segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Eu Acuso

Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes


Com autoria de Igor Pantuzza Wildmann, e publicado pela www.consae.com.br , aproprio-me para publicação em meu site do texto abaixo que pode ter o título EU ACUSO.

‘Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice’. (Émile Zola)
‘Meu dever é falar, não quero ser cúmplice’. (Émile Zola)

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público.

A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca;

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.


Igor Pantuzza Wildmann
(Advogado – Doutor em Direito. Professor Universitário)

domingo, 21 de novembro de 2010

Pode ?

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
Roney.signorini@superig.com.br


Dia desses a Fuvest deu publicidade da relação de candidatos inscritos ao exame de 2011
oferecendo o número de vagas, o volume de inscritos por curso e a relação candidato/vaga.
Nenhuma novidade se comparada à mesma relação de 2010 e anos anteriores, despontando, como cultural, as mesmas e sempre carreiras campeãs: medicina, direito e administração deixando na rabeira do processo todas as engenharias e licenciaturas.

A delicadeza na análise reside na persistência social de tais escolhas quando o mercado está
exigentemente ávido por engenharias — civil, elétrica, mecânica, alimentos e ambiente.
Agrava o fato de a sociedade só enxergar o umbigo, ou seja, o que hoje o mercado reclama, sem no entanto haver qualquer preocupação com o futuro. Em outras e simples palavras, o mercado de trabalho não será o mesmo daqui a quatro ou cinco anos quando então os ingressantes de agora serão os egressos de amanhã.
Se há culpados nesse cenário pouco ou nada importa mas o todo social vai pagar pesado
pedágio pela incúria. Mas, se existem culpados, há toda uma cadeia em cipoal determinando há muitos anos aquelas escolhas e o exemplo maior fica para as escolas de Direito no país que já somam um montante maior que todas as escolas no planeta. Pode ?
A que se atribuiria o desinteresse pelas engenharias, sobretudo pelas licenciaturas ?

Quanto às primeiras, a falência do ensino de matemática pode explicar ? Com relação às segundas, o baixo salário nas escolas públicas — maior campo de empregabilidade —também explicaria isso ?
Se houvesse redução drástica no volume de vagas, tanto nas escolas de Direito como Administração, pela dificuldade de acesso aí inerente, faria a juventude migrar para outros cursos ?
Há influências determinantes tanto para a procura dos cursos “campeões” como aos “derrotados”, por exemplo, por contaminação familiar, durante a educação do médio, em cursinhos, etc. etc. ?
Insisto na escolha temporal: o ingressante só estará formado daqui a quatro ou cinco anos e lá na frente, com certeza o quadro será outro. E com mais absoluta certeza ofertando vagas de emprego em proporção decuplicada às de hoje, nas áreas ora desconsideradas.

Nossos poucos cursos de engenharias e licenciaturas são poucos e jurássicos. Para as “engs”
faltam docentes e laboratórios, para as “licencs” inexiste norte magnético com formações
capazes, com novas tecnologias pedagógicas. Elas sequer têm no currículo disciplinas voltadas
para a EAD. Pode ?

Apenas para ilustrar, a Fuvest apresenta 560 vagas para Direito com 10.668 candidatos mas Pedagogia oferece 180 vagas para 995 candidatos, enquanto que Geografia oferta 170 vagas para uma procura de 778 candidatos, História contabiliza 270 vagas para 1.659 candidatos.
Em Letras, com 849 vagas ( um sucesso ) tem 3.333 candidatos (lá vai a língua ladeira abaixo ).
O Brasil, hoje, com seu rebanho, ocupa o honroso primeiro lugar em exportação de carne mas as vagas de Medicina Veterinária somam só 140 para uma procura da ordem de 2.152 candidatos. Na ressalva, Química-Licenciatura tem 70 vagas para 269 candidatos. Pode ?

As interrogações colocadas são para o número de vagas como para o de candidatos. Pode ?

Definitivamente, não temos um plano nacional de educação mas o para o próximo decênio ( 2011-2020) está se discutindo isso, embora o anterior (2001-2010)tivesse falhado em 66% de seu escopo. Com isso, no Congresso a questão ferve ou amorna, o CNE quase descarta sua responsabilidade, a iniciativa privada, pifiamente introduz na sua agenda de discussões, o MEC, como peão condutor de boiada conduz as rezes. Pode ?

Até aqui, tudo indica que as escolas superiores, sobretudo as privadas, não têm um “learning center”, reduto de discussões curriculares e programáticas, com influências majoritárias sobre
a oferta de cursos que interessem às instituições e ao país, para deixarem de vez as comodites e avançar com tratores sobre as manufaturas, a exemplo de um Japão. Prevalece a síndrome do umbigo. Ninguém preocupado e interessado em atravessar os séculos como inúmeras escolas européias e americanas, para não falar nas asiáticas.

Como diz Ryon Braga ( Revista Ensino Superior -SEMESP), não é que as escolas estão interessadíssimas nos meios mas não nos fins, pouco importando o amanhã mas preocupadíssimas com o presente. Pode ?
A propósito e para finalizar, quantos jovens você conhece que tiveram a escolha/opção acertada de cursos superiores com fundamento de vocação, de felicidade, de realização pessoal e profissional ?
No entremeio, como vai a educação no fundamental e médio ? Ah! Uma beleza! Na base do não quero nem que Deus me ajude porque pode estragar. Só o Diabo tem a solução.
Cachorro sem rabo não passa sobre pinguela, ou, passarinho que vive ao lado de morcego acaba dormindo de ponta-cabeça.

Mas afinal onde está o problema, como última pergunta ?
Arrisco dizer que é a mais alta falta de informação. A desinformação total e absoluta, decorrente da ausência de leituras, seja de jornais, revistas, TV e rádio que apregoam sistematicamente como “surfar o mercado nas ondas das oportunidades”, conforme Roberto Macedo.

Para arremate, envolvido com seletivo diferenciado, agendado e de entrevistas complementares, sujeitando os seletivandos a um questionário “básico” de entrevistas, as porcentagens de distanciamento dos noticiários de jornais e revistas, afora os de TV e rádio, os resultados foram aterrorizantes, em clima de globalização: menos de 10% estão lendo jornais e revistas semanais, assistindo aos telejornais ou ouvindo notícias em rádio. Tem de tudo que não importa para a profissionalização e empregabilidade: literatura espírita, de auto-ajuda, gospel, romances, sertanejo, axé e outras modalidades musicais. E o que é pior, “os caras” da geração Y estão aí, na porta de entrada das nacionais ou não, com um “iPod” pendurado nas “orelhas”, Pode ?

Mas o MEC, por derradeiro, via Enem, entende que não podem participar do certame os que
foram reprovados. Por que ? Submetam-se a quantos seletivos aparecerem até darem respostas aprovacionais. Qual o problema ? Acertou tá dentro !

Por acaso, o MEC/CNE restringe o número de vestibulares/seletivos em instituições particulares, impedindo que o candidato não se submeta ao vestibular/seletivo seguinte, mesmo que ele ocorra na próxima semana . Qual o problema ?

Não por acaso, em Brasília, tem gente se refestelando nos melhores restaurantes da cidade, após o expediente: Felicitá, Famiglia Pomodoro, Savassi, Taí Delivery. Eta nóis!!!!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Calandra e LinoType

Prof. Roney Signorini - Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br


Quando dei os primeiros passos no jornalismo, na década de 60, caí no poço da realidade profissional e do primitivismo secular da impressão de notícias e reportagens.
Sem pauta definida, saía às ruas para coletar fatos e transformá-los em notícias.
Na volta, sentado diante de uma Remington, redigia o apurado entregando as laudas para os linotipadores — profissionais que “digitavam” os textos em máquinas LinoType.

Os tempos eram outros, claro, com jornalismo de imersão profunda e aguardava-se cansativamente o instante em que “aquelas maravilhosas máquinas” vomitassem as linhas (a uma ou duas colunas) para seguirem até a revisão(?). A revisão era feita por qualquer semialfabetizado, pois o que importava era a fidelidade do texto na lauda em comparação com o que havia sido digitado. Nada de correção do vernáculo, sugestões de propriedades vocabulares, etc. etc. Esses “revisores” nunca tinham ouvido falar de Napoleão Mendes de Almeida, nem do Aurelião, nem de Cretella Júnior. Simplesmente, o que estava na lauda deveria estar no “copião” para a revisão.

Após ”digitado”, o texto era levado para a calandra — um cilindro de aço envolvido em feltro que rolava manualmente em dois trilhos, sobre o texto em chumbo(linotipado).
Era aí que entrava o “revisor”. Se houvesse algum problema a linha com o descuido voltava para a linotipia, ocorrendo, então, a emenda.
Tudo nos conformes, o conjunto linotipado seguia para a mesa de montagem da página.
No meio tempo, habilidosos gráficos compunham as manchetes ou ilustrações (clichês) e os títulos com as “caixas” — gavetas que tinham tipos maiores (até garrafais) para encimar os textos redigidos. Pelo “timing” da carruagem já passava de uma da manhã.
Hoje isso não existe e é só história de velho jornalismo, mas o relato deve servir aos modernos que trabalham com um PC montando seus textos, matérias e reportagens via algum PageMaker da atualidade, sem o cheiro insuportável do chumbo derretido e das tintas vagabundas, nauseantes.

Assim é que digitado o texto no PC (terminal da redação), ele segue para uma equipe de diagramação — que também usa um paginador sofisticado alocando o material com absoluta precisão de modo a impedir que assunto de polícia caia no caderno de economia.

Até aqui providenciei uma aula de jornalismo, para principiantes, com o objetivo de deixar clara a inadmissibilidade do ocorrido na última prova do Enem. Vai além da incapacidade, da incúria e da irresponsabilidade. Afinal não estamos falando de qualquer graficazinha do interior, do sertão dos confins, que, mesmo assim, pagina e diagrama um jornal, tabloide ou standard, sem equívocos.
Como pode, uma gráfica do porte da RR Donnelley, com a mais alta e sofisticada tecnologia editorial e de impressão, promover o desastre dos dias 6 e 7 de novembro no Enem? Tem gato na tuba e está miando no tom de lá menor.

Na contrapartida, o Tribunal Federal do Ceará, acolhendo manifestação do Ministério Público, manda anular os exames e ainda proibir a divulgação do gabarito, mas o MEC contesta a medida e o presidente Lula elogia o Enem na segunda-feira, embora hoje admita a possibilidade de novo exame.

Não bastasse isso, o MEC quer processar o repórter que divulgou o tema da redação por um celular, dentro do sanitário de uma escola de Recife. E o desplante chega pela editora-chefe do site do Jornal do Commercio, Benira Maia Barros, afirmando que não estava planejado o repórter divulgar o tema da redação. Mas que doido! Com a informação em mãos, não foi o jornal que a publicou? Não fosse a efetiva intenção, guardassem a informação. Coisa mal contada, não é mesmo?

Diz o MEC que técnicos vão esclarecer por que a aplicação de novo exame aos prejudicados em nada afetará o direito da isonomia, pois a espetacular TRI – Teoria da Resposta ao Item – resolve o problema, quanto às eventuais dificuldades das questões propostas, embora não fale sobre as eventuais facilidades contidas nelas. Afinal, o propósito é reprovar, avaliar ou aprovar?

Digamos, para exemplificar, que eu, candidato, não tenha sido classificado na primeira oportunidade e me julgue apto a dar respostas aprovadoras ao segundo teste — alternativo para os que tiveram problemas no caderno amarelo, como fica?
Então, é possível justificar o desastre e eventual nova proposta de exames com base na TRI, como sendo bálsamo ou placebo para milhões de criaturas tão frustradas que restaram desde domingo, totalizadas pelos primeiros interessados e familiares?

A gráfica diz que assume a responsabilidade.
Qual? A de refazer as 4.6 milhões de provas? Com quais recursos, dela própria ou corroborada pelo MEC que despendeu milhões, até aqui, com todo o processo?
E as Federais, burladas no processo, que não terão(iriam) recursos, agora, para bancar seus próprios vestibulares?

A propósito, aos ausentes nos dias 6 e 7 seria permitido ingressarem no certame da segunda proposta? Não é nada? Quase 30% foi o índice de abstenção, perto de 1.300 milhão, o que de certo modo “ajuda” muito a quem compareceu. Grosso modo, o candidato estaria disputando vaga com os menos 30% de ausentes. Quando ela – eventualmente – se dará, em dezembro ou janeiro ? Esquece! As aulas de 2011 iniciam-se em 01 de fevereiro para se poder cumprir os legais e exigidos dias letivos semestrais, conforme a LDB.

Segundo a educadora Maria Helena Guimarães, uma das criadoras do exame em 1998 durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), “a mudança do objetivo do Enem – que passou de avaliação do perfil dos estudantes do ensino médio para seleção de alunos para as universidades e institutos federais a partir de 2009 – tornou a prova vulnerável e cobiçada – um objeto de desejo muito valioso”. Querendo dizer (?) que é impossível ou muito mais difícil ter controle de todas as etapas do processo, ou seja, antes era simples avaliação do alunado, das escolas, dos programas/conteúdos mas agora é disputa mesmo.

Laurentino Gomes, autor do livro 1808, está doidão dentro das calças pois sua obra foi citada indicando que a Abertura dos Portos se deu em 2010, quando ocorreu duzentos anos antes. Pode?

De boas intenções e gente que se achava insubstituível o cemitério está lotado.

E.T. O IBGE informa que o país conta hoje com mais de 6.500 municípios mas o Enem só ocorreu em 26% deles, ou seja, 1.700 cidades. Dá pra imaginar os transtornos de deslocamentos dos estudantes. Que pena!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pente Fino nos Clippings

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Nos últimos dias de agosto os clippings de material educacional ficaram recheados de notícias, senão provocantes um tanto preocupantes.
E nada é novidade lembrando Sísifo que padeceu empurrando uma pedra morro acima, que rolava abaixo, sem nunca conseguir alcançar o topo. Tarefa que foi imposta por ter mentido.
Na presente análise, é claro, não que a educação seja a mentira mas as autoridades nacionais de ensino, os sísifos da educação, continuam a perpetrar o mesmo trabalho do condenado na mitologia. É o que parece pelas notícias que seguem, coletadas em jornais e revistas.

No Rio de Janeiro, portal Terra, pelo projeto do MEC a proposta é de preparar/capacitar diretores, professores e coordenadores na sua quarta edição, ampliando o curso de prevenção ao uso de drogas nas escolas públicas. Nas edições anteriores somente aos profissionais que atuavam nos anos iniciais do ensino fundamental mas agora extensivo ao médio. Podiam aproveitar a chance e tratar um pouco sobre o tema pedofilia. Com todo o cuidado porque pode haver usuários de drogas entre docentes como também os adeptos de “favores infantis”. São 25 mil vagas para todo o Brasil. É pouco e não é nem remediar.

De Brasília, via o Estadão, vem nova Resolução do Cons. Federal de Biologia (CFBio) que está dificultando a obtenção do registro profissional para alunos formados a distância se o curso não for reconhecido. Nada mais justo, correto e legal. E não vai ser fácil reconhecê-los, portanto, cobertos de razão. Como sempre a notícia peca por não indicar quais instituições de ensino estão perpetrando diplomas sem o reconhecimento do curso.

Ainda do Estadão, a leitura reitera informações de que o problema da formação de pessoas no País é gravíssimo pois na creche e pré-escola só atingimos a metade do previsto no PNE, cujo período está acabando este ano. No fundamental o atraso é de 20 anos em relação ao proposto na Constituição de 1988. Atualmente, uma em três crianças deixa o sistema sem completá-lo. Ao final do ensino médio a evasão atingirá metade dos estudantes, resultado muito pior do que a nossa realidade econômica e demográfica aceita.
Quanto ao ensino superior, continuamos com taxas de atendimento próximas à metade da
existente em nossos vizinhos. Ou seja, caos completo no presente e sobretudo no futuro.

Do mesmo Estadão, a notícia que as empresas estão com muita dificuldade para encontrar
profissionais qualificados, tudo decorrente da formação que os jovens não estão obtendo porque as escolas insistem na não formação para os mercados, com currículos e conteúdos
irreais para o escopo principal: a empregabilidade.
Das 5.490 vagas para profissionais com nível superior, oferecidas pelo sistema este ano, só 893 foram preenchidas, ou seja, 16,3%. Até dezembro vamos chegar a novo recorde de sobra de vagas.

Em outra nota, pelo viés, a Confederação Nacional da Indústria(CNI) contratou junto ao Ibope a pesquisa “Retratos da Sociedade Brasileira: Educação” constatando que a maiorias dos brasileiros não acredita que a escola prepare para o mercado de trabalho. No levantamento, 40% dos entrevistados acreditam estar o aluno razoavelmente preparado, após o médio ou superior para a empregabilidade. Enquanto apenas 14% dos entrevistados com ensino médio completo acreditam que os estudantes saem da escola “bem preparados”, para conseguir um emprego estável. O índice chega a 30% na avaliação do nível superior. No mais, 61% apontam a qualidade da educação no Brasil como um dos gargalos que impedem o nosso desenvolvimento.

Pela Revista Veja pode-se ler a máxima isonômica tirada também da pesquisa Ibope/CNI na qual os entrevistados alegam que escola boa é a escola paga. E, na convicção deles, a descrença na capacidade de o estado brasileiro suprir as necessidades nacionais. Na visão do professor Remi Castioni, da UnB, o raciocínio do cidadão é claro: “Se saúde, política e transporte são ruins, então a educação pública também é, necessariamente, ruim”.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PROPOSTA PARA OS PRESIDENCIÁVEIS

São Paulo, 25 de agosto de 2010
Prezado(a) candidato(a)

Dentro das limitações impostas para apresentar uma sugestão educacional ( 10.500 caracteres – Arial 12 ), fico à disposição para ampliar em outro documento o que trato abaixo
( roney.signorini@superig.com.br ):

Lembrando a máxima de “quem veio primeiro o ovo ou galinha ?”, me arrojo em afirmar que
a primeira preocupação de V.S. deve ser, por ordem, focar a máxima atenção nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas, ou seja resolver a a questão das formações que preparam tais licenciados.
Estes,deverão esta nas salas de aulas do Fundamental e Médio com excelentes capacidades e habilidades.
Mas, de onde eles viriam para estar frente da infância e juventude(adolescentes ) ?
Simples: egressos de cursos de excelente qualidade ( públicos ou privados ) tendo se submetido ao melhor dos currículos e respectivos conteúdos programáticos ( disciplinas ), habilitando-se não só para o presencial como também para o virtual. Quanto a este último, nada existe, nada se propõe, é mistério abissal.

Até aqui, verdadeira esbórnia, incoerências e incongruências formativas. Com a palavra a educadora Eunice Duran. Aqui, não confundir práticas com estágios nem com atividades complementares.
Então, obtido tal grau de excelência, vamos conduzi-los para o trabalho nas salas de aulas do ensino básico de tal forma que efetivamente preparem os alunos à postulação da etapa seguinte, seja tecnológica ou bacharelado.
Com tal medida estaremos resolvendo alguns problemas:
a)eficiência e eficácia dos ensinos fundamental e médio;
b)proficiência para o ensino superior;
c)acabar com seletivos/vestibulares que unicamente se parametrizam pelo número de vagas admitidas por turno, conforme o CNE, que as IES, públicas ou particulares, se submetem, como se não houvesse disponibilidade territorial/espacial nelas para receberem mais alunos.
É preciso urgentemente acabar com essa camisa de força deixando à ociosidade milhões de carteiras e milhares de metros cúbicos ocupáveis. Temos pressa, muita pressa.
d)no particular seguinte, aqui sim, baixar normas de aprovação no mínimo 7,0(sete) para aprovação ao longo do curso, para evitar aprovações que não ganham uniformidade nacional pois bacharelar um com média final 5,0 e outro com média 6,0 ou 7,0 é promover o facilitismo brasileiro e da lei de Gerson.
e)abandonar a premissa que só Mestre e Doutor tenham espaço na universidade pois quem conhece o “chão da fábrica “ ( no mínimo graduados ) pode ensinar muito mais que os da “academia”. As maiores e melhores universidades do planeta avalizam tal assertiva.
f)propiciar subsídios ou incentivos para tais formações, junto às instituições privadas, de modo a quase gratificar tais cursos aos interessados, pois há alunos que custeiam seus estudos sem a menor perspectiva de zerarem os custos em quatro ou cinco anos após formados.

Como disse, há muito mais por ser dito e considerado nessa linha de pensamento: valorizar a formação de licenciaturas. Antes mesmo de crivar o ensino superior, o que pode ser concomitante até aguardar a primeira desova. Ou seja, plano/proposta de alcance no médio ou longo prazo. Não existe fórmula ou forma intermediária. É ou vai ou vai .

Requisitos para avaliação de proposta: MUITA CORAGEM E VONTADE POLÍTICA.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fim dos Professores

(autoria desconhecida)

Está trafegando na internet o texto abaixo, do qual me aproprio.
roneysignorini@ig.com.br

CRÉDITOS : o e-mail que me chegou trazia no final as indicações:
Participação: Luciano Zanelli (Copacabana – Rio de Janeiro)
Formatação: Rosa Ro rosa-ro@uol.com.br

O ano é 2.109 D.C. - ou seja, daqui a cem anos - e uma conversa entre avô e neto
tem início a partir da seguinte interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom, vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas, sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos.

Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para quê estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas públicas e particulares, estas, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos.
Viraram saco de pancadas de todo mundo.

Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse.
“Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.

Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor.
As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.

Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de misericórdia nos professores..

Não sei o que foi pior – os milicos ou os tais dos subversivos.
– Não conheço essa palavra. O que é um milico, vovô?
– Era, meu filho, era, não é. Também não existem mais...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tá com a Razão mas vai Preso – Ultimato de uma Discussão

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Em artigo publicado em vários sítios, na última quinta-feira, dia 12, Roberta Muriel ( leia-se Carta Consulta – Editau ) publicou o artigo (www.abmeseduca.com ) que faltava para esconjurar as recentes medidas de avaliação propostas vias transversas para a avaliação das IES: Avaliação ? Contratem Um Cérebro, Urgentemente !!!. Recomendo sua leitura, também urgentemente, porque tem-se pela frente uma safra de avaliações in loco, calendarizadas. E mais, dar um “print” no texto para distribuir a todos os colaboradores de direção das IES. Fala nos diversos enroscos e “imbróglios” que sujeitam daqui pra frente a saúde das escolas superiores, à mercê e à deriva dos sistemas normativos, sem nexos de causa e de caso. Coisa do tipo “vamos ver no que dá”.

É dela também a afirmativa de muita propriedade que os problemas são inúmeros e a possibilidade de, mesmo seguindo os instrumentos, estarmos em falta com o atendimento à legislação é enorme. E a conseqüência já se sabe: não fez nada mas vai preso do mesmo jeito.

Com a saúde abalada pelos transtornos anteriores da prova fraudada, do vazamento de dados pessoais e mais agora com a questão da impressão das provas do Enem, o INEP está fervendo com graus além da ebulição. Alguma dúvida que há conspiração, sabotagem e demais lá dentro ? Senão isso, como explicar, incompetência, inabilidade, não são do ramo, desdém com milhares de instituições e milhões de alunos ? Bons tempos os de profa. Maria Helena Guimarães.

A irresponsabilidade do órgão é muita e chegou no fim da linha, a se cobrar do Ministério Público medidas saneadoras do ensandecimento regulatório ali dominante.

Como bem diz a autora, não se trata de aceitar ou não as mudanças, embora seja uma constante no setor. Até porque, como regra de vida, nada é mais certo do que as mudanças.

Mas, o jogo começou dia 2 último, o semestre está em curso com tudo locado e alocado.

E agora, especialmente quanto ao corpo docente, dispensa e contrata outros ?

Pode ser um jogo semântico: houve mudança, transformação, substituição, reposição ou modificação nos últimos dispositivos, principalmente o Ofício Circular 048, Ofício Circular 067, o Parecer Conaes 04 e o Projeto de Resolução nº 01, este último tratando do Núcleo Docente Estruturante (NDE)?

As milhares de IES pelo território estão sem ação ainda que interessadíssimas no atendimento das novas posturas, mas sem um amparo de assessoramento jurídico-educacional estarão todas sujeitas a apedrejadas, à moda iraniana.

As novas disposições mostram-se ardilosas até pela incúria na manutenção técnica do site do MEC, que insere o novo mas não retira o velho, deixando o consulente com expressão de ué !

Em boa oportunidade a CONSAE ( www.consae.com.br ), de Belo Horizonte, está programando com experts o seminário Regulação, Supervisão e Avaliação: aspectos jurídicos. Quem sabe aí estará a oportunidade para desembaçar o vidro, sem o que, com certeza, vai bater de frente. E vai machucar muito.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

APROVA ou REPROVA — Avaliação sob julgamento

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Inicia-se um novo semestre letivo. Estarão nas salas de aula os rematriculados e os novos ingressantes dos seletivos. Os primeiros talvez tenham sido promovidos com aprovação total no semestre anterior ou carreguem alguma(s) dependência(s). Os segundos, muitos com mínima qualificação e capacitação para a carreira universitária, mesmo assim lograram ingresso. Outros deles atravessaram o vestíbulo da universidade carregando aprovações automáticas da educação básica. (Aliás, o candidato ao governo de São Paulo Aloísio Mercadante tem posição firmada, declarando que acabará com a aprovação automática nas escolas paulistas, se for eleito, mas não promoverá uma política de repetência dos estudantes da rede pública.)

Ambos os alunos (rematriculados e ingressantes) se sujeitaram a provas para a continuidade dos estudos. Mas, suas avaliações terão ocorrido com eficácia ou as aprovações decorreram de muita tolerância avaliativa, prevalecendo outros interesses do avaliador?

O que está subjacente à avaliação do educando na escola é o conhecimento disponibilizado pelo educador, portanto, ela se impõe aos dois. É essa constatação que explica o medo instalado hoje nas salas de aula em dias de provas/exames, aterrorizando docente e discente e levando à indagação: para que o conhecimento se ele não é testado e avaliado? Qual a validade do teórico se não é posto em prática? Dúvida de ambos. O primeiro quer testar e o segundo quer a nota.

A inexorabilidade da substituição, do upgrade do conhecimento – do que até neste minuto era atual e ficou obsoleto – mostra que os ciclos tecnológicos com respectivas rupturas são apavorantes. Imagine-se o conhecimento obtido no início de um curso e que, ao final dele, não terá a menor importância e valor porque ficou velho.

Assim será (ou já é?) a sociedade do conhecimento, que interioriza a sociedade avaliativa – ou valoradora, ou avaliadora – sem distinguir, com efeito, onde começa a informação e onde termina o conhecimento. E se uma ou outro leva ao saber, evitando-se a chamada “indústria da cultura inútil”.

Eis uma situação típica de imbricação do conhecimento/informação, quando o conhecimento passa a ser o maior, o único tesouro e principal bem de consumo, conforme Peter Drucker (o guru do marketing), para quem é imperativa a necessidade de mantê-lo permanentemente atualizado. Mas, se a informação leva ao conhecimento e se transforma em saber, que se consolida e estratifica pela sua validação/constatação utilitária e consumerista, que papel tem aquele que aprova, avalia, dá certificação e validade ao conhecimento? O próprio detentor do conhecimento, na sua utilização ou não, assim como o avaliador que imprime o seu passed e o utilizador final (sociedade) são os degustadores desse produto e, portanto, também responsáveis por sua aprovação.

Se a sociedade está disposta a abrir mão de qualidade garantida, em qualquer campo da atividade humana, avalizada/avaliada, é direito próprio, mas não do avaliador. A tarefa responsável, portanto, está antes no avaliador, no agente do processo que visará como fim aos resultados.

Então, o que é possível verificar sobre avaliação educacional, estabelecendo uma diagnose nos processos cognitivos dos estudantes, na avaliação do aprendizado?

Até pouco tempo, um Plano de Ensino de disciplina era elaborado visando integrar um currículo de curso com algumas premissas: ementa, objetivos, conteúdos programáticos, metodologia, avaliação e bibliografias (básica e complementar). Tudo permeado com trans e interdisciplinaridades. Em algumas instituições, inclusive o Plano de Aulas.

Com algumas discussões na "semana de planejamento pedagógico", sempre antes do início do ano letivo, consideravam-se o público-alvo, o mercado de trabalho, as mudanças e alterações do cenário sociopolítico e econômico, etc. Com o surgimento das Novas Diretrizes Curriculares, cujo propósito é contemplar o entorno das disciplinas ou ir além delas, com o estabelecimento de competências e habilidades sob impregnância no educando, a tarefa de avaliar o nível e grau de aquisição de conhecimentos dele tornou-se perigosa. Deixa o professor/avaliador em duas situações bastante incômodas: a de refém ou de cúmplice do aluno nessa avaliação. Mas a avaliação responsável e isenta do avaliador, com ele próprio, com o aluno e com a sociedade, não permite dúvidas e fragilidades.

Avaliação equivocada ocorre porque o conhecimento proposto era um equívoco, de forma e conteúdo, e suspeito é o avaliador que se coloca ambiguamente, ao desdém do que deve(ia) ser ensinado, porque precisa ser aprendido. Não é mais possível o uso do velho clichê "o aluno será capaz de..." e completar a frase com qualquer verbo no infinitivo. Pode ser o coração, mas não é a alma do que deve estar contido nos objetivos e justificativa da disciplina.

Sabendo que o ensino e o aprendizado devem ser conduzidos para estimular, provocar no educando uma consciência de construção, interatividade e crítica, visando descobrir e mergulhar em habilidades e competências pessoais, conduzindo a alguma capacitação, o educador sempre levará em conta os resultados impostos e a se obter do processo, ou nas palavras de T. Kellaghan, “a busca por resultados responsáveis”. Cresce significativamente tal responsabilidade na medida em que os currículos mínimos e plenos deixaram de ser a sustentação basilar na formação profissional do aluno. Há muito mais situações e acontecimentos sendo aplicados no ensino atual, impensáveis há dez anos.

Aplicação, essa é a palavra do momento no ensino, aliás, a volta dela. A agenda reformista da educação é sempre dominada pelos modismos, por algum tempo. É preciso, a qualquer custo, ampliar o potencial de uso e aperfeiçoamento das capacidades de avaliação dos professores com relação aos alunos. Nisso reside, no mínimo, o acerto da escolha. Não deve ser a busca da aprovação na “coitadice” nem a reprovação na “vitimez” do avaliado.

O emprego adequado de um "molde de avaliação" , sem extremos e exageros, torna-se um facilitador nessa tarefa tão difícil. Afora poder colocar em sacrifício absoluto o futuro de um jovem, sobretudo o que está em desencanto com o ambiente atual e dele foge, se rebela e se angustia pela aparente falta de perspectivas socioprofissionais.

Essa moldura, entretanto, não é fórmula, padrão ou gabarito estabelecido. É antes um método pessoal, pelas singularidades do avaliador e do avaliado. Deve-se caracterizar como ato de neutralidade, sem a rixa ou acidez inquisitória. Não deve mostrar-se como esgrima rancorosa, desafiadora de quem, não obtendo resposta satisfatória, desabafe "...eu sabia que você não sabia" ou "...tinha certeza de que você não responderia".

As habilidades e competências podem dar sinais indicativos apropriados na elaboração de um momento de avaliação. Por consequência, na construção de uma vida profissional mais realizada. Adequada às aspirações pessoais, grandes ou pequenas porém autênticas.

Desse modo, aqueles objetivos da disciplina têm de ser repensados, refeitos para outras realidades e dimensões: a das competências e habilidades, fulcro do ENADE.

Não é tarefa simples para quem não está inserido nos mercados e desconhece perfis. Só por esse aspecto, hoje, o PDI ganha importância fundamental na montagem de um curso, e deve estar sob a batuta de um competente coordenador.

A juventude atual tem forte razão para a recusa em ser avaliada, de fora para dentro, à moda antiga. É simples, certo ou errado, possível ou não. O jovem admite ser avaliado, porém, de dentro para fora. Não admite ser questionado pelo avaliador sobre o que ele não sabe, mas deveria saber, e o avaliador insiste em saber o que ele não sabe. Será que o avaliador não sabe que não adianta querer saber o que o avaliado não sabe? A questão central é por que o aluno não sabe? Por incrível, a resposta todos sabemos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Bomba, Bomba !

Prof. Roney Signorini
Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Embora com 64 anos de idade, e não entenda nada de armas nem de munições, começo a pensar na possibilidade de fazer um curso sobre esses artefatos, tiro ao alvo, defesa pessoal, e comprar revistas especializadas. Quem sabe iniciar por estágios em “paint ball”. O mais perto que chego sobre algo contundente é o velho estilingue e nunca consegui sequer acertar um pardal, na infância.

Mas, cá pra nós, o futuro se avizinha em escuridão, preto total, de onde precisarmos todos nos tornar Senhor da Guerra ou Senhor das Armas.

Essa foi minha percepção ao ler notícia no site www.notícias.r7.com sobre as declarações do candidato do PSOL à presidência nas próximas eleições,Plínio de Arruda Sampaio, mais um que começa a dar tiros pra todo lado, nas quais ele “defende o fim das escolas privadas”, querendo tornar o sistema educacional totalmente público. Valha me Deus ! É o que faltava para uma festança, tipo farra do boi educacional.

O candidato está senil para ocupar o cargo pretendido ou antes da entrevista se entregou a Baco. Por mais razões que ele tenha ( ? ) com tal afirmação/proposta, com certeza, não ganhou nem mais um voto. Seja pelo tresloucado e disparate, não quanto à idéia mas quanto a realidade numérica e estatística que se mostra.

Os números falam por si quanto ao universo de alunos no básico e no superior, ao volume de escolas, cursos, e sobretudo valores. O SEMESP — www.semesp.org.br — abriga tais informações, senão também o MEC-INEP.

O candidato sabe quanto custa um aluno em escola particular e o mesmo aluno na pública ?
Nas públicas, em alguns deles, 2 ou 3 vezes mais, em outros, 4 a 5 vezes mais.
O patrimônio/investimento das particulares ronda aos bilhões de reais.

Mas, vamos à crítica construtiva sobre as afirmações do candidato, ainda que com ironia, por força de estilo:

1-)Com a medida ele pretende o fim das escolas particulares evitando a desigualdade social no país. É mesmo por aí ?;

2-)Os imóveis dessas escolas devem ser desapropriados para que o acesso ao centro (?) se torne universal e cita o Colégio Santa Cruz, de São Paulo. O candidato não conhece o patrimônio das demais escolas, básicas ou superiores ! ;

3-)Duvidando da meritocracia, os professores devem receber o mesmo salário. Com todo o respeito, o candidato sabe do investimento pessoal de um professor do Piauí e de São Paulo ou Rio de Janeiro ?;

4-)Ao se referir ao ProUni afirma que é preciso dar mais atenção ao ensino básico, antes de investir muito no universitário. Prezado candidato, com todo o respeito, novamente, recomendo ler uma crônica do Stanislaw Ponte Preta que relata a saga de uma madre dirigindo uma Lambretta pela Ponte da Amizade, em eventual contrabando de algo.

5-)Ao se referir às cotas ele diz que “de certo modo é um mal necessário e que na verdade não deveria ser racial, deveria ser de pobreza. Comé que é ? Certa feita meu motorista se apresentou pedindo aumento de salário porque a mulher dele estava grávida, sem que eu tivesse feito sexo com ela. Eu deveria pagar pelo “bem bom de alguém” ? Pode ?

6-)Quanto à educação no campo é enaltecida a ação do MST, cujos expedientes seriam a redenção. Um momento, vamos organizar o galinheiro. Solução educativa para qual fim? Ocupar/invadir terras de outrem sem que a Lei admita ? É negar o Poder Legislativo! ;

7-)Quanto à religião, deveriam fornecer curso de pensamento religioso e os estudantes obrigados a participar da escolha. Os pais dos alunos deveriam ter o direito de escolher a religião do professor. Quer dizer, a comunidade é quem escolhe as habilidades e competências do docente, não importando suas propriedades profissionais e formativas mas só em função da prática religiosa ?

Nesse quesito, questionado se a religião poderia tornar-se um tema de segregação entre o povo brasileiro o candidato admitiu que o risco existe,. “mas também existe o intercâmbio de cultura”. Ah! existe mas qual a solução e efetividade dos resultados?

Desculpe os contraditos no foco ideológico. Deram-se por razão de deferência ao septuagenário, a quem credito respeito pela cultura e Inteligência.
Sem bola de cristal na minha frente, não vai dar certo, não mesmo, embora adote o bordão latino “traditiones mores majorum”.

Em Tempo, recomendo a leitura de excelente artigo/considerações sobre o Ensino Privado, Benefício Público, autoria de Luiz Roberto Liza Curi ( www.amanhã.com.br ), de 28/07/2010, replicado no blog www.abmeseduca.com

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Inteligentzia Eleitoral

Prof. Roney Signorini
Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Nunca fui partidário político senão pela forma de governo: republicano e democrático.

Avizinhando-se outro momento de eleições, os candidatos começam a dar tiros pra todo lado e os eleitores ficam reféns de afirmações e promessas de campanhas que extravasam o bom senso, ou melhor, vão ao risível, ao ridículo, como o perpetrado pela candidata Dilma ao prometer em entrevista de rádio numa emissora de Londrina, no Paraná, que criará, com o ProMédio, bolsas de estudo em escolas privadas para alunos de baixa renda, abrindo vagas no ensino particular a alunos carentes. A promessa decorre do ranking divulgado pelos resultados do Enem, que apontou o enorme desastre do ensino público.

A candidata não está interessada em alocar verbas para melhorar o fundamental e o médio em escolas públicas, mesmo com os demonstrativos de que tais escolas estão em desespero socioeducacional. Não, ela quer resolver por vias políticas que os carentes, mais uma e outra vez, se beneficiem do cardápio de benesses de outra “bolsa” no curtume governamental.

Para ela, o programa funcionará(ia) nos moldes do ProUni, que oferece vagas em faculdades ou universidades particulares, com todas as mazelas de seus resultados. Dilma admitiu que “Fica claro que as escolas estaduais e municipais se saíram bastante mal” , quando comentou sobre o resultado do Enem, no qual escolas privadas tiveram os melhores resultados. Nem poderia ser diferente. Alguma dúvida ? Ora, ora, santos e divindades!

Resta saber se a “coisa” acontecerá por adesão e voluntariedade das IES particulares ou por “decreto”.

Aliás, não se sabe porque ainda não subjugaram as escolas da educação básica às avaliações pretorianas a que o Inep submete o ensino superior. Seria porque é “possível” avaliar escolas de educação superior, públicas e privadas nos mesmos gabaritos? Engano, crasso erro. Nada a ver.

Em recente artigo publicado pela Consae, sob o título “A Agonia das IES Nanicas”, o autor, Samuel José Casarin, com todo o respeito pela autoria, se equivoca no título da matéria. As IES, localizadas em cidades com até 50 mil habitantes estão, isto sim, em total desespero, na beira do abismo. Não contra o “canibalismo” das grandes e também das médias instituições mas ante o holocausto. Seja em presencialidade, seja em EAD. Não tem volta nem atalho. Aliás, o texto do autor é rico em detalhes estatísticos que comprovam as “quebras dos empreendimentos nanicos” (www.gestaouniversitaria.com.br).

Qual organismo educacional pode sobreviver diante da volúpia legisferante como indica o portal www.enciclopediadaeducacao.com.br, quando 13.606 normas querem regular a educação no país? É o acervo atual que acumula mais de 30 itens entre portarias, pareceres, despachos, resoluções, decretos, medidas provisórias, etc. etc. É bolero, cha-cha-cha, tango, valsa, funk e polca à vontade. Santa Maria!

Só para registro, com os resultados do Enem 2009, está consolidado que das mil piores escolas do país, 97,3% são estaduais. Como dizia o prof. Wagner Horta, em escola de ensino ruim a vítima é você, aluno.

Nenhum candidato, nem mesmo o atual governo, se deu conta de que a solução, definitivamente, está mais embaixo, com a formação ideal e adequada dos alunos de hoje que serão professores amanhã, ou seja, tratar com a máxima atenção os fazeres das pedagogias e das licenciaturas. Não temos professores capazes por competências e habilidades no manejo do fundamental e médio, porque tais cursos de formação não têm pessoal para tais propostas. A educação formativa na pedagogia e nas licenciaturas é mais do que deficiente, é mentirosa, e ninguém assume a irresponsabilidade. Currículos anacrônicos, conteúdos defasados, laboratórios inexistentes, aplicação de estágios e práticas obsoletos, tutores senis, salários em perspectivas irrealistas com o mercado colocam tais cursos em marcha a ré. Salvo melhor juízo de avaliação, pouquíssimos são os cursos que preparam pedagogos e licenciados para a EAD. Não conquistam capacitação para essa modalidade. Pode?

Novamente, o articulista Samuel José Casarin mostra isso com muita competência na amostragem da participação de grandes grupos na educação EAD. Os números falam mais do que a retórica.

Então, para os milhões de rádiouvintes que escutaram a baboseira de Dilma, configura-se estelionato educacional ou eleitoral? A candidata está inteirada do universo que compreende uma proposta dessa natureza, baseada em números históricos do real significado na eventual implementação do ProMédio? Com tal projeto o que fica de preocupante é que o governo de fato assumiria que suas escolas básicas não têm a saúde necessária para preparar os estudantes à universidade. E mais, gravíssimo, leia o publicado na Gazeta do Povo, transcrito a seguir, dando visão clara dos desacertos em políticas de não resultados de 8.165 “tadinhos”:

Eles passaram no ProUni, mas não ganharam a bolsa
Gazeta do Povo – 19/07/2010

“Abriram uma porta e logo depois a fecharam na minha cara”. Dessa forma o motorista Roberto Cosme Raimundo, 33 anos, explica a sensação de conquistar e perder, no mesmo dia, uma bolsa de estudos do Programa Universidade Para Todos, o ProUni, em que o governo federal concede bolsas em instituições privadas de ensino superior. No começo de julho, ele soube que havia sido pré-selecionado na segunda chamada para o curso de Comunicação Social com habilitação em Ra¬¬dialismo da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Na hora da matrícula, descobriu que a bolsa tinha sido cancelada, porque a instituição não havia recebido número suficiente de inscrições para formar uma turma.

O estudante não é o único bolsista do ProUni a enfrentar esta situação. Só no primeiro semestre deste ano, 8.165 candidatos tiveram a mesma decepção. Segundo o Ministério da Educação (MEC), esse foi o número de pré-selecionados pela nota do Enem, mas que acabaram sendo reprovados por não haver alunos suficientes para formar turma. O número representa 6,5% das 125.496 bolsas ofertadas para o período.
Então, pode ?

Em quermesse de igreja, o estande do coelho não tem porta pra ele entrar e assim pode levar um tiro, do atirador caolho, sem pontaria, do estande vizinho. O leitor está com a palavra.

Mesmo assim, os mantenedores das IES superiores estão com a atenção voltada para a “qualidade” de suas atividades e expedientes formativos frente às avaliações movediças, que pra tirar animal caído nelas só dando um tiro de misericórdia, na testa.

O presidente Lula faz tanto esforço para impor sua avaliação sobre a conduta do Irã na questão do enriquecimento do urânio, por que não fazer o mesmo para colocar um dedo no problema da educação básica? E já está tarde demais.

Pensa-se muito na Copa de 2014, mas ela não é tão importante quanto o futuro da educação nacional.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um tesouro chamado EGRESSO

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Em outras oportunidades já destaquei a imensa importância que as IES deveriam atribuir aos egressos de seus cursos, voltando-se com políticas atraentes para a manutenção da relação deles com a escola (se é que ela existiu desde o ingresso, como manda o figurino), como quem cuida de um cliente cativo, reputando o MKT da fidelidade.

Afinal, o maior tesouro de uma escola é o aluno. Podem existir prédios, corpos docente e administrativo, bibliotecas e laboratórios, mas sem o aluno a escola padece, perece e desaparece.
São poucas as IES que dão atenção ao seu egresso e pouco se sabe deles após a solenidade de formatura.
Sequer podem se cadastrar numa AEA – associação de ex-alunos – por esta inexistir ou ex-alunos não se prestarem a alvo de pesquisas, por exemplo, a ser feita pela CPA da instituição.

Assim, com bom motivo, razão e propriedade, a Carta Consulta, de Belo Horizonte, vai promover em agosto um curso sobre a Política de Egressos — coisa nova por aqui —, contando com palestrantes americanos que sabem das coisas, três grandes nomes da gestão universitária americana. E que trajetória profissional eles têm, incríveis e inusitadas.

O relacionamento com alunos egressos é uma das mais importantes questões para a gestão universitária brasileira, lamentavelmente, insisto, quase inexistente no setor. Os egressos podem auxiliar no recrutamento e na retenção de alunos porque são os principais "opinion makers" do produto ensino, que consumiram. Assim, depoimentos e testemunhos autênticos consolidam uma boa imagem de serviços obtidos. Podem constituir uma base de empregadores potenciais, se mantiverem um longo vínculo com a IES. Mas não, até o foco da educação continuada é relegado, pois não se abre a eventual pós-graduação. Este relacionamento, muitas vezes, é ignorado como um recurso e não faz parte do plano estratégico da instituição.

Mas como pensar e estabelecer uma política de egressos capaz de gerar recursos humanos e financeiros para o nosso sistema educacional? Como usar o máximo do potencial dos egressos? Um caminho pode ser trilhado pela análise de políticas de sucesso, implantadas e desenvolvidas por instituições que prosperam em mercados altamente competitivos. Está aí uma oportunidade para quem nunca ouviu falar do assunto.

EGRESSOS EM CAPTAÇÃO DE ESTUDANTES

Muitas escolas subestimam a importância de terem os egressos envolvidos em seu plano de captação de alunos. Os egressos desempenham um papel fundamental em ajudar sua “alma mater”. A questão é se todos os bons alunos com alto nível de empregabilidade se disporiam a dar seus testemunhos. Quem arrisca a resposta?
Um dos palestrantes da Carta Consulta, o professor Trent Argo (Georgetown College – Oklahoma Baptist University), foi Diretor de Captação, Retenção, Seleção e Desenvolvimento de alunos da Oklahoma, bem como, na mesma função, da Campbellsville University. Aí desenvolveu planos de marketing e Estratégia para Crescimento dessas universidades com aumento de 198% para os projetos de captação e retenção. Foi presidente da Associação Americana dos Diretores de Captação de Estudantes das universidades americanas. Ou seja, cá pra nós, nunca ouvimos falar que isso existe(ia).

PARTICIPAÇÃO ATIVA DE EGRESSOS NA IES

Os egressos são o maior recurso que as Instituições de Ensino têm e, sem a participação ativa deles, as IES não podem alcançar seu melhor potencial. Um pequeno perfil da professora Libba Andrews, outra participante do seminário: nos últimos 20 anos, ela atuou em uma série de funções na Universidade Estadual do Mississipi (MSU) e atualmente detém o título de Diretora de Relações com os Egressos, gerenciando um universo de mais de 115 mil ex-alunos. Com esta capacidade, ela tem sido responsável por elaborar o plano estratégico da Associação dos Egressos.

RELACIONAMENTO COM OS EGRESSOS

O tema relações com egressos é um dos assuntos mais críticos para as instituições de ensino hoje. Relações saudáveis com os egressos reforçam a base de apoio das instituições de ensino nas áreas de captação de novos alunos, retenção dos alunos atuais e sustentabilidade financeira dessas instituições. Quem argumenta com bases sólidas e profundos conhecimentos sobre a matéria é o professor J. Robert Gaddis, também da Campbellsville University. Com um currículo bem diferenciado, o Dr. Gaddis tem o bacharelado em Música e Mestrado em Educação pela Universidade do Kentucky. O foco de sua atuação é na direção de programas de música com espantoso crescimento de 25 programas de graduação para os atuais 160, entre graduação e pós-graduação.

Fato é que a desatenção aos egressos vai além da desídia institucional, negligência e descaso, porque não é interpretada como um dos canais mais vivos de interação e comunicação com a coletividade, que se avoluma a cada formatura, podendo atingir números muito significativos, decorrentes de alguns anos na oferta de cursos.
E hoje, com a internet, não há o que se pensar em custos para "falar" com todos eles, seja um expediente simpático de cumprimentar pelo aniversário, seja para informar sobre uma atividade de extensão ou algum curso de especialização, seja um convite para a comemoração de alguma efeméride, etc. Em pouco tempo acaba se tornando uma rede social das melhores (e que já existe, por iniciativa dos próprios ex-alunos, basta conferir no Orkut, Facebook e outros). E mais, o egresso solteiro de hoje é pai amanhã, com prole caminhando para os estudos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Biruta Maluca – uma aparente redundância

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Dizem por aí que uma coisa é uma coisa e que outra coisa é outra coisa. Confere.
Do Aurelião, biruta é “Aparelho que indica a direção dos ventos de superfície, empregado nos aeródromos para orientação das manobras dos aviões, e que tem a forma de uma sacola cônica, instalada perpendicularmente à extremidade dum mastro.”
Assim, biruta maluca seria o instrumento girando em si mesmo, tresloucadamente, aos ventos de ciclones e tempestades sem definição de orientações. É o setor educacional no fundamental e médio. Assim, nossa aeronave de terceiro grau, do superior, é refém dos ventos. Como pousar e decolar com segurança, com vento pela frente pelos lados ou pela cauda?
A compilação que segue, do noticiário nacional no mês de junho, vai além de preocupante pois tem de tudo, instituições educacionais em propósitos diagonais, considerações nefastas sobre a educação infantil e ensino médio, falta de plano de educação municipal e bibliotecas a construir pelo país. Desastres que se contrapõem a quem pretende a erigir Boa Imagem nas IES superiores e a construir Qualidade nelas.

Justiça bloqueia R$ 1,8 milhão de dono de escola com diploma falso
G1 – 20/06/2010

Uma escola da empresa Paulistec, que fica na Penha, na Zona Leste de São Paulo, está envolvida em um escândalo. A filial de Campo Grande foi fechada no começo do mês. A Delegacia do Consumidor indiciou o dono e mais quatro pessoas por estelionato e formação de quadrilha. Além de não ter professor, o curso a distância funcionava sem alvará da prefeitura nem autorização das autoridades de ensino para dar aulas ou aplicar provas. Mas a polícia encontrou exames já preenchidos, faltando apenas o nome do aluno.
Existem outras 23 filiais, em mais seis estados. A de Interlagos, na Zona Sul da capital paulista, nem fachada tem. No local, a atendente reconhece: “aprender mesmo, eu sou bem sincera, ela não vai aprender muita coisa”, diz outra atendente.

Polícia Federal abre inquérito e investiga Uningá
Gazeta do Povo – 18/06/2010

Maringá - Atendendo a pedido da Pro¬curadoria da República, a Polícia Federal em Maringá abriu inquérito para investigar suposta prática de estelionato pela Unidade de Ensino Superior Ingá (Uningá), acusada de conceder irregularmente bolsas do Programa Uni¬versidade para Todos (ProUni). As investigações foram iniciadas ontem. “O trabalho deve ser concluído em 30 dias, mas o prazo pode ser prorrogado”, informou o delegado-chefe da PF em Maringá, Donizete Tambani.

O pedido para abertura de inquérito foi motivado pelas denúncias de que universitárias de classe média-alta estariam estudando na instituição usando bolsas do ProUni – direcionadas a estudantes de baixa renda – desde 2008. O Ministério da Educação (MEC) instaurou um processo administrativo e, segundo o ministério, a defesa apresentada pela Uningá está em fase final de análise. O diretor administrativo da Uningá, Paulo Barbosa, não quis se pronunciar sobre a defesa.

Dono de universidade em SP está entre os acusados de fraudar concursos públicos, diz PF
O Globo – 16/06/2010

SÃO PAULO - A Polícia Federal prendeu as 12 pessoas acusadas de fraudar concursos públicos para a Polícia Federal, Receita Federal e OAB. Entre os presos está um dono de universidade em São Paulo. Os 120 candidatos identificados como compradores dos gabaritos serão indiciados por estelionato e receptação. Os concursos não serão anulados.
Segundo a PF, estão sendo investigadas suspeitas de fraudes em concursos para a Abin, a agência do Sistema Brasileiro de Inteligência, e para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Ensino médio precisa incluir 2 milhões de jovens
iG Brasília – 16/06/2010

O ensino médio passa por uma grande crise. A opinião praticamente consensual entre especialistas é reforçada por números que assustam. Da população com idade entre 15 e 17 anos – que deveria estar matriculada no ensino médio – apenas 48% frequentam o ensino médio. O restante está atrasado, ainda tentando aprender as lições do ensino fundamental.
Mas o que mais assusta os especialistas é a quantidade de jovens com essa idade que está fora da escola: 18%. O número aparentemente pequeno esconde a realidade de 2 milhões de jovens brasileiros. Esse, na opinião de especialistas, deve ser o grande foco das políticas públicas para a etapa final da educação básica.

Operação contra o tráfico detém estudantes em Higienópolis

20 pessoas, entre eles alunos do Mackenzie, foram identificados em ação do Garra em SP
18 de junho de 2010
Eduardo Roberto, do estadão.com.br

SÃO PAULO - Uma operação do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) deteve nesta sexta-feira, 20 pessoas suspeitas de tráfico e porte de drogas na região da Universidade Mackenzie, em Higienópolis, na região central de São Paulo.
Cinco são apontados como traficantes. Entre eles, há um estudante de engenharia da Universidade Mackenzie, um aluno do colégio da instituição, um ex-aluno, um menor de idade e outro suspeito.
Os detidos foram levados à sede do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic), na zona norte, para prestar esclarecimentos. Onze pessoas foram indiciadas por uso de drogas. Segundo o chefe dos investigadores do Deic, Rodrigo Fukuoka, eles portavam maconha, cocaína, crack e lança-perfume. Três foram liberados. Um já era procurado pela Justiça por roubo e segue detido.
As investigações da polícia na "Operação Amsterdã" duraram 30 dias e foram feitas nos bares das ruas Doutor Cesário Mota Júnior e Maria Antonia, no centro da capital. Investigadores se infiltraram entre os estudantes, usuários e traficantes. Eles chegaram nesta tarde com três viaturas descaracterizadas e abordaram 70 pessoas no local - entre eles, estudantes de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia.
Os policiais registraram as imagens da movimentação, que serão usadas para identificar outros possíveis envolvidos com o tráfico na região. No total, 50 agentes participaram da ação.
Procurado pela reportagem, o Mackenzie divulgou a seguinte nota:

"O Mackenzie tomou ciência dos fatos ocorridos na Rua Maria Antonia, local onde a polícia efetuou uma blitz. Destacamos que o episódio aconteceu fora das dependências do campus e, portanto, a Instituição não tem ingerência em ações ocorridas em espaço público. O Mackenzie habitualmente desenvolve campanhas antidrogas em seus campi, com o objetivo de orientar os alunos sobre os malefícios no uso de drogas tanto ilícitas, quanto lícitas."

Acesso ao ensino médio atinge esgotamento
Valor Econômico

17/06/2010 - De modo diferente do que ocorreu na educação fundamental, a universalização do acesso ao ensino médio no sistema educacional brasileiro está longe de ser atingida. Com taxa de matrículas estagnada nos últimos anos na casa dos 10 milhões de alunos, o ciclo escolar enfrenta alto índice de evasão, "difícil de ser corrigido", segundo Carlos Artexes, diretor do Ministério da Educação (MEC) responsável por políticas públicas nesse segmento.
De acordo com dados organizados pelo pesquisador social Ricardo Paes de Barro, do Instituto Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dois em cada dez jovens brasileiros de 15 a 17 anos estão fora da escola, o que representa 18% da população nessa faixa etária - cerca de 2 milhões de pessoas. Na faixa dos 18 aos 24 anos, 68% dos jovens não estudam.
Na avaliação de Artexes, a taxa de matrícula atual do ensino médio, estimada em mais de 80% para jovens de 15 a 17 anos, alcançou um "esgotamento". "Isso acontece em qualquer nível de ensino, no fundamental chegamos a 97%; no médio é evidente que a universalização se dê num patamar mais baixo", comenta. Uma das explicações para esse esgotamento, diz o educador, é a decisão do próprio jovem. "Ele está construindo sua autonomia e estar ou não na escola depende cada vez mais dele e menos da posição dos pais", resume.

Quase metade dos municípios brasileiros não tem plano de educação

Quase metade dos municípios brasileiros não tem plano municipal de educação. Das 5.565 localidades, 2.427 - ou 44% - não apresentam um conjunto de metas educacionais a serem cumpridas pelo poder público. Os dados são da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada neste ano.
Somente no Estado de São Paulo, 284 dos 645 municípios não têm plano - incluindo a capital, que começa a consolidar o seu agora, e outras grandes cidades como Araçatuba, Bauru, Campinas, Diadema, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, São José dos Campos e Sorocaba.
Os planos municipais, estaduais e federal são considerados essenciais para efetivar e acompanhar políticas em todas as áreas da administração pública. Eles podem ser elaborados por consultorias, pelas secretarias ou com a colaboração da sociedade. "Esse número pode ser ainda menor porque existem muitos planos que foram aprovados mas não se traduziram em lei", afirma o presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos.

O Plano Municipal de Educação
O Estado de São Paulo. 14/06/2010 – São Paulo

Com o objetivo de discutir mais de 3 mil propostas para a formulação de um Plano Municipal de Educação, a Prefeitura de São Paulo realizará uma conferência no Palácio de Convenções do Anhembi, entre os dias 18 e 20 de junho. Embora a elaboração do Plano seja uma exigência legal que existe desde 2001, os prefeitos que dirigiram cidade nos últimos nove anos descumpriram essa determinação, alegando não disporem de recursos orçamentários suficientes para implementá-la. A realização da conferência tornou-se possível por causa da mobilização de associações de pais e mestres, de entidades comunitárias, de sindicatos, de órgãos empresariais, de movimentos sociais e de ONGs que defendem os direitos das crianças e dos adolescentes. Além de cobrar o cumprimento da legislação pela Prefeitura, eles ajudaram a elaborar um diagnóstico de cada um dos 96 distritos e das 31 subprefeituras da cidade de São Paulo e colocaram todos os relatórios, mapas, indicadores e estatísticas na internet ? iniciativa que contou com o apoio de institutos sociais mantidos por grandes empresas privadas e de ONGs com atuação mundial.

O Plano Municipal de Educação deve ser um documento orientador de políticas públicas, definindo, com força de lei, as prioridades do setor no prazo de dez anos. Elas têm de ser obrigatoriamente seguidas pelas autoridades municipais. Introduzido originariamente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o objetivo do Plano é assegurar a continuidade das políticas educacionais, evitando que cada prefeito, ao assumir o mandato, modifique ou até revogue tudo o que foi feito por seu antecessor. Além de estabelecer metas para a rede escolar pública de ensino fundamental, o Plano fixa diretrizes que orientam os colégios da rede privada.

''Por que Joãozinho não aprende a ler''
O Estado de São Paulo, 15/06/2010 - São Paulo SP
JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA

O título deste artigo reproduz o de um livro publicado em 1953 e que provocou intenso debate sobre métodos de alfabetização. A polêmica durou até o final do século, quando o assunto foi definitivamente resolvido. No resto do mundo, não no Brasil. Uma análise das 19 cartilhas de alfabetização aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2009, e que estão em uso na maioria das escolas públicas, revela a razão. Neste artigo, comentamos apenas alguns aspectos dessa análise. Comecemos pela bibliografia citada pelos autores. Bibliografia reflete as orientações usadas. Dentre as 265 referências bibliográficas citadas nas 19 cartilhas, apenas cinco se referem a estudos especificamente voltados para os aspectos centrais da alfabetização, isto é, o funcionamento do código alfabético. Nas cinco, dois autores são os mais citados. Trata-se dos mesmos que o MEC vem mencionando desde que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) entronizaram as ideias ultrapassadas e equivocadas que continuam desorientando os professores em todo o País. Cabe notar que, nessas 265 citações, não há referência alguma a nenhum dos artigos mais citados nos índices de publicações científicas internacionais sobre alfabetização ou nos documentos oficiais dos demais países que utilizam o código alfabético. Em matéria de pedagogia, não é só o MEC que está na contramão dos progressos da ciência: alguns governos estaduais e municipais, que continuam produzindo suas próprias cartilhas, o fazem com base nos mesmos pressupostos equivocados.
Outro aspecto da análise se refere ao descumprimento sistemático dos termos de referência do edital do Programa Nacional do Livro Didático. Por insistência pessoal do ministro Fernando Haddad, que enfrentou ruidosas resistências internas e externas, o edital introduziu dois requisitos: a apresentação adequada dos fonemas e grafemas - base de qualquer processo de alfabetização - e atividades próprias para desenvolver fluência de leitura. Esses dois requisitos não foram observados de forma minimamente adequada em nenhuma das cartilhas aprovadas. O prejuízo pedagógico é óbvio. Cabe ao Tribunal de Contas da União (TCU) decidir se isso constitui delito de improbidade administrativa por parte de quem deu e de quem aceitou os pareceres sobre essas cartilhas.
Cartilhas elaboradas com base em pressupostos equivocados não ajudam as crianças a aprender a ler e escrever. Mas qual é, de fato, o objetivo das cartilhas aprovadas? De acordo com seus autores, o importante é promover o letramento, os usos sociais da língua, a intertextualidade, as múltiplas linguagens, a produção textual e outros pomposos desideratos. O domínio do código alfabético que se dane! Ou que se danem os alunos, como atestam os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e as pesquisas sobre a capacidade de leitura dos brasileiros.
Na prática, o que acontece com as cartilhas é o mesmo que ocorre com os livros didáticos, especialmente os de Língua Portuguesa - um samba do crioulo doido. Nas primeiras páginas das cartilhas, por exemplo, o aluno é convidado a escolher quais palavras do texto (que ele não sabe ler) indicam frutas. Ou é convidado a "escrever do seu jeito" o nome das ilustrações. Ou a combinar sílabas, cuja leitura não lhe foi ensinada, para formar palavras. Ou a identificar, "usando pistas contextuais", qual de três frases completa um texto. Ou seja, tudo se passa como se a criança fosse um novo Champolion desafiado a decifrar a Pedra de Roseta. Ou a "formular hipóteses" sobre o valor fonológico dos grafemas. Se as pessoas fossem capazes de formular hipóteses pela mera exposição aos textos, como explicar a existência de analfabetos adultos numa sociedade urbana e letrada? Nos países desenvolvidos, a questão dos métodos de orientações curriculares, nas últimas semanas.
Eis o que diz um dos mais importantes neurocientistas da atualidade, Stanislas Dehaene, na sua obra Os Neurônios da Leitura: "A conversão grafema-fonema é uma invenção única na história da escrita, que transforma radicalmente o cérebro da criança e sua maneira de ouvir os sons da língua. Ela não se manifesta espontaneamente, portanto, é preciso ensinar." Quanto à forma de ensinar, a ciência experimental demonstra que para alfabetizar bem é necessário apresentar os fonemas e grafemas de forma sequencial, intencional e sistemática. Essa é a função das cartilhas. O tema foi inclusive objeto de relatório e recomendações recentes da Academia Brasileira de Ciências, mas continua ignorado pelo establishment educacional.
Ignorar os avanços da neurociência e as evidências experimentais acumuladas sobre métodos de alfabetização não significa apenas defender uma posição ideológica a respeito da alfabetização: significa rejeitar a ideia de que a ciência pode contribuir para melhorar o ensino. Ou seja, pedagogia, como bruxaria, dispensa a ciência. Valem apenas as crenças e o poder de pressão das corporações. E é isso que fazem as universidades, no Brasil, e as autoridades responsáveis pela educação na maioria de nossas redes de ensino. Não sabemos o que o TCU e o MEC farão para correr atrás do prejuízo. Mas sabemos quais são os resultados dessa política: no 5.º ano do ensino fundamental, metade das crianças não consegue entender o que lê. E agora sabemos por que Joãozinho não aprende a ler, no Brasil.


Professores "leigos" crescem 35% em dois anos

Dados do Inep mostram que professores sem diploma de ensino superior continuam sendo contratados para dar aulas na educação básica

Priscilla Borges, iG Brasília

O número de “professores leigos” no Brasil – que só concluíram o ensino fundamental ou o ensino médio regular – aumentou em todas as etapas da educação básica. Dados do Censo Escolar 2009 mostram que 152.454 profissionais dão aulas sem a formação adequada para alunos matriculados em creches, pré-escolas, ensino fundamental e até ensino médio nas cinco regiões do País. Eles representam apenas 7,7% dos docentes que atuam hoje nas escolas brasileiras. O total é de 1.977.978. Mas, para os especialistas, as estatísticas são chocantes, porque, após a chamada “Década da Educação” iniciada com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996, a quantidade de profissionais sem qualificação necessária para dar aulas não diminuiu e, sim, cresceu.
Em 2007, eles eram 6,3% do total de professores da educação básica. O primeiro censo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para traçar o perfil desses docentes, divulgado no ano passado, mas feito com dados de 2007, revelou que 15.982 dos profissionais sem formação ideal tinham apenas o diploma do ensino fundamental. Em 2009, a mesma categoria de docentes caiu para 12.480. O problema está na crescente contratação de quem completou apenas o ensino médio regular. Em 2007, 103.341 professores brasileiros estavam nessa situação. No ano passado, eles somavam 139.974. O aumento chega a 35,4% em dois anos. O maior crescimento foi na educação infantil, em que eles representavam 16,1% do total de docentes dessa etapa em 2007 e, agora, equivalem a 19,6% do total. Mas nenhuma etapa ficou imune a esse crescimento. Nas turmas de ensino médio do País, há 21.896 docentes que dão aulas sem diploma de nível superior ou magistério (que também seria insuficiente para assumir esse compromisso). “É um dado para refletirmos profundamente. Temos de estranhar muito que um professor que estudou até o ensino médio dê aulas para essa mesma etapa”, afirma a presidente do Conselho Nacional de Educação, Clélia Brandão. Para ela, a explicação para isso pode estar na falta de planejamento de estados e municípios nos processos de formação continuada dos quatros de professores. “Um dos motivos que poderia levar a essa contratação, mas que não a justificaria, é a falta de professores de química, física e matemática. Talvez, esses professores já estejam cursando uma faculdade, mas ainda não a concluíram”, pondera. “Houve muito investimento em formação nos últimos anos. Mas a prioridade foi dada para o curso de pedagogia. Esse é um dado que pode revelar um erro nesse sentido”, analisa.
Qualificação, desafio antigo - Em meio a tantas discussões sobre a criação de um Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, a formação dos profissionais que cuidam da educação das crianças brasileiras se mostra um desafio. Se a legislação educacional fosse cumprida, o total de professores que não poderia dar aulas a crianças ou adolescentes brasileiros aumentaria ainda mais. Aos leigos, se juntariam os docentes sem licenciatura: 62.373 pessoas em 2009. A LDB diz, em seu artigo 62, que a “formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”.


País precisará construir 25 bibliotecas por dia para cumprir nova lei
Lei determina que todas as instituições educacionais devem ter biblioteca até 2020
02 de junho de 2010
Leonardo Soares/AE

Pior situação é no ensino fundamental, no qual o déficit é de 93 mil bibliotecas

Agência Brasil

BRASÍLIA - Municípios e Estados terão muito trabalho para cumprir a lei sancionada na semana passada que determina que toda a escola deve ter uma biblioteca. O maior desafio está nos estabelecimentos do ensino fundamental: será necessário construir 25 bibliotecas por dia até 2020, prazo limite para adequação à medida.

O diagnóstico é de um estudo realizado pelo movimento Todos pela Educação, com base em dados do Censo da Educação Básica de 2008. "Essa dificuldade é decorrente da falta de visão do Brasil sobre a importância da biblioteca. No mundo todo as bibliotecas são doadas por mantenedores que têm uma alegria imensa de poder doar um acervo", compara Luis Norberto, do Comitê Gestor do Todos pela Educação.

O déficit de bibliotecas no ensino fundamental é de 93 mil. Desse total, 89,7 mil são escolas públicas e 3,9 mil, estabelecimentos privados de ensino. Na educação infantil, apenas 30% dos colégios têm acervo e será necessário criar 21 bibliotecas por dia para cumprir o que determina a nova lei. A melhor situação é a do ensino médio, etapa em que o número de escolas sem biblioteca é de 3.471.

Norberto defende que, além da ação dos gestores, será necessário o envolvimento de toda a sociedade no desafio. "A lei é uma direção, mas ela não faz nada. Nós, sociedade, é que devemos fazê-la funcionar. A tarefa não é só dos gestores, imagine se cada empresário doasse um acervo para uma escola, em dois anos o problema estava resolvido", diz.

Na comparação entre as redes de ensino, a situação é pior nos colégios municipais, que contam com menos bibliotecas do que as escolas estaduais. O estudo do Todos pela Educação chama a atenção para outro fator que pode dificultar o cumprimento da lei: faltarão profissionais qualificados para trabalhar nesses espaços.

A legislação estabelece que as bibliotecas devem ser administradas por especialistas da área - os bibliotecários. Mas, segundo levantamento da entidade, hoje há um total de 21,6 mil profissionais habilitados, enquanto o país conta com aproximadamente 200 mil escolas de educação básica.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Qualidade versus Eficácia

Prof. Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Integrei por seis anos o Conselho Fiscal da CET, em São Paulo.
No período, acompanhei todos os esforços da Companhia buscando a implantação de Qualidade, a da reserva endógena mas que pudesse ser extensiva à toda a cidade , trabalho delicado e dedicado de experts, exitoso na consecução em outras empresas. De todas as medidas, dentro de um plano traçado, restou um expediente que nunca conseguiu ser superado, ainda que o empenho para a sinalização semafórica, sinalização horizontal e vertical, placas, zona azul, etc. etc., consumissem cada vez mais os minguados recursos que a Prefeitura disponibilizava. Mas o que não deu tanto certo como o desejado, o esperado ? Simples, porque a população não considerava tais medidas como a de quem buscava Qualidade mas sim a possibilidade de trafegar sem vigilância, sem a presença “antipática” dos marronzinhos a aplicar multas. Conforme a cultural política da impunidade. Sem multas, aí sim a empresa teria Qualidade pois contrariar interesse é inimigo feito.

Invadindo outro cenário, o da educação, o que o tomador desse serviço reputa como Qualidade se o que ele busca é aprioristicamente o diploma e não o conhecimento, o aprendizado, para enfrentar o dificílimo mercado de trabalho ? Só ele não sabe disso.

Aliás, esse “comprador de serviços” é um dos poucos que não sabe o que está comprando e pagando ( ? ). É a compra no escuro. Quando as coisas clareiam um pouco ele vira um bicho de exigências. Afinal, ele está pagando e impensável uma reprovação. Esta dentre muitas outras razões o leva a soltar todos os cachorros no Enade como revolta e vingança.

Na outra ponta as IES se digladiando para buscar respeito, consideração e visibilidade responsável junto aos seus públicos: famílias, imprensa, MEC, mundo intelectual e sociedade em geral. Mas, a imagem positiva não aparece, não na justa relação de todo o esforço despendido, de todas as ordens e naturezas. Falta o elementar: comunicação dirigida a cada público, evitando assim o “case” de MKT do ovo da pata.

Como coordenador de curso, ouvi às centenas que “... só estou aqui por causa do diploma porque já sou profissional da área.” Ah. meu Deus !

Então, o que importa é ter BOA IMAGEM no mercado ? Como conquistar essa imagem se a relação Custo x Benefício entre os interessados não tiver o mesmo quilate ? Qual a pedra de toque para a justa consideração de Qualidade ? Como propiciar ensino de boa Qualidade sem o ônus de manter um plexus universitário à altura das exigências de um mundo globalizado ? Ou seja, o melhor corpo docente, os melhores laboratórios, a melhor biblioteca, a melhor extensão, a melhor pesquisa ( iniciação científica ), os melhores conteúdos programáticos, a rigidez nas avaliações ? Não exagero se disser que isto basta. Ainda que sem ar condicionado nas salas, estacionamento gratuito, boleto de cobrança das mensalidades, parque de PCs em rede total, diários de classe impressos por sistema, cada sala com projetor multimídia, etc. etc.

Qualidade com efetiva eficácia custa caro. E acima de tudo, o imperativo que os interesses sejam recíprocos, o do tutor e do aprendiz. Faltou tal relação o processo fica capenga. E mais, não se consegue Qualidade com o valor da mensalidade na casa dos “nine,nine”.

Eficácia é a palavra de ordem na avaliação de uma proposta educacional, por exemplo a partir da permanência ou não de determinado curso no elenco de cursos da IES.

Não é possível a existência de curso de Enfermagem onde exista só um hospital na cidade, curso de Comunicação onde exista único jornal e emissora de rádio, etc. etc.
Em quatro anos tem-se duzentos profissionais “aptos” mas desempregados.
Sem falar em corpo docente (in)existente, custosos laboratórios, biblioteca satisfatória, extensões de complementaridade educacional como atendimentos, práticas e estágios, seminários, palestras e conferências. É querer uvas maduras, sem chance.

Bons tempos quando tudo se iniciava pelo ( único ) vestibular das IES por via do Edital constando dia, hora, conteúdos a considerar, número de vagas, etc. etc.
Hoje o processo seletivo de ingresso se dá continuamente, por semanas (ou meses), sem interrupção, avaliando desiguais ( sem a isonomia legal ) como iguais.
É a concorrência atuando no setor.

A busca da condição de Qualidade no ensino passa necessariamente pela eficácia dos planos de ensino das IES — PDI e CPA atuantes —, seja na graduação regular ou nos tecnológicos porque o fim não é outro — e deve ser — senão a empregabilidade. Fica para depois comentário sobre as pós graduações.

Mestres e Doutores em sala são ótimos se deixarem de aplicar suas dissertações e teses, para semi alfabetizados, mas impondo as realidades programáticas das disciplinas que assumiram. Em que pese algum esforço pessoal, mas nunca porque a IES não podia/desejava dispensar o profissional a quem os currículos dos diversos cursos oferecidos não contemplavam seus saberes ( específicos ? ). Se a dispensa é onerosa o mote é apostar no futuro e não no presente, nesse particular, porque os “opinion makers” estão de plantão: o aluno e/ou o mercado, lembrando que ambos são os consumidores do “produto acabado/formado”.

As famílias e os próprios alunos estão ansiosos por ocupações, sem o que não se terá atingido o fim desejado: EMPREGABILIDADE. Nisso sim se traduz Qualidade e eficácia de educação superior. O resto é conversa de periquito australiano, é “embromation”.

Se eficiência é saber fazer, eficácia é saber fazer bem feito.
E tem mais, é claro, eficiência e eficácia entendido para um não é para todos.

Tentar impor Qualidade para ingressantes que se assemelham a insumos de carregação, concluintes do ensino médio no qual foram aprovados por via de aprovação automática é contrariar a ordem natural das coisas.
Que tal se logo no primeiro dia de aula dos calouros os docentes tivessem em mãos suas redações do seletivo, seus acertos/erros no gabarito das questões de múltipla escolha ? Ah. como o entendimento do nível cultural da classe seria diferente. Vinho para a água.

No setor, querer transferir um produto da Daslu para a 25 de Março é vôo suicida, atitude kamikaze do ponto de vista educacional. Talvez não para a visão de negócios. Mas, que não se espere Qualidade nessa última. É pirataria absoluta.

Como pretender falar de Qualidade no ensino superior se antes, nos ensinos fundamental e médio, a matéria prima chega com defeito ? Com varinha de condão ?
Sejamos realistas, não mais do que o rei e será o suficiente.

Esforços hercúleos no superior não suprirão a formação desejável e esperada para o fundamental e médio. Antes de discutir a validade educacional de Qualidade no superior — grande preocupação do momento —, para a qual as IES particulares estão(riam) prontas a implementar imediatamente, a discussão, em tom de cobrança, deve recair sobre as secretarias municipal e estadual de educação. Sem o que não tem jogo. Novamente os periquitos palradores estão no palco.

Vem aí o novo PNE sem que fosse obtido nem 45% de bons resultados no plano anterior. Como é que pode ? O senhor de engenho ( MEC ) quer açúcar com cana seca. Nem o gado consome.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Samba do crioulo doido já era. Prevalece o tango do japonês sumô.

Por Roney Signorini – Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

O leitor já viu algum japonês que luta sumô dançando tango ? Nem eu.
Mas, as últimas notícias entre abril e começo de junho no setor educacional remetem ao cenário escalafobético ( que palavra ! ) tais são as descompensações.
É recurso/técnica da mídia jornalística que o emissor deve dirigir-se a algum público: a comunicação dirigida. Então me detenho se os textos forem lidos por alguém fora da mídia pretendida, os alunos e pais deles porque aí então o mundo educacional entra em parafuso, no estrambótico.

Darcy Ribeiro e Anisio Teixeira devem estar se contorcendo nos jazigos. Senão, leiamos o que “pintou” no noticiário com os títulos:

1-)Por Jacques Steinberg – “Mais Aprendizado Sem Faculdade” – Nem todo o mundo vai à universidade, e isso pode ser uma decisão inteligente;

2-)MEC vai recomendar o fim da reprovação – O CNE vai propor e o MEC recomendará às escolas públicas e privadas que não reprovem mais alunos dos 3 primeiros anos do ensino fundamental;

3-)Ensino de letra cursiva para crianças em alfabetização: quem tem letra feia pode ter de trocar a de mão pela de forma;

4-)O Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) é taxativo: 15% da população entre 15 e 24 anos estão alfabetizados em nível rudimentar;

5-)Ensino Fundamental : 1,4 milhão largaram a escola em 2008;

6-)MEC suspende ingresso de alunos em Pedagogia na Faculdade Sumaré por excesso de oferta de vagas;

7-)Enem para professores mas Pedagogia e Licenciaturas ficam à deriva nas formações;

8-)Demagogia no Ensino Superior: das 13 universidades federais criadas nos dois mandatos do presidente Lula duas se destacam pelo excêntrico: a Universidade Federal da Integração Latino-Americana(Unila), sediada em Foz de Iguaçu, ora funcionando provisoriamente num prédio da Usina Itaipu; a outra, que será erguida em Redenção ( 55 quilômetros de Fortaleza ), Universidade Federal de Integração Luso-Afrobrasileira (Unilab), cidade com 27 mil habitantes, foi escolhida por ter sido a primeira a libertar todos os seus escravos antes da Lei Áurea ( 1888);

9-)”O Inep não está desgastado” ainda que tenha cancelado 54 perguntas das avaliações aplicadas em novembro de 2009, enquanto que mal formuladas ou polêmicas, por conta do caráter político que apareceram no Enade. Afora o “imbróglio” dos cadernos de provas que seriam “vendidos” ao jornal Estado de São Paulo, etc. etc.

Ou seja, universo totalmente em desencanto pelas estapafúrdias situações, colocações, intenções, a quem parece estar tudo às mil maravilhas, céu de brigadeiro pela frente.
Os conteúdos que se seguem às manchetes são escabrosos para quem tem preocupação com a educação nacional, a ponto da recomendação que não evitem mais que seus filhos leiam o
noticiário sobre violências, corrupção, etc. no país, mas suprimam a editoria de educação porque certamente você não terá respostas aos questionamentos deles de como vai a saúde do ensino brasileiro.
E vem aí a discussão/implantação do novo PNE para o próximo decênio sem que se tivessem cumprido nem 46% do plano anterior.

Quem viver verá.

terça-feira, 11 de maio de 2010

De Geração em Geração, sem Solução?

Prof. Roney Signorini - Assessor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Teóricos sociais — sociólogos, antropólogos, psicólogos, pedagogos, etc. — já estão quase de acordo na separação dos grupos das gerações, cujos estudos e discussões vêm ganhando observadores atentos, sobretudo os operadores da educação brasileira, quanto aos perfis estabelecidos.
Por oportuno, o SEMESP, em São Paulo, discutirá em suas Jornadas Regionais a temática da Geração Y.

De alguns meses para cá a imprensa vem divulgando o assunto como que na tentativa de rastrear, principalmente, o público de hoje na universidade e com isso quase discutir alguns comportamentos dominantes nesse “lócus”. Inclusive, começa a surgir literatura nacional traçando balizas para as quatro gerações: a dos tradicionais, nascidos até 1950; a dos baby boomers, nascidos entre 1951 e 1964, ou seja, os situados hoje entre 59 e 46 anos de idade; os da geração X, nascidos entre 1965 e 1983, hoje situados entre 45 e 27 anos de idade; e ultimando com a geração Y, nascidos entre 1984 e 1990, hoje situados entre 26 e 20 anos de idade.
Há quem já esboce a geração C, geração M e a geração Z, (matéria publicada pela revista Veja, recentemente) os nascidos em 1991 para cá.

Leia abaixo como a especialista Karla Santana Mamona, da InfoMoney, descreve os tipos:

Geração dos tradicionais – Nascidos até 1950, são pessoas extremamente dedicadas, que entendem e se conformam com o sacrifício; admitem recompensas tardias; respeitam a hierarquia e são formais: burocratas. O dever vem antes do prazer e são bons em tomar decisões pressionados.

Geração dos baby boomers – Nascidos entre 1951 e 1964, são pessoas revolucionárias e moldadas com grande disciplina; céticos em relação à autoridade, independentes; transformadores, buscam reorganizar ou reestruturar suas organizações; foco no curto prazo e mentalidade de trabalhar pressionados; liderança por consenso; tendem a priorizar o trabalho, acreditam num mundo competitivo e compenetrado;

Geração X – Nascidos entre 1965 e 1983, buscam equilíbrio entre a vida pessoal e profissional; são pessoas auto-centradas, empreendedoras e extremamente independentes: altamente pragmáticas e orientadas às ações; liderança por competência; grupo mais conservador da força de trabalho. Meta de carreira dirigida a novos desafios; gostam de trabalhar num ambiente de equipe e a primeira geração que verdadeiramente domina os computadores - Era da Informação.

Geração Y – Nascidos entre 1984 e 1990, são tecnologicamente superiores; tendem a ter entendimento global; necessitam de reconhecimento positivo periódico; desejam crescimento rápido na carreira e são imediatistas. Tecnicamente muito sofisticados; multi-tarefeiros; fiéis aos seus projetos; informais, autônomos e individualistas. Não abrem mão de gerenciar simultaneamente sua vida pessoal e profissional. Precisam se sentir "fazendo parte" do time: liderança por coletividade e inclusão.

É possível fazer leituras adicionais nos endereços abaixo ou clicando no pesquisador Google — Geração C, Geração Y , etc.:
http//miriamsalles.info/wp/?p=165 contido no YouTube.
http://augustocvp.wordpress.com/2009/05/06/a-geracao-m/

A ter sustentação real e efetiva os perfis contêm muita heterogeneidade de posturas, pretensões, fatores existenciais (com algum conflito entre eles), aspirações pessoais, condutas individuais e grupais que ganham até certa imbricação. Não nos interessa comentar o ensino fundamental e médio, mas atentar para o fato de que na universidade encontram-se representantes dessas quatro gerações.
Cabe a primeira pergunta: nossos docentes estão preparados, habilitados e capacitados para esse enorme desafio na proposição e administração dos conteúdos dos planos de aulas? Ao que tudo indica essa preocupação ainda não chegou perto dos muros das escolas embora venha sendo debatida mas é a bola da vez junto aos organismos de RH, que discutem a presença dessas gerações no mundo empresarial.

Algumas poucas instituições, entretanto, como casos isolados, já tomaram a dianteira no trato de evitar conflito de gerações nas salas de aulas. Uma delas é a Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo.
A iniciativa se deu pelo último Censo, o qual indicou que um em cada quatro estudantes ingressantes em curso superior, em 2008, tinha 30 anos ou mais.
De 2000 a 2008 o grupo desses universitários ingressantes aumentou à extraordinária taxa de 206%; os de 24 anos também subiu, mas em 89%.

Imbroglios à parte, de eventuais conflitos geracionais sobre o chão das salas de aulas, há muito ainda por se discutir na busca de eficácias programáticas com as novidades tipológicas acima descritas. É desafio e tarefa inadiável da iniciativa privada

Embora outras heterogeneidades persistam na sala de aula como a de alunos egressos de escolas públicas e privadas, as primeiras como responsáveis pelos 15% da população brasileira, com idade entre 15 e 24 anos, considerada analfabeta funcional, isso permite afirmar que a incúria governamental — dos analfabetos educacionais — vem sendo tanta e muita. E o quadro não mostra melhoras em grandezas como desejamos e precisamos: educação de primeira qualidade para o fundamental e médio.

Mas quem são esses alunos, ora ingressantes com 30 ou mais anos, calouros, transferidos, desistentes do mesmo curso ou de outro, de graduação ou tecnológicos, que já estão no mercado, supostamente capazes economicamente? Tanto melhor se têm autonomia financeira
A depender de crédito e financiamento estudantil melhoramos timidamente, hoje expressos pelas estatísticas de quase 190 mil usufruindo o ProUni integral, com perto de só 150 mil no Fies, outros 67 mil no ProUni parcial e 54 mil (13%)oferecidos pelas próprias IES. É uma gotinha no oceano quando temos perto de 4 milhões de universitários nas instituições privadas.