quarta-feira, 6 de maio de 2015

Inteligência Plena e a Síndrome da Desatenção



Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br

“Nós somos responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas. Zygmunt Bauman em Modernidade Líquida.

A síndrome do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma disfunção cada vez mais presente não só nas escolas, mas também nos mais diferentes ramos de atividade. Quem já não se irritou com um vendedor e atendente que não conseguem “manter o foco” porque estão entretidos com cinco “coisas” ao mesmo tempo?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento no qual se verificam diversos problemas significativos de atenção, hiperatividade ou impulsividade. As causas, segundo especialistas, são tanto somáticas quanto culturais. Há quem acredite que a rotina e o automatismo mental tenham tornado o ser humano distraído e desatento e que a distração torne as pessoas ingênuas e inseguras.
Para o escritor Nagib Anderáos Neto  “A atenção em tudo o que se faz sem o concurso da consciência é inoperante. No entanto, a consciência humana anda muito inativa, escondida, deprimida. Num mundo onde grandes mentiras são tidas como verdades, a ampliação da consciência fica impossibilitada, e a síndrome da distração alastra-se em proporções assustadoras.”

De qualquer modo, psicólogos e psiquiatras asseguram que crianças e jovens com TDAH costumam ser muito criativos, altamente intuitivos, persistentes e resilientes, além de ter incrível capacidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo e, consequentemente, de se distrair. Apresentam, porém, inteligência e capacidade de aprendizado idênticas às de uma pessoa sem essa síndrome, mas é preciso dar-lhes chances para desenvolver-se.
Como o foco da educação tem sido o conhecimento a ser ensinado de maneira mecânica e igual a todos os alunos, sem a devida atenção à individualidade, numa demonstração de total falta de consciência da força que possuem os modelos mentais e da influência que eles exercem sobre o comportamento, muitos alunos atingidos por esse déficit subutilizam sua capacidade intelectiva não só em prejuízo deles mesmos, mas também do conjunto da sociedade.
O livro Inteligência Plena (Artmed), da dupla Robert Stemberg, reputado professor de psicologia, e Elena Grigorenko, é uma obra prática que ensina a desenvolver a totalidade da inteligência, ou inteligência plena, que é, segundo os autores, o conjunto das capacidades de pensamento analítico, criativo e prático. A capacidade analítica tem a ver com a capacidade de observação, atenção, avaliação e comparação; a criativa envolve o pensamento divergente, a inventividade e a descoberta; a prática, finalmente, é a execução, ou seja, a capacidade de aplicar aquilo que se sabe.
Num mundo cada vez mais frenético, Zygmunt Bauman, pensador polonês contemporâneo, constata que a vida na atual sociedade é uma versão perniciosa da dança das cadeiras: o prêmio nessa competição é a garantia temporária de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo. Esse é o paraíso para a TDAH. Porém, no ritmo da “wikinomia” – colaboração em massa através das novas tecnologias de comunicação interpessoal –, a escola tem tudo, para reverter esse quadro, se ajudar o aluno a perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de aprender; proporcionar a otimização de suas habilidades, facilitar o processo de aprendizagem e criar condições de aprender como aprender.
Nesse contexto, conhecer o seu padrão de pensamento pessoal e saber como usá-lo é o primeiro passo para ser um participante ativo no processo de aprender. A compreensão de como podemos lidar com certas características pessoais ajudará o aluno a identificar, mobilizar e utilizar suas características criativas e intuitivas, pois cada um aprende no seu próprio ritmo e à sua maneira. É fundamental que professores estimulem individualmente a inteligência das crianças, empregando técnicas que permitam a cada aluno aprender da maneira que é melhor para ele, aumentando sua motivação para o aprendizado, pois cada pessoa tem de encontrar seu próprio caminho, já que não existe um único para todos.(Stemberg & Grigorenko)
Segundo o escritor Nagib Anderáos Neto, “O desenvolvimento da inteligência exige o adestramento da observação, do juízo, da razão, do entendimento, do pensar. O ser humano não pode se transformar num papagaio repetidor de falas criadas por outros, nem num ser que vive a imaginar coisas que nunca realiza. A inteligência deve ser desenvolvida na realização das principais tarefas de sua vida: evoluir e colaborar com as outras pessoas nesse sentido. Ser inteligente implica ser humano, saber conviver com as pessoas, buscar e ir encontrando a felicidade através da vida”.
Estamos no século XXI, momento em que há toda uma rede inteligente que ultrapassa a mera estrutura que lhe serve de base. Há hoje uma verdadeira infosfera que liga, colaborativamente, todos os seres humanos, partilhando inteligência, conhecimentos e ideias e, quem sabe, fazendo o homem mais humano.
Muito antes, em 1902, o pediatra George Still descreveu pela primeira vez em um jornal médico – o Lancet – a TDAH. Os dois assuntos, parece-me, são irmãos siameses, ou seja, um depende de algum órgão que só o outro tem. Mal comparando, o que abunda em considerações sobre a Inteligência Plena, enaltecendo-a aos píncaros do pleno, falta ao portador do Déficit de Atenção. Assim, não se completam nem se complementam e os atingidos pelo déficit são milhões no mundo, incapazes do exercício da inteligência na plenitude. Outros tantos milhões ou bilhões, que não padecem do défict nem por isso utilizam suas capacidades intelectivas para o bem de tudo e de todos.
A inteligência pressupõe o exercício de diversas funções mentais que podem se complementar em mútua colaboração: recordar, observar, refletir, pensar, julgar, raciocinar, imaginar, combinar. A inteligência é a faculdade maior que se resume no funcionamento harmônico das mencionadas para o bem e superação do indivíduo, o que, em geral, não acontece.

Psicólogos e psiquiatras asseguram que crianças e jovens com TDAH
têm alguns diferenciais impressionantes como:
Há muitos talentos criativos, que geralmente não aparecem até que o TDAH seja tratado.
Demonstram ter pensamento original, "fora da caixa".
Tendem a adotar um jeito diferente de encarar a própria vida. Podem ser imprevisíveis na maneira como abordam diferentes assuntos.
Persistência e resiliência são suas características marcantes - mas, às vezes podem parecer cabeças-duras.
São geralmente muito afetivos e de comportamento generoso.
São altamente intuitivos.
Com frequência, demonstram ter uma inteligência acima da média.
Foca-se em apenas uma área para se concentrar, geralmente algo que o agrade (ex: cinema, videogame, etc.)
Possuem um grande senso de humor.

A seguir, alguns problemas dos acometidos pelo TDAH:
Grande dificuldade para transformar suas grandes ideias em ação verdadeira.
Problemas para se fazer entender ou explicar seus pontos de vista.
Falta crônica de iniciativa.
Humor volúvel, da raiva para a tristeza rapidamente.
Pouca ou nenhuma tolerância à frustração.
Problemas com organização e gerenciamento do tempo.
Necessidade de adrenalina. Inconscientemente, podem provocar conflitos apenas para satisfazer essa necessidade.
Tendência ao isolamento e busca por atividades solitárias.
Raramente conseguem aprender com os próprios erros.

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