domingo, 13 de setembro de 2009

Currículo de Curso Universitário

Prof. Roney Signorini
Consultor Educacional
roneysignorini@ig.com.br

Muito além do Currículo de Curso Universitário

Já tratei do mesmo assunto em artigo publicado no site do SEMESP sob o título "Currículos e Conteúdos". Está depositado em www.semesp.org.br - Publicações - Artigos e Ensaios Educacionais.
É assunto de maior interesse intra-muros dos Cursos, do aluno até a Reitoria, do docente até a Coordenação, inclusive da Secretaria.
Adotado um currículo padrão de curso regular, a sua oferta deve ser dominada por elementos de qualidade. Exige de todos que o colocam em ação uma severa obediência da proposta conteudística, até onde possível, consoante as diretrizes curriculares ofertadas pelo CNE.
Não sem razão os conteúdos precisam ser (re)examinados em períodos, pois as circunstâncias sociais e profissionais cobram atualidade na dinâmica natural do conhecimento, na evolução e velocidade em que tal conhecimento transforma novos e outros saberes.

ANTECEDENTES

Balizado com a carga horária proposta pelo CNE, nenhum currículo de curso pode nascer de uma só cabeça mas de uma equipe, aliás, prescrição da LDB. E, sua construção deve levar em conta muitas variáveis. Portanto, considerar todo o plexo educacional, por exemplo :
a)relação com o valor da mensalidade;
b)montagem disposta nos dias da semana e consoante a carga horária/relógio;
c)com disciplinas internalizando as diretrizes curriculares sugeridas pelo CNE;
d)estar "afinado" com o ENADE;
e)não perder o foco das consideradas teóricas e das práticas ( em laboratórios );
f)apresentar-se como facilitador para casos de transferências ( in ) e reprovações
( Dependências ), além de Retenções e ainda para Trancamentos, situações em que
prosperam e abundam as Adaptações;
g)oferecimento de disciplinas em caráter multicursos ( fator econômico );
h)ser desenvolvida ( ou não ) por professores pós-graduados ( fator econômico );
i)poder ( ou não ) ser oferecida tanto presencial como a distância ( fator econômico );
j)prestar-se a interações com avaliações internas promovidas pela CPA da IES;
k)ser a coluna vertebral do órgão NÚCLEO de CURRÍCULOS e CONTEÚDOS;
Particularmente quanto a referido órgão, a IES constituirá grupo tarefa exclusivo
para pensar e discutir currículos, cargas, conteúdos com macrofoto do sistema,
contando sempre com os Coordenadores de Cursos para atualizações, aditamentos,
supressões, remanejamentos e deslocamentos das disciplinas, conforme exigências
do mercado ( empregabilidades ). A dinâmica curricular, conteudística e programática
são inexoráveis, considerando as velocidades do conhecimento e a obsolescência
dele, quase diária.
l)se qualquer disciplina for ofertada com uma carga de NÃO PRESENCIALIDADE,
dedicando-se até 20% dela como virtual, aí então as atenções devem ser redobradas pois:
Em qual momento da carga horária tal virtualidade será apresentada, quais
itens/temas se prestarão à virtualidade, quem conduzirá tais conteúdos ( tutoria /
monitoria, etc. ) ;
m)a IES está propondo um reposicionamento do(s) curso(s) e portanto alterar a matriz
curricular, por exemplo, deseja privilegiar a construção do conhecimento e não a mera
transmissão;
n)a IES adotou integral ou parcialmente o conceito do Estudo de Casos;
o)afinal, qual a proposta no PPI e no PDI a se respeitar de modo que prevaleça os conceitos
de conectividade/aderência;
p)definitiva e decididamente, a matriz curricular eleita vai à frente ou a reboque de demandas
sócio-profissionais ?
q)propor conteúdos exclusivos à graduação/bacharelado sem permeá-los com conteúdos
dos Tecnológicos.
r)considerar com a máxima atenção que não mais existe, a partir de 2010, a hora-aula mas a
hora-relógio, observando a carga total estabelecida pelo CNE para o curso.

A disposição das disciplinas no currículo, cada uma com sua carga horária respectiva, será entendida como integrante de uma constelação, com brilhos próprios e na medida do possível guardando trans/inter e multidisciplinaridades.
Alocações eventualmente desajustadas, estar em determinado semestre do curso quando deve(ria) estar em semestre anterior ou posterior, ou ainda, carregando carga horária menor do que a necessária para o desenvolvimento dos conteúdos programados, ou maior, caindo em mesmices repetitivas, exige correção com prudência.
O conteúdo de cada uma delas deve observar rigorosamente a carga horária que lhe é reservada de modo a contemplar medidas exatas de propostas teóricas e práticas, discussões, momentos de reflexão, de avaliações continuadas, etc., nem mais nem menos.

MOMENTO REFLEXIVO

As discussões de natureza da componência de conteúdos nas disciplinas é momento rico, que deve se repetir a cada ano incorporando o novo, suprimindo o obsoleto e o defasado. Sobretudo com respeito ao PPI e PDI onde devem estar claras a missão e objetivo que permeam planos e projetos institucionais. Fique certo que currículo já nasce com prazo de validade estabelecido. Hoje, com certeza, ele não se sustenta com mais de dois anos.
É o exato momento, que antecede ao início de novo ano letivo quando saudavelmente os docentes, em companhia e sob a liderança do Coordenador, trocam experiências e vivências
práticas do campo de atuação profissional a que se deseja graduar o educando.
Vale lembrar, é momento auspicioso para mexer com a bibliografia de apoio à disciplina, enviando à biblioteca da instituição solicitação de compra, bem como os derivados instrumentais ou equipamentos.
Afinal, o que seria a escola sem antes erigir um currículo e respectivos conteúdos ? Depois vem o corpo docente e por fim o discente. Este último com intimidade na avaliação dos ingressantes.
É tarefa de experts alocar disciplinas para docentes, distintamente em razão de performances,
nos semestres iniciais ( sobretudo o primeiro e segundo ) ou finais do curso. Há quem sirva para os primeiros ou para os últimos e vice-versa, aumentando/diminuindo evasão.

CONCLUSÃO

Um currículo "bom e enxuto" não significa certezas absolutas porque ele é peça de reciprocidades, docente x discente.
Sua oferta vai além dos Planos de Ensino deixados na secretaria do curso, carecendo de supervisão constante de parte do Coordenador a quem incumbe, semanalmente, passar um "visto" nos Diários de Classe, confirmando a aplicação efetiva dos conteúdos programados para a turma/sala. Mas, também, não deve ser peça experimental, ação de laboratório, porque o tempo fluirá rápido pelas semanas e meses, portanto, inadmissível que disciplinas fiquem à deriva no conjunto curricular, sobretudo se semestral.
Socorros, se necessários, devem ser propiciados com urgência.
O currículo de curso, por si só, é um universo de preocupações como elemento pulsante,
que pode oferecer cenários extraordinários para auto-avaliação por intermédio da CPA,
que buscará validação da proposta intentada.
E não é só currículo e conteúdos que cobram preocupações mas também a forma e métodos
didáticos, pedagógicos, instrucionais para não falar em novas tecnologias que invadem as salas de aula.


ADITIVOS

A implantação de um currículo de curso deve ser levada às últimas consequências no tocante ao seu fim mas também quanto aos seu meios. Ou seja, o Setor Financeiro deve interagir firme quanto aos custos estabelecendo estatísticas de Desistências, Cancelamentos e Transferências ( out ).
Deve cenarizar quem ocupará as disciplinas ( graduados, especialistas, mestres ou doutores ) dessas alocações pois isso envolve custos de todas as ordens. Tal tarefa é tão mais fácil quando a IES segue rigorosamente o volume de ingressantes/vagas e pode ser feita com antecedência de 2 a 3 meses do início das aulas / composição das turmas.
Uma questão preocupante é relativa à intenção da IES se pretende graduar generalistas ou especialistas. Isso tem a ver com a "cara" da instituição, sua vocação, sua participação no share.
Cito alguns exemplos:
1-)Um Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, que não tiver uma unidade móvel que transite por locais para captação de áudio ( para a disciplina Rádio ) e
de imagens para a disciplina TV, está perdendo mercado. E isso é possível com pequeno investimento, dando diferencial ao curso, à formação real de seus alunos, agregando valores,
ganhando visibilidade social. Qual o investimento para ter tal unidade móvel ? Pequeno.
Esse mesmo curso pode ter um "botão" no portal de forma a disponibilizar matérias frias para acesso a todos os jornais do país, até para servir de pautas de veículos.
Pode ter outro "botão" para um banco de imagens de seus alunos, etc.
2-)Igual raciocínio para todos os cursos sempre agregando valores como:
a-)receitas para o curso de Gastronomia;
b-)Tribunal de pequenas causas para o curso de Direito;
c-)clínica/atendimento para Psicologia;
d-)clínica/atendimento para Veterinária
etc., etc.

Questão de relevante importância, dada a participação cada vez maior de pós graduados
( Mestres e Doutores ), em salas de aula, é "cercar" suas formações impedindo-os que implantem a Síndrome das Teses. Ou seja, que levem para a sala de aula, em substituição aos conteúdos programados, aqueles específicos de suas teses/dissertações.
Mais ainda, que não levem para as salas de aula antecipações à graduação, utilizando temáticas de pós, sobretudo se há programas de Iniciação Científica na IES e que em geral querem se assemelhar à Pós. Equívoco.
Um pós graduado deve ser contratado para dar aulas na graduação, e só, com suas competências e habilidades de um pós graduado.
Ele não pode colocar um risco e em jogo o PPI e PDI da IES com sua formação, que lhe é própria para fim exclusivo. Pois, guardada tal premissa, seria o caso de antecipar o Ensino Médio o que é da Universidade. Ou mais, trazer para a Pós Graduação o que seria pertinente do Pós Doutorado. É maluco, impensável, lembrando Michelangelo que advertiu um sapateiro
que ele "não deve ir além da sandália".

Em breve análise, o Currículo e Conteúdos vai muito além do que se supõe. É trabalho, é alma,
é espinha dorsal de proposta de cursos. Num projeto de curso tudo o mais deriva do Currículo,
repito, corpo docente, laboratórios, biblioteca, etc. sem que, contudo, as Comissões de Avaliações raramente peçam o conjunto curricular e seus conteúdos para uma apreciação
que demonstre consonância com os objetivos e missão da IES.
Seria a introjeção do espírito de corpo ou a do espírito de porco ?

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