terça-feira, 27 de agosto de 2013

Medicina Exaltada

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Com o título intrigante de Medicina Tumultuada, o Estadão colocou na segunda página de terça-feira, 20, o artigo escrito pelos médicos Adib Jatene e José da Silva Guedes , ambos membros da Comissão de Especialistas do Ensino Médico do MEC.

Pelo visto, os dois saíram como candidatos a opinion makers do programa Mais Médicos deixando claro, entre outras afirmações, que não consideraram dois fatos para efeito de análise: que falam da altura de suas dezenas de anos de experiência profissional e que o médico formado hoje é muitas vezes melhor do que quando a dupla se formou. Não há nisso nenhuma provocação para ressaltar a neoformação de médicos, mas os doutos me permitam lembrar que a contemporaneidade se faz dia a dia.

Jatene & Guedes não trouxeram nada de novo em suas falas, deixando ao leitor, entretanto, algumas sinalizações da filosofia de trabalho que podem dominar a vetusta Comissão que integram.

Baixam críticas de que “desde 1996, o número de escolas médicas vem crescendo de maneira excessiva, pois naquele ano havia 82 cursos, 60% dos quais públicos e 40% privados”. E que a maioria dos “particulares não tinham tradição no setor de saúde e, por isso, não possuíam complexo médico-hospitalar e ambulatorial permitindo o ensino na fase clínica”. Como solução, referindo-se às particulares, dizem que “valeram-se do SUS para ministrar o curso, com evidente prejuízo para o ensino”. Em outras palavras e também nas entrelinhas, desejam Jatene & Guedes que as escolas invistam num plexo médico completo, sem um nem outro se valerem do SUS, pois destacam que “serviços eminentemente assistenciais não são adequados ao ensino”. Assim, nesse diapasão, os articulistas não estão concordando com a MP 621.

Acrescentam que a partir de 1996 mais 120 novos cursos foram criados, dos quais 70% pela iniciativa privada, de onde se perguntar: por que tal aumento não se deu no mundo público? E que de nove mil passaram a graduar-se 18 mil médicos por ano, sem precisar, com exatidão, se a partir de 1996 ou de 2004, findo o ciclo formativo de 6+2.

Ao dizerem que a distribuição de médicos é desigual poderiam ter acrescentado que a expressiva maioria egressa de cursos públicos domina as principais avenidas paulistas, cariocas, paranaenses, baianas, mineiras, etc., com belos consultórios, negando-se a aceitar pacientes de convênios, cobrando o que bem entendem e recusando a periferia.

Acontece que é assim mesmo que a vida corre, como na máxima de Ortega y Gasset, cuja teoria centrou a discussão no conceito de vida experimentado na primeira pessoa. Com o “eu sou eu e minhas circunstâncias (minhas conveniências), se não salvo a ela (circunstância) não salvo a mim“ particulariza os problemas de cada homem. O filósofo indica que o homem pode mudar a sua vida transformando a realidade em que vive. Se não fizer, afunda-se na circunstância e não dá sentido à própria vida. Daí que a escolha é democrática, pois há quem não queira ir trabalhar em Xapuri, porque é solteiro, noivo ou casado, tem ou não prole.

Aliás, a presidente Dilma, irônica, fez comentário sobre a escolha preferida pelos médicos que maciçamente desejam atender no litoral. E não?

As contas não fecham diante dos números que indicam que mais da metade da população vive em apenas 3% dos 5.564 municípios brasileiros, e 3.511 deles estão a demandar 15.460 vagas para o Mais Médicos e só 1.618 profissionais confirmaram participação, dos quais 354 são estrangeiros. Pelo número 18 mil indicado acima, uma única “fornada”, de 2004 para cá, resolveria o problema! Até porque, de lá para cá estamos quase em 10 anos alcançando a “bagatela” de 180 mil médicos. Alô, alô, prezados e imprescindíveis do avental branco, por onde andam vocês? Aqui tem gato miando na tuba. E vai acontecer uma “2ª época” para os hesitantes, pois as inscrições foram reabertas no dia 19 e irão até 30 de agosto. Arrisco dizer que esse expediente vai se replicar até a satisfação das demandas. É esperar para ver.

Afirmar que “não foi possível(?) dotar as cidades de todos os determinantes sociais de saúde, como saneamento básico, transporte, segurança, educação e também o equipo de saúde” é simplismo, pois não avalia as condutas administrativas e políticas, digamos, dos últimos 10 anos, de absoluta incúria, desídia e negligência, sem prognósticos nem planejamentos de futuro. É falácia dizer que não há/havia verba, pois nos últimos tempos estivemos perdoando dívidas como nunca pelo mundo fora, sem se falar no evento Copa do Mundo, absurdo maior. Por óbvio, as IES particulares não têm nada com isso, ao contrário, têm formado não só bons médicos, como também todo o entorno – fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, farmacêuticos, veterinários, dentistas, técnicos diversos e demais.

Há algum mal, algum erro em conduzir estudantes do ensino privado à realização de residências, sob convênios, como ocorre em São Paulo, por exemplo, junto ao Hospital Beneficência Portuguesa ou Pérola Byington, mesmo que debaixo de enormes somas contratuais para a instituição de ensino?

Argumentar que o médico formado atualmente não está sendo preparado para atender à população é certo exagero, talvez equívoco semântico. Dizem os articulistas que não estamos formando generalistas, mas especialistas e assim aqueles não têm para quem encaminhar o cliente do SUS. A proceder a afirmação, os autores estão cobertos de razão ao sugerir aos pequenos (e por que não também aos médios?) municípios a organização de consórcios intermunicipais, com uma sede-polo, embora afrontada pela atual MP 621.

No mais, fica o apelo de urgência para que o governo reveja suas propostas e acione mecanismos realmente estruturantes e duradouros, fundamentados na real necessidade de toda a população, como querem Jatene & Guedes.

                                              Saiu no Fórum dos Leitores do Estadão

ERRO MÉDICO
Uma vez que a reação contrária à importação de médicos estrangeiros, considerada pelos menos avisados como corporativismo, não foi aceita e os médicos de fora estão chegando, cabe uma pergunta: o governo se responsabilizará pelos erros que esses contratados certamente cometerão? Sem falar a língua e, sem recursos de apoio, muitos erros certamente ocorrerão. Mais provável ainda por serem admitidos médicos sem a menor avaliação de seus conhecimentos. Fica apenas uma certeza: Fidel agradece.
Geraldo Siffert Junior, médico geraldo.siffert@ig.com.br - Rio de Janeiro

MÉDICOS DE FORA
Como é possível que Conselhos Regionais de Medicina e Associações Médicas aceitem essa barbaridade que é a contratação de 6 mil médicos cubanos, que vão "assumir suas funções" depois de três semanas de capacitação!? Onde estão as lideranças, as cabeças pensantes, os professores e diretores das faculdades de Medicina, que não usam sua influência para coibir enquanto é tempo esse plano macabro que vai pôr em risco não só a saúde do povo, como, principalmente, nossa segurança nacional, pois se trata de infiltração cubana dentro do nosso território? É o Cavalo de Troia atualizado.
Diva Rodrigues Pedrosa diva.rodrigues@terra.com.br

SEM DÚVIDA
Primeiro foi o Mais Médicos. Agora vem o programa Mais e Melhores Engenheiros. Não é o momento exato de o governo federal criar o programa Melhores Políticos ou Políticos Honestos? Esse, sim, seria um programa para resolver todos os problemas brasileiros. Não tenho dúvidas quanto a esse programa.
Fábio Pellegrini fabiopell@terra.com.br - Rio Claro

REGIONALISMO
Dilma ironiza a escolha dos médicos no programa Mais Médicos, a grande maioria tendo optado pelo litoral. Esquece-se de que ela própria, ao decidir-se pela luta armada como forma de combater o regime e implantar a ditadura comunista no Brasil, optou pela guerrilha no Centro-Sul, com incursões à Bahia, que ninguém é de ferro. Uns poucos, menos espertos ou mais loucos, internaram-se na selva na utópica aventura do Araguaia. Cada um deveria saber o telhado que tem!
Roberto Viana Santos rovisa681@gmail.com – Salvador



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