Experiências em cidades brasileiras mostram que professores e diretores
escolares estão, aos poucos, aprendendo uns com os outros a melhorar a
qualidade da educação. Falta o Ministério da Educação aprender a lição.
Leo Branco (jornalista da revista Exame, na reportagem Quem copia melhora (17/08/2016)
Leo Branco (jornalista da revista Exame, na reportagem Quem copia melhora (17/08/2016)
Peças
teatrais ou filmes com natureza tragicômica deixam o espectador sempre
dividido, ao final da sessão, quase sempre preferindo o lado trágico do
espetáculo porque machuca e dói. Só Freud explica. Faz verter lágrimas e as
cenas serão, sem dúvida, as mais lembradas. O cômico, por incrível, não faz a
memória registrar.
Guardada
a relação, os assuntos e temas educacionais se assemelham ao engraçado porque
raramente nos lembramos de ações e iniciativas que assumem um volume colossal,
ao longo dos anos e das gestões administrativas dos governantes, mas, parece,
surgiram para desaparecer. Não têm vida perene, ao contrário, são voláteis e
desaparecem na espiral do silêncio.
É o
caso da discussão de que a escola pública deve ser paga por aqueles que tenham
condições, renda e poder econômico suficiente para ter o filho, por exemplo,
cursando medicina, engenharia e tantas outras cujo custo é alto. A discussão do
tema ainda não ganhou foros políticos com total propriedade porque todos
sabemos o que está nas coxias desse palco. Em 2014 já se exteriorizavam
manifestações como a de que não é
possível dizer que as cotas são o melhor caminho para se reduzir disparidades
sociais na educação superior do Brasil, nem está claro que a medida acabe com o
problema. A afirmação consta no relatório Investing
in Youth: Brazil (Investir na Juventude: Brasil), publicado pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Conforme a
entidade, no lugar de políticas afirmativas, o governo deveria considerar a
cobrança de mensalidades, em universidades federais, daqueles que puderem
pagar, mantendo a gratuidade para estudantes menos possibilitados.
Esta é a declaração mais
contundente sobre cotas já feita pela organização, reconhecida mundialmente por
gerar indicadores e pesquisas de mercado e educacionais de excelência, como o
Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).
E é
esse exatamente o foco atual, de se discutir o grau de investimento público na
educação que perpassa, no meu entender, por dez condicionantes pétreas:
1-O
corpo docente das escolas precisa ser mais bem preparado;
2-O
corpo docente tem de ser mais bem remunerado;
3-Do
corpo docente deve ser exigida uma educação continuada;
4-A
Escola não pode deixar de ter biblioteca e atualizada;
5-Laboratórios
são imprescindíveis;
6-O
Estado tem de se preparar financeiramente para enfrentar o período integral;
7-A
direção de todas as escolas só é possível mediante concurso, nunca por
politicagem;
8-É
irreversível no caminho para o futuro tecnologias, informatização, wi-fi, etc.;
9-Nenhuma
escola sem quadra esportiva;
10-Imediata
aplicação de novo currículo e metodologias e conteúdos anualmente atualizados.
Como ponto extra,
de honra, o repensar das formações nas licenciaturas levando os discentes
licenciandos para efetivas práticas educacionais, assistidas e avaliadas. Seja
sob qual critério for – estágios, atividades complementares ou mesmo as
práticas. Com a palavra a doutora Eunice Durhan.
O ensino médio nacional apresenta os maiores índices de evasão e de
reprovação escolar. Em 2014, mais de 620 mil alunos abandonaram os estudos
nessa etapa de ensino, segundo o Censo Escolar. É o triplo do registrado no ensino
fundamental. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o ensino
médio alcançou apenas 3,7 pontos, em uma escala de 0 a 10. Os dados escancaram a realidade de um ensino
médio falido, incapaz de cumprir metas e de atender às necessidades de seus
estudantes.
Poucos dias depois de o
Ministério da Educação divulgar, com atraso, um desempenho decepcionante do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013, o relatório Panorama da Educação de 2014, da OCDE –
o clube dos países ricos –, apresentado nesta terça-feira,16, em Paris, mostra
que o investimento do Brasil no setor continua muito aquém do desejado. E bem
distante da média das nações mais desenvolvidas. Segundo os dados da OCDE, o
país é o penúltimo entre 35 pesquisados quanto ao investimento por aluno nos
ensinos fundamental, médio e superior.
Ainda conforme o estudo,
os valores nacionais são inferiores aos de países de renda semelhante, como
Turquia (US$ 3.240), México (US$ 3.286) e Hungria (US$ 5.410), mas muito
distantes da média de US$ 9.487 do conjunto de países que compõem a OCDE
(organização da qual o Brasil não faz parte, mas é “parceiro”). No topo da
tabela figuram nações como Suíça (U$ 16.090) e Estados Unidos (US$ 15.345).
O relatório da OCDE
demonstra ainda os investimentos per
capita por segmento da educação. E o resultado é desanimador. Quanto ao
ensino médio, das 36 nações analisadas, por exemplo, o Brasil só ganha da
Indonésia e da Colômbia em investimentos. Nosso valor, de US$ 2.605 por aluno,
fica atrás dos de Argentina (US$ 3.184), Turquia (US$ 3.239) e México (US$
4.034).
Temos o que aprender, e
com pressa, e com efetividade, e com realidades que outros países já
deglutiram. Há distorções gritantes, conforme o quadro adiante, do investimento
por aluno em 2013, em dez estados brasileiros com números que atordoam qualquer
analista. São números que guardam relativizações intrigantes as quais só podem
ser explicadas pelos respectivos secretários de educação.
Estado
|
R$
|
Alunos
|
Escolas
|
Profs.Ativos
|
Distrito Federal
Santa Catarina Amapá Espírito Santo Roraima Sergipe R.Grande do Sul Piauí MT do Sul São Paulo |
10.942,86
6.829,52 6.477,85 6.242,08 6.217,98 6.044,69 6.003,89 5.853,29 5.821,29 5.778,19 |
456.919
541.766 142.670 270.743 80.412 188.430 1.014.342 256.266 257.675 4.198.200 |
632
1.266 409 537 381 374 2.574 765 359 5.609 |
18.887
24.256 6.601 13.831 4.015 7.373 49.265 13.916 10.653 170.449 |
Uma análise dos orçamentos das pastas
estaduais de educação previstos para 2013 mostra a desigualdade brasileira. A
diferença já se mostra nos números absolutos: os investimentos previstos vão de
R$ 500 milhões em Roraima a R$ 24 bilhões em São Paulo. No cálculo aproximado
de quanto é investido por aluno em cada estado, fica mais claro o que
significam tais cifras. Quanto ao investimento relativo, ele inverte o quadro:
Roraima, o menor orçamento, aparece na quinta colocação e investe, em média, R$
6.217,98 por aluno da rede pública, enquanto São Paulo figura na 10ª posição,
com um investimento médio de R$ 5.778,19 por estudante. O Distrito Federal
ocupa o primeiro lugar investindo R$ 10.942,86 por aluno. Os estados que menos
investem por aluno matriculado são o Amazonas (R$ 3.075,89) e a Bahia (R$
3.366,39).
Convém salientar que investimento e
desempenho não são necessariamente proporcionais. É o que mostra o cruzamento
desses valores com as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) de 2011.
E
não bastasse a escassez de recursos para o ensino básico, vem por aí péssima
notícia quando pesquisa revela que
mais pobres são maioria em universidades federais. As universidades públicas
brasileiras devem passar por um intenso processo de precarização durante a
gestão do presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP). Na última semana, o
Ministério da Educação (MEC), por meio do secretário de Educação Superior,
Paulo Barone, anunciou cortes da ordem de 20% no repasse para universidades
federais em 2017. Os valores serão incorporados no Projeto de Lei do Orçamento
Anual (Ploa), que o Executivo deve enviar ao Congresso até o fim deste mês.
No site do Inep, nós nos deparamos com uma
matemática complicada: “Os indicadores brasileiros de Investimentos Públicos em
Educação (*) fornecem informações de cunho orçamentário e financeiro sobre a
aplicação de recursos públicos em todos os níveis de ensino. Os índices
financeiros educacionais, como o percentual do investimento em educação em
relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o percentual do investimento em
educação em relação ao Gasto Público Social (GPS), o percentual do investimento
em educação por aluno em relação ao PIB per
capita e o investimento público por aluno, são desagregados por níveis de
ensino. O investimento de recursos públicos na área educacional compreende os
valores financeiros brutos aplicados pelo setor público no atendimento de
demandas educacionais, como no custo de bens e serviços – inclusive bens de
capital – e nas transferências, excetuando-se a depreciação e a amortização dos
investimentos em estoque. O conceito utilizado para a agregação corresponde à
finalidade dos recursos alocados por área de atuação”. Deu para entender?
Toda essa ginástica matemática visando à
melhoria da qualidade da educação, mas Priscila Cruz, diretora executiva do
movimento Todos pela Educação rebate e denuncia o que todos sabemos: "O
Brasil investe pouco e ainda tem poucos resultados diante do que é investido.
Ainda temos um desafio enorme, não cumprimos nem a agenda do século passado,
ainda temos crianças fora da escola e qualidade ruim (...). Visitando algumas
escolas, fica-se horrorizado com a situação. Temos um descaso histórico com a
educação e isso faz com que haja dívidas que o sistema tem que cobrir". Um
absurdo.
Mas o Brasil é resiliente e tem ilhas de
excelência, mesmo em escolas públicas, cujos resultados são pouco divulgados
como explica Ricardo Paes de Barros, do Instituto Ayrton Senna: “Há muita
inovação no ensino que não é replicada porque o MEC não sabe reproduzir
histórias de sucesso”. Ele faz referência ao caso da cidade paulista de Novo
Horizonte que ganhou os holofotes dentre os 5.570 municípios brasileiros depois
de elevar seu índice no Ideb de 5 para 7,4.
O próprio MEC só esperava essa melhoria para
2021. Apesar disso, a receita sobre a excelência educacional da cidade não
mereceu nenhuma linha nos sites e conteúdos produzidos pelo Ministério e, a
depender dele, a experiência ficaria restrita aos novo-horizontinos.
A fórmula, porém, não é miraculosa nem
tampouco exige investimentos estratosféricos (canal certo para corrupção no
Brasil): a) não deixar nenhum aluno de fora do processo: quem vai mal é
imediatamente convocado para aulas de reforço; b) monitoramento constante do
desempenho de professores com discussão a respeito dos maus resultados em
provas periódicas formuladas pela Secretaria de Ensino local; c) docentes mais
experientes atuam como tutores, estabelecendo planos de ação com metas para
superar os resultados adversos; d)professores com resultados acima da média
viram consultores da rede; e) troca constante e colaborativa de dicas e técnicas
para alcançar a excelência.
Quando o governo não toma as rédeas do
processo, fica a cargo dos próprios gestores escolares, e da sociedade civil,
espalhar e fazer frutificar os bons exemplos.
O desajuste avança sobre todos os
quadrantes, fortunas despendidas, ano a ano, e não conseguimos lograr nenhuma
melhora. Ou os recursos são poucos ou são/estão muitíssimo mal-administrados.
Ou seja, falta administração/gerência eficiente e eficaz.
O que nos reserva, espernear,
chorar, gritar, dar de ombros, pegar em armas, ir às praças públicas, cobrar
políticos (vereadores, deputados, senadores), fazer passeatas ou movimentos revolucionários
pela educação nacional? Ou insistir no conformismo colonial subjacente à cultura
brasileira?
Quanto
à porcentagem do investimento público direto em educação, em relação ao Produto
Interno Bruto, ainda não há um indicador principal que permita acompanhar de
forma plenamente adequada o cumprimento da Meta 20. Isto ocorre porque não há
dados disponíveis de investimento público em educação apurados de acordo com o
instituído pelo Plano Nacional de Educação(PNE).
“(*) Os indicadores de
Investimentos Públicos em Educação têm como fonte estudos e pesquisas
elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), em parceria com a Subsecretaria de Planejamento e Orçamento
(SPO) do Ministério da Educação (MEC), com o Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) e com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
Além disso, utilizam-se como fontes de dados primários as informações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria do
Tesouro Nacional (STN).” E agora, está tudo explicado ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário