Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Em setembro de 2014 o portal Universia
entrevistava o Diretor do Minerva Schools, Alex Cobo, que explicava o novo método de ensino online e dava detalhes sobre
a pedagogia que promete ser a educação do futuro.
Pretensões à parte faltaram muitas informações sem quaisquer utopias, ao
contrário, bem realistas de como alcançar uma realidade educacional planetária
que pretende revolucionar a maneira como encaramos o ensino superior.
Ainda em 2014, a cidade de São Francisco
(USA) foi a eleita para receber a primeira etapa do projeto, com os 30
selecionados para a primeira turma da instituição, com proposta de oferecer
ensino de qualidade igual às gigantes do mundo acadêmico, com aulas
exclusivamente online, em condições financeiras mais acessíveis..
Sem mencionar valores, Cobo deixou de
esclarecer que a plataforma de ensino totalmente nova também pretende inovar
enviando seus alunos para intercâmbios semestrais em sete diferentes cidades
mas que será ampliado.
Minerva contraria o dito popular de que tudo
que é grande começa pequeno porque o fundo de investimentos Benchmark injetou
nada menos que US$ 25 milhões. Isso sem falar no modesto prêmio anual de US$500
mil que a Minerva Academy quer entregar
ao melhor professor do mundo, o mais inovador.
A rigor, a Minerva é composta pelas
instituições Minerva Academy, non-profit
(sem fins lucrativos) e a Minerva Schools, que é for-profit(com fins lucrativos).
A instituição tem dois targets de
alunos sendo o primeiro deles do tipo clássico, que tem excelentes notas e se
dedica full time dentro e fora da
escola, cujo objetivo é unicamente estudar nas melhores universidades. O
segundo tipo é o que o inglês chama de “Spike kid” que embora brilhante em
alguma área fica abaixo da média em alguma matéria específica. São pessoas que
não têm um desempenho linear mas dotados de potencial muito grande.
Para o ingresso na instituição não existe
idade limite ou questão de nacionalidade bastando ser aprovado no processo de
admissão ao qual o candidato se sujeita a testes de matemática, inglês e QI,
desenvolvidos dentro da Minerva, aplicados
online com três etapas bem distintas. Na primeira o candidato envia informações
pessoais, as notas de avaliações na escola e as realizações que podem incluir
participação em olimpíadas de matemática. Com esses indicadores seleciona-se
alguns deles para os demais testes que combinados duram cerca de 70 minutos,
feitos em dois momentos diferentes.
O primeiro mede a habilidade analítica e a outra categoria mede liderança,
autoconfiança, motivação, competitividade e a capacidade de atingir metas.
A terceira etapa é uma entrevista com
perguntas baseadas nos exames realizados. Fechadas as três etapas são
encontrados os que têm o perfil da Minerva.
Antes da divulgação dos resultados ocorre uma última avaliação, interna, do
comitê de admissão quando então o candidato
é aprovado ressaltado que para o exame não há o que estudar,
diferentemente de um vestibular brasileiro.
Com a meta de atingir 2.500 alunos
matriculados ainda há muito por fazer e o que vem pela frente pode ser medido
pelo número de inscrições em 2014 que beiraram 2.464 para somente 37 vagas.
A pretensão vai longe ao desejarem receber 20 ou 30 mil candidatos.
O que chama a atenção na proposta da Minerva
é a utilização de uma plataforma tecnológica, o Active Learning Forun e a outra que é pedagógica..
Pela Active, dada a quantidade de
recursos, o docente pode dividir um trabalho em grupos rapidamente. Pode
dividir alunos de perfis diferentes, fazer uma enquete, organizar debates
públicos, etc. Tem-se muita informação ativada pela tecnologia.
Cobo é enfático ao afirmar que ”...indo a
qualquer outra escola é quase impossível que todos os professores tenham o
mesmo objetivo de ensino, não existe uma coordenação enquanto que na Minerva,
uma das aulas obrigatórias é a de comunicação efetiva. Se o aluno tiver
problemas na comunicação todos os seus professores vão saber disso.” Se
continuar indo mal pode se socorrer dos tutores (dean of students) e devem
mesmo pedir a ajuda porque ao longo do curso deverão desenvolver e fazer
prevalecer três capacidades: a análise crítica, o pensamento criativo e a
comunicação efetiva, como hábitos completamente automáticos. Como se percebe, a
instituição somente tem o interesse do aluno à sua frente.
Digno de registro é o fato de que o aluno é
avaliado por uma combinação de trabalhos escritos com a participação em aula
porém não existe o exame tradicional.
Como nem tudo são flores há um lado cinza no
processo já que no primeiro ano a turma é dividida em dois, porque a plataforma
é projetada para dezenove alunos diante de um elenco de 25 a 30 graduações e
assim, se cada aluno resolver uma graduação distinta a Minerva vai amargar um
aluno por turma. Se ao contrário, a maioria tender para única graduação a
instituição deixa na prateleira todas as demais graduações. Enorme problema.
No segundo ano os alunos são divididos em
“cohorts”, baseados nas graduações ou definidos por afinidades entre eles mas
como o curso inova, permitindo ao aluno que no primeiro ano esteja em São
Francisco, no segundo em Berlim e no seguinte em Montevidéu, todo o conceito de
“cohort” fica exatamente por conta do aluno formar seu network, voltado para
viagens.
A partir do terceiro ano, com extensão e
finalização no quarto ano, os alunos têm que desenvolver o Capstone Project, paralelo às aulas, um tanto semelhante aos nossos
TCCs-Trabalhos de Conclusão de Cursos.
Causou estranheza que não ficasse claro se a
Minerva vai constituir pólos próprios nas cidades que eleger abrigar aos alunos
ou o fará com parcerias de outras universidades, públicas ou privadas mas tudo
parece estar sendo pensado em relação à adaptação às culturas uma vez que será
disponibilizada assistência total aos alunos, inclusive com tradutores locais
embora a Minerva vá oferecer o curso de idioma
do país para onde o aluno se deslocar. Não foi deixado de cogitar as
situações de emergência como um problema de saúde, devendo receber atendimento
médico.
Quisemos com este artigo posicionar o caro
leitor numa perspectiva de educação global com tudo que signifique ou resulte
da experiência relatada em mais um, dois, três ou dez anos.
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