sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dilma não esclarece tudo



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Com o título “Dilma: faculdade comunitária interioriza  ensino superior” a sucursal do Estadão em Itajaí(SC) relata a presença da presidente na quarta-feira, 26, no teatro da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) em solenidade revestida de tons eleitoreiros, como de hábito da mandatária.

Enchendo a bola das Comunitárias, Dilma saiu com a afirmação de que elas favorecem a interiorização do ensino superior e que “Se não fossem essas vagas, muitos brasileiros não teriam condições financeiras para se formar nas capitais.”(?)
Gap de comunicação : Itajaí (180 mil hab.) ainda não é Capital.

O que fica a desejar na reportagem é a não citação do real motivo que levou a presidente até aquele campus, sugerindo ter ido até lá para ser cumprimentada por reitores pelo motivo da criação da Lei 12.881, assinada no começo de novembro e pela qual as instituições comunitárias de educação superior são qualificadas a receber recursos orçamentários e participar de editais reservados para instituições públicas.
Com isso ficam estabelecidas as diferenças e as distâncias dos cursos privados que na região sobrevivem a duras penas.

Com tal medida mais uma colher de cal foi lançada sobre as PMIES pois a maioria das Comunitárias no País estão em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pizza grande.  

Conforme a reportagem, além da Univali, há 13 outras no Estado e que 70% dos catarinenses que frequentam faculdades estão nas Comunitárias. Ou seja, PMIES, requiescant in pace (descansem em paz).

Assim, o que já estava difícil para as particulares agora talvez fique impossível. Isso me lembra comercial de TV quando dois irmãozinhos disputavam o saquinho de jujuba e o mais velho dizia “Um pra você e dois pra mim”. Pela iniciativa ficou: um pra mim e nenhuma pra você.

A presidente, por certo, ignora(va) ao assinar aquela Lei que estava(ria) sepultando as pequenas e médias IES que representam uma enorme alavanca no ensino interiorizado do País, e que a ABMES, por seu presidente Gabriel Rodrigues, estabeleceu uma extraordinária ação para apoiá-las como plataforma da gestão.
Para ele, é grande a expectativa em relação à colaboração das instituições associadas e não associadas: “espero que participem da pesquisa para legitimar o projeto/ carro-chefe da atual gestão e também para oferecer subsídios ao Plano de Ação para as PMIES que a nossa entidade pretende coletivamente construir e implementar”.

Está com a palavra Cecília Rocha Horta ao afirmar que “Sabe-se, porém, que as PMIES estão localizadas, na sua maioria, em locais em que o Poder Público não está e/ou está precariamente presente. Os responsáveis pela criação dessas instituições são em geral educadores – forças vivas locais – que se organizam visando não só oferecer ensino superior aos estudantes da região, que não podem frequentar as escolas dos grandes centros, como também viabilizar, de forma expressiva, a interiorização da educação no país.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), ano base 2011, as PMIES com até 2.000 alunos representam 71,17% do total de instituições privadas do país, são responsáveis por 17% das matrículas e por 27,3% do total de cursos. Apesar das dificuldades e obstáculos, as PMIES contribuem para a formação de pessoal de nível superior, empregam professores e auxiliares de administração escolar, movimentam o comércio e o mercado de trabalho por meio da qualificação de mão de obra para atender às demandas locais e regionais.
O lado ruim da história é que o Ministério da Educação (MEC), com  base nos indicadores de avaliação – que ignoram a especificidade e a heterogeneidade do sistema educacional –, penaliza duramente as instituições, e de forma especial as PMIES, com cortes de vagas, desligamento de programas de apoio financeiro ao aluno, arquivamento de processos de cursos em tramitação, fechamento de cursos, dentre outras medidas.”.

O diretor do SEMESP e sócio do Instituto Expertise também tem sua avaliação: Rodrigo Capelato observa que as PMIES são estratégicas para a economia do país, para a economia local, para a interiorização do ensino e para garantir a diversidade da oferta de cursos superiores nas regiões em que ensino público não chega. No entanto, adverte: “O Brasil precisa de políticas públicas para que as PMIES possam se tornar competitivas”.

De fato, as particulares são os náufragos da “Nau dos Insensatos” e só resta remar, e remar, e remar sem prazo de validade dos remos e do barco.

domingo, 24 de novembro de 2013

Curso Nota 10 (?)



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
 
Carregando nas costas algumas dezenas de anos trabalhando no setor educacional e tendo participado de inúmeras reuniões de docentes, diretores/coordenadorias, conselhos e demais órgãos, nunca ouvi de qualquer Diretor ou Coordenador de curso que o “seu curso” tivesse qualquer problema.  Ao contrário, de peito aberto, alto e bom som, diziam que tudo corria às mil maravilhas, que tudo ia bem, da faxina e bedéis passando pela secretaria, indo aos laboratórios e sobretudo que o corpo docente era o melhor que uma escola podia ter.
Que a frequência do alunado era bem positiva quase inexistindo faltas às aulas, que os programas/conteúdos  estavam sendo muito bem elaborados/aplicados e constatação disso era o alto grau de aproveitamento como resultado das correções de provas e aprovação final.
Que a sala dos professores era um ambiente  feliz, perto do familiar, todos se dando muito bem ao meio de um cafezinho cedido pela cantina da escola e que pontualidade e assiduidade eram pontos altos da performance dos seus  profissionais de magistério, inclusive com a menor taxa de demissões e substituições. E mais, ninguém ficava doente se ausentando com atestados médicos pra não dizer o incrível, que nenhuma mulher engravidava e assim não havia afastamentos. Todas assexuadas, parecia.
Quanto à inadimplência, bem, isso não tinha nada a ver com o declarante ufanista pois era assunto do departamento financeiro.  Afinal das contas, nenhum Diretor/Coordenador é o Mantenedor, não é mesmo ?  Não um autêntico gestor do “negócio”.
Ou seja, sempre estive ao lado de gente que tinha a cartografia do caminho das pedras em direção à terra prometida, com  a grande recompensa: o paraíso. E ao que tudo indicava, na colação de grau referido Diretor/Coordenador de curso entregava não só o canudo mas uma CP-Carteira Profissional assinada com emprego garantido, pois que uma escola com tal brilho não exigia polimento algum.
Eram verdadeiros encantadores de serpentes, de gatos, cachorros e outros bichos.
Em escolas onde as CPAs – Comissão Própria de Avaliação existam no papel ele  aceita qualquer “rabisco” , o resultado de tudo sempre foi /é maravilhoso aos olhos da Mantida porque se conduzida pelo Mantenedor o quadro seria outro, claro, claríssimo. E tem mais, se com equipe externa contratada para tal fim, o  resultado/demonstrativo seria aterrador. Bem em consonância com outras avaliações de organismos federais: precárias e assustadoras que com certeza conduziriam a conceito ”1”, com alguma corrupção ao “2”.
Para aliviar a crítica, inexiste escola  que disponibiliza aos professores do 1º semestre a redação do vestibular bem como o resultado das questões de múltipla escolha, que permitiriam a cada um deles fazer suas avaliações objetivas, sérias e responsáveis. Não, tais dados, via de regra, não são disponibilizados  e  esse seletivo, como tal não tem nada de seleção. O objetivo é preencher as vagas, a qualquer custo, transferindo equivocadamente aos docentes o encargo de levar os seletivados e alunos matriculados no colo, para a frente. Um descalabro porque esses mesmos alunos se sujeitarão ao Enade ou a avaliação in loco perante habilidosos entrevistadores.
Então, o feitiço vira contra o feiticeiro numa consequência negativa sem tamanho para a IES.

Na outra ponta está o aluno, indefeso, passivo e impotente a interagir com todo o processo
unicamente na posição de observador, mas percebendo que alguma coisa não vai bem, pois a calmaria incomoda já que a escola não tem boa temperatura, não tem pulso e está pálida indicando que há desnutrição em potencial. Anemia dominante na mantida  o que permite dizer que a mantença está alheia à caminhada e quem sabe também indefesa, passiva e impotente em dar soluções, padecendo igualmente de uma anemia, desta feita anoréxica.
Mas, aluno bom nunca é refém da escola  pois pode se transferir se desejar. Quando muito pode ser cúmplice diante do quadro em que muita gente faz de conta que ensina e outros fazem de conta que aprendem: dois polos fraudados.

Conforme Luiz Flávio Gomes – jurista -, “O ensino, por melhor que seja, jamais produzirá efeitos notáveis em quem não quer saber de absolutamente nada. Bares periféricos cheios, salas de aula vazias.”
A situação de perplexidade, em alguns casos bem graves, quando a contemplação e tolerância dão lugar a uma  bulimia severa, podem jogar o paciente em uma UTI com estertores terminais. E não é o caso de um “salve-se quem puder” mas salve-se a escola, o alunado e o corpo docente porque o outrora garboso Átila agora está montado num pangaré moribundo.
Escola é um ente em construção diária carecendo de atenções constantes como a que se dedica a uma criança. Exceção aos estudantes, que entram em férias—e diga-se de passagem, muito longas --  essa palavra inexiste no vocabulário da mantida e da mantença pois é atividade de ouro que precisa estar sempre reluzente. Uma brigada de gente sempre de plantão, pronta e de atalaia evitando descuidos e desídias. Quando uma escola “vai muito bem, obrigado” é hora de se redobrar cuidados.