sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Professor, meu herói



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signiorini!@superig.com.br

“Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever,
mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.”
Alvin Toffler

Nesta semana o blog ABMESEDUCA está dedicando atenção à carreira docente, a fatos e casos que ilustram essa profissão, com otimismo que a engrandecem, a cujo saber e dedicação até mesmo um imperador se curva reverentemente. São inúmeros os casos, contados pelos que vivenciam(ram) as condições mais adversas de aceitação, condescendência, transigência e tolerância diante da ignorância e do semialfabetismo que subjuga milhões de brasileiros. Sempre com um trabalho paciencioso e silente, esses profissionais tentam resgatar jovens do cativeiro da ignorância, de quem quer promover o ser humano – em alguns rincões somente com uma tosca lousa, um lápis e um caderno, mas com a determinação e a fé de um sacerdote, ao qual não raras vezes são perigosamente comparados. São figuras de que o calendário, a história e até mesmo o governo pouco se lembram, mas, que numa faina diária dão o melhor de si. Buscando encontrar o desconhecido ou o nada. Exuviabilidade(1) de todos os dias, semanas, meses e anos a despojar-se de orgulhos e vaidades em prol da elevação da cultura de meninos e jovens.

Nesse percurso cotidiano, professores do ensino superior, todos eles sem exceção, têm vivido situações bizarras e inaceitáveis em sala de aula. Vivência de horrores inexplicáveis,  ao deparar-se e confrontar a educação do nível anterior e se tome pela interrogação de o que aconteceu? o que ocorreu? São várias as respostas mas poucas absolvem o aluno, o meio social, a docência, os cursos de formação, a condição econômica, o locus onde vive, etc. etc,
ficando até mesmo antes do ensino 1.0. Nada justifica que um aluno, tendo chegado a esse estágio, ignore o que seja uma preposição, que existem verbos transitivos e intransitivos, não saiba resolver equações nem extrair uma raiz quadrada, ignore onde ficam os Andes e pouco conheça de história mundial ou pátria e seja incapaz de articular duas ou três frases coerentes. O problema, no entanto, está numa área muito mais crítica do que a superfície linguística do texto. Nosso aluno não aprendeu a pensar, nosso aluno não tem informação e, quando a tem (muitas vezes de forma descontextualizada e fragmentária), não sabe onde colocá-la. Nosso aluno não sabe ler e, não sabendo ler, não lê o mundo que o cerca. Essa é a tragédia da nossa educação básica, que se espraia ao superior. Chegarão como tsunami em 2014 pois são mais de sete milhões no Enem  de 2013.

Os psicólogos descobriram o “déficit de atenção” ou com as carências sintáticas(raciocínio), pedagogos criaram métodos e sistemas (2.0 – 3.0) mas os vocabularistas põe a culpa na falta de leitura.
Todos apontando deficiências e críticas a mão cheia sem trazer resultados. Aliás, o novo acordo ortográfico foi adiada para sua implementação para o final de 2015, mas os jornais continuam misturando o verbo “por” com a preposição “por”. Enquanto fim-de-semana tem hífens, final de semana não tem, e por aí vai. Não seria exatamente na língua na qual está o problema? (Vide o anexo, prova de redação de vestibular, mas esteja sentado ao ler. O tema? imagine qualquer um.). É de ser tomado por paroxismo.

Enquanto o governo não investir pesadamente em melhores salários aos professores da educação fundamental e média, em reciclagem docente, em escolas mais bem equipadas, que sejam um espaço de interação, de descoberta, de criatividade, de conhecimento, de prazer, mais profundo e largo será o fosso entre dois Brasis: o do ensino público e o do particular.

Essa situação inverte-se, no entanto, quando o jovem chega à universidade. As poucas instituições públicas ficam com a parcela de jovens mais bem preparada, enquanto as particulares – cuja hegemonia é patente no ensino superior – apesar de seu trabalho hercúleo, herdam o espólio da quase finada educação pública e amargam os índices do MEC.

Enquanto o governo não encarar com interesse e seriedade a educação, pilar fundamental para a sustentação da sociedade e da economia, não serremos um país desenvolvido e nos tornamos presa fácil de qualquer aproveitador.

Não nos dá orgulho nenhum ler a notícia publicada no Portal Terra-Educação, no último dia 3:
Brasil fica no penúltimo lugar em ranking de valorização do professor.
País está na frente apenas de Israel entre 21 nações avaliadas. China lidera lista, seguida por Grécia, Turquia e Coreia do Sul  -  3 de Outubro de 2013•11h42
Ranking mede o status dos professores em diferentes países
O Brasil ficou na penúltima colocação entre 21 nações em um índice sobre a valorização dos professores divulgado nesta quinta-feira pela fundação internacional Varkey Gems, sediada em Londres. O País está à frente apenas de Israel no status dado aos seus educadores. Em primeiro lugar aparece a China, seguida de Grécia, Turquia, Coreia do Sul e Nova Zelândia.
Os 21 países analisados foram selecionados pelo desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Em cada nação foram feitas 1 mil entrevistas que levaram em conta o status do professor, a recompensa recebida pelo trabalho e a organização do sistema de ensino.

Difícil dizer o que é mais penoso: andar, no passado, em lombo de burro e trocar a alfabetização por saco de mangas e galinhas, ou transitar, hoje, pela cidade em três turnos, de trem, ônibus e metrô para “cobrir” três ou mais instituições de ensino, além de se sujeitar a ouvir impropérios, quando não, alguns tapas e socos. Os professores são os Sísifos hodiernos que insistem em rolar pedra morro acima para tudo refazer no dia seguinte.

Para descontrair, não há professor que não acumule casos e “causos”, talvez muito piores do que os relatados a seguir e ocorridos em sala de aula a se indagar:  é comédia ou tragédia?

Orientado pela professora de Produção Textual a consultar o Aurélio (que estava numa estante na sala) e sabendo que na classe não tem ninguém com esse nome, o aluno sai pela faculdade a procurar o dito-cujo nos corredores e na praça de alimentação. Pode ?

Ao “colar” de um colega e não querendo que as provas parecessem iguais, o aluno trocou sesmarias por três Marias. Pode ?

O professor pediu aos alunos que indicassem na folha de prova o nome, o número e a habilitação (PP, RTV, JO, RP). Um deles, preocupadíssimo, diz que ainda não tem carteira de motorista. Pode ?

Em 1988, o professor de Introdução ao Jornalismo depara-se com um texto sobre a olimpíada de CU. Levou um tempo, para ele descobrir que era a Olimpíada de Seoul. Pode ?

Quem viver verá.

(1)larva que/quando troca a “casca” antes da transformação em libélula.



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