Carregando nas costas algumas dezenas de anos trabalhando no
setor educacional e tendo participado de inúmeras reuniões de docentes, diretores/coordenadorias,
conselhos e demais órgãos, nunca ouvi de qualquer Diretor ou Coordenador de
curso que o “seu curso” tivesse qualquer problema. Ao contrário, de peito aberto, alto e bom som,
diziam que tudo corria às mil maravilhas, que tudo ia bem, da faxina e bedéis
passando pela secretaria, indo aos laboratórios e sobretudo que o corpo docente
era o melhor que uma escola podia ter.
Que a frequência do alunado era bem positiva quase
inexistindo faltas às aulas, que os programas/conteúdos estavam sendo muito bem elaborados/aplicados
e constatação disso era o alto grau de aproveitamento como resultado das
correções de provas e aprovação final.
Que a sala dos professores era um ambiente feliz, perto do familiar, todos se dando muito
bem ao meio de um cafezinho cedido pela cantina da escola e que pontualidade e
assiduidade eram pontos altos da performance dos seus profissionais de magistério, inclusive com a
menor taxa de demissões e substituições. E mais, ninguém ficava doente se
ausentando com atestados médicos pra não dizer o incrível, que nenhuma mulher
engravidava e assim não havia afastamentos. Todas assexuadas, parecia.
Quanto à inadimplência, bem, isso não tinha nada a ver com o
declarante ufanista pois era assunto do departamento financeiro. Afinal das contas, nenhum Diretor/Coordenador
é o Mantenedor, não é mesmo ? Não um
autêntico gestor do “negócio”.
Ou seja, sempre estive ao lado de gente que tinha a
cartografia do caminho das pedras em direção à terra prometida, com a grande recompensa: o paraíso. E ao que tudo
indicava, na colação de grau referido Diretor/Coordenador de curso entregava não
só o canudo mas uma CP-Carteira Profissional assinada com emprego garantido, pois que uma escola
com tal brilho não exigia polimento algum.
Eram verdadeiros encantadores de serpentes, de gatos,
cachorros e outros bichos.
Em escolas onde as CPAs – Comissão Própria de Avaliação
existam no papel ele aceita qualquer “rabisco”
, o resultado de tudo sempre foi /é maravilhoso aos olhos da Mantida porque se
conduzida pelo Mantenedor o quadro seria outro, claro, claríssimo. E tem mais, se
com equipe externa contratada para tal fim, o resultado/demonstrativo seria aterrador. Bem
em consonância com outras avaliações de organismos federais: precárias e
assustadoras que com certeza conduziriam a conceito ”1”, com alguma corrupção
ao “2”.
Para aliviar a crítica, inexiste escola que disponibiliza aos professores do 1º
semestre a redação do vestibular bem como o resultado das questões de múltipla
escolha, que permitiriam a cada um deles fazer suas avaliações objetivas,
sérias e responsáveis. Não, tais dados, via de regra, não são disponibilizados e esse
seletivo, como tal não tem nada de seleção. O objetivo é preencher as vagas, a
qualquer custo, transferindo equivocadamente aos docentes o encargo de levar os
seletivados e alunos matriculados no colo, para a frente. Um descalabro porque
esses mesmos alunos se sujeitarão ao Enade ou a avaliação in loco perante
habilidosos entrevistadores.
Então, o feitiço vira contra o feiticeiro numa consequência negativa sem tamanho para a IES.
Então, o feitiço vira contra o feiticeiro numa consequência negativa sem tamanho para a IES.
Na outra ponta está o aluno, indefeso, passivo e impotente a interagir com todo o processo
unicamente na posição de observador, mas percebendo que alguma coisa não vai bem, pois a calmaria incomoda já que a escola não tem boa temperatura, não tem pulso e está pálida indicando que há desnutrição em potencial. Anemia dominante na mantida o que permite dizer que a mantença está alheia à caminhada e quem sabe também indefesa, passiva e impotente em dar soluções, padecendo igualmente de uma anemia, desta feita anoréxica.
Mas, aluno bom nunca é refém da escola pois pode se transferir se desejar. Quando muito pode ser cúmplice diante do quadro em que muita gente faz de conta que ensina e outros fazem de conta que aprendem: dois polos fraudados.
Conforme Luiz Flávio Gomes – jurista -, “O ensino, por melhor que seja, jamais produzirá efeitos notáveis em quem não quer saber de absolutamente nada. Bares periféricos cheios, salas de aula vazias.”
A situação de perplexidade, em alguns casos bem graves,
quando a contemplação e tolerância dão lugar a uma bulimia severa, podem jogar o paciente em uma
UTI com estertores terminais. E não é o caso de um “salve-se quem puder” mas
salve-se a escola, o alunado e o corpo docente porque o outrora garboso Átila
agora está montado num pangaré moribundo.
Escola é um ente em construção diária carecendo de atenções
constantes como a que se dedica a uma criança. Exceção aos estudantes, que
entram em férias—e diga-se de passagem, muito longas -- essa palavra inexiste no vocabulário da
mantida e da mantença pois é atividade de ouro que precisa estar sempre
reluzente. Uma brigada de gente sempre de plantão, pronta e de atalaia evitando
descuidos e desídias. Quando uma escola “vai muito bem, obrigado” é hora de se
redobrar cuidados.
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