terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Aprendizado a quatro mãos entre duas mentes



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br


Em minha experiência educacional sempre persegui a ideia de processo educativo centrado nos vários estilos de aprendizagem, os modos de aprender em contextos educacionais, curso a curso, disciplina a disciplina..
As relações entre o ensinante e o aprendente, a par de outras variáveis, deve buscar para ambos, no processo ensino/aprendizagem, uma prática marcante do exercício da escuta recíproca, totalmente descartado o déficit de atenção. Se o professor é quem deve ensinar e o aluno quem deve aprender, pela própria natureza de posições fica estabelecido que tal relação é dialética por essência. 

Com isso fica claro que o aprendizado é trabalho a quatro mãos e duas mentes ocorrendo com informação, conhecimento e saber, atribuído ao professor, entretanto, o direito de autonomia que não é ensinar o que quer, da maneira como quiser mas garantir que cada aluno aprenda o que necessita aprender, em todos os sentidos, inclusive que este precisa se autodeterminar na escolha de seu futuro, carreira e profissão.
Não é um cenário exclusivo dos brasileiros mas vez por outra acontece de se ver imagens mais ou menos coloridas. É o caso de adequada ambiência na escola e na família, do estudante lograr mais maturidade, fazer crescer e com isso ampliar seu senso crítico, interpretar mercados de trabalho, ter aquela dedicação homeopática diariamente, requisitos indispensáveis para bem se conduzir rumo à empregabilidade, além de precisar interiorizar que sem educação continuada, sem lenha o trem para..

É muito importante para o educador, e com exclusividade para ele, compreender que há um trajeto enorme a ser percorrido pelos atores da escola. Um caminho repleto de esperança, conquistas, respeito, desafios, ousadia e, principalmente, muito trabalho. Inexistindo reciprocidade de intenções na relação nem há como se ir adiante na análise, pois se falta vontade em aprender, se não se aplica esforço e treinamento levado às últimas consequências, se ausente repetições, leituras, pesquisa e dedicação ao que é preciso saber, engrandecendo conhecimentos de forma continuada e persistente, pouco ou nada será agregado.

Há um importante convite a todos para a reflexão sobre as mudanças necessárias e que devem ser buscadas, tanto dentro como fora da sala de aula, que aponta para uma profunda mudança no relacionamento entre professor e aluno. Relacionamento esse capaz de provocar transformações intensas, no comportamento de ambos como na busca dos saberes. Impensável para isso a carência de vontades pois irrealizável a intenção do ensino como da aprendizagem. O mútuo é uma cola que eterniza relações.

 Ao ver uma pessoa como um todo a ser considerado, é preciso criar um relacionamento interpessoal, transportando para a educação uma convivência em busca da  aprendizagem significativa e qualitativa.

Mas, numa autêntica avaliação de consciência, está a docência preparada para isso quando sobejam problemas e poucas soluções diante da formação pedagógica proposta a partir dos cursos de licenciaturas ?

Não estaríamos nos demorando muito em virar do avesso as propostas curriculares e conteudísticas dos cursos em flagrante desatualização  a novos e modernos métodos, processos de uma neopedagpgia e neodidática ?
De certa forma decorrente de um cenário nebuloso advém o desastre consequente das escolhas de cursos quando surge o  momento da opção profissional que tem se revelado de uma crescente dificuldade de alternativas  entre os jovens, constatada por especialistas,  pesquisas acadêmicas e pela grande imprensa.

O relato a seguir é da profa. Sílvia Regina Rocha Brandão:
“Nos resultados de uma pesquisa realizada em 1992, sob coordenação da Profª. Drª. Maria de Lourdes Ramos da Silva, com alunos de graduação da Universidade de São Paulo apurou-se que “acentua-se a significativa porcentagem de alunos dos últimos anos que, se lhes fosse possível voltar novamente ao momento do vestibular, não escolheriam novamente o mesmo curso”. (Silva 1992, p. 99). A evasão de cursos universitários tem aumentado  gerando prejuízo não apenas pessoal; mas, também, social afetando especialmente as instituições públicas, cujos recursos acabam por não ser adequadamente aproveitados. A causa desta evasão, certamente, não está na falta de informações ou de opções. O problema reside na incapacidade de decidir-se, de posicionar-se e, principalmente, na falta de critérios claros para tomar tais decisões.”

E ela vai além ao afirmar que a sociedade contemporânea, em grande parte, revela muita insegurança e incerteza quanto a valores: não há pontos de referência estáveis. Isto gera crise e confusão, tornando muito difícil para o homem atual identificar, em última instância, “o que vale a pena” e dedicar-se a isto; o afastamento das questões mais essenciais como o porquê da existência, um sentido ou causa à qual entregar a vida, gera esquecimento ou inexistência de critérios para orientar e sustentar decisões ou ações: “a modernidade destruiu a metafísica do ser e terminou autodestruindo a metafísica do sujeito. Resta uma débil ontologia na qual a realidade é substituída por sua representação. (...) Diante do vácuo do simples rechaço, a educação precisa ‘encontrar o fundamento’ tanto para uma compreensão da realidade quanto para orientar e justificar as nossas próprias ações.” (Garcia Hoz 1988, p. 119).

Ao arremate, com absoluta propriedade, vem a dificuldade do homem contemporâneo de tomar consciência de si mesmo, de posicionar-se diante da realidade e a experiência freqüente de indecisão, são conseqüências de uma mentalidade que, negligenciando a necessidade deste fundamento, não favorece a descoberta de valores, nem um autêntico desenvolvimento humano. Não havendo uma clara hierarquia de valores, a postura assumida diante de situações que exigem soluções imediatas é a de relatividade, sem aprofundamento das razões das escolhas ou atitudes a serem assumidas.

Por conclusão, soma-se a instabilidade da economia e do mercado de trabalho à confusão de valores. A forma atual de organização do trabalho, sempre mais competitiva e em rápida transformação, tem exigido definição profissional cada vez mais precoce e, ao mesmo tempo, oferecido uma crescente disponibilidade de mão de obra. Para os jovens, cada vez mais novos ao serem solicitados a uma definição neste universo profissional, é necessário oferecer algo que transcenda as perspectivas instáveis e dramáticas do mercado de trabalho. Esta urgência vem sendo captada por educadores que apontam a necessidade de educar para o mundo do trabalho e não apenas para o mercado de trabalho. “Deve-se formar para o mundo do trabalho ou para o mercado de trabalho? Formar para o mundo do trabalho significa capacitar o educando a viver de forma cooperativa e útil na sociedade em que se insere; já formar para o mercado de trabalho é buscar fornecer mão-de-obra exigida pelo processo produtivo.” (Silva 1998, p. 115). A profa. Silvia Brandão acertou uma no cravo e outra na ferradura  explicitando que ao realizar a escolha profissional dentro deste contexto dinâmico e instável é necessário considerar não estritamente a profissão, mas concebê-la dentro de uma dimensão mais ampla e, ao mesmo tempo essencial, que é a da vocação, possibilitando transcender o nível ocupacional inclusive para poder incluí-lo ou transformá-lo.

Com toda razão, por recente estudo realizado pelos economistas André Curi (FGV) e Naércio Menezes Fº (Insper) eles concluíram o acerto de pais que estão dando aos filhos uma educação de qualidade até antes da universidade, em instituições particulares que de alguma forma corroboram para o encontro acertado de vocações porque têm gestão escolar e, portanto, capazes da descoberta de aptidões na miríade profissionalizante e de empregabilidades para seus alunos.

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