quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Com a Mão de Gato



                                    A capacidade é saber cada vez mais sobre
cada vez menos, até saber tudo sobre nada.
Millôr Fernandes
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
Sou grande admirador das teses contrárias, aquelas que surgem para bater no autor e na obra. Opor contraditórios (réplicas) é uma realização. Ulysses Guimarães se opunha visceralmente à idéia de bater no autor.

Nos meus quarenta anos de magistério superior tenho o hábito da leitura de clippings educacionais, com real interesse nos redigidos de forma peculiar que muito criticam, com linguagem pouco comum ou admissível entre intelectuais.

Não vai aqui nenhuma ironia mas maquiar verdades é insano. Para eles, falar é fácil quando o difícil é fazer. E tudo indica nunca fizeram nem farão. Há campeões de publicações, alguns excelentes especialistas em generalidades. Sem parentesco com felinos, com todo o respeito, exacerbam nas análises e críticas sobre os mais variados temas. Parecem não querer generalizar, servindo a quem queira vestir o chapéu, por temor de individualizações. Mas, quando o assunto é educação é preciso apontar.
Incomoda-me, e muito, quando associam o magistério ao sacerdócio, não porque seja minha profissão uma das que mais exigem dedicação, mas, sobretudo, porque na comparação estão implícitas as ideias de abnegação e desinteresse pecuniário, como se o professor devesse sobreviver na ascese.
Acredito que do mesmo incômodo padeça o Ensino Superior Particular Brasileiro (ESPB). Bem-vinda seja a lógica protestante calvinista, segundo a qual a obtenção do lucro não é vista como algo condenável. O ensino particular, todo ele, comporta-se no mercado da mesma forma que qualquer outro setor econômico. E não poderia ser diferente, afinal são empresários, visam ao lucro. Mas não por isso podem ser classificados de “predadores”, sobretudo num momento do planeta em que se pensa em sustentabilidade e em colaboração e em que as IES particulares cada vez mais repensam seus projetos pedagógicos e investem em tecnologia no objetivo precípuo de formar cidadãos éticos, responsáveis e capazes.
O Ensino Superior Particular Brasileiro está presente onde a oferta pública, sabidamente, deixou vazios seja pelo número de vagas oferecidas, seja pelo sucateamento de instalações, seja pelas inúmeras greves docentes.

Se não fosse o ESPB, muitas famílias não teriam, desde meados dos anos 70, seu primeiro membro formado numa faculdade. Há milhões de alunos nessas condições, que continuaram seus estudos numa pós-graduação e hoje fazem parte de uma massa crítica louvável e invejável.
Se não fosse o ESPB, para onde iriam os egressos do nosso combalido Ensino Médio Público? Teriam eles chances de conhecer o novo, o diferente, de descobrir-se e de descobrir o mundo?
Dizer que os professores do ESPB não têm qualificação nem credenciamento é generalizar e ser injusto com uma massa enorme não só de “velhos”, mas também, e sobretudo, de jovens educadores, todos eles, preocupados com sua formação e, não se pode negar, tentando uma carreira na universidade pública. Enquanto o “bilhete premiado” não chega (e talvez nem chegue), é no ESPB que dão o melhor de si e facilitam o “caminho das pedras” a uma legião de alunos que, sem eles, talvez nunca pudessem sair de sua “vila”, no sentido de qualificar-se como pessoa e como profissional.
Falar da unidade setorial: é possível? Se ela não existe, e não é o
constatado, tal condição é presente em todos os setores/áreas de atividades
nos quais crassam desigualdades, diferenças e antagonismos no velho jargão de interesses contrariados, inimigos feitos. Não existem grupos sociais “unidos” embora todos professem a necessidade de coesão.
Haveria possibilidade de um projeto próprio e diferenciado? Próprio todos têm com a busca e finalidades precípuas, algumas de mais fáceis conquistas e outras nem tanto. Na educação particular a meta é exatamente no tocante ao que o poder público não atende. E não cabe aqui explicitar motivos e razões de
todas as ordens, que a história da educação brasileira evidencia robustamente.
Mas cabe perguntar se a referida unidade (corporativa) existe na universidade pública?

Por oportuno, cabe lembrar que particular/privado tem suas características jurídicas e bem diferentemente as de cunho confessionais ou fundacionais, bem como as filantrópicas. E cada uma é cada uma. Não consta que financeiramente as PUCs vão muito bem, obrigado. E por que ?
Concorrência é uma palavra que estranhamente não soa bem na educação, contrariamente a existente em outros ramos de atividades e nem sempre é possível conhecer os PDIs de todas as IES, de certa forma avalizados pelo CNE e/ou MEC, com seus objetivos e missões institucionais. E ao que se sabe com vitalidade mas padecendo com egressos do médio, um grupo que aspira o ingresso na universidade e que todos conhecem sua formação.
Se o ESPB mais não faz, lembrando o dito por ministro da educação, a questão
do ensino brasileiro não é de verbo mas de verba. Com insuficiência de recursos qualquer atividade não prospera e a classe média, com parcos salários, faz o impossível para acessar estudos superiores, ainda que com baixas mensalidades. Se para o que não tem solução solucionado está, de parte do alunado restam alternativas de pegar o que está ao alcance das mãos.
Quanto aos corpos docentes, corporativamente, não há dúvidas de que se trata de uma luta de classe e como tal deve ser conduzida.
Às IES resta assumirem dignamente suas missões, sem aviltamento dos seus negócios, sem temeridades no trato do empreendimento, que também como tal, deve ter sua linha ética responsável quanto à essência de seu objeto.
De resto, as entidades de classe dos professores e de mantenedores cabe avocar e apropriar-se com retidão frente a realidade, às vezes confrontada com o ensino público, ressaltando que uma coisa não é outra coisa..  

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