segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Temos Pressa, Muita Pressa

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Recentemente, no blog da Abmes, o prof. Antonio Veronezi ( UnG) deixou considerações sobre o assunto Conglomerados Educacionais: prós e contras, tema quer não raro é tocado com delicadeza e pudores por economistas, mercadólogos, financistas e gente de muita expertise no setor, como ele. E o título contém dois destaques-avisos.

Para aditar a opinião do prof. Veronezi, modestamente e com muito respeito, alguns dados históricos ajudam a ampliar cenários de análises e o primeiro deles é o rol de Ministros da Educação que tivemos partindo do marco Jarbas Passarinho, como quis o articulista:

Aloizio Mercadante, 24/01/2012,
Fernando Haddad, 29/07/2005 a 24/01/2012,
Tarso Genro, 27/01/2004 a 29/07/2005,
Cristovam Buarque, 01/01/2003 a 27/01/2004
Paulo Renato Souza, 01/01/95 a 01/01/2003
Murílio de Avellar Hingel, 01/10/92 a 01/01/95
Eraldo Tinoco Melo, 04/08/92 a 01/10/92
José Goldemberg, 02/08/91 a 04/08/92
Carlos Alberto Chiarelli, 15/03/90 a 21/08/91
Carlos Corrêa de Menezes Sant’anna, 16/01/89 a 14/03/90
Hugo Napoleão do Rego Neto, 03/11/87 a 16/01/89
Jorge Konder Bornhausen, 14/02/86 a 05/10/87
Marco Antônio de Oliveira Maciel, 15/03/85 a 14/02/86
Esther de Figueiredo Ferraz, 24/08/82 a 15/03/85
Rubem Carlo Ludwig, 27/11/80 a 24/08/82
Eduardo Mattos Portella, 15/03/79 a 26/11/80
Euro Brandão, 30/05/78 a 14/03/79
Ney Aminthas de Barros Braga, 15/03/74 a 30/05/78
Jarbas Gonçalves Passarinho, 03/11/69 a 15/03/74

Considerando a data de saída do Ministro Passarinho, lá se vão quase 40 anos, cadeira ocupada por quase vinte pessoas. É admissível estabelecer a média de um a cada dois anos ? Nada, nenhum empreendimento aguenta esse turn-over na cabeceira da mesa.
Nesse período, qual mantenedor não se expôs às intempéries, amores e rancores do poder público educacional pindorama?

Para tangenciar o assunto, o prof. Veronezi destaca a condição jurídica atual de que as IES são sociedades civis com fins lucrativos, contrariamente ao passado nas décadas 60,70 e 80. Forçoso admitir que nem por isso as mantenças privadas deixaram de auferir vantagens, com toda a justiça, pela relevância do trabalho social. Não se fala aqui das confessionais, fundacionais, filantrópicas, etc., assunto à parte.

Infelizmente, tanto o MEC como a sustentação pelo Código Civil, criou-se a figura esdrúxula da mantença dicotomizada com os cursos. Mas, bem ou mal, foi um início de muitas agruras, sim. Ou seja, o MEC não “admitia” a presença do setor privado por inteiro mas muitos foram os corajosos que empreenderam, mesmo com as restrições.
E deixaram extraordinários legados com muitos valores agregados. Uns souberam aproveitar o cavalo encilhado que passava, outros desconsideraram sem reaplicações no próprio negócio, para quem o futuro não seria nada colorido (? $).

O prof. Veronezi vai em frente relatando as dificuldades de aprovação e criação de cursos quando de fato preponderavam outros índices, um dos quais o fornecido pelo IBGE que ditava autoritariamente os locais/regiões onde se pudesse instalar um curso superior. Olhar míope que os integrantes do extinto CFE balizavam seus Pareceres. A rigor, na época, dada a inexistência de um quadro pós-graduado no mercado tal exigência era para inglês ver pois até Notório Saber admitia participação. E era um sucesso na linha da fazeção. Já preencheu vaga até em Federal.
Para os saudosistas de São Paulo, era muito mais fácil, rápido e barato ir até a Delegacia do MEC, nas proximidades da Rua Apa, nos Campos Elísios. Sem a presença perniciosa de atravessadores que se prestavam a “montar processos” como em linha de produção, trazendo mais problemas do que soluções para a autorização ou reconhecimento de cursos. Então, os mantenedores levavam seus processos em baixo do braço a despachar com o Delegado.

Aqui se inicia a era da concorrência predatória na qual aventureiros de todos os jaezes fizeram seus pleitos por autorizações de funcionamento, sem a menor possibilidade de dar consecução à educação de qualidade. Quem falhou, as entidades de classe ou o MEC ?

Aproximava-se o momento da massificação do ensino que permitiria em sala não 50 mas 100 alunos diminuindo pela metade(?) os custos, em abandono das reais propostas educacionais de qualidade. Acrescente-se também que o aluno egresso das escolas de 2º grau não chegavam tão ruins como os de hoje. Mais este elemento de perda da qualidade no momento atual.

Afrouxamento das regras ou não, as IES deveriam ter mantido seus comprometimentos por bem formar. Não é porque liberou geral que se mergulha no descaso e na desídia quando está em jogo não o presente mas o futuro. Para a educação nunca prevalece o presente que deverá ter sido discutido no passado para assumir o hoje. Na atualidade, devemos discutir o futuro porque existe uma região abissal do ingresso do estudante até a sua formação, 4 anos mais tarde. Os conhecimentos, hoje, de hoje, estão defasados 72 horas. Imaginemos 2-3-ou 4 anos.

Dizer que muitas IES se renderam a grupos de investidores criando os conglomerados é não considerar que o risco de qualquer empreendimento é inerente ao negócio mal administrado, que não conseguiu antever mudanças, o novo.

Por que os conglomerados se valem de experts na interpretação de negócios ?
Por que tais profissionais não estavam nos quadros das IES que se entregaram ?

Não há nada de errado em fusões, incorporações, fazer parte de conglomerados. Vide uma grande variedade de setores/atividades trilhando o objetivo como no ramo de farmácias, planos de saúde, laboratórios, postos de gasolina, bancos, etc. etc. Ótimo.

Na avaliação do articulista, muitas IES “se instalaram no entusiasmo e sem planejamento” como as que não optaram pela “profissionalização interna se renderam.”.
Plenamente de acordo quanto à falta de entusiasmo e de planejamento, predicados sem os quais a educação não avança. Foram afoitas, sem escrúpulos no desenho de suas IES e acabaram por murchar. Mas, num mundo globalizado não implementar profissionalização é descuido sem absolvição.
Melhor para a educação nacional que grupos/conglomerados, nacionais ou não, exerçam seu mister com proficiência e eficácia à luz das realidades que nos esbofeteiam.
Melhor com eles do que com aqueles, exceções feitas, pois temos pressa, muita pressa.
E é melhor que somemos experiências globais o mais rápido possível antes de ficar bradando tacapes, ibirapemas e bordunas tupiniquins.

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