A
universidade não tem a estrutura de apoio para a jornada do empreendedor.
Lucas Yuki Nakauchi (Gerente da Endeavor-Brasil)
Prof. Roney Signorini
Assessor e Consultor Educacional
Assessor e Consultor Educacional
signorinironey1@gmail.com
Hoje,
os adolescentes de 18 a 25 anos talvez tenham mais preocupações com a vida do
que seus pais tiveram com a mesma idade. Eles precisam encontrar alternativas
ou saídas para a empregabilidade por diversas novas razões que afrontam e
atemorizam como a repaginação do mundo, a crise, as mudanças de hábitos e
cultura, tudo conduzindo para transformações. Afinal, é nas cabecinhas deles que
estão os grandes sonhos de realização pessoal e sobretudo profissional.
Com 20
e poucos anos, sonham com independência financeira, querem mudar o mundo. Mas são
os que mais sentem os efeitos da crise ao procurar emprego. A palavra aqui pode
ganhar outros sentidos semânticos como ocupação, vaga, oportunidade, trabalho e
empreendimento. Assim, crescem nos últimos anos os números de jovens que optaram
por abrir o próprio negócio, em vez de disputar vagas “abertas” por qualquer
anúncio.
A taxa
de empreendedorismo dos que têm de 18 a 24 anos saltou de 16,2%, em 2014, para
20,8%, em 2015 (último levantamento Endeveor). Mais de um quinto dos jovens nessa
faixa etária criou o próprio negócio. Em 2007, era de apenas 10,6%. Para
especialistas, a maior recessão da história do país e fatores culturais
explicam o aumento.
O
empreendedorismo pode ser uma alternativa à juventude sem emprego na crise,
sobretudo quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua
mostra a taxa de desemprego na faixa de 18 a 24 anos tendo chegado a 25,9% no
fim de 2016. No total, o país tem hoje 13,5 milhões de desempregados.
Mídia e críticos ácidos
apontam a falta de incentivo nas faculdades e universidades para empreender;
nelas, só 36% dos alunos estão satisfeitos com tímidas iniciativas. Outros
números, obtidos pela Endeavor-Sebrae, reiteram essa percepção.
Quando avaliam a situação
do aluno num conjunto de 70 instituições de ensino, 72,3% não empreendem; potenciais
empreendedores são 9,4%, mas empreendedores efetivos representam só 5,7%. O
resultado mostra claramente o descompasso entre o que as universidades oferecem
e o que os estudantes desejam. Mas o que de fato as universidades oferecem ou
não?
Ser dono do próprio
negócio, todos sabem, exige qualificativos imprescindíveis para se fixar e
crescer. Não numa ordem rígida, mas, quando falte proatividade, interesse
margeado por conhecimento, dedicação plena, ter noções básicas de comércio, de
mercados, de fluxos bancários (investimentos – resultados), oportunidades e
tantos outros que consistiriam num “business
plan”[1], o negócio não se sustenta. Ainda que tudo isso tivesse sido
abordado em aulas na universidade, há entre o ensinar e o ter aprendido as
lições um espaço abissal.
Não se
pode ter medo, diz um empreendedor anônimo, porque o que é segurança hoje em
dia? Na crise pode-se perder o emprego porque o vento mudou de direção. Para
especialistas e consultores, a crise impulsiona uma mudança cultural no jovem
que entra no mercado de trabalho de forma muito penetrante e nessa trajetória
ele amadurece muito rapidamente porque não existem zonas de conforto, mas de
desafios diários. Concorrência, queda de braço e, ao fim do dia, vai-se à lona
porque a receita nem se igualou com a despesa.
Lyana
Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt, consultoria especializada em
franquias, percebe a mudança no dia a dia. Há duas décadas, seu público era
formado, principalmente, por executivos em fim de carreira em busca de um plano
alternativo para a aposentadoria. Hoje, esse espaço foi tomado por jovens. A
coordenadora do Sebrae, Carla Teixeira Panisset, considera que a tendência deve
ser mantida, mesmo depois que o mercado de trabalho se reaquecer:
A
Endeavor aponta que na universidade um dos principais problemas é a falta de
disciplinas voltadas para a capacitação de quem quer abrir o próprio negócio.
Enquanto 54,4% das disciplinas de empreendedorismo oferecidas tratam de “inspiração
para empreender”, as mais práticas, que ensinam, por exemplo, a construir um
plano de negócio ou gerenciar uma rede de franquias, representam só 6,2% dos
cursos. Acertos aqui e acolá poderiam mexer com tais cargas horárias, mas há de
se considerar que o curso não trata exclusivamente de empreendimentos. Assim,
parte do conhecimento precisa ser trazido por autodidatismo. Aliás, a
qualificação é importante para definir as chances de sucesso de um
empreendimento. Sabidamente, a universidade não tem a estrutura de apoio para
toda uma jornada completa do empreendedor e não pode o aluno querer ser
monitorado ou ter um preceptor ao seu lado até a porta do negócio.
Por
seu turno, a universidade pública deixa a desejar porque, pela própria missão,
acaba sendo um pouco academicista. As pessoas se formam para contribuir para a
academia, mas existem diversas formas de contribuir com a sociedade, e
empreender é uma delas. Uma interrogação fica no horizonte: quais
cursos/carreiras precisariam ter (ou não) disciplinas voltadas para o
empreendedorismo e com isso reservar uma carga horária satisfatória em
detrimento das demais que compõem o currículo, também muito importantes e
necessárias para a formação central do curso? Sem respostas diretas, o CNE não
se arroja a resolver a questão. Ademais, os mantenedores
teriam suporte e estrutura quando a iniciativa requisitasse laboratórios e equipamentos?
teriam suporte e estrutura quando a iniciativa requisitasse laboratórios e equipamentos?
E ao
que tudo indica, está nascendo(?) um irmão do empreendedor que já começa a dar
o que falar: o movimento maker no
Brasil, cuja cultura incentiva pessoas a construírem objetos. E há quem veja
relação entre o empreendedorismo e a cultura maker. Já tínhamos ouvido sobre um processo análogo: a
bricolagem[2]. O movimento maker nasce sem pretensão de business.
É quase subcultura, cuja ideia é a de que não se precisa comprar tudo pronto,
mas querer fazer com as próprias mãos. Muitos dos makers veem nisso um
caminho para criar um negócio. Por que não vender esse produto se um amigo
gostou, outro gostou? Daí para uma produção em escala é só um pulo. Que tal as
IES incorporarem uma maquetaria na instituição sob um relativo custo
estrutural?
[1] Plano de
negócios (do inglês Business Plan), também chamado
"plano empresarial", é um documento que especifica, em linguagem
escrita, um negócio que se quer iniciar ou que já está iniciado. Geralmente é
escrito por empreendedores, quando há intenção de se
iniciar um negócio, mas também pode ser utilizado como ferramenta de marketing
interno e gestão. Pode ser uma representação do modelo de negócios a ser
seguido. Reúne informações tabulares e escritas de como o negócio é ou deverá
ser. De acordo com o pensamento moderno, a utilização de planos estratégicos ou
de negócios é um processo dinâmico, sistêmico, participativo e contínuo para a
determinação dos objetivos, estratégias e ações da organização.
[2] O conceito surgiu nos Estados Unidos, na
década de 1950, com a sugestão "do it yourself" de onde saiu a
famosa abreviatura DIY
que significa em português faça você mesmo. Isso ocorreu devido ao
encarecimento da mão-de-obra e se desenvolveu com a grande visão dos
empresários em perceber este nicho,
criando produtos fáceis de serem usados, utilizando embalagens com pouca
quantidade e todos com manuais explicativos.Bricolagem, palavra de origem francesa ("bricolage") significa, fazer pequenos trabalhos por um amador com pouco conhecimento e sem ferramentas profissionais.
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