domingo, 25 de setembro de 2016

(in) Aproveitável TCC ( ! ? )



Sonhos determinam o que você quer.
Ação determina o que você conquista.
Aldo Novak

Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na universidade, parece, pegou mesmo, nas públicas e nas particulares, em todos os cursos, e raro quem não o aplica regulamentadamente.
A sigla ganhou irmão siamês com Terminal de Carga Comprometida (TCC) e por certo tem lá seus motivos e razões, pois a expressiva maioria dos TCCs não tem qualquer aplicabilidade, usabilidade e é descartada ao virar do ano letivo.

E há nisso um desperdício monumental de todo mundo, alunos e professores, quando, se ao contrário fosse, seriam um extraordinário portfólio para os egressos dos cursos universitários. Com o TCC podem(riam) se apresentar frente a Recursos Humanos (RH) e começar por se oferecer no mercado de trabalho. Ou seja, podem(riam) levar na pasta um produto inovador ou uma minidissertação, esta, aliás, como um primeiro degrau de encaminhamento para um MBA ou Mestrado stricto sensu, no percurso da educação continuada. Com isso, milhares de folhas sulfite impressas com alguns litros de tonner/deskjet acabam indo para vala comum após o consumo de dezenas de horas de “dedicação” à obra prima, sem qualquer serventia e uso, seja na comunidade, seja nos mercados ansiosos por inovação. Fora as capas duras, o cabelo da mamãe feito na cabeleireira do bairro e o terno do papai bem passadinho, com vincos e tudo o mais, para a “grande apresentação”. Um desperdício sem conta que se arrasta por anos.

Apropriação de uma carga horária no currículo que poderia ser destinada a uma disciplina efetivamente útil à formação ou bem aproveitada no escopo do TCC, claro, mediante uma severa observação e  proficiente condução de parte dos docentes orientadores. O quadro indica um corporativismo muito grande na base do “eu engano que ensino e você engana que aprende”.

Pelos poucos resultados efetivos, ou melhor, nenhum, levando-se em conta que o ultimoanista tem um semestre para desenvolvê-lo, mas antes tem uma carga horária, digamos, de pré-requisito para definir o tema, receber a orientação do docente encarregado de conduzir o trabalho, a escolha da bibliografia, etc.
Supondo-se que a confecção do trabalho se dê no oitavo semestre, no sétimo é frequente a presença das disciplinas Metodologia Científica e Planejamento de TCC, e convindo com a lógica, nada mais correto para preparar o aluno e assim conduzi-lo com sinalizações de critérios.

Afinal, é voz corrente que o TCC é o clímax do curso, o apogeu que tudo mostra e demonstra na proposta de ensino-aprendizagem. Algo como “Eis aqui tudo que me foi ensinado, tudo que aprendi”.
Inteirei-me de centenas de TCCs, principalmente nas décadas de 1990 e 2000, cujos conteúdos mais pareciam um projeto experimental, aninhado numa iniciação científica. Um produto meio híbrido cuja consequência era a de apresentação com certo formalismo que inclui(ía) uma banca examinadora composta do professor orientador, um convidado externo e outro convidado integrante do corpo docente da escola.
O trabalho, individual ou grupal (neste particular limitado a até três colegas[?]), impresso e encadernado, via de regra, era deixado com dias de antecedência ao membros da banca para a leitura, anotações e eventuais questionamentos.

O grande dia, num auditório da escola, pronto e preparado para o grand finale, recebe(ia) parentes e amigos do(s) expositor(es), tudo com certa solenidade, iluminação adequada, sonorização afinada e lá iam espaço adentro, para a apresentação, limitadamente a um determinado tempo, parte a parte. Uma performance um tanto teatral ou circense. Funambulismos no canto, de quem anda sobre arame ou corda, em geral, o tema é decepcionante, sem empregabilidade no mundo real do trabalho. A escolha do elaborador do TCC e pior ainda, a concordância do docente orientador, é de uma insignificância muito grande quando temas aflitivos na sociedade, em todas as áreas, clamam por estudos e pesquisa. Ou seja, desinteligência gigantesca.

Então, para que serve o TCC no conjunto da matriz curricular de um curso?
A resposta me parece óbvia, pois a conclusão do curso deve se dar após a exaustão de todo o currículo, o que pode ficar próximo de 35 a 40 disciplinas que dominaram os estudos com as exigidas trans-interdisciplinaridades. Ou seja, é a razão da composição holística do projeto, do Trabalho, tangenciando todas as riquezas conteudísticas ofertadas ao longo do curso.
Os TCCs, se pensados com consequência(e ouso dizer, com mais seriedade) devem(riam) servir para dois propósitos.

O primeiro, é a apresentação de um produto inovador no mercado. O estudante teria, então, durante todo o processo de desenvolvimento, a orientação do seu professor e uma banca capaz de apontar fragilidades e boas ideias para que o aluno burile o seu objeto. Na Europa, percurso inverso,  universidades existem que não propõem vestibular para ingresso mas a apresentação de um projeto exequível / executável para ser trabalhado ao longo do curso. Se não tem futuro “é reprovado”.

O segundo seria a continuidade da educação. Há alunos que não querem ir para o mercado sem antes cursar um pós-graduação. Sua monografia (orientada e julgada do mesmo modo que o produto) pode ser o seu projeto de dissertação de mestrado.
Incomoda muito a incapacidade de leitura do mundo, o distanciamento da competitividade, a desconsideração da globalização, a cegueira do inevitável
no confronto da criatividade.

Então, as respostas dessa dissociabilidade estão na orientação docente ou na resistência discente que insiste em adotar a mesmice, o descomprometido, o "laissez faire, laissez passer"?
Fica aqui um grito de utilização, a docentes e discentes, que se ocupem com o que a contemporaneidade está cobrando das mentes e inteligências atuantes: a utilidade decorrente da inovação e da criatividade, como dominantes e preponderantes na circunstância educacional de resultados, é o que importa e interessa.
Está mais do que na hora de se parar de perder tempo, papel, impressão e demais na montagem dos TCCs sem antes focar-se na utilidade.

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