Até hoje
conhecemos apenas revoluções políticas e
ideológicas, e o que sucede agora é uma
revolução
da consciência… Só despertando de nosso cego
sonambulismo poderemos evoluir. Claudio Naranjo
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Conhecer
pessoalmente Cláudio Naranjo, professor em Berkeley desde 1968, depois de ter
lido algumas de suas obras, ouvir suas palestras e sobretudo mergulhar
reflexivamente nas suas teorias, é algo extraordinário. Não sem razão estão a
indicá-lo para o Prêmio Nobel da Paz 2015. Ultimamente esteve em São Paulo nos
meses de maio e agosto proferindo palestras no Colégio Dante Alighieri. A
revista Época, no final de maio, trouxe-o
de volta à cena em extensa entrevista.
De
postura serena, voz tranquila e olhar amistoso, o médico psiquiatra chileno, de
83 anos, ao falar se impõe: “A
educação não educa. É uma fraude. Não se deve confundir instrução com
educação".. Com essa saraivada, procura influenciar a opinião pública e as
autoridades com a ideia de que só uma transformação radical na educação poderá
mudar o curso catastrófico da História.
Em sua mais nova obra—A
Revolução que Esperávamos–(Verbena Editora), Cláudio Naranjo afirma que a crise
atual só pode ser superada por uma mudança profunda no modelo educacional. No
mundo da psicoterapia, é reconhecido como um dos mais expressivos profissionais
da atualidade. Há mais de 40 anos em atividade e com diversos livros
publicados, Naranjo fundamentou linhas psicológicas, integrou a sabedoria
oriental aos processos científicos ocidentais de estudo do comportamento humano
e fundou uma abordagem de desenvolvimento denominada SAT (sigla em inglês para Seekers After Truth, ou Em Busca da
Verdade), um programa holístico constituído por práticas da psicoterapia
moderna, concepções espirituais, meditação, terapias corporais e de gestalt.
Do alto dos cabelos e
longa barba branca, ele sentencia que a crise que estamos enfrentando não é
apenas econômica, mas multifacetada e universal, e pode ser um sinal da
obsolescência do conjunto de valores, instituições e hábitos interpessoais que
chamamos civilização. E vai além dizendo que precisamos de uma mudança da
consciência e o melhor caminho é a transformação da educação, por meio de uma
nova formação de educadores – orientada não só para a transmissão de
informações, mas para o desenvolvimento de competências existenciais. Assim, a
crise de valores exige revolução na educação. E conclui que os livros podem
transmitir conhecimento, mas atitudes só podem ser ensinadas por pessoas; e o
atual modelo educacional deixa o aspecto pessoal do professor em segundo plano.
Assim, as escolas ainda não cumprem um dos quatro pilares estabelecidos pela
Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
em 1990: o de educar para Ser.
A proposta do professor
Naranjo é estabelecer o desenvolvimento de competências existenciais, não
técnicas, classificadas como amor ao próximo (empático); amor aos ideais
(devocional); amor a si (desejos); a consciência do presente; o
autoconhecimento (quem sou) e o desapego. Para ele, essas competências,
negligenciadas ao longo dos anos, são a forma ideal de os professores difundirem,
entre si, os resultados encontrados no desenvolvimento a partir de suas experiências,
de sua transformação. A formação permite a eles que sejam mais completos como
pessoas, consequentemente, melhores profissionais. E isso não se restringe ao
educador, mas a todos os profissionais, em qualquer área. Equivale dizer que é
preciso ser uma boa pessoa, é preciso relacionar-se com o outro como pessoa,
ser um modelo de pessoa, e não apenas um modelo de saber.
Nas plateias, Naranjo
inquieta os acomodados, nas poltronas, nas consciências e no ensimesmamento, e
na soberba com disparos de grosso calibre como quando afirma que a educação destina-se ao desenvolvimento humano, não
à incorporação de conhecimentos. Para que passar anos oferecendo ao jovem o
conhecimento do mundo exterior quando já o encontramos no Google? De que serve
essa prática? Isso é um roubo da vida do jovem. Isso serve para quê? Para
passar anos somente para aprender a se sentar quieto? Para treinar a
obediência? Nesse contexto, o educador tem imposta uma vestimenta interna de
atitude, de respeito à autoridade educacional. Isso dificulta que ele tenha uma
voz transformadora. Algo como impor que o objetivo da educação seja manter as
pessoas adormecidas, robóticas, obedientes à força do trabalho construída com a
Era Industrial, o que continua sendo a motivação opressiva da educação.
Temos um sistema que
instrui e usa de forma fraudulenta a palavra educação para designar o que é
apenas a transmissão de informações. É um programa que rouba a infância e a
juventude das pessoas, ocupando-as com um conteúdo pesado, transmitido de maneira
catedrática e inadequada. O aluno passa horas ouvindo, inerte, como funciona o
intestino de um animal, como é a flora num local distante e os nomes dos
afluentes de um grande rio. É uma aberração ocupar todo o tempo da criança com
informações tão distantes dela, enquanto há tanto conteúdo dentro dela que pode
ser usado para que ela se desenvolva. Como esse monte de informações pode ser
mais importante que o autoconhecimento de cada um? Para Naranjo, o nome
educação é usado para designar algo que se aproxima de uma lavagem cerebral. É
um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos,
para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas
potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas.
Toda a placidez com que
Naranjo coloca suas ideias em público parece acompanhar uma expressão usada
pelo presidente americano Theodore Roosevelt: “Fale suavemente, mas tenha
sempre um porrete na mão. Você irá longe”. Frases de efeito – como “A educação
atual produz zumbis” e a afirmação de que ”As crianças são tachadas como
doentes com distúrbios de atenção e de aprendizado, mas em muitos casos
trata-se de uma negação sã da mente da criança de não querer aprender o
irrelevante” – caem como bombas nos auditórios.
Com atitude
politicamente correta, ele diz que “os ministros da Educação me recebem muito
bem. Eles concordam com meu ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode
ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema. O ministro é como
um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é
urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades”.
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