Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signoirini@superig.com.br
O argentino Jorge Luis Borges -- escritor, poeta, tradutor, crítico
literário e ensaísta -- dizia ser um profeta, não um adivinho e com
tal jogo semântico encantava interlocutores, buscando, é claro, que estes
tivessem o mesmo nível cultural a identificar quem
prediz acontecimentos por inspiração de Deus daquele que desvenda o que está
oculto ou prediz o futuro. Assim como diferenciar Maomé de uma Mãe Diná.
Com aquela expressão talvez ele a empregasse
para responder a pergunta “Quantos anos vai levar para as suas utopias virarem
realidade ?”
O mesmo título deste artigo encontrei num
excelente documentário que reuniu
cientistas, expoentes americanos, em debate futurista realizado há dez
anos mas assistido agora mostrou enorme
realidade com os fatos sociais, autênticos
precognientes.
Dia desses o professor
Domingo Hernandez Peña nos presenteou com o artigo Amargas Sutilezas,
transitando por globalização e universalização. Esta última condição, para ele,
escopo maior da Universidade, vem se afastando para dar lugar à hiper especialização. E que não sairemos da atual crise global a menos que
aconteçam duas condições improváveis: que na Universidade volte-se a dominar o
conhecimento universal e que o capitalismo feroz acabe por explodir de um vez
por todas. Ele conclui dizendo que a única defesa da Universidade e consequente
consolidação só poderá se dar pela qualidade e pela atualidade..
Tais considerações, por
certo, decorrem de dezenas de anos acumulados no magistério, de larga
experiência, para quem o conhecimento não é para a escola mas, sobretudo, para
a vida. Nisso não há profecia nem adivinhação, é concretude mesmo.
Ao contrário, a mídia
traça uma previsão de que 75% dos brasileiros serão classe média até 2016,
apoiada no dado que de 2003 e 2013 um volume de 54 milhões de brasileiros
subiram para as classes A,B e C e esta última com renda per capita de R$291,00
a R$ 1.019,00. Pelo indicado, parece estar na hora de mudar a parametrização de
volumes, números versus
salários.
Bola de Cristal
Impressiona quando o uso
de dados estatísticos são aceitos como certeza e definitivos, quando mudanças
não inevitáveis, quanto aos números, pesquisas e projeções, quando se sabe que
resultados podem ser oferecidos com desacertos, como quem muda a posição de um
caleidoscópio. Alguns dados são tão contraditórios e irreais na sucessão diária
que causa espanto a adoção deles como irrefutáveis. É como precisar acreditar porque nada pode(ria) mudar, pois nada nesta
vida é mais certo do que as mudanças. Tudo parece ser uma verdade axiomática que se trai com uma
simples canetada de alguma norma, natural ou não.
Domênico de Masi, um pensador
“inovador”, tem lá seus motivos para pregar, sobretudo quando a mídia o elege
um guru da atualidade, na ausência de um mais “corajoso”. Na ciência também
temos covardes, inibidos e temerários, sobretudo de contrapostos a audazes
questionadores. Estes, provocadores,
também têm a perder mas arriscam
no afã profissional. São
os perturbadores do caos como tantos críticos da mídia, remunerados para
provocar, mas infelizmente tão poucos com estofo capaz de chegarem na medula.
Aos 74 anos, o italiano Domênico,
autor de O Ócio Criativo é adepto de que
devemos trabalhar menos para criar mais e viver melhor. Ignoro se ele leu algo
sobre a contracultura. No seio de
famílias como a minha, descendente de italianos da gema, seria considerado um
herege como colocar carne de suíno na mesa de judeus. Nenhuma nação resiste(iu) à outra senão pelo
trabalho. Mas, ainda faltaria mostrar que a era hippie de Woodstock foi e
jamais será ? Diminuir o tempo de trabalho semanal para 3 ou 5 horas é de uma
inconsequencialidade selvagem, absurda, quando o relógio tem só 24 horas e não
40 ou 60 horas mas estampam uma informação de NÃO FUNCIONA. Meus ascendentes não foram infelizes ou
irrealizados por trabalharem mais de oito horas diárias, ao contrário.
Se a questão é ocupação,
empregabilidade, quem sabe a alternativa é a de aposentar mesmo a quem logrou
tal condição, abrindo espaços de trabalho aos milhões, para jovens que não
conseguem o intento de um lugar ao sol.
E mais, via decreto porque
aqueles que não entendem/aceitam que é hora de largar o bastão, só
arrancando-lhes das mãos.
Se o mercado não tem mão
de obra disponível para as ocupações então o problema é outro: dos cursos
técnicos e da universidade que precisam maximizar todas as potências laborais.
O Brasil está em crescimento e não pode deixar de contar sequer com um músculo,
nenhum nervo humano
se quiser entrar no ringue
das competências e concorrências.
Em recente entrevista ao
Boletim Polo Audiovisual o guru da pós-industrialização, de Masi, abusa das
incoerências como se estivesse costurando meia furada, apoiada em ovo de
madeira. É um Hermann Kan do século XXI que apoiou a iniciativa de um tal de
Ludwig na Amazônia. Um observador francês diria “chose de loque”.
Na entrevista, o
“brasilianista” poeta defende que o Brasil está crescendo sem autocrítica, sem
um projeto adequado. Deveria ser convidado por Dilma a sentar algumas horas na
cadeira presidencial. E não é que o indigitado é consultor em estratégia e
cultura empresarial da TV Globo?
Seria dele a sugestão do
BBB e novelas tóxicas para o canal ?
Questionado se não estamos
trabalhando cada vez mais ele saiu com a pérola de que o modelo está em crise porque há muito desemprego, os pais trabalham 12
ou mais horas e os filhos ficam em casa desocupados,
sem no entanto dizer a
razão, que é clara: má formação profissional, zona de conforto, falta de
severidade, consumerismo exagerado e fora do padrão, desarticulação familiar, incultura
especialista, oportunismo do QI e não das habilidades e competências próprias
para o exercício de uma profissão, e por aí vai, ou vamos. O que não significa
que não precisemos repensar as formações educativas para a empregabilidade.
Dizer que a criatividade individual deve ser substituída pela grupal é
uma falácia. Por quantos , 2 ou 3, quiçá, 4 ou 5, como em projetinho de semana
científica no médio ? Foram necessários 500 engenheiros para a criação do Ipod.
Brilhante de muitos
quilates ele lapidou esta, dizendo que há
um grande número de imbecis em todo o mundo, pois a burrice é mais universal do
que a inteligência e que isso depende de Jesus, não de sociólogos.
Melhor mesmo é sair do
cenário da leitura e ir ouvir Chico Buarque, a quem ele atribui que “Todo o
Brasil é resistente à mudança.”
Isso para, por derradeiro,
quando comenta ter sido amigo de Niemeyer por 30 anos, e que por ocasião de uma
visita ao prédio da Cidade Administrativa do governo de Belo Horizonte, ter
perguntado ao arquiteto por que fizera um prédio tão grande. A resposta
principesca veio logo:
“Por que você não me deu uma aula sobre o
pós-industrial ?”
Bem que podia ter dito a
célebre frase de Michelangelo ao perguntar a um sapateiro o que havia de errado
nas sandálias de uma figura esculpida e o
interlocutor avançou além
da sola e tiras dizendo que o calcanhar, o tendão, etc. etc. estavam
desalinhados, fora de proporções. O mestre não teve dúvida a lascou “O sapateiro não vai além das sandálias”.
Ora, ora.