quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Cada um tem a internet que deseja



Você é livre para fazer suas escolhas,
mas é prisioneiro das consequências.
Pablo Neruda
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional 
signorinironey1@gmail.com

Pensar na web exige um engajamento dos interlocutores em rede. Não dá pra achar que a informação corre solta e se multiplica como um viral a cada momento. Viralizar um assunto depende principalmente do engajamento das pessoas pelo assunto. Assim, muitas vezes é mais fácil viralizar bobagens do que assuntos mais sérios. As pessoas preferem informações efêmeras, que se desmancham no scroll da timeline. É incrível mas é a real.

A promessa da Internet sempre foi o ir e vir, o vai e volta, a possibilidade de postar ideias, debater e fazer do conhecimento um agente de transformação da sociedade. Avançamos bastante desde que os cabos conectaram os computadores e criaram essas redes tão potentes. Mas a revolução digital deu uma estancada. Talvez pelo crescimento de um uso, de certa forma indevido, que é provocado pelas empresas, pela política e pelo marketing. O desejo ou intenção é apenas que a informação emitida alcance o máximo de pessoas.

As informações contraditórias, o excesso de mentiras, os fakes são todos criados para confundir. Onde está a inteligência coletiva? Cadê a revolução não televisionada? Por que será que as propostas para um mundo melhor não deslancham?

A entrada da internet provocou transformações tão importantes que se tornaram imprescindíveis. No entanto, o resultado dessas transformações promove o escalamento das relações. A multidão inteligente e conectada se articula em torno de interesses comuns.

Conforme HDDimantas (https://medium.com/@hddimantas), “ ela nos traz a ideia de impermanência. Os movimentos acontecem para serem implodidos e reconstruídos sob uma nova direção, ou não. E assim caminha a humanidade. Não temos mais líderes. Somos uma sociedade cada vez mais gasosa. Baumann  está com a palavra, a de uma sociedade liquida. No entanto, o liquido pressupõe uma acomodação, uma represa que retém o crescimento. Uma sociedade gasosa não precisa de um receptáculo, a interface se torna a relação de todos com todos e se expande.

Vivemos num mundo onde as relações entre as pessoas promovem novas formas de aprender e ensinar. As relações cada vez mais enredadas, a exposição e a documentação das nossas ideias e a capacidade de processamento que a tecnologia proporciona traz novas possibilidades para os criativos. Cada vez mais poderemos precisar menos das instituições formais para estar antenado com o que acontece no mundo. Qualquer um pode construir o que quiser simplesmente acessando o conteúdo disponibilizado e distribuído em rede.
A realidade é de cada um, múltipla e, de certa forma, não faz julgamentos. Atua tanto para o bem, como para o mal.

As redes sociais se tornaram fundamentais e um alimento importante para novas pesquisas, como as realizadas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). A equipe do DAPP (Departamento de Análises de Políticas Públicas) é uma das instituições mais respeitadas que faz o monitoramento das mensagens nas redes.
A capacidade de organização popular também avançou muito com as novas mídias. Os protestos de 2013, por exemplo, foram principalmente organizados pelas redes sociais. O Facebook e o Twitter aumentaram a efetividade desses protestos. Mas, é bom frisar que as conversas e postagens não criam os protestos, apenas polarizam o debate.

Existem hoje vários sites de “ajuda” e compartilhamento[1] que estão dando trabalho aos destinatários porque se apresentam com milhares ou milhões de assinaturas reforçadas por dados de origem como nome, endereço de e-mail, IP, localidade, etc. Os assuntos, dos mais diversos, são uma estocada em empresas, instituições, governos, departamentos. Quase todos oferecendo uma bofetada em quem não quer atender, por exemplo, algum remédio na prateleira da Secretaria de Saúde, alguém inconformado com a proposta de algum deputado ou senador, um Ministério que não cede à reivindicação de atender um cidadão em algum reclamo. Ou seja, a internet se transformou em grande tribuna de reivindicação.

Muito em breve também vai chegar ao inimaginável, ao Congresso, às Assembleias, às Câmaras, aos gabinetes, a muitos setores/departamentos públicos que hoje insistem em ser cabide de emprego, albergue de desocupados (pra não dizer incompetentes), centros de compadrios inaceitáveis. Os Amigalhaços.

Zuckerberg diz  que o futuro pertence aos "grupos significativos” e que  eleitores e eleitos estarão mais próximos do que nunca, escutando-se mutuamente(?). Tradução: se "a tirania da maioria" aprovar atos de barbárie, o político, para ser eleito, claro, defenderá atos de selvagerias.

Os mecanismos de mediação que as democracias liberais sempre defenderam (tribunais, parlamentos etc.) poderão ser derrotados em nome da "vontade geral", uma categoria sinistra que Rousseau[2] deixou aos seus discípulos.

Montesquieu, outro pensador  francês acaba de ser esmurrado e vai à lona, supondo-se que os três poderes e a separação deles poderão inexistir como hoje os conhecemos e exercitamos. Convém lembrar que o
conceito da separação é um modelo de governar cuja criação vem da antiga Grécia.
Em outras palavras, estariam nas entrelinhas a possibilidade de todo o exército de senadores, deputados federais e estaduais, além de vereadores não terem mais porque se preocupar indo às suas sedes para “trabalho”, debaixo de um preço insuportável para a nação ?

Zucker estaria dizendo que todos esses representantes do poder legislativo não precisariam mais sair de suas casas em razão das presidências desses parlamentos poderem estar a conduzir todo o seu “labor” atrás de ferramentas como uma câmera do Skype, por videoconferência e capturando os votos de seus pares também via virtual ? Cabe uma pergunta de abalar os nervos: Zucker conhece os nossos números de “representantes do povo” pelo país, nas esferas federal, estadual e municipal?
Vamos adiante.

Como aqui não há profecias mas um proveitosa reflexão para compartilhar com meus leitores, via Facebook ou não, essa ideia de retirar de suas cadeiras “cativas” todos os parlamentares não é de todo absurda. Só imaginando, por que cada um deles não fica em suas residências ao convívio familiar abrindo mão de tudo que envolve sua presença no local de “trabalho” como passagens, veículos à disposição (chofer, combustível e demais), moradias funcionais, etc. etc.

Pode se inferir disso que numa outra ponta estaria o eleitor participando ativamente das decisões de governos, atuando como autênticos membros dos “grupos participativos, ou melhor, significativos”.
Uma condição é certa, A tecnologia vai deixar momentos raros da vida para trás...Atenção, geração on-line, os “cabeça baixa”, porque só olham para as telinha dos smartphones.

O novo mundo da comunicação deve ser mostrado às novas gerações que estão muito ligadas na tecnologia, assim como nós, adultos, cada vez mais viciados nos celulares e redes sociais. Essas novas tecnologias mostram que, ao mesmo tempo que elas nos aproximam, também podem criar um grande abismo entre as pessoas.

A ordem do dia bem podia ser "Olhe para cima", erga a cabeça e tire os olhos do smartphone, uma lição que precisa ser aprendida em um mundo onde continuamos a encontrar maneiras de tornar mais fácil se conectar uns com os outros, mas que sempre resulta em gastarmos mais tempo sozinhos.

HDDimantas, em seu artigo “O Equívoco do Século 21”, já disse que  as pessoas não estão entendendo as redes sociais. Por um lado é ótimo colocar nossas ideias, imagens e qualquer coisa que motive uma conversação em rede. O século 21 é o paraíso para os amadores poderem soltar o verbo, clicar com os celulares e remixar o universo. Por outro lado, existem os profissionais,. aqueles que não entenderam a virada da chave da tecnologia. Acham que são os detentores do conhecimento e da exatidão da técnica. Mas tem gente que continua a viver no equivoco do século 21.

O que a moçada do Facebook não considera é que “curtir” é um apoio não muito sincero para os posts, imagens, vídeos explodindo  na tela. É como uma ferramenta de profusão de afetos, talvez hipócritas.  Curtir não é sobre audiência. É sobre relação.

[2] Filósofo iluminista. Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade de Genebra (Suíça) e morreu em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França). Rousseau entende a “vontade geral” como a vontade do corpo político que se assume arbitrariamente como intérprete da vontade do povo, na medida em que Rousseau considera a sociedade civil como uma pessoa e com atributos de uma personalidade que inclui o atributo da vontade. Em sua obra prima, O Contrato Social, Rousseau dizia que para preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade isso só seria possível através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.

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