoio que a estudante recebeu no Brasil, em grande parte de pessoas físicas com o empréstimo de livros e contribuição direta com o estudo.
Muito motivada a baiana diz que seu maior sonho é impactar a rede pública de saúde com a inovação.
A outra notícia, desalentadora foi publicada no Estadão há mais de um ano porém vale (re)lembrar a quantas as coisas andam no quesito responsabilidade
educacional porque as consequências são inimagináveis, os resultados desastrosos para todos os atores que compõem a cena.
Dizia a notícia que o MEC manda 110 bolsitas voltarem do exterior, uma verdadeira bomba, de desperdício, de incúria, de inimaginável senso na percepção e repercussão do desastre imposto aos estudantes, que retornam com a mão abanando.
De uma parte o governo já havia “financiado” perto de US$12 mil para cada estudante. De outra parte eles não foram aprovados em exame de proficiência em inglês (o grande motivo do repatriamento) embora tivessem flanando pela Austrália e Canadá desde 2013. Muito estranho que não tivessem se habilitado na língua que seria de se supor já estivessem aptos antes mesmo de deixar o Brasil.
Negligência, desídia, favoritismo dos avaliadores por aqui ?
E agora. como fica o pouco obtido no estrangeiro, enquanto estudos ou simulacros de aprendizagem? Quem paga(ou)por tão grande inconsequência
cujos estudos não terão continuidade ? O que fazer numa situação dessas, o governo deve procurar por indenizações ? Mais do que justo ?
Para concluir, uma cearense, Nayane Tiraboschi, 24 anos, é aplaudida por uma conquista incomum de ter se submetido a avaliações  de admissão ao mestrado na Europa, não por exames mas pela trajetória curricular, e ter sido aprovada em 5 universidades além de contemplada com duas bolsas destinadas para toda a América Latina. Mas a notícia carrega um lado negativo quando ela afirma “Eu sempre quis estudar na área de Direito a mediação e conciliação. Mas no Brasil essa parte é pouco divulgada, exercida e praticada.
Fácil entender o desencanto da cearense quanto aos cursos aqui no País.
As universidades que Nayane conseguiu vaga foram a Queen Mary University (Londres), onde conseguiu a única bolsa disponível para a América Latina; Universidade de Westminster (Londres); Trinity College (Dublin); University of Fribourg (Suíça), onde conseguiu uma das duas bolsas disponíveis para estudantes da América Latina; e na Tilburg University (Holanda).
E essas são só três pérolas cor de champanhe do colar educacional brasileiro,
com tantas outras pipocando na mídia e gente falando no potencial transformador e que é necessário estreitar as conexões entre empresas e universidades, como ocorre nos EUA. Por aqui essa parceria não vai dar certo porque a universidade só quer saber de teses e dissertações enquanto a indústria só quer lucro, nada de teorias.
Quem viver verá os muitos seguidores de Thomas Morus brandindo lápis e canetas no apoteótico desfile dos cadernos e livros rasgados.

Nenhum comentário: