domingo, 24 de novembro de 2013

Curso Nota 10 (?)



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
 
Carregando nas costas algumas dezenas de anos trabalhando no setor educacional e tendo participado de inúmeras reuniões de docentes, diretores/coordenadorias, conselhos e demais órgãos, nunca ouvi de qualquer Diretor ou Coordenador de curso que o “seu curso” tivesse qualquer problema.  Ao contrário, de peito aberto, alto e bom som, diziam que tudo corria às mil maravilhas, que tudo ia bem, da faxina e bedéis passando pela secretaria, indo aos laboratórios e sobretudo que o corpo docente era o melhor que uma escola podia ter.
Que a frequência do alunado era bem positiva quase inexistindo faltas às aulas, que os programas/conteúdos  estavam sendo muito bem elaborados/aplicados e constatação disso era o alto grau de aproveitamento como resultado das correções de provas e aprovação final.
Que a sala dos professores era um ambiente  feliz, perto do familiar, todos se dando muito bem ao meio de um cafezinho cedido pela cantina da escola e que pontualidade e assiduidade eram pontos altos da performance dos seus  profissionais de magistério, inclusive com a menor taxa de demissões e substituições. E mais, ninguém ficava doente se ausentando com atestados médicos pra não dizer o incrível, que nenhuma mulher engravidava e assim não havia afastamentos. Todas assexuadas, parecia.
Quanto à inadimplência, bem, isso não tinha nada a ver com o declarante ufanista pois era assunto do departamento financeiro.  Afinal das contas, nenhum Diretor/Coordenador é o Mantenedor, não é mesmo ?  Não um autêntico gestor do “negócio”.
Ou seja, sempre estive ao lado de gente que tinha a cartografia do caminho das pedras em direção à terra prometida, com  a grande recompensa: o paraíso. E ao que tudo indicava, na colação de grau referido Diretor/Coordenador de curso entregava não só o canudo mas uma CP-Carteira Profissional assinada com emprego garantido, pois que uma escola com tal brilho não exigia polimento algum.
Eram verdadeiros encantadores de serpentes, de gatos, cachorros e outros bichos.
Em escolas onde as CPAs – Comissão Própria de Avaliação existam no papel ele  aceita qualquer “rabisco” , o resultado de tudo sempre foi /é maravilhoso aos olhos da Mantida porque se conduzida pelo Mantenedor o quadro seria outro, claro, claríssimo. E tem mais, se com equipe externa contratada para tal fim, o  resultado/demonstrativo seria aterrador. Bem em consonância com outras avaliações de organismos federais: precárias e assustadoras que com certeza conduziriam a conceito ”1”, com alguma corrupção ao “2”.
Para aliviar a crítica, inexiste escola  que disponibiliza aos professores do 1º semestre a redação do vestibular bem como o resultado das questões de múltipla escolha, que permitiriam a cada um deles fazer suas avaliações objetivas, sérias e responsáveis. Não, tais dados, via de regra, não são disponibilizados  e  esse seletivo, como tal não tem nada de seleção. O objetivo é preencher as vagas, a qualquer custo, transferindo equivocadamente aos docentes o encargo de levar os seletivados e alunos matriculados no colo, para a frente. Um descalabro porque esses mesmos alunos se sujeitarão ao Enade ou a avaliação in loco perante habilidosos entrevistadores.
Então, o feitiço vira contra o feiticeiro numa consequência negativa sem tamanho para a IES.

Na outra ponta está o aluno, indefeso, passivo e impotente a interagir com todo o processo
unicamente na posição de observador, mas percebendo que alguma coisa não vai bem, pois a calmaria incomoda já que a escola não tem boa temperatura, não tem pulso e está pálida indicando que há desnutrição em potencial. Anemia dominante na mantida  o que permite dizer que a mantença está alheia à caminhada e quem sabe também indefesa, passiva e impotente em dar soluções, padecendo igualmente de uma anemia, desta feita anoréxica.
Mas, aluno bom nunca é refém da escola  pois pode se transferir se desejar. Quando muito pode ser cúmplice diante do quadro em que muita gente faz de conta que ensina e outros fazem de conta que aprendem: dois polos fraudados.

Conforme Luiz Flávio Gomes – jurista -, “O ensino, por melhor que seja, jamais produzirá efeitos notáveis em quem não quer saber de absolutamente nada. Bares periféricos cheios, salas de aula vazias.”
A situação de perplexidade, em alguns casos bem graves, quando a contemplação e tolerância dão lugar a uma  bulimia severa, podem jogar o paciente em uma UTI com estertores terminais. E não é o caso de um “salve-se quem puder” mas salve-se a escola, o alunado e o corpo docente porque o outrora garboso Átila agora está montado num pangaré moribundo.
Escola é um ente em construção diária carecendo de atenções constantes como a que se dedica a uma criança. Exceção aos estudantes, que entram em férias—e diga-se de passagem, muito longas --  essa palavra inexiste no vocabulário da mantida e da mantença pois é atividade de ouro que precisa estar sempre reluzente. Uma brigada de gente sempre de plantão, pronta e de atalaia evitando descuidos e desídias. Quando uma escola “vai muito bem, obrigado” é hora de se redobrar cuidados.

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