terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Pretendendo Desancar o Prouni!?



Conforme o Houaiss, o verbete desancar implica
       derrear com golpes nas ancas; descadeirar
bater violentamente em; espancar, surrar
       aplicar em (outrem) [surra, chute etc.]
trazer abaixo; derrubar, vergar
fazer críticas ou acusações severas a; reprovar veementemente
Ou seja, é um verbo pra lá de “poderoso” não é mesmo ?


Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
roney.signorini@superig.com.br
]
Foi o que pretendeu o sociólogo, doutor e professor Wilson de Almeida, da USP, na sua entrevista à Carta Capital, publicada em 19/12/2014 com o título Prouni criou milionários em troca de má qualidade na educação, na qual são questionados os incentivos públicos à inclusão de estudantes de baixa renda em universidades privadas que ofertam ensino "pasteurizado"(?).
A entrevista foi coligida por Marcelo Pellegrini.  
Da leitura, infere-se um volume grande de incoerências, pois o entrevistado saiu deitando vara torta de marmelo na iniciativa privada da educação que “se locupleta(ria)” de um serviço que não oferece. Não à altura do desejável e necessário. A entrevista pode ser acompanhada no link
E dá-lhe malhação: foi campeão na semana pela conquista de 110 comentários, a favor, mas também contra. É aquela situação dos cinco minutos de estrelato que não trazem soluções senão a evidência da  síndrome do spot light ligado sobre a cabeça.
O professor não deixa de ter sua razão, mas, como sempre, e daí?
Se vale a pergunta, o ferino das colocações é mais para as escolas ou para o governo, como quem bate e assopra ?
Aliás, di più o meno male eis que surge a PORTARIA NORMATIVA Nº 1, DE 2 DE JANEIRO DE 2015 para Regulamentar os processos seletivos do Programa Universidade para Todos - ProUni. Norma quentinha já com a grife do Ministro Cid Gomes, que por certo é mero fiador ou avalista sem conhecer o afiançado ou avalizado. Fato comum entre contratantes nacionais. Isso sem falar nas Portarias editadas no apagar das luzes de 2014, as de nº 21-22 e 23 que tratam do Fundo de Financiamento Estudantil(Fies) para o qual, agora, só é aprovado quem tiver obtido 450 pontos no Enem.
Ao criar o programa, o que quis o governo senão resolver um problema todo seu de levar estudantes ao ensino universitário quando sabidamente não consegue fazê-lo para suas próprias escolas federais e daí contar com uma parceria preciosa do ensino privado? Assim não fosse, como seria?
Como solucionar a sua declarada falência quanto à formação básica (fundamental e médio), e com isso deixar os candidatos sempre à espera da abertura da janela universitária, sem qualquer perspectiva de sucesso?
O Prouni é isso mesmo: o atalho para uma formação e atingimento de mercado de trabalho sem uma formação excelsa, mas de qualidade. Essa ao menos é a proposta dos cursos, independentemente da qualidade dos egressos do básico.
Melhor dizendo, a escola conta com a parceria indulgente do empresariado que “assume”, assim, o envernizamento da madeira.
Na universidade melhor não foi possível fazer, em dois ou quatro anos na formação, mas há deficiências e como na corrida do bastão, cabe levar adiante.
Quando não, é a competição do revezamento que as federações da indústria, do comércio e similares “poderão/deverão” assumir pois foi feito o “impossível” pelas escolas, na interpretação rígida do que o próprio comércio ou indústria conhecem: matéria prima ruim, de carregação, não dará bons resultados, mas aceitáveis.

Como justificar os incríveis erros no Enem, no Enade e semelhantes que persistem nas medidas avaliativas sem ouvir as críticas da comunidade dos que fazem a educação, os fazedores?

O fato é que, numa proposta de avaliação desse programa Prouni, é preciso fôlego para entender os meandros e não basta ser doutor em Sociologia, mas algumas condições além, como experimentação, vivência de campo, prática educacional aplicada, saber pedagógico e didático, enfim saberes que se somariam à análise.

Por que o aluno Prouni vai para a iniciativa privada? Por que o ensino público não o recebe pela mão de vestibulares absolutamente impossíveis de superar?
Quem são esses candidatos senão uma grande maioria do ensino público básico absolutamente falido? O que fazer com esse contingente? Deixá-lo à margem do processo e não incluí-lo no universitário ou tecnológico?
Como em passado distante, quando era preciso se prestar um processo de admissão ao ensino ginasial?

O professor Wilson tem entre seus pares centenas de professores ministrando a mesma ou outra disciplina nos currículos dos cursos. Então, eles estariam reprovados como incapacitados ao magistério ou a questão / problema está aquém do momento universitário, no Básico?

O Prouni não criou milionários, mas milionarizou milhões de cabeças e inteligências dispostas a se entregarem à educação e ao ensino porque se recusaram a ter portas fechadas e sim derrubá-las com os pés da oportunidade.
Desde 2004, hoje já beiram 2 milhões de criaturas com alguma formação, portanto, não os apupos mas as palmas ao governo e às privadas com a medida.
Ainda que a “matéria prima” (os egressos do Básico) ingressante na universidade, sobretudo porque o Prouni existe, além do Fies, tenha se utilizado de apostilas e continuam com o uso porque só sabem manusear esse tipo de leitura.
Na entrevista, salta a figura do ensino privado lucrativo que se diferenciaria das outras instituições “privadas” como as fundacionais, as confessionais, autarquias e tantas outras abrigadas ao direito civil que cobram mensalidades mas cujo lucro mão é revertido para os proprietários e herdeiros(?) É de se supor que estes tenham algum outro negócio/comércio pois não viverão de vento: autênticos filantropos no contraponto dos misantropos vorazes e cruéis que exploram a sociedade civil, exaurem seus patrimônios como predadores da ingenuidade, inocência e candura.
Essa é a questão que proposta, de certa forma, em ensaios de liberalidade da educação no regime militar não tivessem sido antes, muito antes, postas em ofertas e executadas.
Na entrevista, bem que poderíamos ter sabido quantas e quais instituições educacionais lucrativas existem no EUA, França e Inglaterra, além da Alemanha e Suécia, para não dizer no Japão e China. Por que não ?

Cabe a pergunta, para quem come chuchu e arrota peru: por acaso a Estácio de Sá agrediu algum dispositivo legal de nossos códigos quando procurou pela medida de conversão de filantrópica para entidade com fins lucrativos ? Algum crime ou contravenção ?
Com absoluta certeza o entrevistado ainda não captou a que vieram as instituições particulares de ensino, ou seja, resolver o dramático problema de educação do básico, seja a que nível for: federal, estadual ou municipal, por onde transitam incompetências, incúrias, favorecimentos, etc. etc. Chega ao enojado de cumplicidades e continuidades, governo a governo, sem um “basta”. Mas isso não é tudo porque vamos continuar por décadas no lengalenga de jogar as culpas em cima das camisetas dos “sub 20” para os profissionais.
Alguma dúvida que as particulares desejam(riam) receber a crème de la crème da educação do básico e aí sim mostrar o seu potencial de empreendedor ?
Em algum momento demonstraram negativa a isso senão sempre perpetrarem que o governo precisa urgentemente resolver a qualificação da docência do básico. Que passa pela proposta parcial ou integral, alteração curricular e programática nos cursos ?
Pelo velho ditado, a solução é mais embaixo e o poço é fundo.
É estanho, pra não dizer fantástico, que o lobby  privatista  no Congresso conte com pessoal tanto da oposição quanto da situação. Aí tem !

Com todo o respeito à inteligência da entrevista, se faz necessário algum reparo ao foco principal que é o brasileiro estar na escola e pronto para os desafios do século, com todas suas envolvências.
Tomo a liberdade de sugerir que o mercado possa identificar a origem do graduado, seja pelo Prouni ou Fies e demais com a aposição de carimbo no Diploma e Certificado. Por que não ? Afinal a sociedade precisa saber que ali está um modo de contributo, transparentemente.

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