terça-feira, 17 de abril de 2012

Das Vagas e dos Sem-vagas

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br



Dia desses recebi e-mail com um texto de Bertolt Brecht, destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Como artista marxista concentrou-se na crítica ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista, por óbvio. Nasceu em fevereiro de 1898 e morreu em agosto de 1956, mês de cachorro louco.
Nossas identidades só ocorrem pelo fato de ambos sermos aquarianos. Nada mais.

“Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso. Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso. Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados, mas, como tenho meu emprego,
também não me importei.
Agora estão me levando, mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.”


Ainda repercute no setor a iniciativa do MEC de agir com energia pretoriana, usando a espada de Dâmocles sobre as cabeças dos que tiveram suprimidas suas vagas em cursos privados e ainda não foi possível divisar as razões e justificativas bem fundadas da medida, que em nada somou ou multiplicou. Pelo contrário, subtraiu e dividiu.

Sob estarrecimento, vagas são suprimidas nos cursos privados, pelos pretores romanos, numa inconsequência que não cabe em qualquer atividade laboral no país. É o exacerbamento do uso do poder.

Está proibido reduzir tudo, desde vagas no mercado de trabalho geral, até boa vontade para resolver os problemas. Suprimir vagas, sagradas, em qualquer nível da educação brasileira é crime sem absolvição e como já foi dito, crime de lesa pátria.
Os mais humanistas podem acessar “O Estatuto do Homem”, de Thiago de Mello.

A realidade é que “fecha – não fecha”, “abre mas depois fecha”, parece um cenário surrealista do grande e poderoso CNE ao distinguir com “x” vagas determinada instituição, para determinado curso dela. Depois, vem o Sinaes ou Enade, inclusive visita in loco, ou os índices malucos criados para reprovar mesmo.
Fato é que escolas públicas existem com piores desempenhos do que algumas privadas sem no entanto sofrerem nenhuma “condenação”. E nem seria o caso de exigir isso. Estamos falando que, além da paridade funcional, nem uma nem outra merece esse desterro. A questão, isso sim, está ligada às diferenças de uma e de outra. Pois, se a primeira sobrevive de impostos, a segunda sobrevive de receitas. Se não há identidades operativas, há semelhanças de escopos: a sociedade, a cultura e a educação.

Não é mais possível continuarmos a ver o cordeiro imolado sem que alguém se manifeste como sendo isso medida canibal, antropofágica que não cabe, repito, em nenhuma atividade operativa de um país emergente.

Se suprimir vagas é um crime sem absolvição, que diremos do fechamento de universidades, ainda que sob os mais negros motivos: falta de pagamento do aluguel, falta de pagamento dos salários, impossibilidade de cumprimento das obrigações de um terço dos docentes com titulação, porcentagem com regimes integral e parcial num plano de carreira institucional, biblioteca atendendo o mínimo desejável e laboratórios insuficientes para a demanda do alunado.

Pois, pois, o CNE não sabia que o projeto institucional estava longe de poder atender às exigências, fiou-se em promessas da mantença, esperou a instalação de Dionísio quando pendurou a espada presa por um fio de cabelo? Me ajudem aí!!!!

Nas instituições públicas vai tudo de verde a azul, de amarelo a cor-de-rosa?
Quais socorros têm sido implementados para não cair a cortina e ficar tudo desnudo?
Onde foram suprimidas vagas ou fechadas escolas públicas superiores? Desconheço.
Então estamos frente ao arco-íris, tudo beleza e maravilha? Claro que não, mas não fechem, não extingam vagas sem antes dar o socorro, de toda e qualquer natureza: BNDES, visitas monitoradas para adequação de tudo ( corpo docente, biblioteca, laboratórios, instalações gerais adequadas) inclusive para deficiências, elevação de qualificação do corpo docente, etc. etc.

Entra ministro e sai ministro e a coisa sempre continua igual: a ordem é tratorar a terra, revolver o solo independente do plantio a ser feito, seja/exija adubagem ou defensivo,  irrigação ou aplicação de calcário para resolver o PH da terra.

O MEC precisa bancar, sim, instituições que abertas não têm condições de se autossustentar na cidade/região de sua alocação. Claro, pois o cenário é mutável. Tem dia com sol, mas tem noite com chuva.
É preferível abrir ali uma federal ou apoiar o plantio e a colheita de uma realidade mediante parcerias/acordos/contratos que viabilizem a educação nacional sem reservas de picuinhas. Que tal fazer parte do grande concerto (para não dizer conserto) nacional educacional e deixar de lado poderes, repito, pretorianos sem fundo e propósito da década, para não dizer do século?

Quanto às afirmações de nossa “presidenta” procurando acordos com universidades americanas, um só recado: menas, Presidenta, muito menas. Que tal cuidarmos antes dos nossos quintais que estão precisando de capinagem, poda, incentivos e propriedades operativas de quem é do ramo? O atual ministro na pasta não é nem agricultor nem pedagogo e saiu-se muito mal na avaliação conteudística da Unicamp. Como ficamos ?

E o que é pior, puxando Brecht pela orelha, o setor a tudo assiste, passivamente, sem reação ou revolta como se a medida do MEC não pudesse também atingir outras instituições. Fica-se à sombra aguardando alguém subtrair vagas ou todo um conjunto educacional ( universidade ) da sociedade. Não se vê um pleito decisivo de reordenamentos, recomposições normativas, reorientações administrativas, etc., sem a violência da supressão e do fechamento.
E como a ação de parte do governo é intencional, claro, não se vai tocar no quintal oficial.
Meno male.

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