sábado, 21 de março de 2015

Galos e Galinhas Ciscando no Fies

Prof. Roney Signiorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

Nunca dê a uma criança sorvete, pirulito ou saco de pipoca
 se em seguida vai decidir retirá-los de suas mãos.

Desde os últimos dias de dezembro 2014, quando foram editadas as Portarias sobre o assunto Fies, ocorreu um alvoroço de alunos, instituições, governo e imprensa, todo mundo, parecendo fêmea no cio com agitação, alteração, inquietação, sobressaltos, açodamentos, precipitações e balbúrdia.
Mais porque ninguém sabia em qual ventre se havia gerado a gritaria.

Simplesmente num governo que “se acha”, ou seja, tem o domínio de tudo, mas com total falta de equilíbrio, de todas as ordens, operando debaixo de erros e erros, principalmente na dosagem. É bebida demais para o balcão das almas...

Mal terminado o ano, diante de um quadro da economia que raspa a 8% de inflação, com rombos fiscais gigantescos, o país paradão, com uma bomba prestes a explodir, a presidente aceita que errou(?) na condução do Fies. “Bella roba! Non preoccuparti, è roba da niente (não te preocupes é uma coisa de nada.). O leitor decide: de nada?.

Hoje estamos à procura dos “culpados” e nisso a presidente tem muito a dizer sobre erros, mas a admissão se restringiu a ter entregue ao setor privado o controle das matrículas universitárias. Como assim? Quer dizer que agora são réus num tribunal de inocentes?

As instituições educacionais administram seus fazeres e não confessionários.
O quadro econômico, mesmo excluindo a corrupção, é péssimo. Ao admitir algum erro de dosagem, não fica claro onde, no quê, em que aspecto e em qual particular isso seria operado.

É simples, a lista de erros é muito maior do que o Fies, passa por todas as medidas em todos os ministérios: um desastre administrativo, federal, com direito a banhos em praias baianas com séquitos e pompas.

O Fies é só um “traque da sogra”, aquela trouxinha que as crianças jogam ao chão e ouvem um estalido imediato. O mais ainda está por vir, chocante e desastrosamente, pela incompetência e pela incúria.

A realidade é que as instituições privadas de ensino, como galinhas vorazes, estão ciscando no terreiro das incertezas pois todas têm um projeto, no mínimo, quadrianual, e com isso todas as reflexões sobre custos, despesas, lucratividade, receitas, amortizações, financiamentos, folhas de pagamento, enfim, todo o ciclópico movimento econômico de uma empresa aguarda solução e resultados.

Não é possível que umas mirradas Portarias Normativas venham a derrubar empreendimentos e projetos de longo prazo, numa simples canetada como se estivéssemos na pérgula de uma piscina palaciana, ao sabor dos drinques de um verão.

Antonio Góis, pelo O Globo, afirma que “p
oucos previram, quando o Fies foi turbinado em 2010 ao facilitar as condições de adesão e pagamento, que os resultados de nossa principal política de financiamento do ensino superior privado seriam tímidos até agora. O diagnóstico de que era preciso ampliar o financiamento para impulsionar o crescimento das matrículas pelo setor privado não era só do governo. Analistas e representantes de universidades particulares também defendiam que esse era um dos principais – senão o principal – gargalo do ensino superior.”

O fato de o Fies ter sido ampliado de R$ 1 bilhão para R$ 14 bilhões desde 2010 hoje privilegia 700 mil universitários, que eram somente 76 mil há cinco anos.

Muitas universidades passaram a incentivar alunos já matriculados em seus cursos a migrarem para o financiamento estatal e fizeram com tal iniciativa, talvez, um desfavor geral, chegando a abusar de propagandas para atrair novos estudantes com a promessa de financiamento de 100% da mensalidade.

Revoltados, os estudantes se viram ameaçados até com o cancelamento da matrícula e indignados não se deram por derrotados. Dormiram na rua para superar a muralha do salamaleque virtual que o governo lhes impôs ao travar o sistema de acesso para pedir ou aditar o contrato. Autêntico golpe, passa-moleque.

Entretanto, a grande miopia não está em dar solução ao impasse criado pelo governo que resolveu num estalar de dedos tirar o sorvete das mãos das crianças, porém, resolver a questão do bônus
demográfico. O desenvolvimento de um país depende da qualidade da formação de seus recursos humanos. O Brasil, para crescer, tem no bônus demográfico seu melhor momento para formar adequadamente as pessoas devido ao maior número de População em Idade Ativa( PIA). A inexorabilidade do movimento dos ponteiros do relógio pode nos deixar na rabeira do foguete. Para espanto geral, o número de concluintes no ensino superior está estagnado em perto de um milhão de alunos nos últimos cinco anos.

A formação de pessoas em nível universitário no Brasil ainda é diminuta e um esforço para aumentar o número precisa ser realizado. Daí as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Para ter-se ideia, o presidente Obama quer encerrar seu mandato com 100% da população entre 18 e 24 anos na universidade.

No Brasil, embora o número de concluintes do ensino fundamental tenha crescido 9%, de 2007 a 2013 as matrículas do ensino médio se mantiveram praticamente estáveis. Em 2012, apenas 1,9 milhão de estudantes estariam aptos aos cursos superiores, mas a população de 17 anos no país é de 3,5 milhões. Ou seja, poderíamos ter quase o dobro de jovens ingressando no superior.

A não ser que o governo tenha outros interesses, escusos, deixe-se claro, sem resolver o problema que se afigura, urgente, em aumentar o número de alunos no ensino médio e em condições educacionais de frequentar uma universidade, quaisquer políticas de financiamentos não mostrarão eficácia.

E mais, não será apenas com os minguados 9% dos estudantes do 3º ano do ensino médio com bom aprendizado em matemática, assim como só 27% com domínio de língua portuguesa, que lograremos um lugar ao sol no concerto das nações.

Vale perguntar por que o governo criou o Prouni, o Pronatec e o Fies senão pela condicionante custo, que sabidamente na iniciativa privada é 1/4 do custo da pública, afora expediente político eleitoreiro/demagógico, como o Bolsa Família.
 
Se o Fies não se sustenta nas pernas, aí tem bom exemplo da fatalidade que pode ser o Bolsa, muito pior pois, se ao Fies corresponde a uma responsabilidade futura de adimplir o compromisso, ao Bolsa só restará o vento.

São muitos os desacertos e os equívocos que o governo vem perpetrando na área educacional que, somados, se afiguram escândalos porque o produto educação não é perfumaria, supérfluo e de descarte. É bem eterno.

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