Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Semanas atrás escrevi a um amigo, operador da educação, que o ensino está(va) vivendo momento perigoso de construir-se em cima de alicerces frágeis demais, sobre areia movediça.
Daí, o prédio estar inclinando como Pisa (não confundir com pizza, que é outra receita/realidade). E mais, na troca de mensagens, ele com muita razão, sugeria abordagem de pontos transversais, que de alguma maneira poderiam imbricar-se. Porém, tais temas cobrariam alongamentos bem examinados, significando extensa análise para um só artigo. Pela relevância, serão enfocados, um a um, oportunamente. São eles:
1- educação antigamente só era preocupação das Classes A e B e das famílias de imigrantes que tinham esta percepção;
2- os diversos governos viam a educação mais como uma ação a cumprir e não como uma necessidade de desenvolvimento;
3- o país nunca teve um plano de formação de recursos humanos para o desenvolvimento.
Já me perguntei muitas vezes de onde vem o horror extremado que o povo norte-americano tem a mentiras. Está na literatura, nos filmes, nos colóquios, etc. etc.Ou melhor, no DNA, na cultura e, por que não?, na inteligência do povo ?
No setor da educação, com exceções, é claro, há uma dominância do “me engane que eu gosto”, “você mente que ensina e eu minto que aprendo”, “me dê nota e frequência aqui dentro, porque vou assaltar lá fora, sem esquecer que estou pagando pra você, professor, ter o seu salário”, prevalecendo a Lei de Gerson, o de “levar vantagem em tudo” (cujo protagonista na propaganda, coitado, foi estigmatizado infortunadamente, quando o publicitário, autor da criação da mensagem, foi inocentado/ignorado/absolvido), tudo sob o manto da impunidade ou da miopia.
Qual escola diz ter, mesmo, “X” livros na biblioteca – e não os tem –; sobre currículos e conteúdos, qual pode afirmar categoricamente que são cumpridos à risca; qual IES recebe pelos seletivos tão somente as vagas autorizadas sem exceder 10, 20 e até 50% delas, com o pretexto de que vão terminar o ciclo exatamente conforme a autorização de funcionamento? E o que é um desaforo dos grandes, um acinte/afronta, têm seletivo/vestibular continuado durante semanas ou meses. Por acaso, quem é do setor, alguém já viu alguma comissão de avaliação adentrar alguma biblioteca e sair contando os volumes, questionar a alteração curricular e a efetiva proposta dos seus respectivos conteúdos, além de pedir a relação dos ingressantes para conferência de vagas?
Na mesma oportunidade, fui questionado sobre afirmação que lhe dera sobre a falácia do ensino fundamental e médio no país quando afirmei que a qualidade dos ingressantes perpassa qualquer compromisso com os estudos e muito menos com a IES.
Razão por que o ENADE é uma mentira, distante das propostas programáticas contidas nas chamadas NDCs-Novas Diretrizes Curriculares (algumas já fazendo dez aniversários) senão também o ENEM, quando inexiste currículos e conteúdos uniformes, com padrões no território nacional. Como de resto, qualquer avaliação fundada em IGCs,CPCs, etc. etc., impondo isonomia aos diferentes é quase crime. E nisso os réus são, sem dúvida, o MEC – completamente desestruturado – , o INEP, sem qualquer possibilidade de realizar concretamente a avaliação desejável, para o expurgo dos oportunistas, diante de milhares de IES que naufragam (ainda que cobertas de boas intenções mas sem as mínimas condições operativas locais ou regionais). Vide a Instrução Normativa Nº 4, de 31 de maio 2013, testemunho vivo da inoperância do órgão, furtando-se de uma responsabilidade imperativa.
A verdade, verdadeira, axiomática, é que tais IES foram demais audaciosas, impetuosas e oportunistas num cenário que pecou(va) pela inexatidão das propostas no pedido de autorização de funcionamento, pois que sabidamente não encontrariam abrigo na formação de seus quadros docentes, capacidade gerencial e financeira, só imperando a ambição. Hoje muitas delas navegam na sopa da ociosidade de alunado.
Até aqui os leitores habituais estão dizendo que volto com meu caminhãozinho de limões ou tonéis de soda cáustica, o que não é bem assim, mas tomo a liberdade de lembrar um quadro humorístico do passado quando em cena um dos comediantes dizia uma patacoada dos infernos e o outro pegava do telefone limitando-se a pronunciar “Alô ilusão, quem tá falando, tem alguém aí?”
Ora, estamos como Sísifo (o que foi condenado a rolar uma pedra diariamente até o topo de um monte e toda manhã lá estava ela novamente ao rés do chão porque mentira, pretendendo enganar a Morte), senão também o astuto e presunçoso Prometeu (condenado a ter o fígado diariamente comido por abutres, por pretensão além do autorizado por Zeus) que tinha o órgão reconstituído todo dia. São dois clássicos da mitologia grega, quase parecidos com o folclore nacional. Diferentes, no entanto, porque os atores aqui são muitos, a começar pela falência da proposta de cursos de licenciatura nas IES, onde habita o professor dos professores que às vezes mal sabe onde está pisando; a inexistência concreta de Estágios suficientes para licenciandos se adestrarem; sem falar na pobreza dos currículos; da Prática profissionalizante; das Atividades Complementares. Dado o avanço do ensino na modalidade EAD, qual licenciatura no país já tem uma disciplina que verse sobre Capacitação Docente para EAD ? Tudo minguado, escasso, raro, insuficiente, pra não dizer insustentável e débil.
Gerações já se afundaram num mar de oportunidades por simples motivos de carências de habilidades, mas sobretudo de competências diante de um mercado de trabalho ansioso, de parte a parte, porém exigente. Se as escolas garantissem por compromisso algum grau de empregabilidade aos formandos, por certo estariam amargando muitas indenizações, tipo garantia ou pós-venda.
Somem-se a isso as inverdades publicadas pela mídia de que tudo vai bem, somos o primeiro país em tudo, do carnaval/alegria (ambiente putrefato de máfias do jogo, do tráfico, da prostituição, da corrupção e da impunidade); do futebol com tudo que se vê sobre a construção de estádios suntuosos, como se não tivéssemos 40% de analfabetos (incluindo os funcionais) e as escolas caindo aos pedaços, fora os salários degradantes dos docentes.
Continuaremos abordando a pujança da Petrobras no último ano, da Vale, da Bolsa, dos salários, das aposentadorias, da saúde, da segurança e da classe política como os mensaleiros ?
Que outras cores acrescentar a tal pintura, carregando senão no roxo e no preto para destacar a escuridão que paira no setor educacional, por analogias, contaminações e extensões?
A garotada das últimas passeatas, os bons de intenção e índole, conhece as verdades sem se expor aos encantadores de serpentes com flautas mágicas, subordinando cobras que não têm audição?
É a chamada geração Y que está nas ruas enxugando gelo?
Se esta abordagem enveredasse pela avaliação do tão esperado PNE (Plano Nacional de Educação), que ainda está no papel, no Congresso, passados quase três anos de gestação extemporânea porque deveria ter vigor em janeiro de 2013, só resta clamar por “Deus nos acuda”.
Em tempo, sobre as chamadas NDCs (Novas Diretrizes Curriculares), algumas já nem tanto assim, registram edição de quase 10 anos ou mais. Cá pra nós, não são nada novas, como se o mundo não tivesse dado nesse tempo milhares de rotações tecnológicas abandonando o passado.
Afinal, agenda de trabalho como a dos políticos – terça, quarta e quinta – não é pra todo mundo que rala de sol a sol, de segunda a segunda. Acesse o link abaixo pra desandar em choro, no mínimo: https://www.youtube.com/watch?v=EyejpPmZXn0
quinta-feira, 11 de julho de 2013
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