“A sociedade em que cada qual podia
esperar ter um lugar, um futuro direcionado, uma segurança, uma utilidade, essa
sociedade –
a sociedade do trabalho – está morta.”André Gorz[1]
a sociedade do trabalho – está morta.”André Gorz[1]
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com
Ensinou-me a professora de história no
colegial, que a filosofia nasceu na Ásia Menor, porque lá havia uma sociedade
opulenta, que não precisava trabalhar e podia dedicar-se ao “ócio criativo”.
Tomei emprestada a expressão de Domenico De Masi, para quem “vivemos em um mundo não mais industrial, mas
pós-industrial, cuja sociedade se dividiu em dois grupos: os analógicos,
impregnados pelo industrial e com medo de mudanças, e os digitais, que têm mais
facilidade com a informação e são predispostos às inovações”. Ele
explica que fazemos parte de uma sociedade em
que a vida adulta é/era dedicada exclusivamente ao trabalho, mas que isso está
mudando.
O declínio dos empregos
estáveis e de tempo integral é um dos sinalizadores dessa mudança irreversível.
Se o medo de que o desemprego se espalhe por todo o planeta é real, o temor de
que as máquinas tomem o lugar dos homens não é novo: no século XIX, luditas[2] destruíram fábricas
que substituíam trabalhadores braçais por máquinas a vapor.
No entanto, na
história das "revoluções produtivas" o desemprego é momentâneo. A
introdução da máquina no campo substituiu o homem, que migrou para a cidade à
procura de novos empregos. Quando na cidade a máquina tomou-lhe o lugar nas
fábricas, o homem foi para a área de serviços. Ou seja, o homem é resiliente,
tem inteligência – de longe, o mais
versátil e o mais móvel dentre todos os ativos econômicos.
A adoção de máquinas no lugar da mão de obra humana permitiu que todo o
mundo se tornasse mais rico.
E aumento no padrão de vida está diretamente relacionado a um aumento na
quantidade de bens e serviços disponíveis – tudo possibilitado pela automação.
Erik
Brynjolfsson, diretor do centro do MIT para negócios digitais, e Andrew
McAfee, também pesquisador do órgão e ex-professor de Harvard, em seu livro The
second machine age,
afirmam que estamos vivendo a maior transformação na história desde a Revolução
Industrial: os computadores estão fazendo para nosso poder mental o que o motor
a vapor fez para nosso poder físico.
O problema é que a inovação está ocorrendo
rápido demais. Se antes uma ocupação demorava décadas para sumir, hoje elas morrem num passe de mágica: por
exemplo, onde estão as locadoras de vídeo? e vendedores, caixas,
atendentes
e funcionários de escritórios já não estão sendo substituídos por inovações
tecnológicas?
Solução? No
curto prazo, Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee recomendam foco total na
educação, estímulos para o empreendedorismo e apoio à ciência. Sobreviver nesse
novo mundo exige novas competências e habilidades relacionadas à gestão da
própria carreira como se ela fosse um negócio.
Se o emprego
está em crise, o empreendedorismo, não. A era do “fim do emprego” é só o efeito
colateral do início de outra era – a do empreendedorismo de massa.
Glauco
Cavalcanti, em seu artigo “Tempos modernos – o fim do emprego de Carlitos”[3],
criou um interessante quadro (que reproduzo a seguir) adaptado do livro de
Fernando Dolabela Oficina do empreendedor[4].
Nele, descrevem-se as características que permitem que o empreendedor se adapte
melhor ao novo mercado do que as pessoas focadas no emprego tradicional.
Empreendedor
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Empregado
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É visionário
Consegue
ver o futuro para seu negócio e para sua vida.
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Dependente
Necessita
de alguém para tornar-se produtivo; para trabalhar, precisa de supervisão.
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Sabe explorar as oportunidades
Identifica
mercados e cria produtos revolucionários que atendem o consumidor.
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Tem visão restrita
Não
busca conhecer o negócio como um todo (cadeia produtiva, dinêmica dos
mercados, evolução do setor).
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É criativo
Cria
produtos e serviços nos quais ninguém havia pensado antes.
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Pouco criativo
Não se
preocupa com o que não existe ou não é feito, apenas procura entender o que
já existe, especializando e melhorando a ideia dos outros.
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Sabe tomar decisões
Não se
sente inseguro para decidir, mesmo em momentos críticos.
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Pouco oportunista
Não se
preocupa em transformar as necessidades do consumidor em produtos/serviços
rentáveis.
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É determinado e dinâmico
Comprometido
com o que faz, atropela as adversidades. Mantém-se dinâmico e cultiva certo
inconformismo diante da rotina.
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Acomodado
Não é
proativo, apenas reativo. Só percebe que está em perigo quando recebe a carta
de demissão.
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É apaixonado pelo que faz
Adora
o trabalho que realiza, e é essa satisfação que o leva ao sucesso.
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Medroso
Tem
medo de errar, prefere participar de projetos com baixo risco e de
preferência com algum supervisor com muita experiência de mercado.
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Planeja
Tem um
elaborado Plano de Negócio.
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Estuda pouco
Não se
atualiza e fica obsoleto para o mercado de trabalho, sua única forma de
reciclagem são os cursos que a empresa fornece e julga importantes para o
empregado.
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Assume riscos calculados
Sabe
gerenciar o risco, avaliando as reais chances de sucesso.
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Detesta tomar decisões
Sente-se
ameaçado quando tem de tomar uma decisão e busca a solução menos arriscada e
que gera menor desgaste pessoal.
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Cria valor para a sociedade
Gera
empregos, dinamiza a economia, inova e procura melhorar a vida das pessoas
com seus produtos.
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Não planeja
Vive o
aqui agora, não está pensando no futuro, apenas na próxima visita da alta
gerência da empresa. Seu único planejamento é para atender a chefia no curto
prazo.
|
Nesse
contexto, é difícil acreditar que algum dia se volte a ter algo parecido com o
pleno emprego. Se o emprego da forma como o conhecemos hoje tende a ser cada
vez mais escasso, por que continuamos exclusivamente a formar jovens para serem
empregados? Por que não formamos também nossos jovens para serem empregadores?
Ou, melhor, empreendedores?
O mundo está
mudando profundamente e não se pode impor aos jovens desejos, anseios e medos
de gerações passadas. É preciso formá-los/instrumentalizá-los para o
empreendedorismo: para o trabalho autônomo, para o associativismo, para o
cooperativismo, que surgem como novas possibilidades de geração de trabalho e
renda na economia criativa.
Essa ideia das
novas formas de trabalho, e não exclusivamente de emprego, tem de ser levada
para o jovem desde o ciclo básico até a universidade, de modo que ele seja
educado para a mudança e não para estabilidade. Ele deve ser ensinado a conviver
com o risco e aprender com ele, a pensar grande, a ter autoestima, coragem,
confiança e capacidade para gerir a própria vida, vendo na mudança oportunidade
e não ameaça. Como já disse Érico Veríssimo, “quando os ventos de mudança
sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”.
Estão
as IES preparadas para o desafio? De que lado da coluna estão seus
colaboradores?
[1] André Gorz (1923-2007): filósofo austro-francês, também conhecido pelo
pseudônimo Michel Bosquet. Como jornalista, ajudou a fundar em 1964 o semanário
Le Nouvel Observateur.
[2] Ludita: partidário do ludismo,
movimento coletivo, iniciado por Ned Ludd, que se estendeu pela Inglaterra
desde o início do século XIX e que era contrário à mecanização do trabalho e
visava à destruição da máquina, responsabilizando-a pelo desemprego e pela
miséria social nos meios de produção.
[3] http://www.rh.com.br/Portal/Mudanca/Artigo/6337/tempos-modernos-o-fim-do-emprego-de-carlitos.html
[4] http://www.martinsfontespaulista.com.br/anexos/produtos/capitulos/535380.pdf
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