segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Fazemos muito pouco pela inovação educacional no país



Inovar é fundamental para acompanhar o
tempo e não ser devorado rápido por ele.    Jaime Leitão
[1]

Recentemente o Diário do Povo, de Curitiba, publicou excelente material contando com vários depoimentos de experts em inovação como André Vidal Perez, professor da FGV, Elenice Novak, diretora da agência de inovação da UFPR, Gilberto Branco, diretor da agência de inovação da UTFPR e Pammella Kawase, orientadora pedagógica do Sesi Internacional, também do Paraná. A autora do artigo Por que o ensino no Brasil forma pessoas pouco inovadoras?, Denise Drechsel, conseguiu reunir unanimidade que a situação no país está, sim, a exigir muita atenção, muitíssima, se não quisermos ficar mais para trás do que já estamos.
À medida que o tempo passa, vamos repetindo Sísifo subindo com uma pedra morro acima, que rolava morro abaixo para repetir a sina todos os dias. O motivo: mentiu.
Perdemos oportunidades atrás de oportunidades com os PNEs (Plano Nacional de Educação) e agora possivelmente deixaremos escapar pelos dedos a análise do Currículo Nacional.
Que os egressos do ensino básico (fundamental e médio, sobretudo) chegam às portas das universidades muito mal preparados para o enfrentamento das “dificuldades” universitárias, é situação sobejamente conhecida, discutida à exaustão e até aqui irreversível. Que digam os professores que recebem os calouros, em quaisquer cursos, cuja falência formativa se estende ao longo das graduações, sejam quais forem, em exatas, humanas e ciências.
Depois de passarem quase dez anos, para finalmente bater na porta do vestibular, poucos são aqueles que carregam algum estofo cultural, intelectual somado às condições de proatividade, iniciativas, aderências de criatividade e tantos outros atributos que permitiriam ao discente ter plena capacidade para evolução mais rápida e mais acertada no mundo globalizado.
Para a expressiva maioria (dos alunos e dos cursos, diga-se de passagem), basta acertar um mínimo de respostas, e é só o que interessa, para aprovação pois a meta é o ingresso, a qualquer custo. Nas federais e estaduais um pouco mais complicado, porém inclusive ajudados pelas cotas. Ou seja, adotam um teto baixo de conhecimento e de atuação na sociedade. Afinal, quando somados no percurso da educação básica, passaram vários meses sem aulas, por “n” motivos, justificando a precariedade de conhecimentos.
No tempo, que na universidade já é exíguo, a instituição ainda tem de assumir um papel que não é dela, porque precisa estruturar um sistema de “reforço” na tentativa de trazer o aluno um pouco mais perto do que ele verá ao longo do curso escolhido. E quanto a isso outro grande problema se afigura: até onde a “escolha” foi acertada? Prevaleceram facilidades de oportunidades no ingresso ou foi por efetivo desempenho seletivo?
Já na universidade, afora os desajustes de conhecimentos, não trilham o caminho do ensino de sucesso com propostas de empreendedorismo e inovação e assim vão claudicando, ano a ano, série a série para cumprir um currículo no mais das vezes desatualizado, anacrônico, sem as habilidades e competências tão desejadas e necessárias para o mercado de trabalho atual.
Afora a pouca ou nenhuma educação propiciada a esses jovens, alguns ainda caem na esparrela de cursinhos preparatórios que só bitolam e robotizam “ensinando” como sair das armadilhas, das pegadinhas do caderno de questões.
Quando se dão conta de que para sobreviver no mercado é preciso desenvolver habilidades diferentes sem as quais nunca alcançarão os postos desejados, é tarde e é passado. Perdeu-se tempo precioso da vida e do contexto sócio-econômico-cultural em que os egressos vão inserir-se.
Aqui, talvez, porque bate o desânimo e o desestímulo, atraindo o fracasso, esteja um real motivo de desistência e evasão, afinal, profissionais despreparados não transformam o país, que precisa de homens e mulheres não para dançar ao som de liras, mas para marchar ao rufar de tambores.
Quando não se estimula o jovem a ter uma postura proativa, o resultado é encontrar profissionais que só resolvem problemas quando é preciso ter capacidade, percepção e aplicar iniciativas para fazer melhor. Lamentavelmente isso não é comum no brasileiro, questão de cultura (?). Nosso mundialmente afamado “jeitinho” só conserta o problema que poderia ter sido detectado no nascedouro, se houvesse proatividade, e resolvido antes de instalar-se e exigir a “gambiarra”.
O interesse por inovação na educação superior foi despertado pelo contato recente com palestras, artigos, livros e projetos sobre o assunto, com diferentes conotações, a saber: utilizar novas tecnologias de informação e comunicação na prática docente; prover os alunos de computadores para suas anotações e trabalhos escolares; dispor de laboratórios de informática; substituir aulas expositivas por trabalhos em grupo; trabalhar com ensino a distância.
É preciso refletir sobre o ensino na universidade, mas claro, abordar também a educação básica, levantando algumas questões e visando contribuir para o debate atual sobre o tema, a partir do conceito de inovação na educação superior, entendida como o conjunto de alterações que afetam pontos-chave e eixos constitutivos da organização do ensino universitário provocadas por mudanças na sociedade ou por reflexões sobre concepções intrínsecas à missão da Educação Superior.
Vários autores laborando em Administração têm colocado a questão da inovação na pauta de debate atual sobre a crise das organizações sociais. Peter Drucker é incisivo ao afirmar que nos próximos 50 anos as escolas e as universidades sofrerão mudanças e inovações mais drásticas que nos seus últimos 300 de informação e comunicação, a informática e a telemática, a perspectiva da aprendizagem contínua, ou seja, da life long learning, têm criado novas demandas sociais, exigindo das organizações respostas inovadoras, uma vez que as soluções antigas já não se mostram suficientes e adequadas.
Por via de consequência, a inventividade e a criatividade estão ao alcance das mãos para resultar em novos paradigmas educacionais e de tal sorte que deve surgir um movimento nacional, espontâneo, dirigido à autonomia docente e discente abraçando o novo, único bastião de sustentabilidade para o futuro.

[1] Jaime Leitão é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

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